Olá.
Interrompemos
momentaneamente uma série de postagens programadas sobre a Revolta dos Muckers
para trazer até vocês notícias urgentes vindas do setor do quadrinho nacional!
Parece
que os ventos estão favoráveis para os quadrinhistas brasileiros. Vários
projetos estão disponíveis para financiamento coletivo (crowdfunding) – e boa
parte consegue atingir a meta antes do fim do prazo estabelecido, garantindo
sua publicação; brasileiros ganham mais uma vez o Prêmio Eisner, o Oscar das HQ
internacionais (os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá faturam de novo, pelo álbum Dois Irmãos – é o segundo Eisner ganho
em conjunto, e ainda tem os que eles ganharam individualmente); e outro
quadrinhista brasileiro que começou uma série há mais de um ano consegue
concluí-la! Sobre esse terceiro brasileiro que vamos falar hoje.
Os
brasileiros não tiveram de esperar muito desta vez: agora, em julho de 2016,
Klebs Júnior, pela editora Instituto HQ, lança o terceiro número de sua série,
PÁTRIA ARMADA!
PÁTRIA
ARMADA # 3, além de marcar uma virada na vida de Klebs Júnior – já que esta é a
primeira série nacional que ele consegue concluir, depois de insucessos de anos
passados, como Lilo, o Horror Vivo – marca
também uma transição para a editora que ele ajudou a criar. Agora, o Instituto
de Quadrinhos, escola, estúdio e editora, se chama Instituto HQ. Nascido em
1998 como uma escola de quadrinhos sob o nome Impacto Quadrinhos, e também
preparando seus alunos para atuar no mercado internacional, o Instituto de
Quadrinhos passou a ser também editora a partir de 2013. Agora, mudou o nome e
o logotipo. E PÁTRIA ARMADA # 3 já é o sexto lançamento da editora.
Vamos
relembrar rapidinho: PÁTRIA ARMADA apareceu em dezembro de 2014 – seu primeiro
número foi viabilizado através de crowdfunding. O segundo número da série em
três partes apareceu um ano depois, em dezembro de 2015. E, agora, em julho de
2016, chega o terceiro número. Que bom que não tivemos de esperar tanto desta
vez para ler a conclusão da dramática aventura da Tropa de Impacto do ano 1994
de uma realidade alternativa!
Em
paralelo, o então Instituto de Quadrinhos lançou outros álbuns. Nikkei – Implacável Natureza Mestiça, de
Guilerme Raffide e Leandro Casco, Aurora,
de Felipe Folgosi e Leno Carvalho, e O
Caminho, de Roberto de Souza todos em 2015, em paralelo ao segundo número
de PÁTRIA ARMADA. E, ao mesmo tempo que PÁTRIA ARMADA # 3, chega, também em
julho de 2016, pela agora editora Instituto HQ, o mangá nacional Solstice Ville, de PH Marcondes – que já
conta como o sétimo lançamento. E vem mais por aí... Por exemplo, Folgosi, até
o momento da publicação desta postagem, está buscando financiamento coletivo
para seu segundo álbum, Comunhão.
PÁTRIA
ARMADA segue com sucesso de público. Já recebeu até indicações ao troféu HQ
MIX, o Oscar do Quadrinho Nacional. E o terceiro número chega com roteiro e
desenhos de Klebs Júnior, nanquim de Wellington Diaz, cores de Stefani Renee,
letras de Flávio Soares e ilustração de capa de Danilo Beyruth.
Lembremos
rapidamente a história. Em PÁTRIA ARMADA, projeto iniciado em 2000 e
viabilizado apenas em 2013, somos levados a uma realidade alternativa do
Brasil: nessa realidade, o Regime Militar foi abortado em 1964, porém isso
acabou mergulhando o Brasil em uma guerra civil interminável entre dois grupos:
os Federalistas, que querem a instalação da ditadura, e os Legalistas,
defensores da democracia, que tentam impedi-los. O auge da guerra civil foi em
1972, quando duas bombas químicas foram detonadas, matando várias pessoas nos
locais onde foram detonadas – São Paulo e Salvador – e contaminando outras,
ocasionando, posteriormente, o nascimento de pessoas com superpoderes, os
paranormais. Ambos os lados da Guerra Civil, já está revelado, utilizam essas
pessoas com dons especiais em suas fileiras de exércitos. Apesar de haver uma
trégua entre ambos os lados, esta não vai durar para sempre. Os federalistas
começaram a se movimentar para tentar ganhar o poder, mas os legalistas estão
preparados...
Bem.
Só pelo argumento, PÁTRIA ARMADA já vale as páginas. Mas, se forem perguntar o
que Klebs Junior pensa da política atual, melhor fazê-lo a ele pessoalmente,
porque apenas pelo leitura de PÁTRIA ARMADA, ficamos com a cabeça coçando. Não
temos certeza de que lado Klebs Junior está, realmente: teria sido o Golpe de
1964, na nossa realidade, um mal que veio para o bem, sim ou não?
Bão.
O argumento geral da série é legal, mas o roteiro pecou – e continua pecando –
pelo andamento da história, que em alguns momentos chegou a ser confuso, e pela
pouca empatia que o leitor tem, ou terá, pelos personagens, que mal têm suas
personalidades definidas. O humor presente é forçado, e o roteiro exige do
leitor um esforço para compreender o que está realmente acontecendo. Tirando
isso, é praticamente ação ininterrupta.
A
história, passada em um ano 1994 alternativo, se concentra na vida dos soldados
da tropa legalista comandada pelo misterioso Coronel Samuel Venâncio, cada um
com sua motivação e seu modo de pensar a vida e a realidade nacional. A história
começa quando o Coronel Venâncio alista compulsoriamente em suas fileiras a
desajustada Cristina Menezes, uma adolescente capaz de manipular emoções, que
tem dificuldades de se adaptar ao torturante e humilhante treinamento militar.
Porém, ela faz amigos entre os outros paranormais membros da tropa: o
amargurado índio Tenente Guari, capaz de manipular eletricidade; o ainda mais
amargurado Zeverildo, o nordestino de pontaria precisa; a irreverente velocista
Glória de Holanda; o ainda mais irreverente Teco, o GPS humano; o negro gigante
Reginaldo “Rasta” Borin; a maternal telepata gaúcha Maria da Graça Koeller; o
soldado Gustavo, com poder de soltar fogo das mãos; e a superforte Renata
Oliveira da Silva.
Well.
Nas edições anteriores, a Tropa de Impacto, a unidade que integra todos esses
personagens, ataca uma instalação federalista em Divinópolis, que está
produzindo secretamente armas químicas. Durante o ataque, que termina com a
destruição da instalação, a Tropa de Impacto descobre outros paranormais nas
fileiras federalistas (entre elas a malvada Encosto, com poder de
invisibilidade), bem como um plano para detonar uma nova bomba química em São
Paulo. A bomba está a caminho disfarçada em uma ambulância, exigindo, portanto,
uma corrida contra o tempo por parte dos legalistas. Nas batalhas que seguem há
duas grandes baixas: Gustavo, morto durante o ataque à instalação química, e
Renata, que aparentemente se sacrifica para impedir que tropas federalistas
capturem os soldados. Nos intervalos, os soldados aproveitam para contar suas
histórias pessoais, algumas marcadas pela tragédia.
Enquanto
isso, há mais gente se movimentando. Na sede do governo, está mais do que claro
que políticos representando interesses dos federalistas estão envolvidos na
operação – entre eles o chefe das Forças Armadas, Marechal Afrânio, e o
duvidoso Bispo Lenir, chefe da Igreja Secular. Já no submundo, um misterioso
personagem, o Anarquista, está promovendo ataques terroristas com o objetivo de
alertar a população...
OK,
a terceira parte começa quando a ambulância contendo a bomba já está a caminho
de São Paulo. O episódio começa com o leitor descobrindo alguns segredos a
respeito do passado do Coronel Venâncio e o de Graça; e com uma Cristina cada
vez mais amargurada porque, além de ter perdido amigos, ninguém responde suas
perguntas – o máximo que recebe são palavras de consolo. Mas ela, e os outros
paranormais, tem seu papel no desenrolar do capítulo – depende deles impedir a
devastação provocada pela bomba, três vezes mais poderosa que as de 1972; o
plano é reduzir seus efeitos nocivos com anuladores, a ser jogados dentro da
ambulância. Primeiro, vai depender de Graça encontrar, com seu poder
telepático, a ambulância; e, depois, vai depender de Cristina, de Rasta e de
Guari – principalmente de Cristina conseguir superar seus medos e frustrações –
para tornar a bomba inofensiva.
Mas
a ofensiva não significará o final do conflito... Novas possibilidades para
novas histórias estão abertas.
E,
como já conhecemos os personagens, já está mais fácil, nesta edição, criar
empatia com os mesmos. São necessárias, claro, várias leituras dos números
anteriores para identificar os personagens. O roteiro e os desenhos já estão
menos confusos – já conseguimos saber quem é quem na aventura, de que lado
estão. Pena não ter final feliz. Ah: e o leitor mais atento irá reconhecer,
entre os membros do governo em reunião, alguns rostos conhecidos...
Bem.
O gibi tem 44 páginas, contando capa. Inclui, além da história, páginas que
simulam propagandas e páginas de revistas de amenidades, que, além de explicar
detalhes da realidade de PÁTRIA ARMADA, aumentam a dúvida sobre o pensamento
político de Klebs Junior; e tem contribuições de outros desenhistas, fazendo
ilustrações pin-up dos personagens: Fábio Laguna e Thiago Ribeiro; José Carlos
Silva e Rod Fernandes; Rodrigo Urbano e Arnaldo Pereira; Leno Carvalho e
Maurício Wallace; Daniel Brandão e Max Flan; e Wellington Diaz e Áriz. E
páginas propagandeando os próximos lançamentos da Instituto HQ.
E
temos nova oscilação de preço: PÁTRIA ARMADA # 3 sai por R$ 12,90. Só de
lembrar que o # 1 custou R$ 15,00, e o # 2, R$ 9,90... Será mesmo a crise
econômica?
E
aguardem: para breve, está programado um novo álbum de PÁTRIA ARMADA, desta vez
com a colaboração de outros artistas brasileiros! Aguardemos.
Para
encerrar, desta vez, resolvi fazer alguns desenhos novos. Faz tempo que não
publico neste blog pin-ups de personagens brasileiros. Então, hoje, resolvi
fazer duas ilustrações com membros da Tropa de Impacto de PÁTRIA ARMADA –
excluídos os que morreram.
Tá,
sei o que vocês devem estar pensando. Meu desenho não é digno do Instituto HQ –
até porque tenho dificuldades “mils” para desenhar armas O estilo do Instituto
HQ é o realista, o desenho “de mercado”, o qual certamente não me encaixo. Mas
como bom brasileiro, eu não desisto de tentar me firmar com meu próprio estilo.
Se Klebs Júnior conseguiu concluir sua série, por que eu haveria de desistir?
Em
breve, novidades aos meus 17 leitores.
Até
mais!
Um comentário:
Pátria Armada seria lançada em 2000 pela Brainstore como o título Tropa de Choque 1994, mas acabou sendo cancelada.
https://omelete.uol.com.br/quadrinhos/noticia/quadrinhos-de-impacto/
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