domingo, 16 de julho de 2017

MACÁRIO - Capítulo 13: "As Inacreditáveis Noites Seguintes"

Olá.
Quinze dias se passaram; e lá vamos nós com mais um capítulo inédito de MACÁRIO, meu folhetim ilustrado quinzenal. Isso é tudo...
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de consumo de bebidas alcoólicas, sexo, troca de parceiros e situações vexaminosas.



Como eu disse anteriormente: minha experiência como chopeiro foi um sucesso.
Depois de uma hora inteira treinando, sob a supervisão dos “monstros” liderados por Luce (não estava explícito, mas tinha convicção que Luce era o líder da gangue), e depois de duas de descanso, me descontraindo um pouco com os diálogos com aquele estranho, mas simpático grupo, chega o momento da verdade.
Luce e seus amigos, telefones celulares nas mãos, começaram a chamar os amigos deles, todo aquele pessoal esquisito, mais esquisito do que eles mesmos conseguiam ser. Todos foram chegando aos poucos, se aglomerando, exibindo aquelas roupas excêntricas, aqueles penteados excêntricos, aquelas alterações corporais excêntricas... transformando o bar em um espaço totalmente “alternativo”, fugindo da proposta inicial de quando foi aberto, de um local destinado a gente comportada, sofisticada.
Ainda bem que os outros dois garçons não demoraram a chegar. Eles tinham, evidentemente, que me ajudar. Eu no balcão, eles circulando pelas mesas. Mas sentia que ambos estavam despertando alguma inveja de mim, pois, daquela clientela esquisita, era eu quem recebia mais atenção, afinal, o encarregado de preparar os drinques e medir as doses de bebida era eu. Bem, eu só fazia o meu trabalho, preparando e servindo drinques – e hoje eu serviria chope.
E, naquela festa do chope, eu me saí muito bem. No momento em que os “monstros” declararam que aquela noite seria a noite do chope, houve uma barulhenta ovação. Mas eu, antes mesmo do discurso inicial, já estava de canecas a postos, pronto para começar a enche-las com aquela cerveja cremosa saída daquela máquina com a qual o bar foi presenteado.
Com grande velocidade e precisão, fui enchendo as canecas conforme os pedidos – quem levantava o dedo diante do meu olhar já garantia a sua caneca. As primeiras foram para o pessoal que já se aglomerava no balcão; depois, várias canecas cheias foram para as bandejas, e os garçons as levavam para os clientes que pediam das mesas do fundo, tendo de atravessar o mar de gente com uma ou duas bandejas cheias de canecas perigosamente equilibradas – mas, felizmente, eles tinham treinamento para levar grandes quantidades de bebida equilibradas nas bandejas, se bem que até o momento eu só os vi levando drinques em copos pequenos; com canecas de chope, mais pesadas, as coisas eram diferentes, mas até que eles se saíram bem. Alguns clientes, mais exaltados, discretamente afanavam canecas das bandejas para se servir, “aliviando” a carga dos garçons, mas ninguém parecia se importar... Importante era a diversão, e que ninguém ficou sem sua caneca, ainda que demorassem a receber a sua porque alguém afanou a que devia ser sua. Ainda que alguns clientes, ao beber, deixavam chope escorrer pelo canto da boca, derramar na roupa, no chão, na mesa. Tomavam cuidado, mais, para não deixar derramar chope em cima das mesas de bilhar – ia ser um estrago, e uma conta a mais para pagar.
Pude ver, por exemplo, uma das mulheres – acho que foi aquela que me beijou na primeira noite, ah, sim, é ela, mesmo, reconheci pela roupa de látex e o cabelo bicolor – bebeu seu chope com tanta avidez que entrou cerveja para dentro de seu decote, como se ela deliberadamente estivesse “surrupiando” cerveja, dentro do vestido, guardando-o em um compartimento escondido, para depois beber em casa...
Bem, mas foi outra noite de festa com aquela turma esquisitona, que bebia, conversava, cantava, jogava bilhar. Que ainda comemorava bastante o fato de quem esteve servindo-os era eu. E brindava, chocando canecas no ar, derramando espuma de cerveja no chão, como vikings, com grito de guerra e tudo. O jukebox tocando sem parar, algumas conversas sobre assuntos “intelectuais” sendo captadas dentre todo aquele barulho.
E, mais uma vez, Luce ficava fazendo contato visual comigo toda vez que o meu olhar o encontrava em um canto qualquer do bar. Ele não parava de “borboletear” pelo salão. Quem estaria “perseguindo” quem naquela ligação mental: eu perseguia Luce, ou Luce me perseguia?
Cada vez mais aquele sujeito me assustava.
A festa do chope durou enquanto tinha chope no reservatório da máquina, sob o balcão. Depois, a máquina deu sinais de que o chope estava no fim, e, depois de quase duas horas, acabou.
Bem, não posso dizer que não foi divertido, para mim, encher canecas puxando aquelas alavancas da máquina, dispor canecas nas bandejas, ver os garçons chegando às mesas do fundo com as bandejas quase vazias por causa dos “ladrões” de canecas, eu jogando canecas de uma ponta do balcão, para o cliente da outra ponta pegar (ainda bem que o balcão não era muito comprido). Já me sentia como um daqueles bartenders que aparecem nos filmes norte-americanos. Ou como um encarregado do barril em alguma edição de uma Oktoberfest.
Bem, depois que o chope terminou, a festa teve continuidade, mas desta vez tive de voltar aos drinques. Parece que o pessoal adivinhou que uma hora o chope tinha de acabar. Esperaram o inevitável fim, e começaram a solicitar drinques: caipirinha, Martini, mojito, Cuba Libre, Daiquiri, piña colada, bloody mary... Enfim, lá vou eu de novo para a prateleira traseira, preparar drinques como se não houvesse amanhã...
Bem, não vou me dar ao trabalho de fazer descrições do que aconteceu depois: praticamente foi o mesmo das outras noites. Procurei fazer o trabalho com a qualidade de todos os dias, e mais uma vez deixei os “monstros” satisfeitos. Isso é tudo.

Fiquei contente quando afinal acabou, a festa foi dada por encerrada, e o bar esvaziou – aos poucos.
O grupo de Luce foi, desta vez, o último a sair. Luce, Flávio Urso, Flávio Dragão, Jorge Miguel, Beto Marley, Breevort, MC Claus, Âmbar, Andrômeda e Morgiana. Ficaram ali mesmo depois que os garçons e eu iniciamos a arrumação do bar, lá pelas quatro da madrugada, quando já não havia mais clientes pagantes, além deles.
Incrível que, em nenhum momento da noite, eu percebi as alterações corporais deles: nem os olhos de Jorge Miguel ficaram vermelhos, nem os dreadlocks de Beto Marley se mexeram. Quer dizer, dava para notar a língua bifurcada de Andrômeda ou os dentes serrilhados de Morgiana quando elas abriam a boca, e não havia como não notar as unhas compridas de Âmbar e Breevort, nem o estranho corte de cabelo de Flávio Dragão, e aparentemente Luce (à parte do cabelo colorido, assim como Âmbar), Flávio Urso e MC Claus não apresentavam nenhuma alteração corporal excêntrica, mas...
Os dez fizeram questão de ajudar a limpar o chope derramado no chão, no balcão, nas mesas. Disseram que era para não dizerem que eles saíam e deixavam tudo desorganizado. Pelo jeito, os dez eram pessoas preocupadas em deixar boas impressões... Se é que eu posso chama-los de “pessoas”... Ou talvez esse fosse o estado de embriaguez deles, embora não aparentassem. E como eles beberam!
Embora nós, os empregados do bar, disséssemos que eles, os clientes, não se incomodassem, que não era necessário, eles insistiram em nos ajudar na limpeza, passando esfregão molhado no piso, os panos nas mesas, no balcão, pegando as garrafas vazias, recolhendo guardanapos usados e outros tipos de lixo... e até lavando os copos.
As tarefas ficaram assim divididas: Âmbar passava o pano úmido nas mesas dos clientes, ajudada por Flávio Dragão (e, apesar das unhas compridas, ela lidou bem com o pano); Morgiana passava pano no balcão; Andrômeda ajudava um dos garçons a passar o esfregão no chão, sob as mesas dos clientes e as de bilhar; MC Claus se limitou a recolher os copos e os pratinhos de aperitivos e coloca-los no balcão, onde: Beto Marley colocou uma bacia com água e, com as mangas arregaçadas, ensaboava os copos sujos, e depois passava para Breevort, que, em outra bacia com água, enxaguava o sabão dos copos, e depois passava para Jorge Miguel, que os enxugava com pano seco; Flávio Urso e Luce recolhiam o lixo e as garrafas vazias; um outro garçom organizava as garrafas na prateleira; e eu, fui colocando as cadeiras de cabeça para baixo nas mesas já limpas por Âmbar e Flávio Dragão. E, bem, creio que Beto Marley, Breevort e Jorge Miguel estavam lavando os copos no balcão, e não na cozinha atrás da prateleira de bebidas, para poderem discutir com o pessoal do salão. E como discutiam, enquanto trabalhavam!
- Pô, que mania desse pessoal beber e derramar bebida no chão... – reclamou Âmbar.
- Verdade, parece que nunca aprenderam a beber, digo, bebem feito crianças... – foi a vez de Andrômeda reclamar, enquanto passava o esfregão furiosamente embaixo da mesa de bilhar. – Depois seca e fica grudento, fica pegando no sapato...
- Sim, acho que, em vez de canecas, o pessoal devia tomar chope naqueles copos infantis com tampa, sabe, aqueles com o biquinho para sugar... – foi a vez de Morgiana reclamar, sob risadas.
- Ah, as marmanjas fazem festa, colaboram com a bagunça e depois ficam reclamando da limpeza, dos modos dos caras, como se também não tivessem derramado chope no decote... – reclamou Beto Marley, apontando o dedo ensaboado para Morgiana.
- Se fosse na casa de vocês, onde estariam mais à vontade, vá lá, mas como é num bar... – reclamou Breevort, enquanto enxaguava os copos e as canecas.
- Derramando chope no decote, ah, porque derramamos chope no decote... – resmungou Âmbar. – Pode ver que não há nem um resíduo de chope na minha roupinha...
- É, vem com essa roupinha minúscula que é pra tentar provar que não tem uma garrafa escondida na roupa para roubar chope... Quem sabe a Morgiana e a Andrômeda aí que não estejam com as garrafas embaixo das roupas, hein? Elas que estão com mais roupa... – disse Luce, só para provocar, fazendo todos os outros rirem.
- Haha, que engraçado. – arremedou Andrômeda, depois que parou de rir. – Nós bebemos como damas, me revistem se quiser que vocês verão que não tem nenhuma garrafa escondida sob este vestido, nós não somos como o Flavião aí – e apontou para Flávio Urso – que tem chope até na barba pra beber depois, só espremer a barba que escorre cerveja...
Flávio Urso, que nem parecia cambaleante depois do tanto que bebeu, deu um pequeno arroto, mas suficiente para nos dar um susto.
- Parrdon...
As garotas franziram a testa.
- O que eu avisei a você, Flávio?! – vociferou Morgiana.
- A festa já terrrminarrr, enton non poderrr fazerrr nada contrrra mim, Morrrgiann... E nem forrr dos maiorrres, “iafôl”?
Quase todos caíram na risada. Só Morgiana que continuou contrariada.
- Tá certo ele, Morgiana, você ameaçou arrancar a pele dele se ele arrotasse durante a festa. Mas como a festa já acabou... E na festa ele nem arrotou, ou teríamos ouvido apesar do barulho que os outros fizeram, não é? – comentou Âmbar, sorrindo.
- Vai, defende esse... esse selvagem.
- Bem, por que estamos discutindo por baboseiras? O justo e importante é que estejamos aqui ajudando o Macário e o pessoal a ajeitar o bar depois de toda essa festividade viking, não deixar o grosso do trabalho sujo para eles... – disse Jorge Miguel.
- Certamente. O sucesso da festa dependeu, em grande parte, da parte do bartender, no caso, o Macário. – manifestou-se MC Claus, agora passando o pano nas bordas das mesas de bilhar.
- E ele se sairrr melhorrr que o medida, non deixarrr ninguém com o boca seca. – disse Flávio Urso, e deu outro arroto. – Pardon.
- Certamente, mostraremos a ele que somos diferentes da elite “grosseirona”, que sai e deixa tudo para a “ralé” arrumar, sem nem deixar gorjetas... Bem, e agora? – pergunta Flávio Dragão.
- Agora? – diz Luce. – Agora, vamos aproveitar o domingo em casa. Já fizemos muita farra durante a semana. Precisamos estar inteiros para nossos assuntos de segunda-feira. Se tudo der certo, viremos aqui para o happy hour... E o nosso Macário precisa descansar. Agora... digo... a próxima baladinha fica para a madrugada de segunda para terça-feira. Certo, Macário?
- Claro. – eu disse, com alguma apreensão. – Obrigado pelo aviso.
Achei estranha toda aquela gentileza. Não é todo dia que se via algo daquela magnitude. “Monstros” educados, que depois do fim da festa ajudavam a organizar o bar, ao invés de simplesmente irem embora e deixar o trabalho de limpeza com os “empregados”? Talvez esse fosse mesmo o estado de embriaguez deles, mas engraçado como nem parecia... Mas quem sou eu para discordar?

- Macário, o que aqueles caras viram em você afinal? – me perguntou um dos colegas garçons enquanto nos trocávamos no vestiário.
- Como assim?
- Ué. Os esquisitões lá parecem gostar mais de você do que da gente. E olha que a gente também se esforça em atende-los bem...
- Eu quase quebrei os braços carregando aquelas caneconas pesadas lá pro outro lado do salão, a noite toda, e eles só citam o seu nome.
- Bem, – respondo – eu também não sei por que eles dão muito mais atenção para mim que para vocês.
- É essa a questão! Eles até te chamam pelo nome, enquanto nós...
- Bem, deve ser porque quem está preparando os drinques sou eu, e vocês ainda não se apresentaram para eles.
- Claro, né? Eles perguntam o seu nome, não os nossos...
- Se fosse um de nós que está no balcão preparando drinques... E como eles bebem, aliás! Tomara que nenhum deles esteja dirigindo...
- É, o Macário aqui recebe as glórias porque prepara os drinques, enquanto nós, que levamos os drinques à mesa...
- Ah. Nada contra o trabalho de vocês, amigos. Acham que eu também não acho essa turma esquisita? Acham que eu também não estou achando essa história muito estranha?
- Acha estranho, mas nem reclamando está... e o salário mais alto, no fim, há de ser o seu, não é mesmo?
Nem adiantava argumentar: meus dois colegas, evidentemente, estavam com muita inveja do sucesso que nem eu mesmo almejava, e alcancei sem querer. Eu nem mesmo planejo passar o resto da vida trabalhando de bartender, vou ser médico depois que terminar a faculdade...

Que alívio, ter sido dispensado do trabalho entre domingo e segunda-feira. Achei que ia ter de trabalhar também na noite de domingo, mas resolveram me dispensar. Ao menos, poderei descansar até segunda-feira.
Depois que Luce e sua gangue foram embora, e dei meu turno extra por encerrado, troquei de roupa, joguei a mochila nas costas e resolvi ir direto para meu apartamento. Ainda tinha de lavar a louça, tinha de dar uma limpada no apartamento, colocar algumas roupas para lavar, e depois dormir até... até...
Ou pelo menos era o que eu pensava.
Na porta do meu prédio, acabo dando de cara com Viridiana.
Ela me aguardava! E sorriu um sorriso enorme ao me ver chegando.
Hoje ela estava usando uma calça legging muito justa, que ressaltava bastante seu quadril, e, sob o casaco aberto, uma blusa curta que deixava a barriga de fora, mostrando o piercing no umbigo. E estava fortemente perfumada.
Ela me recebeu cordialmente:
- Oi Macário... voltando do trabalho? Digo, teve que trabalhar hoje também? Aah, minha nossa, não deixam em paz o coitado...
- É, Vi – respondi – aqueles esquisitos que me requisitaram para uma festa do chope... Sabe, os que você viu anteontem no bar... Mas o que você está fazendo aqui?
Ela me mostrou uma sacola de compras em uma mão, e uma bolsa de viagem na outra. Disse que ia fazer um almoço para mim nesse domingo, e, à tarde, iria viajar, que tirou uma licença do serviço para voltar à sua cidade, tinha dias de férias acumulados mesmo, e ia ver como sua amiga Valtéria estava, se já estava mais tranquila, se já havia esquecido aquela obsessão por mim, e... Claro que ela não ia viajar sem ter uma “noitadazinha” comigo. E veio, cheia de dengos: Ah, Macário, diz que está disposto, vai... Eu não queria viajar sem... Aah, você já pensou naquele nosso assunto? Vamos namorar? Outra vez assumindo aquele lado de sua personalidade que não me agradava.
Pô, eu estava cansado, eu queria me jogar na cama para dormir. Mas o que podia fazer? Se não desse o que ela queria, provavelmente iria armar um escândalo, ia manifestar aquele outro lado desagradável de personalidade...
- Ah, está bem, vamos entrar, Vi. Só não abuse que eu tive de trabalhar a noite toda...
Achei estranho Viridiana ter vindo me procurar de novo. E assim, solícita em me fazer um almoço. Talvez a sua bipolaridade estivesse atacando de novo. Mas, naquele momento, eu mal conseguia pensar racionalmente em alguma coisa... De alguma forma, Viridiana parecia bonita hoje. Estava mais sensual. E me despertava uma vontade de...
Mal tranquei a porta do apartamento por dentro, Viridiana me agarra e começa a me beijar furiosamente. Retribuo.
A minha mão começa a percorrer o quadril de Viridiana, compactado naquela calça, de forma que ficou mais volumoso. Senti aquele “tesão” subindo, e...
Aah, Vi... vamos namorar, sim, mas só hoje. Ainda não pensei naquela proposta, mas...
Hum... Nada como algumas horas de sexo após um dia exaustivo...

O meio dia de domingo me encontrou adormecido, e, mais uma vez, peladão sobre a cama, depois de ser “cansado” pela ninfa de piercing... Ela que trouxe as camisinhas. E ainda diz que essa relação é para o bem de sua amiga maluca, que saiu para umas “férias” compulsivas para tentar esquecer sua paixão pelo “lobão” aqui.
Era normal para mim que eu passasse o dia na cama. Mas acabei sendo tirado desta por Viridiana. Ela levantou antes de mim, fez o almoço conforme prometido e me chamou para almoçar.
Levantei, meio grogue. A cabeça rodava. E Viridiana, mais uma vez, estava de avental. Só de avental. É, a bipolaridade estava atacando de novo. Ela estava assumindo, de novo, aquela identidade submissa. Só porque era eu...
Bem, é só até as três da tarde, Macário, nessa hora ela vai pegar o ônibus e viajar... Entre na dela. Além do mais, hoje ela está tão sexy... aí você pode voltar para a cama...

E foi o que fiz. Digo, depois que dei a Viridiana o que ela queria, pelo menos naquele momento. Após o atrativo macarrão com legumes, e um vinho branco, e de ajudar a lavar minha louça, e dar um tempinho para fazer a digestão... eu a possuí. Ou melhor, tive de possuí-la outra vez para que não torre minha paciência.
Digo, não bastou o que fizemos na madrugada, à tarde também teve uma sessão de sexo. Foi rápido. Depois, ela tomou um banho, vestiu-se com suas roupas, se despediu de mim (“e lembre-se, Macário: eu te amo, e você ainda vai ser meu, só meu...”) e foi viajar.
Bem, ela teve o que queria, exceto a resposta, se seríamos namorados dali em diante. Na verdade, ela também nem estava pensando nisso, fez aquela pergunta e fez aquela “ameaça” por provocação.
Bem, pelo menos ela lavou minha louça, deu uma varrida no chão... Até deixou algumas roupas minhas de molho no balde do tanquinho da área de serviço, depois eu termino de lavar. Com a “geral” na casa, eu já não precisaria me preocupar.
Assim que ela saiu, eu caí na cama. E dormi... por umas quatro horas.

Acordei com a campainha tocando. No primeiro toque, acordei, mas achei que era sonho... Mas aí, a campainha começou a tocar de novo. E de novo, e de novo... Insistentemente. E tive de concluir que não era sonho. Era minha campainha mesmo.
Tive de levantar, colocar uma calça e ir atender a porta. O relógio ao lado da minha cama marcava 19:00, sete horas da noite. Podia ser importante, para insistir em ficar tocando a minha campainha. Podia ser meus pais me visitando de surpresa. Podia ser a...
...Maura.
Fiquei surpreso. Maura, aqui?!
Ela estava usando aquele mesmo conjunto azul da madrugada de sábado. E parecia brava.
- Ah, Sr. Macário... – ela começou a falar – eu sabia que você estava aqui! Por que não voltou para meu apartamento?! Você prometeu!
Eu, um tanto assustado, justifiquei:
- Pô, Maura, eu tive de trabalhar a noite toda, e tinha coisas a fazer em casa, eu...
Mas ela me interrompeu, aspirando o odor de meu corpo:
- Que cheiro é esse, Macário?
Cheiro? Que cheiro?
- Eu... Maura... Deve ser cheiro de meu suor, eu não tomei banho ainda... Eu cheguei cansado em casa, e...
Mas Maura me interrompeu:
- Que suor o quê, sinto um perfume que não é seu, e eu conheço o cheiro do seu suor... esse perfume é de mulher!
Aspirei meu braço: ei, havia mesmo um leve traço de perfume, era o perfume da Viridiana! Ela deixou seus “traços” no meu corpo!
- Eu... eu posso explicar, Maura...
Mas ela em seguida avançou para minha cozinha, e encontrou, sobre o fogão, sobras do macarrão com legumes, ainda frescos.
- Não foi você quem cozinhou, foi Macário? Não, não pode ter sido...
Eu não tinha como provar que eu podia ter cozinhado aquele macarrão, Maura nunca me viu cozinhando. Aí ela olhou para a pia e viu a garrafa vazia de vinho. Ela cheirou o gargalo da garrafa.
- Esse vinho estava fresco! Macário, ‘teve uma garota aqui no seu apartamento! ‘Teve sim!
- Insisto, eu posso explicar, Maura...
Não contente, ela avançou para a área de serviço. E ali, encontrou, em cima do tanquinho, uma calcinha. Nem eu havia reparado naquela calcinha roxa ali, no tanque. Pô: a Viridiana esqueceu, ou deliberadamente deixou comigo, a calcinha dela no meu apartamento? E foi viajar sem calcinha?! Não, peraí, ela estava de calça... E eu não tinha reparado, e sequer ela me avisou?!
- Aah, Sr, Macário, então é verdade! Teve uma garota aqui! E essa calcinha sequer foi lavada!!! Ó... – e cheirou-a. – Ainda tem o cheiro da sirigaita! E ela nem se limpou direito depois de usar o banheiro! Que horror!!!
- Insisto!! Eu posso explicar, Maura!... – comecei, mas ela me arrastou por um braço para a cozinha, me empurrou em cima do sofá, se jogou em cima de mim, sentando em meu colo, e começou a chorar e gritar em minha cara.
- Aah, Macário, como você pode? Depois de ontem?! Eu te esperando feito uma tonta e, você...
Tentei argumentar, entre os soluços dela:
- Peraí, Maura, não foi de propósito... nem eu esperava que tivesse uma garota à minha espera aqui, e...
- E você se deixou levar, né, Sr. Macário?! Sempre o mesmo Macário, que só pensa em sexo, não é?! Não é?!
- Mas, Maura, ela que estava pensando em sexo, não eu... não eu...
Antes que eu respondesse, Maura calou minha boca com um beijo.
Não era raiva de verdade. Ela só dengo. Maura veio me procurar do mesmo modo que Viridiana: decidiu que naquela noite vinha ao meu apartamento, esperando que eu lhe desse prazer, não bastava o que teve na última “sessão”. E, bem, foi o que fiz, atendi ao desejo dela.
- Aah, Macário, diz aí, quem foi a sirigaita? – ela perguntou, e, antes que eu respondesse, ela prosseguiu em seu “choro”: – Não, melhor não dizer agora. Tantas sirigaitas passaram por aqui, qual a diferença entre uma e outra, não é mesmo? Mas melhor que eu, duvido que haja... Diz que eu sou a melhor que já passou pela tua cama, Macariozinho... Nenhuma sirigaita vai tirar o meu Macário de mim... Não enquanto eu estiver viva para fazer o meu Macário hmmmm...
E foi me beijando, e me fazendo beijar seus seios, dentro da camisa desabotoada.
Eu bem que gostaria de continuar dormindo, mas acho que não vai dar. Não quando a garota insiste em me hmmm...
E, tal como com a “sirigaita”, digo, a Viridiana, eu também me deixei levar pela sedução de Maura, toda de azul...

Isso já estava indo longe demais.
Eu esperava descansar naquele domingo, mas desde antes do raiar do dia até o anoitecer, tive duas garotas em meu apartamento. Duas garotas com quem eu já havia saído anteriormente. E essas duas, bem... também me procuraram durante a semana. Por alguma razão, perceberam que não tiveram o suficiente.
Maura jantou comigo, esquentamos e comemos aquele resto de macarrão com legumes. Ainda que tenha sido a “sirigaita” quem cozinhou, Maura comeu. E ainda fez questão de cozinhar um arroz e fritar uns ovos para acompanhar. Nada mau.
E teve mais sexo, em seguida – ela trouxe as camisinhas.
A manhã de segunda-feira pegou-me outra vez na cama, peladão. O relógio marcava oito da manhã quando fui acordado por Maura. Ela estava junto comigo na cama, e seus movimentos me fizeram acordar.
Ela estava se vestindo para ir trabalhar.
- Desculpa, Macário, te acordei? – ela começou a falar, bem depressa. – Infelizmente, vou ter de ir trabalhar... que chato, hein? Eu bem que gostaria de ficar aqui antes que a outra sirigaita volte, mas vão me chatear lá no hospital se eu perder a hora, já fui advertida por atraso antes, e... E aí, vamos nos ver de novo? Onde você vai estar?
- Eu hoje vou à faculdade e depois para o bar... – respondi, grogue.
- Hum, está bem. Nos vemos depois, tá? Ah, vou deixar uma coisinha para você, viu? Para você não esquecer. Vou querer de volta mais tarde, viu?
Tive de levantar e colocar minha calça para abrir a porta para ela. O que foi que ela me deixou? Olhei para o tanquinho da área de serviço: ao lado da calcinha esquecida de Viridiana, estava a calcinha azul de Maura. Agora sim percebo que as coisas estão indo longe demais.
Nunca foi de meu feitio colecionar “lembrancinhas” das garotas com quem costumo sair. Nenhuma delas sequer se dispôs a deixar suas calcinhas comigo. Isso eu nunca pedia. Por que agora elas deram para isso? Deixar calcinhas comigo?
Bem, melhor que eu guarde isso, porque tenho um pressentimento ruim a respeito de... Bem, havia água e algumas roupas de molho na minha mini lavadora de roupa. Joguei as calcinhas usadas lá dentro – capaz que eu iria guarda-las sem lavar – e voltei para a cama.
Dormi mais umas horas quando a campainha tocou de novo.

O relógio marcava meio dia. O que está acontecendo? Quem será desta vez?!
Coloquei a calça e fui atender.
Era outra garota!
E seu olhar era de “más” intenções para comigo.
- Oi, Macário. Lembra de mim? – ela começou a falar suavemente. – Duvido que lembre, não é?
Eu até lembrava, mas de onde, mesmo?
- Ué, você não lembra? – emendou, ao ver que eu estava muito quieto, tentando lembrar. – Saíamos há umas duas semanas! Sou eu, a Créssida, do curso!
- Aah, é... Créssida. Desculpe. – sabia que eu já tinha visto antes aqueles óculos e aqueles cabelos escuros. – Aconteceram muitas coisas desde aquele dia, e... O que está fazendo aqui?
- Eu? Eu vim conversar um pouco, Macário, é que comigo também aconteceram muitas coisas, e...
E foi entrando, e falando, e...
E era geralmente assim que começava. Papo vai, papo vem, e aí...

O que estava acontecendo, afinal de contas?! Por que, de repente, eu estava me tornando um imã de mulheres?!

Próximo capítulo daqui a 15 dias.
E ainda não consegui chegar ao clímax que pretendo, mas resolverei isso em breve.
E ainda aguardo um feedback por parte dos leitores. Está bom do jeito como está? Devo mudar alguma coisa? Devo continuar? Devo parar?
Por enquanto, o "quem cala consente" tem me dado o salvo-conduto para continuar do jeito que eu quiser, no meu estilo, com minhas próprias ideias. Mas aguardo uma opinião, ainda.
E até o próximo capítulo. Enquanto isso,em breve, novas resenhas de livros e HQs deverão estar no ar aqui neste blog. Aguardem.
Até mais!

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