Quinze dias se passaram; e lá vamos nós com mais um capítulo inédito de MACÁRIO, meu folhetim ilustrado quinzenal. Isso é tudo...
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de consumo de bebidas alcoólicas, sexo, troca de parceiros e situações vexaminosas.
Como eu disse anteriormente: minha
experiência como chopeiro foi um sucesso.
Depois de uma hora inteira treinando, sob a
supervisão dos “monstros” liderados por Luce (não estava explícito, mas tinha
convicção que Luce era o líder da gangue), e depois de duas de descanso, me
descontraindo um pouco com os diálogos com aquele estranho, mas simpático grupo,
chega o momento da verdade.
Luce e seus amigos, telefones celulares nas
mãos, começaram a chamar os amigos deles, todo aquele pessoal esquisito, mais
esquisito do que eles mesmos conseguiam ser. Todos foram chegando aos poucos,
se aglomerando, exibindo aquelas roupas excêntricas, aqueles penteados
excêntricos, aquelas alterações corporais excêntricas... transformando o bar em
um espaço totalmente “alternativo”, fugindo da proposta inicial de quando foi
aberto, de um local destinado a gente comportada, sofisticada.
Ainda bem que os outros dois garçons não
demoraram a chegar. Eles tinham, evidentemente, que me ajudar. Eu no balcão,
eles circulando pelas mesas. Mas sentia que ambos estavam despertando alguma
inveja de mim, pois, daquela clientela esquisita, era eu quem recebia mais
atenção, afinal, o encarregado de preparar os drinques e medir as doses de
bebida era eu. Bem, eu só fazia o meu trabalho, preparando e servindo drinques
– e hoje eu serviria chope.
E, naquela festa do chope, eu me saí muito
bem. No momento em que os “monstros” declararam que aquela noite seria a noite
do chope, houve uma barulhenta ovação. Mas eu, antes mesmo do discurso inicial,
já estava de canecas a postos, pronto para começar a enche-las com aquela
cerveja cremosa saída daquela máquina com a qual o bar foi presenteado.
Com grande velocidade e precisão, fui
enchendo as canecas conforme os pedidos – quem levantava o dedo diante do meu
olhar já garantia a sua caneca. As primeiras foram para o pessoal que já se
aglomerava no balcão; depois, várias canecas cheias foram para as bandejas, e
os garçons as levavam para os clientes que pediam das mesas do fundo, tendo de
atravessar o mar de gente com uma ou duas bandejas cheias de canecas
perigosamente equilibradas – mas, felizmente, eles tinham treinamento para
levar grandes quantidades de bebida equilibradas nas bandejas, se bem que até o
momento eu só os vi levando drinques em copos pequenos; com canecas de chope,
mais pesadas, as coisas eram diferentes, mas até que eles se saíram bem. Alguns
clientes, mais exaltados, discretamente afanavam canecas das bandejas para se
servir, “aliviando” a carga dos garçons, mas ninguém parecia se importar...
Importante era a diversão, e que ninguém ficou sem sua caneca, ainda que demorassem
a receber a sua porque alguém afanou a que devia ser sua. Ainda que alguns
clientes, ao beber, deixavam chope escorrer pelo canto da boca, derramar na
roupa, no chão, na mesa. Tomavam cuidado, mais, para não deixar derramar chope
em cima das mesas de bilhar – ia ser um estrago, e uma conta a mais para pagar.
Pude ver, por exemplo, uma das mulheres –
acho que foi aquela que me beijou na primeira noite, ah, sim, é ela, mesmo,
reconheci pela roupa de látex e o cabelo bicolor – bebeu seu chope com tanta
avidez que entrou cerveja para dentro de seu decote, como se ela
deliberadamente estivesse “surrupiando” cerveja, dentro do vestido, guardando-o
em um compartimento escondido, para depois beber em casa...
Bem, mas foi outra noite de festa com aquela
turma esquisitona, que bebia, conversava, cantava, jogava bilhar. Que ainda
comemorava bastante o fato de quem esteve servindo-os era eu. E brindava,
chocando canecas no ar, derramando espuma de cerveja no chão, como vikings, com
grito de guerra e tudo. O jukebox tocando sem parar, algumas conversas sobre
assuntos “intelectuais” sendo captadas dentre todo aquele barulho.
E, mais uma vez, Luce ficava fazendo contato
visual comigo toda vez que o meu olhar o encontrava em um canto qualquer do
bar. Ele não parava de “borboletear” pelo salão. Quem estaria “perseguindo”
quem naquela ligação mental: eu perseguia Luce, ou Luce me perseguia?
Cada vez mais aquele sujeito me assustava.
A festa do chope durou enquanto tinha chope
no reservatório da máquina, sob o balcão. Depois, a máquina deu sinais de que o
chope estava no fim, e, depois de quase duas horas, acabou.
Bem, não posso dizer que não foi divertido,
para mim, encher canecas puxando aquelas alavancas da máquina, dispor canecas
nas bandejas, ver os garçons chegando às mesas do fundo com as bandejas quase
vazias por causa dos “ladrões” de canecas, eu jogando canecas de uma ponta do
balcão, para o cliente da outra ponta pegar (ainda bem que o balcão não era
muito comprido). Já me sentia como um daqueles bartenders que aparecem nos
filmes norte-americanos. Ou como um encarregado do barril em alguma edição de
uma Oktoberfest.
Bem, depois que o chope terminou, a festa
teve continuidade, mas desta vez tive de voltar aos drinques. Parece que o
pessoal adivinhou que uma hora o chope tinha de acabar. Esperaram o inevitável
fim, e começaram a solicitar drinques: caipirinha, Martini, mojito, Cuba Libre,
Daiquiri, piña colada, bloody mary... Enfim, lá vou eu de novo para a
prateleira traseira, preparar drinques como se não houvesse amanhã...
Bem, não vou me dar ao trabalho de fazer
descrições do que aconteceu depois: praticamente foi o mesmo das outras noites.
Procurei fazer o trabalho com a qualidade de todos os dias, e mais uma vez
deixei os “monstros” satisfeitos. Isso é tudo.
Fiquei contente quando afinal acabou, a festa
foi dada por encerrada, e o bar esvaziou – aos poucos.
O grupo de Luce foi, desta vez, o último a
sair. Luce, Flávio Urso, Flávio Dragão, Jorge Miguel, Beto Marley, Breevort, MC
Claus, Âmbar, Andrômeda e Morgiana. Ficaram ali mesmo depois que os garçons e
eu iniciamos a arrumação do bar, lá pelas quatro da madrugada, quando já não
havia mais clientes pagantes, além deles.
Incrível que, em nenhum momento da noite, eu
percebi as alterações corporais deles: nem os olhos de Jorge Miguel ficaram
vermelhos, nem os dreadlocks de Beto Marley se mexeram. Quer dizer, dava para
notar a língua bifurcada de Andrômeda ou os dentes serrilhados de Morgiana
quando elas abriam a boca, e não havia como não notar as unhas compridas de
Âmbar e Breevort, nem o estranho corte de cabelo de Flávio Dragão, e
aparentemente Luce (à parte do cabelo colorido, assim como Âmbar), Flávio Urso
e MC Claus não apresentavam nenhuma alteração corporal excêntrica, mas...
Os dez fizeram questão de ajudar a limpar o
chope derramado no chão, no balcão, nas mesas. Disseram que era para não
dizerem que eles saíam e deixavam tudo desorganizado. Pelo jeito, os dez eram
pessoas preocupadas em deixar boas impressões... Se é que eu posso chama-los de
“pessoas”... Ou talvez esse fosse o estado de embriaguez deles, embora não
aparentassem. E como eles beberam!
Embora nós, os empregados do bar, disséssemos
que eles, os clientes, não se incomodassem, que não era necessário, eles
insistiram em nos ajudar na limpeza, passando esfregão molhado no piso, os
panos nas mesas, no balcão, pegando as garrafas vazias, recolhendo guardanapos
usados e outros tipos de lixo... e até lavando os copos.
As tarefas ficaram assim divididas: Âmbar
passava o pano úmido nas mesas dos clientes, ajudada por Flávio Dragão (e,
apesar das unhas compridas, ela lidou bem com o pano); Morgiana passava pano no
balcão; Andrômeda ajudava um dos garçons a passar o esfregão no chão, sob as
mesas dos clientes e as de bilhar; MC Claus se limitou a recolher os copos e os
pratinhos de aperitivos e coloca-los no balcão, onde: Beto Marley colocou uma
bacia com água e, com as mangas arregaçadas, ensaboava os copos sujos, e depois
passava para Breevort, que, em outra bacia com água, enxaguava o sabão dos copos,
e depois passava para Jorge Miguel, que os enxugava com pano seco; Flávio Urso
e Luce recolhiam o lixo e as garrafas vazias; um outro garçom organizava as
garrafas na prateleira; e eu, fui colocando as cadeiras de cabeça para baixo
nas mesas já limpas por Âmbar e Flávio Dragão. E, bem, creio que Beto Marley,
Breevort e Jorge Miguel estavam lavando os copos no balcão, e não na cozinha
atrás da prateleira de bebidas, para poderem discutir com o pessoal do salão. E
como discutiam, enquanto trabalhavam!
- Pô, que mania desse pessoal beber e
derramar bebida no chão... – reclamou Âmbar.
- Verdade, parece que nunca aprenderam a
beber, digo, bebem feito crianças... – foi a vez de Andrômeda reclamar,
enquanto passava o esfregão furiosamente embaixo da mesa de bilhar. – Depois
seca e fica grudento, fica pegando no sapato...
- Sim, acho que, em vez de canecas, o pessoal
devia tomar chope naqueles copos infantis com tampa, sabe, aqueles com o
biquinho para sugar... – foi a vez de Morgiana reclamar, sob risadas.
- Ah, as marmanjas fazem festa, colaboram com
a bagunça e depois ficam reclamando da limpeza, dos modos dos caras, como se
também não tivessem derramado chope no decote... – reclamou Beto Marley,
apontando o dedo ensaboado para Morgiana.
- Se fosse na casa de vocês, onde estariam
mais à vontade, vá lá, mas como é num bar... – reclamou Breevort, enquanto
enxaguava os copos e as canecas.
- Derramando chope no decote, ah, porque
derramamos chope no decote... – resmungou Âmbar. – Pode ver que não há nem um
resíduo de chope na minha roupinha...
- É, vem com essa roupinha minúscula que é
pra tentar provar que não tem uma garrafa escondida na roupa para roubar
chope... Quem sabe a Morgiana e a Andrômeda aí que não estejam com as garrafas
embaixo das roupas, hein? Elas que estão com mais roupa... – disse Luce, só
para provocar, fazendo todos os outros rirem.
- Haha, que engraçado. – arremedou Andrômeda,
depois que parou de rir. – Nós bebemos como damas, me revistem se quiser que
vocês verão que não tem nenhuma garrafa escondida sob este vestido, nós não
somos como o Flavião aí – e apontou para Flávio Urso – que tem chope até na
barba pra beber depois, só espremer a barba que escorre cerveja...
Flávio Urso, que nem parecia cambaleante
depois do tanto que bebeu, deu um pequeno arroto, mas suficiente para nos dar
um susto.
- Parrdon...
As garotas franziram a testa.
- O que eu avisei a você, Flávio?! –
vociferou Morgiana.
- A festa já terrrminarrr, enton non poderrr
fazerrr nada contrrra mim, Morrrgiann... E nem forrr dos maiorrres, “iafôl”?
Quase todos caíram na risada. Só Morgiana que
continuou contrariada.
- Tá certo ele, Morgiana, você ameaçou
arrancar a pele dele se ele arrotasse durante a festa. Mas como a festa já
acabou... E na festa ele nem arrotou, ou teríamos ouvido apesar do barulho que
os outros fizeram, não é? – comentou Âmbar, sorrindo.
- Vai, defende esse... esse selvagem.
- Bem, por que estamos discutindo por
baboseiras? O justo e importante é que estejamos aqui ajudando o Macário e o
pessoal a ajeitar o bar depois de toda essa festividade viking, não deixar o
grosso do trabalho sujo para eles... – disse Jorge Miguel.
- Certamente. O sucesso da festa dependeu, em
grande parte, da parte do bartender, no caso, o Macário. – manifestou-se MC
Claus, agora passando o pano nas bordas das mesas de bilhar.
- E ele se sairrr melhorrr que o medida, non
deixarrr ninguém com o boca seca. – disse Flávio Urso, e deu outro arroto. –
Pardon.
- Certamente, mostraremos a ele que somos
diferentes da elite “grosseirona”, que sai e deixa tudo para a “ralé” arrumar,
sem nem deixar gorjetas... Bem, e agora? – pergunta Flávio Dragão.
- Agora? – diz Luce. – Agora, vamos
aproveitar o domingo em casa. Já fizemos muita farra durante a semana. Precisamos
estar inteiros para nossos assuntos de segunda-feira. Se tudo der certo,
viremos aqui para o happy hour... E o nosso Macário precisa descansar. Agora...
digo... a próxima baladinha fica para a madrugada de segunda para terça-feira. Certo,
Macário?
- Claro. – eu disse, com alguma apreensão. –
Obrigado pelo aviso.
Achei estranha toda aquela gentileza. Não é
todo dia que se via algo daquela magnitude. “Monstros” educados, que depois do
fim da festa ajudavam a organizar o bar, ao invés de simplesmente irem embora e
deixar o trabalho de limpeza com os “empregados”? Talvez esse fosse mesmo o
estado de embriaguez deles, mas engraçado como nem parecia... Mas quem sou eu
para discordar?
- Macário, o que aqueles caras viram em você
afinal? – me perguntou um dos colegas garçons enquanto nos trocávamos no
vestiário.
- Como assim?
- Ué. Os esquisitões lá parecem gostar mais
de você do que da gente. E olha que a gente também se esforça em atende-los
bem...
- Eu quase quebrei os braços carregando aquelas
caneconas pesadas lá pro outro lado do salão, a noite toda, e eles só citam o
seu nome.
- Bem, – respondo – eu também não sei por que
eles dão muito mais atenção para mim que para vocês.
- É essa a questão! Eles até te chamam pelo
nome, enquanto nós...
- Bem, deve ser porque quem está preparando
os drinques sou eu, e vocês ainda não se apresentaram para eles.
- Claro, né? Eles perguntam o seu nome, não
os nossos...
- Se fosse um de nós que está no balcão
preparando drinques... E como eles bebem, aliás! Tomara que nenhum deles esteja
dirigindo...
- É, o Macário aqui recebe as glórias porque
prepara os drinques, enquanto nós, que levamos os drinques à mesa...
- Ah. Nada contra o trabalho de vocês,
amigos. Acham que eu também não acho essa turma esquisita? Acham que eu também
não estou achando essa história muito estranha?
- Acha estranho, mas nem reclamando está... e
o salário mais alto, no fim, há de ser o seu, não é mesmo?
Nem adiantava argumentar: meus dois colegas,
evidentemente, estavam com muita inveja do sucesso que nem eu mesmo almejava, e
alcancei sem querer. Eu nem mesmo planejo passar o resto da vida trabalhando de
bartender, vou ser médico depois que terminar a faculdade...
Que alívio, ter sido dispensado do trabalho
entre domingo e segunda-feira. Achei que ia ter de trabalhar também na noite de
domingo, mas resolveram me dispensar. Ao menos, poderei descansar até
segunda-feira.
Depois que Luce e sua gangue foram embora, e
dei meu turno extra por encerrado, troquei de roupa, joguei a mochila nas
costas e resolvi ir direto para meu apartamento. Ainda tinha de lavar a louça,
tinha de dar uma limpada no apartamento, colocar algumas roupas para lavar, e
depois dormir até... até...
Ou pelo menos era o que eu pensava.
Na porta do meu prédio, acabo dando de cara
com Viridiana.
Ela me aguardava! E sorriu um sorriso enorme
ao me ver chegando.
Hoje ela estava usando uma calça legging
muito justa, que ressaltava bastante seu quadril, e, sob o casaco aberto, uma
blusa curta que deixava a barriga de fora, mostrando o piercing no umbigo. E
estava fortemente perfumada.
Ela me recebeu cordialmente:
- Oi Macário... voltando do trabalho? Digo, teve
que trabalhar hoje também? Aah, minha nossa, não deixam em paz o coitado...
- É, Vi – respondi – aqueles esquisitos que
me requisitaram para uma festa do chope... Sabe, os que você viu anteontem no
bar... Mas o que você está fazendo aqui?
Ela me mostrou uma sacola de compras em uma
mão, e uma bolsa de viagem na outra. Disse que ia fazer um almoço para mim
nesse domingo, e, à tarde, iria viajar, que tirou uma licença do serviço para
voltar à sua cidade, tinha dias de férias acumulados mesmo, e ia ver como sua
amiga Valtéria estava, se já estava mais tranquila, se já havia esquecido
aquela obsessão por mim, e... Claro que ela não ia viajar sem ter uma “noitadazinha”
comigo. E veio, cheia de dengos: Ah, Macário, diz que está disposto, vai... Eu
não queria viajar sem... Aah, você já pensou naquele nosso assunto? Vamos
namorar? Outra vez assumindo aquele lado de sua personalidade que não me
agradava.
Pô, eu estava cansado, eu queria me jogar na
cama para dormir. Mas o que podia fazer? Se não desse o que ela queria,
provavelmente iria armar um escândalo, ia manifestar aquele outro lado
desagradável de personalidade...
- Ah, está bem, vamos entrar, Vi. Só não
abuse que eu tive de trabalhar a noite toda...
Achei estranho Viridiana ter vindo me
procurar de novo. E assim, solícita em me fazer um almoço. Talvez a sua
bipolaridade estivesse atacando de novo. Mas, naquele momento, eu mal conseguia
pensar racionalmente em alguma coisa... De alguma forma, Viridiana parecia
bonita hoje. Estava mais sensual. E me despertava uma vontade de...
Mal tranquei a porta do apartamento por
dentro, Viridiana me agarra e começa a me beijar furiosamente. Retribuo.
A minha mão começa a percorrer o quadril de
Viridiana, compactado naquela calça, de forma que ficou mais volumoso. Senti
aquele “tesão” subindo, e...
Aah, Vi... vamos namorar, sim, mas só hoje.
Ainda não pensei naquela proposta, mas...
Hum... Nada como algumas horas de sexo após
um dia exaustivo...
O meio dia de domingo me encontrou adormecido,
e, mais uma vez, peladão sobre a cama, depois de ser “cansado” pela ninfa de
piercing... Ela que trouxe as camisinhas. E ainda diz que essa relação é para o
bem de sua amiga maluca, que saiu para umas “férias” compulsivas para tentar
esquecer sua paixão pelo “lobão” aqui.
Era normal para mim que eu passasse o dia na
cama. Mas acabei sendo tirado desta por Viridiana. Ela levantou antes de mim,
fez o almoço conforme prometido e me chamou para almoçar.
Levantei, meio grogue. A cabeça rodava. E
Viridiana, mais uma vez, estava de avental. Só de avental. É, a bipolaridade
estava atacando de novo. Ela estava assumindo, de novo, aquela identidade
submissa. Só porque era eu...
Bem, é só até as três da tarde, Macário,
nessa hora ela vai pegar o ônibus e viajar... Entre na dela. Além do mais, hoje
ela está tão sexy... aí você pode voltar para a cama...
E foi o que fiz. Digo, depois que dei a
Viridiana o que ela queria, pelo menos naquele momento. Após o atrativo macarrão
com legumes, e um vinho branco, e de ajudar a lavar minha louça, e dar um
tempinho para fazer a digestão... eu a possuí. Ou melhor, tive de possuí-la
outra vez para que não torre minha paciência.
Digo, não bastou o que fizemos na madrugada,
à tarde também teve uma sessão de sexo. Foi rápido. Depois, ela tomou um banho,
vestiu-se com suas roupas, se despediu de mim (“e lembre-se, Macário: eu te
amo, e você ainda vai ser meu, só meu...”) e foi viajar.
Bem, ela teve o que queria, exceto a
resposta, se seríamos namorados dali em diante. Na verdade, ela também nem
estava pensando nisso, fez aquela pergunta e fez aquela “ameaça” por provocação.
Bem, pelo menos ela lavou minha louça, deu
uma varrida no chão... Até deixou algumas roupas minhas de molho no balde do
tanquinho da área de serviço, depois eu termino de lavar. Com a “geral” na
casa, eu já não precisaria me preocupar.
Assim que ela saiu, eu caí na cama. E
dormi... por umas quatro horas.
Acordei com a campainha tocando. No primeiro
toque, acordei, mas achei que era sonho... Mas aí, a campainha começou a tocar
de novo. E de novo, e de novo... Insistentemente. E tive de concluir que não
era sonho. Era minha campainha mesmo.
Tive de levantar, colocar uma calça e ir
atender a porta. O relógio ao lado da minha cama marcava 19:00, sete horas da
noite. Podia ser importante, para insistir em ficar tocando a minha campainha.
Podia ser meus pais me visitando de surpresa. Podia ser a...
...Maura.
Fiquei surpreso. Maura, aqui?!
Ela estava usando aquele mesmo conjunto azul
da madrugada de sábado. E parecia brava.
- Ah, Sr. Macário... – ela começou a falar – eu
sabia que você estava aqui! Por que não voltou para meu apartamento?! Você
prometeu!
Eu, um tanto assustado, justifiquei:
- Pô, Maura, eu tive de trabalhar a noite
toda, e tinha coisas a fazer em casa, eu...
Mas ela me interrompeu, aspirando o odor de
meu corpo:
- Que cheiro é esse, Macário?
Cheiro? Que cheiro?
- Eu... Maura... Deve ser cheiro de meu suor,
eu não tomei banho ainda... Eu cheguei cansado em casa, e...
Mas Maura me interrompeu:
- Que suor o quê, sinto um perfume que não é
seu, e eu conheço o cheiro do seu suor... esse perfume é de mulher!
Aspirei meu braço: ei, havia mesmo um leve
traço de perfume, era o perfume da Viridiana! Ela deixou seus “traços” no meu
corpo!
- Eu... eu posso explicar, Maura...
Mas ela em seguida avançou para minha
cozinha, e encontrou, sobre o fogão, sobras do macarrão com legumes, ainda
frescos.
- Não foi você quem cozinhou, foi Macário?
Não, não pode ter sido...
Eu não tinha como provar que eu podia ter
cozinhado aquele macarrão, Maura nunca me viu cozinhando. Aí ela olhou para a
pia e viu a garrafa vazia de vinho. Ela cheirou o gargalo da garrafa.
- Esse vinho estava fresco! Macário, ‘teve
uma garota aqui no seu apartamento! ‘Teve sim!
- Insisto, eu posso explicar, Maura...
Não contente, ela avançou para a área de
serviço. E ali, encontrou, em cima do tanquinho, uma calcinha. Nem eu havia
reparado naquela calcinha roxa ali, no tanque. Pô: a Viridiana esqueceu, ou
deliberadamente deixou comigo, a calcinha dela no meu apartamento? E foi viajar
sem calcinha?! Não, peraí, ela estava de calça... E eu não tinha reparado, e
sequer ela me avisou?!
- Aah, Sr, Macário, então é verdade! Teve uma
garota aqui! E essa calcinha sequer foi lavada!!! Ó... – e cheirou-a. – Ainda
tem o cheiro da sirigaita! E ela nem se limpou direito depois de usar o
banheiro! Que horror!!!
- Insisto!! Eu posso explicar, Maura!... –
comecei, mas ela me arrastou por um braço para a cozinha, me empurrou em cima do
sofá, se jogou em cima de mim, sentando em meu colo, e começou a chorar e
gritar em minha cara.
- Aah, Macário, como você pode? Depois de
ontem?! Eu te esperando feito uma tonta e, você...
Tentei argumentar, entre os soluços dela:
- Peraí, Maura, não foi de propósito... nem
eu esperava que tivesse uma garota à minha espera aqui, e...
- E você se deixou levar, né, Sr. Macário?! Sempre
o mesmo Macário, que só pensa em sexo, não é?! Não é?!
- Mas, Maura, ela que estava pensando em
sexo, não eu... não eu...
Antes que eu respondesse, Maura calou minha
boca com um beijo.
Não era raiva de verdade. Ela só dengo. Maura
veio me procurar do mesmo modo que Viridiana: decidiu que naquela noite vinha
ao meu apartamento, esperando que eu lhe desse prazer, não bastava o que teve
na última “sessão”. E, bem, foi o que fiz, atendi ao desejo dela.
- Aah, Macário, diz aí, quem foi a sirigaita?
– ela perguntou, e, antes que eu respondesse, ela prosseguiu em seu “choro”: –
Não, melhor não dizer agora. Tantas sirigaitas passaram por aqui, qual a
diferença entre uma e outra, não é mesmo? Mas melhor que eu, duvido que haja...
Diz que eu sou a melhor que já passou pela tua cama, Macariozinho... Nenhuma
sirigaita vai tirar o meu Macário de mim... Não enquanto eu estiver viva para
fazer o meu Macário hmmmm...
E foi me beijando, e me fazendo beijar seus
seios, dentro da camisa desabotoada.
Eu bem que gostaria de continuar dormindo,
mas acho que não vai dar. Não quando a garota insiste em me hmmm...
E, tal como com a “sirigaita”, digo, a
Viridiana, eu também me deixei levar pela sedução de Maura, toda de azul...
Isso já estava indo longe demais.
Eu esperava descansar naquele domingo, mas
desde antes do raiar do dia até o anoitecer, tive duas garotas em meu
apartamento. Duas garotas com quem eu já havia saído anteriormente. E essas
duas, bem... também me procuraram durante a semana. Por alguma razão,
perceberam que não tiveram o suficiente.
Maura jantou comigo, esquentamos e comemos aquele
resto de macarrão com legumes. Ainda que tenha sido a “sirigaita” quem
cozinhou, Maura comeu. E ainda fez questão de cozinhar um arroz e fritar uns
ovos para acompanhar. Nada mau.
E teve mais sexo, em seguida – ela trouxe as
camisinhas.
A manhã de segunda-feira pegou-me outra vez
na cama, peladão. O relógio marcava oito da manhã quando fui acordado por
Maura. Ela estava junto comigo na cama, e seus movimentos me fizeram acordar.
Ela estava se vestindo para ir trabalhar.
- Desculpa, Macário, te acordei? – ela
começou a falar, bem depressa. – Infelizmente, vou ter de ir trabalhar... que
chato, hein? Eu bem que gostaria de ficar aqui antes que a outra sirigaita
volte, mas vão me chatear lá no hospital se eu perder a hora, já fui advertida
por atraso antes, e... E aí, vamos nos ver de novo? Onde você vai estar?
- Eu hoje vou à faculdade e depois para o
bar... – respondi, grogue.
- Hum, está bem. Nos vemos depois, tá? Ah,
vou deixar uma coisinha para você, viu? Para você não esquecer. Vou querer de
volta mais tarde, viu?
Tive de levantar e colocar minha calça para
abrir a porta para ela. O que foi que ela me deixou? Olhei para o tanquinho da
área de serviço: ao lado da calcinha esquecida de Viridiana, estava a calcinha
azul de Maura. Agora sim percebo que as coisas estão indo longe demais.
Nunca foi de meu feitio colecionar
“lembrancinhas” das garotas com quem costumo sair. Nenhuma delas sequer se
dispôs a deixar suas calcinhas comigo. Isso eu nunca pedia. Por que agora elas
deram para isso? Deixar calcinhas comigo?
Bem, melhor que eu guarde isso, porque tenho
um pressentimento ruim a respeito de... Bem, havia água e algumas roupas de
molho na minha mini lavadora de roupa. Joguei as calcinhas usadas lá dentro –
capaz que eu iria guarda-las sem lavar – e voltei para a cama.
Dormi mais umas horas quando a campainha
tocou de novo.
O relógio marcava meio dia. O que está
acontecendo? Quem será desta vez?!
Coloquei a calça e fui atender.
Era outra garota!
E seu olhar era de “más” intenções para
comigo.
- Oi, Macário. Lembra de mim? – ela começou a
falar suavemente. – Duvido que lembre, não é?
Eu até lembrava, mas de onde, mesmo?
- Ué, você não lembra? – emendou, ao ver que
eu estava muito quieto, tentando lembrar. – Saíamos há umas duas semanas! Sou
eu, a Créssida, do curso!
- Aah, é... Créssida. Desculpe. – sabia que
eu já tinha visto antes aqueles óculos e aqueles cabelos escuros. – Aconteceram
muitas coisas desde aquele dia, e... O que está fazendo aqui?
- Eu? Eu vim conversar um pouco, Macário, é
que comigo também aconteceram muitas coisas, e...
E foi entrando, e falando, e...
E era geralmente assim que começava. Papo
vai, papo vem, e aí...
O que estava acontecendo, afinal de contas?!
Por que, de repente, eu estava me tornando um imã de mulheres?!
Próximo capítulo daqui a 15 dias.
E ainda não consegui chegar ao clímax que pretendo, mas resolverei isso em breve.
E ainda aguardo um feedback por parte dos leitores. Está bom do jeito como está? Devo mudar alguma coisa? Devo continuar? Devo parar?
Por enquanto, o "quem cala consente" tem me dado o salvo-conduto para continuar do jeito que eu quiser, no meu estilo, com minhas próprias ideias. Mas aguardo uma opinião, ainda.
E até o próximo capítulo. Enquanto isso,em breve, novas resenhas de livros e HQs deverão estar no ar aqui neste blog. Aguardem.
Até mais!
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