Hoje, já deu quinze dias desde o domingo retrasado. Então, hoje é dia de mais um capítulo de meu folhetim ilustrado, MACÁRIO, que tem sido uma das minhas obsessões desde o início do ano.
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de sexo, consumo de bebidas alcoólicas e de obsessões por determinadas partes do corpo feminino.
Abri os olhos, exausto, depois de mais uma,
ou duas, ou três horas de sexo, já não sabia mais ao certo, tal a vontade com
que Créssida veio a mim – a menos que até isso tenha sido um sonho.
E dei de cara com aquele vulto coberto de
sombras. Ao lado de minha cama!
Digo, não tão de cara, porque seu rosto ainda
estava envolto na escuridão de sua capa.
Tentei abrir os olhos, para ver se conseguia
distinguir seu rosto. Só o que dava para distinguir era seu cabelo claro e seus
olhos injetados de vermelho. Era o vampiro, sabia, mas quero distinguir o rosto
do canalha que...
Mas aí a mão fria e nodosa agarrou meu rosto
e, debaixo da massa de sombras, saiu a voz cavernosa:
- Não se esqueça, Macário. Hoje tem festa.
Hoje tem happy hour. Lembra?! Não pense que você vai ficar aí no bem-bom com as
garotas, você tem dever a cumprir!...
E a mão apertou meu rosto, e eu sentia a pele
de minha face sendo rasgada por aquelas garras, e arrancada em um puxão, como
um adesivo sendo descolado de uma caixa de papelão... Minha cara foi
arrancadaaaaahhh...
Levantei, sobressaltado.
Toquei a pele me meu rosto: ainda estava ali.
Eu conhecia bem a sensação de ainda ter pele na face. Não havia nem sangue nas
mãos!
Era outro sonho!
Que horas são?!
Olhei para o relógio sobre o criado mudo:
16:00 – quatro da tarde.
E, sobre mim, o corpo de uma garota,
recuperando o fôlego.
Que horas eram mesmo quando viemos para a
cama e...?
Ela ergueu a cabeça e abriu os olhos.
Ao menos, já sei que essa parte não foi
sonho.
- Macário?
- C... Créssida.
Ela levantou, e estava nua, assim como eu.
Ultimamente tenho acordado completamente nu, e ainda sentindo o espasmo na
virilha. Sentei na beira da cama, apoiando as mãos na cabeça; ela se acomodou
em uma posição fetal, cobrindo o corpo com as pernas, agarrando os joelhos e
sempre olhando para mim, apesar de não estar com os óculos. E assim ficamos por
alguns minutos, enquanto conversávamos, recolocávamos as cabeças no lugar.
- Que horas são?!
- Arghn... parece que são quatro horas...
- Mas já? Puxa, como dormimos! Digo, que hora
a gente deitou e dormiu depois da...
- Nem sei... Nem vi a que horas começamos a
transar e... – olhei para as camisinhas usadas jogadas na cesta de lixo perto
da cama, depois para as nossas roupas largadas no chão. – É, é hora de irmos
para a faculdade.
- Mas já, Macário?
- E você deveria estar no trabalho, lembra?
- Mas eu já disse, hoje eu estou de licença.
- Li... ah, ah é. – a lembrança do momento em
que ela entrou no apartamento voltou à minha mente. – Você disse que teve de ir
ao médico, e resolveu tirar o resto do dia de... De... – Voltei a ela um olhar
de reprimenda, buscando uma lembrança da outra madrugada que passamos juntos. –
E todo aquele papo de juízo? Digo, lembra daquele dia, digo, daquela noite que
nós saímos, e antes de você ir embora você disse que... hum... esperava que eu
tomasse juízo ou algo assim? – tentei repreende-la, mas estava com a cabeça
muito cheia, o pensamento descoordenado.
- Aah, Macário. Eu sei o que disse, é que fiquei
com saudades daquele dia. Mal conseguia dormir pensando no seu “pinto”... Não
posso? E hoje você esteve tão formidável quanto no outro dia, consegui te fazer
ficar acordado durante o dia, logo o Macário, o amante na noite, ah, ah... – ela deveria estar tentando me irritar, só
podia. – Além disso, não estou fazendo nada ilegal. Ilegal seria se eu tivesse
dado uma desculpa qualquer no serviço só para te ver. Você ultimamente anda
muito estranho, sabia? Não parece o Macário que um dia me levou para a cama...
- Eu, estranho? Eu... Ugh... – vendo que
estava a ponto de gritar, me controlei. – De... Desculpa meu nervosismo. Como
eu disse, aconteceram muitas coisas. Minha vida anda virada de cabeça para
baixo, e...
- Aconteceram muitas coisas, sei. Tipo, este
seu colar, não é?
- Colar? Ah! O meu apanhador!
Enquanto eu revirava o olhar pelo quarto,
Créssida se levantou e rapidamente puxou o apanhador de sonhos de cima da
cômoda, onde foi jogado. A própria Créssida colocou o apanhador no meu pescoço,
como uma medalha, tal como Viridiana fez aquele dia. E perguntou:
- Onde você comprou? É bonito, até.
- Eu ganhei. De um índio. É uma longa
história.
Como retribuição, eu peguei seus óculos de
cima da mesma cômoda e coloquei-lhe no rosto.
- De um índio, hein? – ela pergunta,
zombeteira. – Ou não será de uma... índia?
- Foi de um índio, te juro. Eu que salvei a
vida dele, e...
- Você salvou a vida de um índio?!
- Por que não? Acha que não seria capaz
disso?
- E a mordida no pescoço, foi na ocasião em
que você salvou o índio?
- Mor...
Com os acontecimentos recentes, eu já havia
esquecido daqueles incidentes todos de dias atrás: a surra que levei ao salvar
o pajé Mateus, o próprio pajé Mateus, o ataque do vampiro, o incidente com a
Valtéria... E não sentia nenhum sinal de vampirismo se manifestando.
Aí, as palavras do pajé voltaram à minha
mente: ‘há gente maligna de olho em
você... há forças obscuras nesta cidade... elas tentarão te levar à perdição da
qual você até agora esteve à salvo...”. Teria sido a magia do pajé que me
protegeu até agora de me tornar um vampiro? Se é que foi mesmo um vampiro que
me...
De repente, me lembro dos sonhos que
ultimamente estava tendo. A criatura que me mordeu... Eu só pude ver de relance
como ela era. Basicamente, era uma massa de sombras. Sob as sombras, se
sobressaía um cabelo claro. E a criatura ainda invadia meus sonhos, me
trucidando. E ainda alertava para que eu não me atrasasse para o...
- Macário? MACÁRIO?!
A voz de Créssida me tirou de meus devaneios.
- Ahn?!
- Macário, que houve? Ficou caladão! Nem
respondeu minha pergunta!
- Ahn... desculpa de novo, Créssida, eu... eu
não sei explicar direito a mordida. Estou tentando, mas não consigo.
- Não foi de uma garota com quem você saiu,
foi? – Créssida deu um sorriso zombeteiro.
- Que nada. Só sei que amanheci com essas
marcas, no hospital, e...
- Você também? – seu sorriso se desfez em uma
expressão de surpresa.
Arregalei o olho.
- Como assim, eu...?
- Ah, sabe, Macário? Acho que eu não te falei
antes, quando estávamos conversando aqueles assuntos, e, bem, não sei se você
achou, ou chegou a reparar em mim, enquanto nós estávamos, sabe... fazendo
amor.
- Achei o quê?
- Esta mordida.
E ela me mostrou, no pescoço, duas marcas de
mordida iguais as minhas. Eu não devia ter reparado porque o cabelo negro dela
ficava sempre caindo fartamente sobre seus ombros, ou talvez porque estive um
pouco grogue pelas horas de sono perdidas.
- Créssida! Não me diga que você...!
- Que eu o quê?
- Que você foi pega pelo... pelo vampiro?!
- Vampiro? Que vampiro?! – sua expressão não
era nem tanto de surpresa, mas parece que se surpreendeu.
- Ahn, eu sei que é difícil de acreditar,
Créssida, mas há um vampiro solto na cidade.
- Vampiro? Macário, acho que você está
delirando.
- Deli...
- Não pode ter sido um vampiro, isso nem
existe no mundo físico. Ou eu mesma agora nem estaria em pé, a esta hora da
tarde, estaria com a pele pálida, eu que teria sugado seu sangue enquanto
estávamos transando, e... e... Bem, também cheguei a pensar isso, mas agora não
acredito. Eu acho que foi um animal qualquer, isso sim, que me mordeu. Tentou
me comer pelo pescoço enquanto eu estava desacordada.
- Desacordada?
- Bem, Macário, foi no final de semana após aquele
que eu vim na sua casa, sabe. Eu saí da faculdade, estava a caminho de casa, e
aí, tudo o que lembro foi de ter sentido uma pancada na cabeça.
- Pancada?
- Não sei, Macário. Eu senti como se tivessem
batido na minha cabeça, por trás, e... quando acordei, estava no hospital. O
médico falou que me encontrou com o ferimento no pescoço, e um galo na
cabeça...
- Quando foi que...
- Foi na sexta feira. Digo, era sexta-feira,
acordei na tarde de sábado.
- E você não está sentindo...?
- Nada estranho, Macário. Nada mesmo. E você?
- Eu... nada. Nenhum sintoma de... Hm... Você
também precisou de transfusão de sangue?
- Pior que precisei... Quando acordei eu
estava com a bolsinha de sangue atada ao braço, ainda bem que tinha do meu tipo
lá no estoque do hospital, e... E você?
- Também precisei. Falou alguma coisa para a
polícia?
- Eu? Polícia? Não, o que eu teria a dizer à
polícia, se nem a cara do maníaco eu cheguei a ver? E quanto a você?
- Até conversei com um policial, mas também
não consegui contar nada... E o médico até acha que foi um vampiro...
Aí, Créssida ficou séria – e eu conhecia
aquela expressão de seriedade. Era parecida com a que Viridiana assumia.
- Sabe... Devia procurar outro médico,
Macário. Você deve ter se tratado com o Dr. Cotrim, lá do hospital da
faculdade, não foi? O Dr. Cotrim é um gozador, isso sim, que fica fazendo
piadas enquanto estamos ali, sofrendo. E, além de gozador ainda é
supersticioso. Sabe o que eu acho? É que deve ser um maníaco com problemas
mentais, algo assim. Alguém, um psicopata, tentando se fazer de vampiro,
sugando sangue das vítimas. Olha, não é o único caso que aconteceu. Eu mesma
tenho acompanhado o que está acontecendo, e estou inclinada a concluir que se
trata de um maníaco mordedor. Não um vampiro. Porque, sabe? Uma amiga minha
também foi mordida por esse cara. E nenhuma de nós manifestou qualquer sinal de
estarmos prestes a sair por aí mordendo pessoas. Além do mais...
E foi desfiando algumas teses céticas a
respeito da situação. Ei, como é que eu não reparei, enquanto transava com a
Créssida, naquelas mordidas, mesmo quando o cabelo dela ia para trás, ou para
os lados, enquanto se mexia vigorosamente? Talvez, como eu disse, porque eu
estivesse com sono, estressado... Afinal, só naquele final de semana foram três
garotas me procurando, sedentas de amor e/ou sexo, muito embora não houvesse
sinais de que assumiríamos algum compromisso. A Viridiana, a Maura, a Créssida.
Digo, a Viridiana e a Maura chegaram a dizer que me amavam, mas a Créssida não
veio fazer nenhuma declaração. Por que elas todas resolveram me procurar, e
voltar a “criar laços” comigo, mesmo depois da... Digo, sei, continuo bancando
o arrasador de corações, não recusei que três garotas lindas, com bom corpo (e
a Créssida era do tipo que fazia ginástica forte), se jogassem em meus braços
três, quatro vezes seguidas, e na verdade nem era ruim, afinal quem não gosta
de ter garotas se jogando em seus braços? Eu mesmo nunca conheci um homem que
não gostasse de...
- Macário? MACÁRIO?!
- Oh?! – outra vez saí de um devaneio.
- Que droga, Macário! Por que você não consegue
prestar atenção no que eu falo? – disse, seriamente indignada.
- Desculpa de novo, Créssida. É que eu mesmo
estou formulando minhas próprias teses para entender o que está acontecendo. É
difícil um prestar atenção quando dois estão pensando. Ok, é até plausível a
tal tese do maníaco, não é? Talvez seja isso, temos um novo Vampiro de
Düsseldorf, ou algo assim, na cidade. Ou algo assim. Alguém que está se
alimentando de sangue humano, aleatoriamente. Ou não.
- Acho exagerada a tese do Vampiro de Düsseldorf,
Macário. Até porque nenhuma das vítimas foi morta, ou esquartejada, e...
- ...e afirma ter acordado no hospital depois
que foi atacada, e está viva, e provavelmente cheia de perguntas... Mas, de
todo modo, estamos diante de fatos que desafiam nossa racionalidade. Eu nem sei
o que pensar, na verdade.
Na verdade, eu não estava a fim de pensar em
nada naquele momento.
Aí, Créssida me olha com olhar de lascívia, e
me faz olhar em seus olhos, os óculos entre eles:
- Quer saber no que eu estou pensando? E não
é em vampiros ou psicopatas. Estou pensando em saber no que você pensa quando
vê uma garota sem roupa diante de ti...
Acho que sei no que ela está pensando. E já
passava a mão no meu... baixo-ventre.
- Créssida, tenha piedade de mim... eu mal
dormi neste fim de semana e...
- Aah, Macário, só mais uma e eu te deixo em
paz pelo resto da semana...
E já foi me beijando, e sua mão avançava
entre minhas pernas, e minha mão avançava em seus seios, seus ombros...
Horas depois, no bar.
Parecia que as horas passadas entre a hora
que a Créssida me fez transar com ela, mais uma vez, sob o chuveiro (ela
insistiu em tomar banho comigo para juntos nos arrumarmos e juntos irmos para o
Restaurante Universitário jantar, e depois ir para a faculdade) e a hora que
apertei a gravata borboleta de meu uniforme de garçom se apagaram de minha
mente. Minha consciência voltou nesse instante. Nem me lembrava direito sobre o
que foi a aula de hoje da faculdade. Ou se eu realmente fui à aula da
faculdade, com Créssida a meu lado. Ou se as últimas horas, passadas com
Créssida, foram reais. Ou se era mesmo a Créssida, podia ter sido a Viridiana,
a Maura... Será que a Viridiana foi mesmo viajar? Ela veio mesmo no meu
apartamento transar comigo? Ela disse mesmo que me amava? Bem, será que não
estou mesmo sonhando que estou colocando meu uniforme de garçom aqui no bar?
Me belisquei: não, é real, estou aqui no
vestuário do bar, me vestindo, avental e gravata-borboleta.
Terá sido todo aquele sexo do final de semana
que estava afetando minha mente, fazendo-a virar meleca?!
Mas não posso dizer que não foi agradável.
Créssida estava quente, e sabia como estimular um homem.
E tudo o que sei, nesse momento, é que os “monstros”
estavam mais uma vez diante de mim, ocupando a maior parte do espaço do bar,
prestes a iniciar mais uma das festas deles. E eu, mais uma vez, a servir
bebida para eles.
Hoje não teve festa do chope – os pedidos
para que eu enchesse canecas de cerveja naquela máquina instalada no balcão não
foram numerosos hoje. Desta vez foram mais drinques. E, estranho, a festa hoje
estava menos animada que as da semana passada. Até as músicas escolhidas no
jukebox davam a ideia: hoje foram só músicas lentas, mais calmas, mais temas de
piano. Possivelmente, os “monstros” já haviam se acostumado ao clima do bar, e
aquela sensação de novidade já havia passado. Eu mesmo já comecei a me
acostumar com aqueles rostos cheios de alterações.
Pensando bem, na verdade, a recepção que
recebi ao aparecer no balcão foi menos calorosa que nos primeiros dias, não fui
recebido com aplausos, ovação. O público me cumprimentou com um “Ooooi, Macário!”,
e sorriram, mas não me pareceu tão caloroso hoje.
Só os pedidos que continuavam a chegar a mim,
telepaticamente, é que davam à essa “festa” o aspecto fantástico. E eles
continuavam se “calibrando” com drinques.
E, no fim, foi mais um dia como os outros.
Sem maiores sustos. Talvez porque eu já estava me acostumando àquelas caras
excêntricas.
Mas, no final do expediente, Luce, o líder
nato da gangue, veio conversar comigo, quando o público diminuiu muito. Só
haviam mais dois ou três clientes além dele, até o pessoal que compunha seu
séquito, o Flávio Urso, a Âmbar, a Morgiana, o Breevort, etc., já haviam ido
embora.
Depois de borboletear bastante pelo salão
lotado, ele veio fazer algo até então inédito: puxou conversa comigo à sós, no
balcão. Hoje ele estava com o cabelo novamente tingido de verde, porém, desta
vez ele estava repartido no topo da cabeça, e alisado para os lados, em um
corte meio “tigelinha”. Só não estava irreconhecível porque o casaco de gola
alta era o mesmo.
- E aí, Macário.
- Oi, Luce. Quase não te reconheci com seu
penteado novo.
- Você gostou? A festa hoje não estava muito
agitada, não é?
- Você reparou?
- É, o pessoal hoje não estava muito
inspirado.
- E você, não se cansa de circular a esmo por
aí, só observando o movimento?
- Na verdade não. Eu gosto é de botar o
sangue para circular, e não ficar me envolvendo nas bobagens mundanas. A
Morgiana e o Flávio Urso só ficam discutindo por causa dos gases dele, o
Breevort e o Flávio Dragão só não puxam briga com todo mundo porque possuem
auto-controle suficiente para não brigar em espaços lotados, o Mc Claus só
servindo de capacho para a Âmbar... Os recalques da turma me desgastam. Mas e
quanto a você, amigo? Parece abatido.
- Bem eu... tive um fim de semana agitado.
- Agitado como?
- Eu fui procurado por várias garotas e...
Não deu para dormir muito bem.
- Nossa. Pelo jeito você é um imã de
mulheres, hein? Afinal, você também tem uma boa aparência...
- Bem...
- E não está feliz com isso?
- Não que eu não esteja feliz, só acho
estranho elas terem vindo me procurar. Estou mais acostumado em eu mesmo tentar
atrair as gatas lá para casa, usar lábia, e...
- Hum. E pelo jeito você não precisa fazer
muito esforço para levar a garota para casa e fazer o... sabe, o “tchaca-tchaca
na butchaca”. – e riu. – Você tem mais magnetismo pessoal que tantos outros
homens por aí...
- Bem... – respondo com um sorriso amarelo,
sem saber o que dizer em seguida.
- Ah, mas é uma recompensa por todo o esforço
e dedicação de seu trabalho, não é mesmo? Você mesmo deve considerar as noites
com mulheres em sua cama como um prêmio pessoal. Você merece, depois de tudo o
que você faz, digo, trabalhar, servir pessoas, prestar o teu curso...
- Bem...
- Escute. Não é justo que, depois de tudo
isso, digo, de você nos servir de bebida toda hora, você também não mereça uma
bebida, sabe? Digo, nos outros dias, você tem feito das tripas coração para nos
satisfazer, e agora... por que você não toma pelo menos um drinque?
- Mas eu... digo, eu sou o garçom, e...
- Não, eu insisto: hoje você me acompanha em
um drinque. Por que não? Prepare aí duas taças de martíni, sim? Hoje eu insisto
que você tome uma tacinha de martíni comigo, para terminar a noite e esperar o
amanhecer. Não é justo que você também não se divirta...
Achei estranho, mas fiz o que ele tão
amavelmente me pediu. Preparei o martíni e dividi em duas doses, em duas taças.
Porém, Luce fez questão de ele mesmo acrescentar a azeitona nas taças. Diante
de mim, ele tirou o caroço das azeitonas, simplesmente apertando – fiquei
impressionado com a técnica “secreta” que ele dominava – e mergulhou-as na
bebida, sem o palito.
- À sua saúde, Macário.
- Saúde.
Brindamos e ingerimos. E eu fiz como ele fez:
engoliu a bebida com azeitona e tudo. A azeitona engolida inteira desceu como
um comprimido em minha goela.
Engraçado, o meu martíni estava com um gosto
diferente...
Depois de dividir um martíni com Luce, senti
que a vida começava a voltar ao normal aos poucos.
Ou talvez estivesse falando cedo demais.
Bem. Voltei para casa, para meu apartamento,
sozinho. Nenhuma garota cruzou meu caminho, nem na saída do bar, nem na porta
do prédio.
Mas, na área de serviço, encontrei uma coisa:
outra calcinha em cima do tanquinho. Sim, era a calcinha da Créssida, lembro
que eu mesmo tirei. E ela deixou aqui... Teria ela visto as roupas de molho em
minha mini máquina de lavar, e entre elas as calcinhas da Viridiana e da
Maura?! Ou quem sabe ela achou que foi a primeira a ter a ideia? Só sei que
tive de rir... E juntei essa calcinha às outras, dentro do tanque.
Na terça-feira, dormi sozinho, e muito.
Nenhuma garota veio bater à minha porta. Senti-me recuperado quando acordei. E
não estava nu. Sequer tive algum sonho em que eu era trucidado pelo vulto.
A terça-feira transcorreu normalmente, digo,
para o meu estilo de vida: levantar ali pelas quatro da tarde, tomar café, lavar
algumas roupas – lavei também as três calcinhas que “ganhei de presente”, e pus
para secar no varal – um banho, me arrumar, sair para a faculdade.
Hoje, consegui prestar atenção à aula na
faculdade.
Créssida piscou para mim durante a aula. E
foi só: não veio falar comigo.
Finda a aula, fui direto para o trabalho.
O bar mais uma vez cheio de “monstros”. Hoje,
foi outra noite sem muita comemoração, sem muito movimento, como se fosse um
baile da alta sociedade, uma recepção de alguma autoridade, uma vernissage de
algum artista importante, onde havia mais comportamento, mais música suave de
piano. Digo: de transgressor, aqueles convidados só tinham a maneira de se
vestir, cortar o cabelo, espetar alfinetes pelo corpo; no comportamento, eles
eram refinados, comportados, fleumáticos. Estavam bem diferentes do sábado, na
festa do chope.
Hoje, foi a Âmbar que veio puxar um papo
perto do fim do expediente, enquanto seu companheiro Mc Claus – seriam mesmo
casados, ou, no mínimo, comprometidos? – tratava de negócios com uns caras, às
suas costas. Veio só me interpelando com algumas perguntas pessoais. Eu tentava
não olhar demais para aquele decotão dela, embora parecesse que ela fizesse
questão que eu olhasse – e ela tinha uns peitões maravilhosos... – e eu
comecei, por dentro, a concordar com as censuras de Luce a respeito do modo
como ela se vestia, como Mc Claus deixa que ela use aquelas roupas altamente
provocativas?! E, no fim, tal como Luce fez ontem, ela insistiu que eu a
acompanhasse em um drinque. Achei estranho, mas para que recusar? Hoje ela me
fez preparar duas taças de piña colada. Mas fez questão de ela mesma espetar os
pedaços de abacaxi na borda do copo. E, engraçado, a minha taça estava com um
gosto diferente do que eu estava acostumado.
Depois, Mc Claus chamou, e ela foi embora. E
antes de ir, ela sussurrou para mim: “vê se não demore a me ligar”.
Lembrei que ainda tinha comigo aquele
papelzinho com o telefone dela. E engoli em seco.
Mas, sinceramente, não podia fazer nada, não
tinha como ligar para Âmbar: estava sem meu telefone celular. Eu tinha um
telefone celular, mas ele foi destruído. Esqueci de contar, eu levava meu
celular no bolso no dia em que salvei o pajé Mateus; durante a agressão dos
três bandidos, um deles quebrou meu celular dentro de meu bolso. Não sei como
acertou. Só fui ver que meu celular fora destruído quando fui me vestir, na
saída do hospital: uma enfermeira me mostrou os pedaços de meu aparelho quando
me entregou as roupas. Agora, estou na dependência de telefones alheios para
poder me comunicar com meus pais, lá na cidade deles, até poder comprar um
aparelho novo. Se tiver aumento de salário por causa daquele movimento todo,
bem, não seria problema.
Voltei minha atenção para a clientela que
aguardava na hora em que o bar já ia fechar. Nenhum era “monstro”.
E, no balcão, havia mais alguém querendo
falar comigo. Era um rosto familiar. Uma garota.
- Oi, Macário! Quanto tempo!
- ?!
- Você não se lembra de mim, Macário? Sou eu,
a Loreta!
Loreta... Loreta... Ah, sim, lembrei. Eu saí
com ela faz uns... uns seis meses antes de toda essa confusão começar. Quando
nos encontramos, ela era mais gordinha. Ela estava, ali, com sinais de que
havia passado por um regime, por um programa de exercícios, estava menos
volumosa, mas ainda mantinha os seios grandes e redondos, e não mudou o
penteado, o cabelo castanho-claro caindo, com seus cachos, como uma cascata
sobre os ombros. E, ao que parece, ainda não terminou o curso de Arquivologia
na faculdade.
Ela me interpelou da mesma maneira que fez a
Viridiana: quanto tempo que não nos víamos, Macário, você não mudou nada, acho
que você não se lembra de mim, daquela noite, etc...
E começou assim.
Ela esperou-me sair do bar e saiu comigo. E
fomos conversando, contando um ao outro o que estávamos fazendo da vida
atualmente, o que ocorreu com a gente depois daquela noite, ela usava um
vestido tubo rosado, que deixava em exposição suas pernas recém-torneadas, e...
E foi no meu apartamento.
O despertador tocou às quatro da tarde, e a
tarde da quarta-feira me pegou outra vez peladão na cama.
E, em cima de mim, Loreta, nua.
E, em cima de ambos, o cobertor da cama.
- Hmmm... Macário, boa tarde... Você esteve
maravilhoso como da outra vez... – ela sussurrou, e adormeceu novamente.
A noite fora bastante agradável. Por alguma
razão, passar a madrugada com a Loreta foi mais agradável que com as outras garotas.
Talvez porque não houve culpa.
O programa de perda de peso havia dado bons
resultados: Loreta estava gostosa.
Mas eu não estava muito contente de ter sido
procurado por ela, às quatro da manhã, porque seu namoro havia terminado, e ela
estava carente, prestes a botar aqueles quatro meses que passou, entrando em
forma, a perder.
Mas espero ter ajudado. Se não a superar
aquela crise, a perder pelo menos uns dois quilos. Com sexo.
Tive de acordá-la para irmos para a
faculdade. E ela parecia feliz, como se tivesse valido a pena perder um dia de
trabalho, se ela já arrumara um emprego (isso ela não me disse), para passar o
dia com o rapaz que, meses antes, havia transado com ela sem compromisso, como
se fosse um favor eu ter ido para a cama com uma “gordelícia”.
Será que ela reparou nas calcinhas
penduradas no varal?
Depois da faculdade, o bar. E outra vez não
teve muita agitação. O pessoal estava já se acostumando ao ambiente do bar, e,
por não haver mais nenhuma surpresa, o clima animado já estava se esvaindo. A
menos que Luce e seus “asseclas” já estivessem planejando alguma coisa... Ou,
ao menos, foi o que Andrômeda deixou no ar enquanto conversávamos...
Hoje, tive de tomar mais um drinque a
convite. Desta vez, quem insistiu em me pagar um drinque foi a Andrômeda, com
aquele seu cabelo mullet cor de rosa e sua língua bifurcada. Enquanto
conversávamos, eu bem que quis perguntar por que ela cortou a língua,
deixando-a bifurcada, mas resisti, senti que não era o momento para tal
intimidade. E hoje foi margarita. Uma margarita para ela, outra para mim. E foi
Andrômeda que fez questão de colocar o sal na borda da taça.
Hoje, foi mais um dia que não teve garota me
procurando. Nem Viridiana, nem Maura, nem Créssida, nem Loreta.
Em casa, eu olhei para a minha nova coleção
de calcinhas. Loreta, com certeza, reparou nas calcinhas do varal, porque
também deixou a dela em cima do tanque. Agora eu tinha quatro calcinhas, uma
roxa, uma azul, uma verde, e agora uma rosa. Três estavam limpas, e estas eu
guardei na gaveta; a rosa eu lavei a mão, na área de serviço, e pendurei no
varal antes de ir deitar.
Não teve garotas esta noite. Ou achei que não
ia ter. Acabei tendo um sonho um tanto esquisito... Terá sido mesmo sonho?
Ou terá sido realidade: Âmbar me esperando em
meu quarto?!
O próximo capítulo será publicado daqui a 15 dias - continua sendo assim até segunda ordem, porque é um limite seguro de trabalho para este que vos escreve. Para capítulos semanais, é preciso esperar que alguns assuntos de ordem particular se estabilizem...
Como está indo a novela até agora: está muito parada? Falta mais cenas de ação, intriga, terror? Aguardem os próximos capítulos, estarei resolvendo isso...
Até mais!
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