domingo, 30 de julho de 2017

MACÁRIO - Capítulo 14: "As inacreditáveis noites seguintes II"

Olá.
Hoje, já deu quinze dias desde o domingo retrasado. Então, hoje é dia de mais um capítulo de meu folhetim ilustrado, MACÁRIO, que tem sido uma das minhas obsessões desde o início do ano.
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de sexo, consumo de bebidas alcoólicas e de obsessões por determinadas partes do corpo feminino.



Abri os olhos, exausto, depois de mais uma, ou duas, ou três horas de sexo, já não sabia mais ao certo, tal a vontade com que Créssida veio a mim – a menos que até isso tenha sido um sonho.
E dei de cara com aquele vulto coberto de sombras. Ao lado de minha cama!
Digo, não tão de cara, porque seu rosto ainda estava envolto na escuridão de sua capa.
Tentei abrir os olhos, para ver se conseguia distinguir seu rosto. Só o que dava para distinguir era seu cabelo claro e seus olhos injetados de vermelho. Era o vampiro, sabia, mas quero distinguir o rosto do canalha que...
Mas aí a mão fria e nodosa agarrou meu rosto e, debaixo da massa de sombras, saiu a voz cavernosa:
- Não se esqueça, Macário. Hoje tem festa. Hoje tem happy hour. Lembra?! Não pense que você vai ficar aí no bem-bom com as garotas, você tem dever a cumprir!...
E a mão apertou meu rosto, e eu sentia a pele de minha face sendo rasgada por aquelas garras, e arrancada em um puxão, como um adesivo sendo descolado de uma caixa de papelão... Minha cara foi arrancadaaaaahhh...

Levantei, sobressaltado.
Toquei a pele me meu rosto: ainda estava ali. Eu conhecia bem a sensação de ainda ter pele na face. Não havia nem sangue nas mãos!
Era outro sonho!
Que horas são?!
Olhei para o relógio sobre o criado mudo: 16:00 – quatro da tarde.
E, sobre mim, o corpo de uma garota, recuperando o fôlego.
Que horas eram mesmo quando viemos para a cama e...?
Ela ergueu a cabeça e abriu os olhos.
Ao menos, já sei que essa parte não foi sonho.
- Macário?
- C... Créssida.
Ela levantou, e estava nua, assim como eu. Ultimamente tenho acordado completamente nu, e ainda sentindo o espasmo na virilha. Sentei na beira da cama, apoiando as mãos na cabeça; ela se acomodou em uma posição fetal, cobrindo o corpo com as pernas, agarrando os joelhos e sempre olhando para mim, apesar de não estar com os óculos. E assim ficamos por alguns minutos, enquanto conversávamos, recolocávamos as cabeças no lugar.
- Que horas são?!
- Arghn... parece que são quatro horas...
- Mas já? Puxa, como dormimos! Digo, que hora a gente deitou e dormiu depois da...
- Nem sei... Nem vi a que horas começamos a transar e... – olhei para as camisinhas usadas jogadas na cesta de lixo perto da cama, depois para as nossas roupas largadas no chão. – É, é hora de irmos para a faculdade.
- Mas já, Macário?
- E você deveria estar no trabalho, lembra?
- Mas eu já disse, hoje eu estou de licença.
- Li... ah, ah é. – a lembrança do momento em que ela entrou no apartamento voltou à minha mente. – Você disse que teve de ir ao médico, e resolveu tirar o resto do dia de... De... – Voltei a ela um olhar de reprimenda, buscando uma lembrança da outra madrugada que passamos juntos. – E todo aquele papo de juízo? Digo, lembra daquele dia, digo, daquela noite que nós saímos, e antes de você ir embora você disse que... hum... esperava que eu tomasse juízo ou algo assim? – tentei repreende-la, mas estava com a cabeça muito cheia, o pensamento descoordenado.
- Aah, Macário. Eu sei o que disse, é que fiquei com saudades daquele dia. Mal conseguia dormir pensando no seu “pinto”... Não posso? E hoje você esteve tão formidável quanto no outro dia, consegui te fazer ficar acordado durante o dia, logo o Macário, o amante na noite, ah, ah...  – ela deveria estar tentando me irritar, só podia. – Além disso, não estou fazendo nada ilegal. Ilegal seria se eu tivesse dado uma desculpa qualquer no serviço só para te ver. Você ultimamente anda muito estranho, sabia? Não parece o Macário que um dia me levou para a cama...
- Eu, estranho? Eu... Ugh... – vendo que estava a ponto de gritar, me controlei. – De... Desculpa meu nervosismo. Como eu disse, aconteceram muitas coisas. Minha vida anda virada de cabeça para baixo, e...
- Aconteceram muitas coisas, sei. Tipo, este seu colar, não é?
- Colar? Ah! O meu apanhador!
Enquanto eu revirava o olhar pelo quarto, Créssida se levantou e rapidamente puxou o apanhador de sonhos de cima da cômoda, onde foi jogado. A própria Créssida colocou o apanhador no meu pescoço, como uma medalha, tal como Viridiana fez aquele dia. E perguntou:
- Onde você comprou? É bonito, até.
- Eu ganhei. De um índio. É uma longa história.
Como retribuição, eu peguei seus óculos de cima da mesma cômoda e coloquei-lhe no rosto.
- De um índio, hein? – ela pergunta, zombeteira. – Ou não será de uma... índia?
- Foi de um índio, te juro. Eu que salvei a vida dele, e...
- Você salvou a vida de um índio?!
- Por que não? Acha que não seria capaz disso?
- E a mordida no pescoço, foi na ocasião em que você salvou o índio?
- Mor...
Com os acontecimentos recentes, eu já havia esquecido daqueles incidentes todos de dias atrás: a surra que levei ao salvar o pajé Mateus, o próprio pajé Mateus, o ataque do vampiro, o incidente com a Valtéria... E não sentia nenhum sinal de vampirismo se manifestando.
Aí, as palavras do pajé voltaram à minha mente: ‘há gente maligna de olho em você... há forças obscuras nesta cidade... elas tentarão te levar à perdição da qual você até agora esteve à salvo...”. Teria sido a magia do pajé que me protegeu até agora de me tornar um vampiro? Se é que foi mesmo um vampiro que me...
De repente, me lembro dos sonhos que ultimamente estava tendo. A criatura que me mordeu... Eu só pude ver de relance como ela era. Basicamente, era uma massa de sombras. Sob as sombras, se sobressaía um cabelo claro. E a criatura ainda invadia meus sonhos, me trucidando. E ainda alertava para que eu não me atrasasse para o...
- Macário? MACÁRIO?!
A voz de Créssida me tirou de meus devaneios.
- Ahn?!
- Macário, que houve? Ficou caladão! Nem respondeu minha pergunta!
- Ahn... desculpa de novo, Créssida, eu... eu não sei explicar direito a mordida. Estou tentando, mas não consigo.
- Não foi de uma garota com quem você saiu, foi? – Créssida deu um sorriso zombeteiro.
- Que nada. Só sei que amanheci com essas marcas, no hospital, e...
- Você também? – seu sorriso se desfez em uma expressão de surpresa.
Arregalei o olho.
- Como assim, eu...?
- Ah, sabe, Macário? Acho que eu não te falei antes, quando estávamos conversando aqueles assuntos, e, bem, não sei se você achou, ou chegou a reparar em mim, enquanto nós estávamos, sabe... fazendo amor.
- Achei o quê?
- Esta mordida.
E ela me mostrou, no pescoço, duas marcas de mordida iguais as minhas. Eu não devia ter reparado porque o cabelo negro dela ficava sempre caindo fartamente sobre seus ombros, ou talvez porque estive um pouco grogue pelas horas de sono perdidas.
- Créssida! Não me diga que você...!
- Que eu o quê?
- Que você foi pega pelo... pelo vampiro?!
- Vampiro? Que vampiro?! – sua expressão não era nem tanto de surpresa, mas parece que se surpreendeu.
- Ahn, eu sei que é difícil de acreditar, Créssida, mas há um vampiro solto na cidade.
- Vampiro? Macário, acho que você está delirando.
- Deli...
- Não pode ter sido um vampiro, isso nem existe no mundo físico. Ou eu mesma agora nem estaria em pé, a esta hora da tarde, estaria com a pele pálida, eu que teria sugado seu sangue enquanto estávamos transando, e... e... Bem, também cheguei a pensar isso, mas agora não acredito. Eu acho que foi um animal qualquer, isso sim, que me mordeu. Tentou me comer pelo pescoço enquanto eu estava desacordada.
- Desacordada?
- Bem, Macário, foi no final de semana após aquele que eu vim na sua casa, sabe. Eu saí da faculdade, estava a caminho de casa, e aí, tudo o que lembro foi de ter sentido uma pancada na cabeça.
- Pancada?
- Não sei, Macário. Eu senti como se tivessem batido na minha cabeça, por trás, e... quando acordei, estava no hospital. O médico falou que me encontrou com o ferimento no pescoço, e um galo na cabeça...
- Quando foi que...
- Foi na sexta feira. Digo, era sexta-feira, acordei na tarde de sábado.
- E você não está sentindo...?
- Nada estranho, Macário. Nada mesmo. E você?
- Eu... nada. Nenhum sintoma de... Hm... Você também precisou de transfusão de sangue?
- Pior que precisei... Quando acordei eu estava com a bolsinha de sangue atada ao braço, ainda bem que tinha do meu tipo lá no estoque do hospital, e... E você?
- Também precisei. Falou alguma coisa para a polícia?
- Eu? Polícia? Não, o que eu teria a dizer à polícia, se nem a cara do maníaco eu cheguei a ver? E quanto a você?
- Até conversei com um policial, mas também não consegui contar nada... E o médico até acha que foi um vampiro...
Aí, Créssida ficou séria – e eu conhecia aquela expressão de seriedade. Era parecida com a que Viridiana assumia.
- Sabe... Devia procurar outro médico, Macário. Você deve ter se tratado com o Dr. Cotrim, lá do hospital da faculdade, não foi? O Dr. Cotrim é um gozador, isso sim, que fica fazendo piadas enquanto estamos ali, sofrendo. E, além de gozador ainda é supersticioso. Sabe o que eu acho? É que deve ser um maníaco com problemas mentais, algo assim. Alguém, um psicopata, tentando se fazer de vampiro, sugando sangue das vítimas. Olha, não é o único caso que aconteceu. Eu mesma tenho acompanhado o que está acontecendo, e estou inclinada a concluir que se trata de um maníaco mordedor. Não um vampiro. Porque, sabe? Uma amiga minha também foi mordida por esse cara. E nenhuma de nós manifestou qualquer sinal de estarmos prestes a sair por aí mordendo pessoas. Além do mais...
E foi desfiando algumas teses céticas a respeito da situação. Ei, como é que eu não reparei, enquanto transava com a Créssida, naquelas mordidas, mesmo quando o cabelo dela ia para trás, ou para os lados, enquanto se mexia vigorosamente? Talvez, como eu disse, porque eu estivesse com sono, estressado... Afinal, só naquele final de semana foram três garotas me procurando, sedentas de amor e/ou sexo, muito embora não houvesse sinais de que assumiríamos algum compromisso. A Viridiana, a Maura, a Créssida. Digo, a Viridiana e a Maura chegaram a dizer que me amavam, mas a Créssida não veio fazer nenhuma declaração. Por que elas todas resolveram me procurar, e voltar a “criar laços” comigo, mesmo depois da... Digo, sei, continuo bancando o arrasador de corações, não recusei que três garotas lindas, com bom corpo (e a Créssida era do tipo que fazia ginástica forte), se jogassem em meus braços três, quatro vezes seguidas, e na verdade nem era ruim, afinal quem não gosta de ter garotas se jogando em seus braços? Eu mesmo nunca conheci um homem que não gostasse de...
- Macário? MACÁRIO?!
- Oh?! – outra vez saí de um devaneio.
- Que droga, Macário! Por que você não consegue prestar atenção no que eu falo? – disse, seriamente indignada.
- Desculpa de novo, Créssida. É que eu mesmo estou formulando minhas próprias teses para entender o que está acontecendo. É difícil um prestar atenção quando dois estão pensando. Ok, é até plausível a tal tese do maníaco, não é? Talvez seja isso, temos um novo Vampiro de Düsseldorf, ou algo assim, na cidade. Ou algo assim. Alguém que está se alimentando de sangue humano, aleatoriamente. Ou não.
- Acho exagerada a tese do Vampiro de Düsseldorf, Macário. Até porque nenhuma das vítimas foi morta, ou esquartejada, e...
- ...e afirma ter acordado no hospital depois que foi atacada, e está viva, e provavelmente cheia de perguntas... Mas, de todo modo, estamos diante de fatos que desafiam nossa racionalidade. Eu nem sei o que pensar, na verdade.
Na verdade, eu não estava a fim de pensar em nada naquele momento.
Aí, Créssida me olha com olhar de lascívia, e me faz olhar em seus olhos, os óculos entre eles:
- Quer saber no que eu estou pensando? E não é em vampiros ou psicopatas. Estou pensando em saber no que você pensa quando vê uma garota sem roupa diante de ti...
Acho que sei no que ela está pensando. E já passava a mão no meu... baixo-ventre.
- Créssida, tenha piedade de mim... eu mal dormi neste fim de semana e...
- Aah, Macário, só mais uma e eu te deixo em paz pelo resto da semana...
E já foi me beijando, e sua mão avançava entre minhas pernas, e minha mão avançava em seus seios, seus ombros...
Oh não, lá vamos nós de novo.

Horas depois, no bar.
Parecia que as horas passadas entre a hora que a Créssida me fez transar com ela, mais uma vez, sob o chuveiro (ela insistiu em tomar banho comigo para juntos nos arrumarmos e juntos irmos para o Restaurante Universitário jantar, e depois ir para a faculdade) e a hora que apertei a gravata borboleta de meu uniforme de garçom se apagaram de minha mente. Minha consciência voltou nesse instante. Nem me lembrava direito sobre o que foi a aula de hoje da faculdade. Ou se eu realmente fui à aula da faculdade, com Créssida a meu lado. Ou se as últimas horas, passadas com Créssida, foram reais. Ou se era mesmo a Créssida, podia ter sido a Viridiana, a Maura... Será que a Viridiana foi mesmo viajar? Ela veio mesmo no meu apartamento transar comigo? Ela disse mesmo que me amava? Bem, será que não estou mesmo sonhando que estou colocando meu uniforme de garçom aqui no bar?
Me belisquei: não, é real, estou aqui no vestuário do bar, me vestindo, avental e gravata-borboleta.
Terá sido todo aquele sexo do final de semana que estava afetando minha mente, fazendo-a virar meleca?!
Mas não posso dizer que não foi agradável. Créssida estava quente, e sabia como estimular um homem.
E tudo o que sei, nesse momento, é que os “monstros” estavam mais uma vez diante de mim, ocupando a maior parte do espaço do bar, prestes a iniciar mais uma das festas deles. E eu, mais uma vez, a servir bebida para eles.
Hoje não teve festa do chope – os pedidos para que eu enchesse canecas de cerveja naquela máquina instalada no balcão não foram numerosos hoje. Desta vez foram mais drinques. E, estranho, a festa hoje estava menos animada que as da semana passada. Até as músicas escolhidas no jukebox davam a ideia: hoje foram só músicas lentas, mais calmas, mais temas de piano. Possivelmente, os “monstros” já haviam se acostumado ao clima do bar, e aquela sensação de novidade já havia passado. Eu mesmo já comecei a me acostumar com aqueles rostos cheios de alterações.
Pensando bem, na verdade, a recepção que recebi ao aparecer no balcão foi menos calorosa que nos primeiros dias, não fui recebido com aplausos, ovação. O público me cumprimentou com um “Ooooi, Macário!”, e sorriram, mas não me pareceu tão caloroso hoje.
Só os pedidos que continuavam a chegar a mim, telepaticamente, é que davam à essa “festa” o aspecto fantástico. E eles continuavam se “calibrando” com drinques.
E, no fim, foi mais um dia como os outros. Sem maiores sustos. Talvez porque eu já estava me acostumando àquelas caras excêntricas.

Mas, no final do expediente, Luce, o líder nato da gangue, veio conversar comigo, quando o público diminuiu muito. Só haviam mais dois ou três clientes além dele, até o pessoal que compunha seu séquito, o Flávio Urso, a Âmbar, a Morgiana, o Breevort, etc., já haviam ido embora.
Depois de borboletear bastante pelo salão lotado, ele veio fazer algo até então inédito: puxou conversa comigo à sós, no balcão. Hoje ele estava com o cabelo novamente tingido de verde, porém, desta vez ele estava repartido no topo da cabeça, e alisado para os lados, em um corte meio “tigelinha”. Só não estava irreconhecível porque o casaco de gola alta era o mesmo.
- E aí, Macário.
- Oi, Luce. Quase não te reconheci com seu penteado novo.
- Você gostou? A festa hoje não estava muito agitada, não é?
- Você reparou?
- É, o pessoal hoje não estava muito inspirado.
- E você, não se cansa de circular a esmo por aí, só observando o movimento?
- Na verdade não. Eu gosto é de botar o sangue para circular, e não ficar me envolvendo nas bobagens mundanas. A Morgiana e o Flávio Urso só ficam discutindo por causa dos gases dele, o Breevort e o Flávio Dragão só não puxam briga com todo mundo porque possuem auto-controle suficiente para não brigar em espaços lotados, o Mc Claus só servindo de capacho para a Âmbar... Os recalques da turma me desgastam. Mas e quanto a você, amigo? Parece abatido.
- Bem eu... tive um fim de semana agitado.
- Agitado como?
- Eu fui procurado por várias garotas e... Não deu para dormir muito bem.
- Nossa. Pelo jeito você é um imã de mulheres, hein? Afinal, você também tem uma boa aparência...
- Bem...
- E não está feliz com isso?
- Não que eu não esteja feliz, só acho estranho elas terem vindo me procurar. Estou mais acostumado em eu mesmo tentar atrair as gatas lá para casa, usar lábia, e...
- Hum. E pelo jeito você não precisa fazer muito esforço para levar a garota para casa e fazer o... sabe, o “tchaca-tchaca na butchaca”. – e riu. – Você tem mais magnetismo pessoal que tantos outros homens por aí...
- Bem... – respondo com um sorriso amarelo, sem saber o que dizer em seguida.
- Ah, mas é uma recompensa por todo o esforço e dedicação de seu trabalho, não é mesmo? Você mesmo deve considerar as noites com mulheres em sua cama como um prêmio pessoal. Você merece, depois de tudo o que você faz, digo, trabalhar, servir pessoas, prestar o teu curso...
- Bem...
- Escute. Não é justo que, depois de tudo isso, digo, de você nos servir de bebida toda hora, você também não mereça uma bebida, sabe? Digo, nos outros dias, você tem feito das tripas coração para nos satisfazer, e agora... por que você não toma pelo menos um drinque?
- Mas eu... digo, eu sou o garçom, e...
- Não, eu insisto: hoje você me acompanha em um drinque. Por que não? Prepare aí duas taças de martíni, sim? Hoje eu insisto que você tome uma tacinha de martíni comigo, para terminar a noite e esperar o amanhecer. Não é justo que você também não se divirta...
Achei estranho, mas fiz o que ele tão amavelmente me pediu. Preparei o martíni e dividi em duas doses, em duas taças. Porém, Luce fez questão de ele mesmo acrescentar a azeitona nas taças. Diante de mim, ele tirou o caroço das azeitonas, simplesmente apertando – fiquei impressionado com a técnica “secreta” que ele dominava – e mergulhou-as na bebida, sem o palito.
- À sua saúde, Macário.
- Saúde.
Brindamos e ingerimos. E eu fiz como ele fez: engoliu a bebida com azeitona e tudo. A azeitona engolida inteira desceu como um comprimido em minha goela.
Engraçado, o meu martíni estava com um gosto diferente...

Depois de dividir um martíni com Luce, senti que a vida começava a voltar ao normal aos poucos.
Ou talvez estivesse falando cedo demais.
Bem. Voltei para casa, para meu apartamento, sozinho. Nenhuma garota cruzou meu caminho, nem na saída do bar, nem na porta do prédio.
Mas, na área de serviço, encontrei uma coisa: outra calcinha em cima do tanquinho. Sim, era a calcinha da Créssida, lembro que eu mesmo tirei. E ela deixou aqui... Teria ela visto as roupas de molho em minha mini máquina de lavar, e entre elas as calcinhas da Viridiana e da Maura?! Ou quem sabe ela achou que foi a primeira a ter a ideia? Só sei que tive de rir... E juntei essa calcinha às outras, dentro do tanque.
 
Na terça-feira, dormi sozinho, e muito. Nenhuma garota veio bater à minha porta. Senti-me recuperado quando acordei. E não estava nu. Sequer tive algum sonho em que eu era trucidado pelo vulto.
A terça-feira transcorreu normalmente, digo, para o meu estilo de vida: levantar ali pelas quatro da tarde, tomar café, lavar algumas roupas – lavei também as três calcinhas que “ganhei de presente”, e pus para secar no varal – um banho, me arrumar, sair para a faculdade.
Hoje, consegui prestar atenção à aula na faculdade.
Créssida piscou para mim durante a aula. E foi só: não veio falar comigo.
Finda a aula, fui direto para o trabalho.
O bar mais uma vez cheio de “monstros”. Hoje, foi outra noite sem muita comemoração, sem muito movimento, como se fosse um baile da alta sociedade, uma recepção de alguma autoridade, uma vernissage de algum artista importante, onde havia mais comportamento, mais música suave de piano. Digo: de transgressor, aqueles convidados só tinham a maneira de se vestir, cortar o cabelo, espetar alfinetes pelo corpo; no comportamento, eles eram refinados, comportados, fleumáticos. Estavam bem diferentes do sábado, na festa do chope.
Hoje, foi a Âmbar que veio puxar um papo perto do fim do expediente, enquanto seu companheiro Mc Claus – seriam mesmo casados, ou, no mínimo, comprometidos? – tratava de negócios com uns caras, às suas costas. Veio só me interpelando com algumas perguntas pessoais. Eu tentava não olhar demais para aquele decotão dela, embora parecesse que ela fizesse questão que eu olhasse – e ela tinha uns peitões maravilhosos... – e eu comecei, por dentro, a concordar com as censuras de Luce a respeito do modo como ela se vestia, como Mc Claus deixa que ela use aquelas roupas altamente provocativas?! E, no fim, tal como Luce fez ontem, ela insistiu que eu a acompanhasse em um drinque. Achei estranho, mas para que recusar? Hoje ela me fez preparar duas taças de piña colada. Mas fez questão de ela mesma espetar os pedaços de abacaxi na borda do copo. E, engraçado, a minha taça estava com um gosto diferente do que eu estava acostumado.
Depois, Mc Claus chamou, e ela foi embora. E antes de ir, ela sussurrou para mim: “vê se não demore a me ligar”.
Lembrei que ainda tinha comigo aquele papelzinho com o telefone dela. E engoli em seco.
Mas, sinceramente, não podia fazer nada, não tinha como ligar para Âmbar: estava sem meu telefone celular. Eu tinha um telefone celular, mas ele foi destruído. Esqueci de contar, eu levava meu celular no bolso no dia em que salvei o pajé Mateus; durante a agressão dos três bandidos, um deles quebrou meu celular dentro de meu bolso. Não sei como acertou. Só fui ver que meu celular fora destruído quando fui me vestir, na saída do hospital: uma enfermeira me mostrou os pedaços de meu aparelho quando me entregou as roupas. Agora, estou na dependência de telefones alheios para poder me comunicar com meus pais, lá na cidade deles, até poder comprar um aparelho novo. Se tiver aumento de salário por causa daquele movimento todo, bem, não seria problema.
Voltei minha atenção para a clientela que aguardava na hora em que o bar já ia fechar. Nenhum era “monstro”.
E, no balcão, havia mais alguém querendo falar comigo. Era um rosto familiar. Uma garota.
- Oi, Macário! Quanto tempo!
- ?!
- Você não se lembra de mim, Macário? Sou eu, a Loreta!
Loreta... Loreta... Ah, sim, lembrei. Eu saí com ela faz uns... uns seis meses antes de toda essa confusão começar. Quando nos encontramos, ela era mais gordinha. Ela estava, ali, com sinais de que havia passado por um regime, por um programa de exercícios, estava menos volumosa, mas ainda mantinha os seios grandes e redondos, e não mudou o penteado, o cabelo castanho-claro caindo, com seus cachos, como uma cascata sobre os ombros. E, ao que parece, ainda não terminou o curso de Arquivologia na faculdade.
Ela me interpelou da mesma maneira que fez a Viridiana: quanto tempo que não nos víamos, Macário, você não mudou nada, acho que você não se lembra de mim, daquela noite, etc...
E começou assim.
Ela esperou-me sair do bar e saiu comigo. E fomos conversando, contando um ao outro o que estávamos fazendo da vida atualmente, o que ocorreu com a gente depois daquela noite, ela usava um vestido tubo rosado, que deixava em exposição suas pernas recém-torneadas, e...
Encurtando, o resto vocês podem imaginar.
E foi no meu apartamento.

O despertador tocou às quatro da tarde, e a tarde da quarta-feira me pegou outra vez peladão na cama.
E, em cima de mim, Loreta, nua.
E, em cima de ambos, o cobertor da cama.
- Hmmm... Macário, boa tarde... Você esteve maravilhoso como da outra vez... – ela sussurrou, e adormeceu novamente.
A noite fora bastante agradável. Por alguma razão, passar a madrugada com a Loreta foi mais agradável que com as outras garotas. Talvez porque não houve culpa.
O programa de perda de peso havia dado bons resultados: Loreta estava gostosa.
Mas eu não estava muito contente de ter sido procurado por ela, às quatro da manhã, porque seu namoro havia terminado, e ela estava carente, prestes a botar aqueles quatro meses que passou, entrando em forma, a perder.
Mas espero ter ajudado. Se não a superar aquela crise, a perder pelo menos uns dois quilos. Com sexo.
Tive de acordá-la para irmos para a faculdade. E ela parecia feliz, como se tivesse valido a pena perder um dia de trabalho, se ela já arrumara um emprego (isso ela não me disse), para passar o dia com o rapaz que, meses antes, havia transado com ela sem compromisso, como se fosse um favor eu ter ido para a cama com uma “gordelícia”.
            Será que ela reparou nas calcinhas penduradas no varal?

Depois da faculdade, o bar. E outra vez não teve muita agitação. O pessoal estava já se acostumando ao ambiente do bar, e, por não haver mais nenhuma surpresa, o clima animado já estava se esvaindo. A menos que Luce e seus “asseclas” já estivessem planejando alguma coisa... Ou, ao menos, foi o que Andrômeda deixou no ar enquanto conversávamos...
Hoje, tive de tomar mais um drinque a convite. Desta vez, quem insistiu em me pagar um drinque foi a Andrômeda, com aquele seu cabelo mullet cor de rosa e sua língua bifurcada. Enquanto conversávamos, eu bem que quis perguntar por que ela cortou a língua, deixando-a bifurcada, mas resisti, senti que não era o momento para tal intimidade. E hoje foi margarita. Uma margarita para ela, outra para mim. E foi Andrômeda que fez questão de colocar o sal na borda da taça.
Hoje, foi mais um dia que não teve garota me procurando. Nem Viridiana, nem Maura, nem Créssida, nem Loreta.
Em casa, eu olhei para a minha nova coleção de calcinhas. Loreta, com certeza, reparou nas calcinhas do varal, porque também deixou a dela em cima do tanque. Agora eu tinha quatro calcinhas, uma roxa, uma azul, uma verde, e agora uma rosa. Três estavam limpas, e estas eu guardei na gaveta; a rosa eu lavei a mão, na área de serviço, e pendurei no varal antes de ir deitar.
Não teve garotas esta noite. Ou achei que não ia ter. Acabei tendo um sonho um tanto esquisito... Terá sido mesmo sonho?

Ou terá sido realidade: Âmbar me esperando em meu quarto?!

O próximo capítulo será publicado daqui a 15 dias - continua sendo assim até segunda ordem, porque é um limite seguro de trabalho para este que vos escreve. Para capítulos semanais, é preciso esperar que alguns assuntos de ordem particular se estabilizem...
Como está indo a novela até agora: está muito parada? Falta mais cenas de ação, intriga, terror? Aguardem os próximos capítulos, estarei resolvendo isso...
Até mais!

Nenhum comentário: