Olá.
Hoje
volto a tratar de livro. E, ao mesmo tempo, de televisão.
Tentando
fazer meus 17 leitores se alijarem um instante da nossa realidade, nossa cruel
realidade, desta vez, o livro trata de um assunto que interessa à maioria, e o
restante nega, mas não resiste em dar uma espiadinha: novelas. Novelas da Rede
Globo. Ou melhor: de novelas da Rede Globo que um dia foram seus maiores
clássicos. Tudo graças a uma autora, que, entre os anos 1960 e 1980, foi uma das
maiores artífices do “padrão Globo de qualidade”.
O
livro de hoje se chama NOSSA SENHORA DAS OITO. E seus autores, Mauro Ferreira e
Cleodon Coelho, tratam, nele, sobre a carreira de – vocês já devem ter
adivinhado – Janete Clair.
NOSSA SENHORA DAS OITO – JANETE CLAIR E A EVOLUÇÃO DA TELENOVELA NO BRASIL foi publicado pela editora Mauad, em 2003. O texto é de Mauro Ferreira, jornalista carioca e (então) aspirante a roteirista de TV; já Cleodon Coelho, pernambucano, também jornalista, pesquisador e colaborador da Rede Globo (redigiu scripts de programas da emissora e membro da equipe do Vídeo Show), colaborou com a pesquisa e a reportagem. E o livro ainda tem prefácio de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o artífice-mor do “Padrão Globo”, visto que, sob seu comando, a Rede Globo se tornou a potência que continua sendo até hoje – queiram ou não queiram seus detratores.
Neste
breve volume (147 páginas, sem contar capa), Ferreira e Coelho criam uma obra
de referência a respeito da obra de Jenete Stocco Emmer (1925 – 1983) – não, o
nome não está escrito errado, seu nome de batismo era assim mesmo, Jenete –
nascida em Conquista, Minas Gerais, e que ficaria conhecida sob o nome
artístico de Janete Clair, e também por outros epítetos: Maga das Oito, Dama
das Oito, Nossa Senhora das Oito. O livro, publicado na ocasião dos 20 anos de
falecimento da novelista, faz um resumo da vida da autora, e conta resumos,
bastidores e curiosidades a respeito das 21 novelas televisivas que escreveu ou
se envolveu.
Bem,
como posso começar a tratar da importância de Janete Clair para a evolução da
telenovela brasileira, uma das tantas maneiras que nosso país dispõe para
contar histórias, e a mais popular até hoje? Podemos dizer que, antes de tudo,
Janete Clair foi uma inovadora no estilo. Embora não tenha sido a pioneira na
renovação de estilo de então – ou seja, pela gradual troca dos dispendiosos dramalhões
de época pelas temáticas contemporâneas, mais a ver com a realidade dos
espectadores – Janete popularizou o estilo que ajudaria a criar os maiores
clássicos das telenovelas, até hoje na memória das gerações nascidas entre 1960
e 1980 – as gerações de 1990 em diante tiveram, e tem, de se contentar com os remakes, nem sempre bem-sucedidos, e com
os registros atualmente disponíveis em DVD. Janete também foi a responsável
pela projeção de grandes astros da teledramaturgia, até hoje referência em
atuação – Tarcísio Meira, Glória Menezes, Regina Duarte, Francisco Cuoco, Dina
Sfat, Tony Ramos... são só alguns nomes a citar da turma que se realizou sob a
batuta de Janete Clair e seus aliados. Além disso, Janete foi responsável por
milagres que conseguiram tirar tramas, e a própria emissora, de aparentes
sufocos; criou boas e convincentes tramas sob pressão, o que poucos conseguem; bateu
recordes de audiência; criou uma nova cartilha para criação de novelas, seguida
por muitos novelistas – uma de suas melhores regras diz: “não tenha medo do ridículo: se, por exemplo, lhe ocorrer de o galã
dizer para a mocinha ‘eu tirei você da lama’, passe para o papel”; e
conseguiu criar verdadeiras catarses nacionais, apesar das limitações que
chegou a sofrer – suas novelas chegaram a ser afetadas pela censura do Regime
Militar. Tudo na era pré-computador, com os roteiros redigidos a máquina de
escrever. Para entender Janete Clair, creio que seja o básico.
Bem.
Eu, o redator desta resenha, não vivi na época de ouro das telenovelas – nasci
em 1984. Ou melhor, vivi o final dessa época, os anos 1990, em que a Globo
ainda disputava com a Manchete. Não que eu seja noveleiro, aliás novelas hoje não
me interessam... mas também não fico alheio, prefiro me informar a respeito das
novelas a assisti-las (glup)... E não posso evitar, na verdade, pois minha mãe
é noveleira, e acompanha as tramas das 18h, das 19h e das 21h, logo, é inevitável
que eu ande pela sala e não depare com a Tv ligada na novela na hora do jantar.
O
que posso dizer, no momento, é que os anos 2000 ainda não trouxeram nada que
seja realmente memorável. Mas posso imaginar como tenha sido a época de Janete
Clair, estrela maior de uma constelação de escritores que criaram verdadeiros
clássicos: Dias Gomes, Gilberto Braga, Sílvio de Abreu, Glória Perez, João
Emanuel Carneiro, Walcyr Carrasco... Tem quem ainda ache novelas alienantes, e
prefira estar fazendo qualquer outra coisa a ficar no frente da TV no horário
das 18h às 22h. Mas não dá para negar que as novelas possuem suas qualidades, e
podem ser incluídas como um subgênero da nobre arte de contar histórias. A
humanidade sempre dependeu das histórias, e a telenovela é uma forma de contar
histórias, antes de tudo. Por pior que uma novela se saia, mas parte da culpa é
mesmo das pessoas que contam essas histórias – às vezes, não é a história que é
ruim, mas o contador da história. Creio que me entenderam.
Well.
O livro de Ferreira e Coelho, enquanto analisa as novelas de Janete Clair –
apenas as feitas para a televisão; ela começou sua carreira de escritora
escrevendo novelas para rádio – também oferece um panorama da evolução da
telenovela no Brasil. Uma trajetória que Janete Clair acompanhou de perto.
Afinal, ela foi testemunha da transição das novelas radiofônicas pelas
televisivas, e também da mudança de estilos que, antes de tudo, significava
mudanças no gosto do público e, por consequência, aumento nos índices do Ibope.
Antes
de prosseguirmos, mais algumas informações básicas sobre Janete, cuja vida teve
também seus lances novelescos: Jenete Stocco Emmer nasceu em Conquista, MG, em
25 de abril de 1925, filha de um comerciante libanês, Salim Emmer, e de
Carolina Stocco; passou a infância em Franca, SP, e, posteriormente, nos anos
1940, se mudou para São Paulo, junto com a família do segundo casamento da mãe,
com o médico italiano Ettore Minicelli. Começou como locutora e atriz da Rádio
Difusora de São Paulo – cargo que ela conseguiu por sorte – onde conheceu o
futuro marido e seu maior parceiro, o dramaturgo Alfredo Dias Gomes. O futuro
autor da consagrada peça teatral O
Pagador de Promessas, adaptada para cinema e TV com sucesso, e das
igualmente consagradas novelas O Bem
Amado, Saramandaia e Roque Santeiro,
se divorciou da primeira esposa em 1947 para ficar com Janete – os dois se casaram
em 1950, e tiveram quatro filhos, mas o último morreu aos três anos de idade. Foi
ainda na época como locutora na Difusora que Jenete adotou o nome artístico,
Janete Clair, dado pelo diretor da empresa, Octávio Gabus Mendes – o “Clair”
foi tirado da canção Clair de Lune, do
francês Claude Debussy, uma das músicas favoritas da futura autora.
Em
1948, Janete, que trocara a Rádio Difusora pela Rádio América, também de São
Paulo – por causa das opções políticas de Dias Gomes – escreve sua primeira
novela, Rumos Opostos, cuja
veiculação foi possibilitada com a ajuda do ainda namorado, que havia sido
contratado diretor da área de radioteatro. Ao todo, para o rádio, Janete
escreveu 31 novelas, a maioria transmitida pela Rádio Nacional, para onde se
transferiu em 1956. Ela escreveu novelas para rádio entre 1948 e 1967, e
assistiu, portanto, a decadência das novelas radiofônicas, que perderam espaço
para as da televisão, gradualmente. Mas foi na telinha que Janete faria
história.
Ela
começou a escrever para a televisão em 1964, com a novela O Acusador, para a TV Tupi do Rio de Janeiro. Na época, as novelas
não eram diárias, eram exibidas em alguns dias da semana, e eram mais curtas – O Acusador teve 42 capítulos. Ainda para
a Tupi, Janete escreveria Paixão
Proibida, de 1967, que teve 108 capítulos; e, paralelamente aos trabalhos
que já desenvolvia para a Globo, para a TV Rio, escreve Acorrentados, em 1969 – essa trama, entretanto, não foi concluída,
por conta da falência da TV Rio e da debandada do elenco. Mais tarde, daremos
mais detalhes.
O
ingresso de Janete Clair na Rede Globo foi, literalmente, um terremoto. Na
época, a manda-chuva do setor das telenovelas na emissora era a cubana Glória
Magadan, cujo estilo de fazer novelas priorizava o dramalhão em estilo
mexicano, as tramas de época, passadas preferencialmente em países
estrangeiros, e sempre tendo como base uma obra célebre da literatura mundial –
portanto, para os padrões de hoje, pouco palatáveis à nossa realidade. Essa
tendência havia sido estabelecida na TV pela histórica O Direito de Nascer (TV Tupi, 1964), e logo seria repetida à exaustão pelas emissoras de então. Bem:
era 1967, e a novela da vez era Anastácia,
a Mulher sem Destino, protagonizada pela futura musa do feminismo
brasileiro, Leila Diniz, com argumento de Magadan e escrita por Emiliano
Queiroz, que, além de estar desenvolvendo uma trama confusa, enchia a novela de
atores para ajudar amigos desempregados. Magadan chama Janete para dar um jeito
na trama, que estava incompreensível à altura do capítulo 40, ou, parafraseando
a expressão usada pela cubana, jogou o abacaxi para Janete. E a autora
conseguiu descascar o abacaxi! O que Janete fez foi simples: criou um
terremoto, que matou quase todos os personagens, e, daí em diante, a trama foi
renovada, fazendo o tempo saltar para 20 anos. E garantiu que a novela
prosseguisse até alcançar 125 capítulos. E, desse modo, Janete Clair ingressou
na Rede Globo, e de lá nunca mais sairia – ou melhor, só saiu com a sua morte,
em 16 de novembro de 1983, vitimada por um câncer no intestino, diagnosticado
desde 1979. Até lá, vivia uma rotina tranquila, dividindo seus afazeres de
escritora com as de mãe, esposa e dona de casa. Crises pessoais, os mais graves
eram os causados pelos verdadeiros abacaxis que apareciam nas tramas que
escrevia – censura, desentendimentos com atores, pedidos de mudança nas tramas,
interferências constantes em suas ideias originais. Mas estabeleceu parcerias
que ficaram para sempre, tanto com os seus atores favoritos – entre eles,
Tarcísio Meira e Francisco Cuoco – como com seu diretor favorito, Daniel Filho,
parceiro em várias tramas suas. E o maior orgulho de Janete foi quase sempre
ter conseguido ocupar o horário das oito – na realidade, 21 horas, ou 9 da
noite. Algumas vezes, Janete foi realocada para outros horários, mas o seu
horário de prestígio sempre foi o das oito. Por isso, um de seus apelidos era
"“Nossa Senhora das Oito”.
Bueno:
o livro de Ferreira e Coelho analisa todas as 21 novelas de Janete Clair,
dividindo os 21 capítulos em três momentos: ficha técnica da novela em questão;
a seção Estamos Apresentando, que conta
detalhadamente os bastidores das tramas; e Intervalo,
que traz curiosidades adicionais sobre a novela. Alguns capítulos trazem
fotos de frames de cenas das novelas.
Começa
com O Acusador (1964), que já trazia
uma inovação para as novelas de sua época: era ambientada em um local
brasileiro, no caso o interior de Pernambuco, em época contemporânea, fugindo
da cartilha das novelas de época. E foi a primeira trama de Janete a fazer uso
de um lugar-comum em suas novelas: personagens que assumem uma segunda identidade,
ou para fazer investigações, ou por doenças psíquicas, ou por possessão de
espíritos, ou apenas para zoar com os outros personagens.
Paixão Proibida (1967)
era uma trama de época, ambientada na Minas Gerais da época da Inconfidência
Mineira. E foi devido a desentendimentos entre Janete e o ator principal da
trama, Sérgio Cardoso, que a autora se aproximou de Daniel Filho, então apenas
assistente de Glória Magadan, o que já valeu o ingresso na Rede Globo.
Anastácia (1967)
foi o ingresso de Janete na emissora, com o célebre terremoto. Mas as tramas
seguintes de Janete, Sangue e Areia (1967),
Passos dos Ventos (1968) e Rosa Rebelde (1969) ainda seguiam a
cartilha de Magadan – tramas de época baseadas em obras literárias, um estilo
que já se tornava dispendioso e dava sinais de desgaste. Paralelamente, Janete
desenvolveu para a TV Rio a inconclusa Acorrentados
(1969). O curioso é que Acorrentados estava
sendo escrita às escondidas, enquanto Janete trabalhava na finalização de Passos dos Ventos e iniciava Rosa Rebelde. Acorrentados foi feita
para ajudar Daniel Filho, que se desligara da Globo e tentava comandar a
decadente TV Rio. Mas, depois, Daniel Filho voltou à Globo.
Dessas
primeiras novelas de Janete Clair, não sobraram registros de vídeo, apenas
algumas fotos.
Mais:
Sangue e Areia foi o motivo do
desentendimento que levou Daniel Filho para a TV Rio: ele dirigia a novela ao
mesmo tempo que uma trama escrita por Glória Magadan, Demian, o Justiceiro, mas usava pseudônimo. E Sangue e Areia, primeira parceria entre Janete Clair e o ator
Tarcísio Meira, fez mais sucesso, o
que enciumou Magadan e a fez brigar com Daniel Filho. Régis Cardoso teve se
assumir a direção de Sangue e Areia. E,
devido a um incêndio nos estúdios da Rede Globo em São Paulo, que atrasou o
cronograma de gravações de outra novela, Janete foi obrigada a esticar Rosa Rebelde, fechando em 212 capítulos,
100 a mais que o previsto. Mas foi essa novela que deu prestígio ao casal
Tarcísio Meira e Glória Menezes.
O
domínio de Janete Clair era questão de tempo, obliterando Magadan e sua
cartilha. A inovação nas telenovelas veio com Beto Rockfeller (1968), de
Bráulio Pedroso, exibida pela TV Tupi. Foi essa novela que incorporou ao gênero
os temas contemporâneos e o linguajar coloquial, mais próximo dos espectadores.
Janete só teria condições de incorporar a cartilha de Pedroso à sua em 1970,
com a novela Véu de Noiva. Além de
ser uma trama contemporânea, Janete ainda iniciou uma nova tradição nas novelas
globais: incorporar temas da moda ao enredo, criando tendências entre os
espectadores. No caso de Véu de Noiva, foi
o automobilismo. E Janete, livre das amarras de Magadan, conseguiu desenvolver
seu próprio estilo – e se consolidaria como a rainha do horário das oito.
Irmãos Coragem (1970
– 1971), que incorporava, a um só tempo, faroeste na área rural brasileira e
futebol, foi uma de suas tramas mais memoráveis já criadas pela emissora –
precisa dizer por quê? Um dos motivos foram as pessoas envolvidas: Janete
Clair, Daniel Filho, Tarcísio Meira, Glória Menezes, Cláudio Marzo... Essa
trama, que também atraiu o público masculino e derrubou o estigma de que novela
é coisa exclusiva de mulheres, foi a responsável por firmar a liderança da
Globo como potência noveleira, cujo monopólio foi ameaçado algumas vezes por
emissoras como Manchete e Record. E Irmãos
Coragem ainda registrou um índice de audiência superior à da final da Copa
do Mundo de 1970! Infelizmente, seu remake, dos anos 1990, não reeditou o mesmo
sucesso.
O Homem que Deve Morrer (1971
– 1972) não foi uma novela tão memorável, mas inovou ao incorporar, como
assunto da moda, o transplante de coração. E a trama ainda sofreu censura, que
transformou em ficção científica uma história que deveria fazer referência à
vida de Jesus Cristo.
Selva de Pedra (1972
– 1973) foi o maior sucesso da autora. Só para resumir sua importância: com
essa trama, que apesar de suas qualidades também sofreu ação da censura
federal, a Rede Globo conseguiu bater recorde de audiência: um de seus
capítulos conseguiu 100% de audiência auferida pelo Ibope da época! Um feito
que dificilmente irá se repetir, entre outras coisas porque hoje é maior o
número de televisores – e há muito mais canais, portanto mais opções para não
ficar se preso à Globo, e também há muito mais detratores da emissora global
(que dia mesmo que é o tal Dia Nacional Sem Globo?). Selva de Pedra, sétima novela consecutiva da autora para o horário
das 20h, também firmou a primeira
parceria entre Janete Clair, o ator Francisco Cuoco e o diretor Walter Avancini
– um dos quatro diretores que a novela teve, mas o que teve mais gás para ir
até o fim. Um compacto de capítulos dessa novela teve de ser exibido às pressas
para que fosse feita outra novela no lugar de uma que foi interditada (ver
adiante). E também ganhou remake nos anos 1980.
O Semideus (1973
– 1974) foi outra obra menor, também com direção de Avancini. E foi a primeira
novela que Janete desenvolveu sob pressão, como um tapa-buraco na programação
da Globo. E ainda foi outra trama da autora que só começou a engrenar a partir
da segunda metade.
Fogo Sobre Terra (1974
– 1975) foi outra obra que sofreu com a censura federal – era para ser uma
crítica aos males do progresso desenfreado. Por conta da pouca repercussão,
Janete foi “castigada” por não ter conseguido, ainda, repetir o sucesso de Selva de Pedra: acabou realocada para o
horário das 19h.
Bravo! (1975
– 1976) foi a única incursão de Janete no horário das 19h – o que não a deixou
contente. Ela escreveu uma parte da trama, e o restante foi assumido por
Gilberto Braga. Motivo: Janete foi chamada para escrever outra novela às
pressas. É que, pouco antes da estreia, a então programada Roque Santeiro, de Dias Gomes, foi interditada pela censura
federal. Roque Santeiro seria regravada
e exibida dez anos depois, com outro elenco – e se tornaria um clássico. Para
dar tempo de desenvolver outra novela substituta, a Globo precisou exibir um
compacto de Selva de Pedra. Mesmo
sobre pressão, Janete conseguiu desenvolver, em tempo recorde, aquela que
muitos consideram sua obra-prima.
Falo,
é claro, de Pecado Capital (1975 –
1976), que teve um de seus finais mais antológicos – pela primeira vez, o “mocinho”
morre no final, e o público preferiu se afeiçoar ao “vilão” – e foi tão popular
que chegou até a ganhar um álbum de figurinhas! E a maior prova de que as
melhores novelas não são as que tem “cartas marcadas”. Muito embora o diretor
Daniel Filho tenha mudado muitas das ideias iniciais de Janete, mas quem se
importa? Também ganhou remake nos anos 1990, sem muito impacto.
Duas Vidas (1976
– 1977) era para ser uma obra de crítica social, mas acabou se tornando uma
trama sentimental. Culpa da censura. Mesmo assim, a audiência foi grande.
E
chegamos a O Astro (1977 – 1978).
Antes de Gilberto Braga e sua Vale Tudo (1988) fazerem o Brasil perguntar “Quem matou
Odete Roitman?”, foi Janete que parou o Brasil e o fez perguntar: “Quem matou
Salomão Ayala?”. Até mesmo o Presidente da República da época, Ernesto Geisel,
tentou arrancar, do diretor Daniel Filho, a resposta antes do fim da trama, mas
não conseguiu! Fez tanto sucesso que o poeta Carlos Drummond de Andrade
precisou conclamar o Brasil a voltar à realidade depois que a novela terminou. O Astro também foi a última novela de
Janete comandada por Daniel Filho. Recentemente, ganhou remake para o horário
das 23h.
Pai Herói (1979)
foi outro grande sucesso, e fez o Brasil mudar seu galã – sai Tarcísio Meira e
Francisco Cuoco, entra Tony Ramos. E foi a primeira trama da autora que se
beneficiou com o afrouxamento da censura federal.
Coração Alado (1980
– 1981) foi uma trama mais ousada: o drama incluiu até violência sexual. Por
isso, causou polêmica.
Sétimo Sentido (1982)
foi outra trama de Janete Clair que só começou a engrenar na segunda metade. A
trama incluiu, entre seus temas, a paranormalidade. E foi a última novela
completa que Janete Clair escreveu, para o horário das 20h. Na época, Janete já
começava a definhar devido ao câncer.
Eu Prometo (1983
– 1984) foi a última novela de Janete. Ela não conseguiu concluir a trama, que
foi assumida pela então iniciante Glória Perez.
E,
desse modo, Janete Clair fez história. Outros autores fariam as suas, mas, na
opinião de muitos, Janete é a maior. Suas tramas originais valem uma estudada
para efeitos de análise de seu método de storytelling.
E... eu creio que seja isso. NOSSA SENHORA DAS OITO vale a lida, para quem
quiser analisar a história das novelas brasileiras – ou simplesmente relembrar
o tempo em que dava mais gosto assistir à “máquina de fazer doido”, a TV.
PARA
ENCERRAR...
...não
tendo pensado em algo melhor, deixo para vocês as últimas tiras da sexta
temporada de Bitifrendis, meus personagens praianos. Alguém já comentou, via
redes sociais, que minhas tiras, embora pertençam ao gênero humorístico, seguem
o estilo “novelinha”, onde as situações se sucedem ao estilo das tiras de
jornal de aventura. E estas tiras, como podem ver, constituem um verdadeiro
dramalhão, com intrigas, oposições a um romance... os elementos típicos da
novela, ainda que de maneira exagerada.
Admito:
não tenho total domínio do estilo humorístico tradicional, onde cada tira é
fechada e independente: nas minhas tiras das minhas três séries – Letícia,
Bitifrendis e Teixeirão – cada situação depende da anterior, com criação de
expectativas pelo que vem a seguir. Vocês entendem, não? Talvez seja um dos
motivos porque minhas tiras se limitam à internet, dificilmente sairiam no
formato impresso, em jornal...
E
aguardem novidades.
Até
mais!
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