Olá.
Na
postagem anterior, falei de livro – do primeiro romance escrito por Luiz Antônio
de Assis Brasil, Um Quarto de Légua em
Quadro. Publicado em 1976, foi o seu primeiro romance publicado, e o
terceiro do autor gaúcho a ganhar adaptação para o cinema.
E é
do filme que vamos falar hoje. A adaptação para o cinema acabou ganhando outro
nome: DIÁRIO DE UM NOVO MUNDO. Ok, filme brasileiro, com fundo histórico,
pretensamente adaptação de romance brasileiro... coisas as quais boa parte dos
brasileiros, nos dias que correm, não estão prestando atenção. Mas procurem tirar
um tempinho para ler estas palavras... Vamos, não vai ser difícil, eu
garanto...
DIÁRIO
DE UM NOVO MUNDO toma o romance de Luiz Antônio de Assis Brasil como base para
conduzir uma narrativa de vida própria. Não é muito fiel ao romance (o roteiro
toma liberdades que praticamente transformam a obra original em algo novo), mas
o mais que posso dizer é que o filme se torna mais compreensível ao público que
o livro – como sempre costuma acontecer. Já volto a essa parte.
E
é engraçado: com relação aos filmes adaptados de obras de Luís Antônio de Assis
Brasil, estou resenhando-os em sequência de lançamento! Falei primeiro de A Paixão de Jacobina (2002, adaptação de
Videiras de Cristal), o primeiro que lançaram; depois, de Concerto Campestre (2004, adaptação do
romance homônimo), que foi o segundo.
DIÁRIO DE UM NOVO MUNDO (2005) foi o terceiro produzido. Assim, só faltará Manhã Transfigurada (2008, adaptação do
livro homônimo) e Ensaios Íntimos e Imperfeitos (2016). Tudo em sequência de produção!
Voltando:
DIÁRIO DE UM NOVO MUNDO, produção dos estúdios Accorde Filmes e Panda Filmes,
foi dirigido por Paulo Nascimento, com roteiro de Paulo Zimmermann. Com gente
conhecida no elenco e na produção. A direção musical e trilha sonora são de
Duca Leindecker, vocalista da banda gaúcha Cidadão Quem. E a música-tema,
conduzida por Leindecker, é interpretada por Ney Matogrosso – que, inclusive, faz
uma ponta no filme.
Bão:
DIÁRIO DE UM NOVO MUNDO conta com três atores “globais” no elenco: Edson
Celulari, Daniela Escobar e Zé Victor Castiel. Acho que já nos localizamos.
Tal
como no romance, acompanhamos o drama do médico luso-brasileiro Gaspar de Fróis
(Edson Celulari). Vindo da ilha dos Açores (no filme, ele é nascido no Brasil
e, após formado, passa um tempo clinicando nos Açores), marcado fortemente pela
morte da esposa, Ana, ainda nas ilhas. O ano é 1752, e o Dr. Gaspar chega ao
Brasil junto com uma leva de imigrantes açorianos, que viajam em precárias
condições, no navio comandado pelo capitão Eleutério (Marcos Paulo), temeroso
quanto à reação do comandante da Ilha do Desterro, Manuel Escudeiro (Zé Victor
Castiel), por conta das perdas humanas na viagem.
O
filme, no entanto, foca menos a experiência migratória açoriana, e os dramas
dos colonos que desembarcam inicialmente no Desterro e depois em Rio Grande, de
onde depois se espraiam pelo território gaúcho. O roteiro se detém, mesmo, nas
peripécias de Gaspar de Fróis e no seu romance com Dona Maria (Daniela
Escobar), esposa do militar Tenente Covas (Rogério Samora). E ainda lima da
narrativa alguns personagens do livro, como o colono Lorvão, o fidalgo Pedro
Luiz de Souza, o padre Bartolomeu Panigay, e Aguiar, o criado do Dr. Gaspar.
São
raras as inserções de narrativa em off do Dr. Gaspar, mas é apenas para manter
o sentido do título.
Bem.
Ainda no Desterro, o Dr. Gaspar vai, aos poucos, ganhando a devida confiança de
várias pessoas, inclusive de Manuel Escudeiro, por conta da prática da medicina,
fundamental para o restabelecimento dos colonos que chegam doentes. E isso
apesar das dificuldades ali encontradas, como a falta de um assistente. E,
ainda no Desterro é que o Dr. Gaspar conhece D. Maria, que se interessa pelo
médico. A atração é recíproca, porém cheia de riscos. Inicialmente, limita-se
apenas a conversas sobre amenidades e livros, inclusos os da coleção particular
do médico. Mas é quando ocorre a mudança para Rio Grande, e seu forte, que o
casal não se contém: durante a ausência do Tenente Covas, acabam tendo um
rápido envolvimento amoroso. Mas, com o tempo, o casal começa a se afastar. O
Dr. Gaspar, que já conseguira substituir a falecida esposa por Dona Maria em
seu coração, passa a viver uma busca por ela, no momento em que ela se afasta e
desaparece. Ney Matogrosso interpreta um “delírio” do Dr. Gaspar, que lhe diz
palavras duras.
Em
Rio Grande, o Dr. Gaspar trava uma série de amizades, encontra velhos
conhecidos das ilhas, e serve à guarnição militar, sempre na condição de médico.
Enquanto isso, nos bastidores, ocorre uma série de negociações entre os
impérios de Espanha e Portugal, a fim de fazer valer os termos do Tratado de
Madri, assinado anos antes.
Depois
do gradual afastamento de Dona Maria, o Dr. Gaspar resolve acompanhar uma
guarnição militar que, mais ao sul, empreende uma expedição de demarcação dos
novos territórios. É ali, no meio do acampamento militar, que o Dr. Gaspar vem
a saber sobre a gravidez de D. Maria, que relata isso em carta enviada ao
marido. O pior é que o Tenente Covas, presente na expedição, está desconfiado –
ele confessa ao Dr. Gaspar que possui uma doença venérea, e que não pode ter
sido ele quem engravidou a esposa. Por sua vez, o Dr. Gaspar fica
consternado...
O
final do filme toma um rumo diferente do livro, com diversas cenas que não
constam no romance, incluindo um momento de suspense, com a prisão do Dr.
Gaspar, em sua tentativa de salvar D. Maria (assistam ao filme para saberem
quais foram as circunstâncias). Mas também mantém uma característica do livro:
o destino em aberto dos personagens, que o espectador é quem terá de imaginar –
porém, apontando para um final feliz, “padrão Globo”. E ainda há um salto no
tempo – uma breve cena em que personagens no tempo presente analisam os
manuscritos do Dr. Gaspar. O espectador pode estranhar, ou acompanhar o
raciocínio desses personagens do presente.
Mas,
no conjunto, é um belo filme. Houve capricho nos figurinos e na reconstituição
da época, em locações externas – o filme teve locações em Rio Pardo, no Rio
Grande do Sul, em Florianópolis, Santa Catarina, e em Chuy, no Uruguai. Há um
abuso de ambientes escurecidos, fracamente iluminados com velas, lamparinas,
fogueiras e luz natural, mas na época da história era assim mesmo. Os atores
procuram ser os mais naturais possíveis em suas interpretações – estranhamento
maior talvez seja a ponta de Ney Matogrosso. E as liberdades no roteiro até que
funcionaram, e fizeram valer as premiações recebidas – DIÁRIO DE UM NOVO MUNDO
foi indicado em duas categorias do Festival de Cinema de Gramado de 2005,
ganhando o Kikito de Melhor Roteiro, e o Prêmio da Audiência.
Não
é difícil encontrar DIÁRIO DE UM NOVO MUNDO em DVD, ou no streaming, por ser um
filme recente. Oh: no momento em que escrevo, o filme está disponível, na
íntegra, no YouTube. E em HD! Mas há uma reserva para quem quiser usar o filme
como apoio em aulas de História das escolas.
PARA ENCERRAR...
...mais
algumas páginas de minha HQ folhetinesca, O
Açougueiro, produzidas em um curtíssimo espaço de tempo – só nestas três
páginas gastei cerca de quatro horas e meia de trabalho! Não que seja a
primeira vez que preciso trabalhar assim, sob pressão... Já desenhei mais
páginas que estas dispondo apenas de algumas poucas horas – bem, seis a oito
horas, mais que isso, mas a percepção foi que eu podia produzir muito mais, se
eu não tirasse uns minutos para flautear, descansar a mão...
E,
neste passo, continuamos produzindo nossa cultura. Fica a gosto de cada um se
ela é útil ou inútil. Mas não podem dizer que não estamos produzindo.
Até
mais!
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