Hoje, domingo. 15 dias se passaram desde o último domingo de 2017. E meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO, ganha continuidade agora, em 2018. É o primeiro capítulo do ano - e a primeira postagem de 2018 com desenhos. E, bem, para introduzir, isso é tudo.
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de assédio, de insinuações sexuais e de embriaguez.
O dia seguinte chegou, e mal deu para
perceber.
Encolhido em minha cama, só de cuecas, de meu
apartamentinho pequeno e simples – ooh, como eu estava sentindo a sua falta, minha
querida cama – em posição fetal, as cobertas sobre mim como uma bolsa de
líquido amniótico, o travesseiro como uma placenta onde apoio minha cabeça
dolorida... enfim, deitado e tentando descansar como se estivesse em um útero,
eu não conseguia tirar de minha mente a noite anterior, e todas as suas
loucuras.
Terá sido sonho tudo o que vivi desde que saí
desta cama pela última vez?
Vamos rememorar: eu sonhei que transei com
Fifi, uma garota pantera – literalmente. Depois, a estuprei... ela me atacou...
e eu a matei, atirando-a da janela. Depois, fui eu a ser jogado de uma janela.
Aí acordo, e passo um tempo deprimido, e pelado. Ligo para Geórgia, e ela me
faz tomar coragem de continuar a sair para a rua.
A caminho da faculdade, passo mal, vomito o
que comi, depois vomito a água que bebi em cima de Créssida. Vou para o
hospital da faculdade, vomito o salgadinho que tentei comer, assusto Maura, me
assusto comigo mesmo, saio correndo. Corro até um beco, onde bebo sangue de
rato. Argh... Saio correndo de novo, me refugio em um prédio em construção.
Tenho certeza de que estava me transformando, gradativamente, em vampiro. Os
cães demoníacos me atacam, luto com eles, os venço.
Saio para a rua, e tento agir como o vampiro
que acredito ter me transformado. Mas me dou mal: levo uma surra de três
delinquentes – que já haviam me dado uma surra anteriormente – uma bolsada de
uma prostituta, um tabefe de Créssida, e quase vou preso quando tento sugar
sangue de Maura, mas sou “salvo” por Luce.
Ainda acreditando ser vampiro, agrido Luce,
mas acabo apanhando. Pois descubro que Luce é um vampiro legítimo. Não consigo
impedir que Luce extraia sangue de Geórgia com uma seringa gigante. Descubro
que Andrômeda é irmã de Luce, e também é vampira – e eu também já havia
transado com ela. Acompanho os irmãos, e Jorge Miguel, que também é vampiro, ao
hospital para onde foram levadas Créssida, Geórgia e Maura. Depois, os vampiros
me levam até onde os outros “monstros” estavam, e estes se transformam diante
de mim em... monstros. Duendes, fadas, elfos, dinossauros, ninfas, lobisomens,
demônios... e desmaio.
Acordo no quarto de Andrômeda. Dou uma
espiada em seus armários, depois encontro Luce e os outros monstros discutindo:
Luce, Andrômeda e Jorge Miguel são vampiros, Breevort é um elfo negro, MC Claus
é um ogro, Flávio Urso é um pé-grande mestiço, Âmbar é uma ninfa, Morgiana é
uma sereia... e Luce me leva para jantar em uma churrascaria. Ambos saímos à
francesa enquanto os outros discutiam.
No estacionamento da churrascaria, Luce, ou
melhor, Lúcifer, que no entanto não garante ser “o” Lúcifer, me propõe um pacto.
Ia me mostrar o caminho da riqueza e do poder, em troca de trabalhar para ele.
Acabei aceitando.
Depois, Luce me leva para o bar onde
trabalho, e cumpro meu turno habitual. Mas foi estranho os outros “monstros”
não terem aparecido no bar. Hoje, o bar estava mais vazio, pouquíssima gente. Apenas
Luce compareceu. Trabalhei, como se nada houvesse acontecido. Fiz drinques aos
clientes “normais”. Luce ficou no bar a noite toda, ora bebendo, ora parado
olhando o movimento. Em determinado momento, resolveu jogar sinuca com um
cliente – e ganhou três partidas. Depois, voltou para o balcão. Ninguém o
reconheceu com o cabelo claro. Mas ele mesmo justificou ao meu chefe minha
ausência no dia anterior, que eu tinha sofrido um acidente. Até apresentou um
atestado médico, que ele tirou não sei de onde. Disse que me acompanhou no
hospital. E creio que o chefe acreditou.
Depois, findo meu turno de trabalho, que
consegui levar normalmente, Luce mesmo me levou para casa, em seu carro, e saiu
a toda, me deixando com o olhar pasmo. Antes de ir embora, falou apenas:
“amanhã combinaremos melhor os termos de nosso pacto.”
É, fazer o quê... Maquinalmente, entrei, coloquei
o celular para carregar, tirei a roupa e fui direto dormir.
Bom que naquela madrugada não sonhei com
nada. Acho que sonho, mesmo, foi tudo o que vivenciei naquelas duas excêntricas
noites. Quem sabe não seja isso. Monstros não existiam. Não fiz pacto nenhum.
Nenhuma garota teve seu sangue extraído...
Mas, mesmo assim, eu não vou para o céu
quando morrer.
Eu devia estar ficando louco. Louco, é isso
mesmo! Agora, sim, eu estava louco. Em imaginar que realmente existiam
vampiros, elfos, sereias, ninfas, pés-grandes, ogros... e que eles iam me
ensinar os segredos de como conquistar o poder. Possivelmente, ia aprender a
ficar rico – desejo secreto da grande maioria da humanidade. Mas que bobagem. É
bom demais para ser verdade o fato de, simplesmente em troca de continuar
fazendo drinques, eu aprender a ficar rico, e ainda por cima ter uma porção de
mulheres gostosas à minha disposição. Ainda que sejam monstras, as monstras
eram sedutoras, capazes de levar um pobre rapaz pândego e notívago à perdição.
Talvez seja nas “monstras” que eu estive pensando quando aceitei a proposta de
Luce...
Aah, de toda forma, fiz um pacto com o Diabo,
e não vou mais ser aceito no céu.
Esse pensamento interrompeu meu sono que, até
então, transcorria sem maiores problemas. E, encolhido na minha cama, protegido
do mundo, tendo por mundo apenas o espaço entre o colchão e a coberta da cama,
chorei baixinho.
Afinal, o que eu vivi até agora é verdade ou
alucinação?! Ooh, será que alguém vai se dar ao trabalho de me responder?! Será
que na verdade eu não estava vivendo uma simulação da Matrix?! Será que na
verdade eu não havia sofrido algum grave acidente, e estava em coma em alguma
cama de hospital, sonhando que eu fazia faculdade de medicina, e trabalhava em
um bar, e levava uma garota por semana para esta mesma cama onde eu agora
estava deitado, e...
De repente, meus devaneios de um sono
interrompido são... interrompidos.
Senti algo como que uma picada de inseto.
Acordo, assustado, saio de baixo da coberta e
sento na cama, apoiado contra a parede. Oh, céus! Entrou um inseto na minha
coberta! Mas que tipo de inseto é?! Uma barata? Uma aranha?! Um besouro? Um...
Olho em volta: o dia ainda estava claro. A
janela fechada, mas a lâmpada acesa. Meu despertador marcava 15:30. Três e meia
da tarde.
Mas que dia é hoje?! E...
Oh, então foi um louva-a-deus que, de alguma
forma, entrou em meu quarto e entrou sob meu cobertor. Mas como ele teria
conseguido acender a luz do meu quarto? E esse louva-a-deus, que me olhava de
cabeça erguida, e com as garras cruzadas, me parecia familiar... Talvez seja...
- Âmbar?!
E ouço uma voz fininha:
- Boa tarde, Macário. Te acordei? Estava
sonhando?
Sim, era o louva-a-deus quem falava! Ou
melhor... a louva-deusa.
- Â... Âmbar... É você mesma!
- Como sabia que era eu? – prosseguiu a
vozinha aguda. – Me reconheceu antes mesmo de eu falar... Oh, desculpe a
picadinha, Macário, mas eu tinha de te acordar de algum modo... Mas não se
preocupe, louva-deuses não são venenosos nem transmitem doenças...
Engoli em seco.
- Então... não foi sonho!
- Não foi sonho o quê?
- Os monstros existem... você... você pode se
transformar em inseto... e eu realmente... eu realmente fiz um pacto com o
demônio!
- Pacto... O quê?! – o louva-a-deus pareceu
ter se exaltado. – Você aceitou a proposta do Luce?!
- Você... você sabe?! Você soube?!
E, diante de meus olhos, o louva-a-deus
saltou de minha cama, cresceu, e se metamorfoseou. Se transformou em mulher.
Naquela garota tão cobiçada, Âmbar. Estava vestida, claro. Com aquelas roupas
provocantes, a blusinha decotada, quase mostrando os peitões, e a minissaia com
meia arrastão. O cabelo branco de tão claro, curto, sem nem uma tintura. Nas
mãos, as unhas compridas como garras. E assumia uma expressão macambúzia,
tentado sorrir. Aparentava estar de ressaca – já tinha visto ela beber muito, e
ontem certamente foi um daqueles dias. E eu... assustado, diante dela, só de
cuecas.
- Âmbar! – exclamei.
- Macário. – falou, com um fio de voz.
- Como... como você entrou aqui?!
- Hã... Pela janela do banheiro, Macário. Na
minha forma de inseto, Macário, sabe. – ela sorriu, ebriamente. – Como inseto,
eu posso entrar em qualquer lugar. É uma vantagem. E então, quer dizer que eu
posso entrar na suas casa quando você menos esperar, ah, ah...
O hálito revelava que havia realmente bebido,
mas não recentemente.
- O... o que está fazendo aqui?!
- Vim te ver, Macário. Não posso?! – ela
falou, sentando na cama.
- Bem, eu... poder pode, mas você me pegou de
surpresa!
- É, acho que sim. – e ela riu.
Me encolhi, e, lentamente, me afastei.
- Hã... eu... eu vou preparar um café,
aceita?
- Sim, Macário. Preto e sem açúcar, por
favor. Aliás, como adivinhou que eu estou precisada de um café preto e sem
açúcar, hein? Eh, eh...
Esperava que ela me atacasse, quando menos
esperasse. Mas ela não fez nada. Não enquanto eu pegava a calça e vestia. E me
dirigia à cozinha. Ela só me seguiu.
Não, hoje não vai ter sexo, Âmbar, se é isso
que você quer de mim. Não insista. Não estou com humor para isso.
Oh, céus. Será que eu estava tendo outros
daqueles sonhos com os tais portais mentais? Será que nesse momento eu estava
em outra dimensão, da qual só sairia morto? Mas não parecia. Eu me encontrava
muito lúcido – pelo menos é o que posso concluir. E talvez até eu mesmo
consideraria ridículo eu estar sonhando que estava... na cozinha, fazendo café.
Ao invés de deitado na cama, “atacando” aquela gostosa que está sentada ali no
meu sofá.
Âmbar estava só me observando. A garota mais
desejável do grupo do “monstros”. E ela estava macambúzia. Aparentemente
bêbada. Incrível que ela não tenha tentado me seduzir, como fez aquele dia. Ou
será que estava? Afinal, ela estava usando aquele decotão... E, mesmo com a
meia-calça rendada, sua cruzada de pernas era irresistível.
Ela não falou nada. Não até eu servir o café.
Assim que terminei de coar o café, servi duas
xícaras, de café preto e fumegante; levei uma xícara para ela, a outra adocei e
peguei para mim. Eu não estava bêbado. Sei que não estava.
- Ah, obrigada, Macário. – agradeceu ela,
pegando a xícara com muito cuidado por causa das unhas anormalmente compridas.
Me sentei a seu lado, ressabiado. Ela soprou
a xícara, sorveu devagar um gole do café quente. E outro... e se deu outro
angustiante momento de silêncio, até Âmbar esvaziar a xícara. Eu não conseguia
falar nada. Tentava beber meu café, mas não conseguia parar de olhar para ela. Só
depois que ela baixou a xícara vazia que eu consegui reunir coragem para falar.
- Então... – comecei, mas fui interrompido.
- Aaah, melhor agora. – exclamou Âmbar, com
uma expressão de alívio. – Eu precisava disso.
- Precisava do quê?
- De um café amargo. Para melhorar da
ressaca. Minha cabeça dói um pouco, ainda. Mas acho que o analgésico já está
fazendo efeito. Devo conseguir levar a noite de hoje. Mas, em todo caso, me
sirva mais um, por favor?
Não me fiz de rogado. Enchi outra xícara para
ela, e já consegui fazer minha voz sair da garganta.
- Você tinha bebido mesmo?
- Bem, Macário, sabe... – disse Âmbar,
enquanto sorvia o café. – Ontem, depois que você sumiu da mansão da
Andrômeda...
- Ah, que dia é hoje? Nem eu tenho certeza
se...
- É quarta-feira, pelo que eu sei. Escutei no
rádio antes de sair de casa.
- Quarta... então, tudo aquilo aconteceu
ontem mesmo?! Lembro que era segunda-feira quando tudo começou... digo, quando
achei que virei um vampiro e...
- Eu também lembro que era segunda, Macário.
Depois do fim da exposição do Marto Galvoni, e era sábado, então... sim, hoje é
quarta, e nesses dois dias anteriores aconteceu de tudo... bem, ontem eu
lembro, estávamos na mansão da Andrômeda, e estávamos conversando, e eu tive de
mostrar que posso virar inseto, e... bem, você sumiu, e sabe-se lá para onde o
Luce te levou... ah, para onde o Luce te levou, hein, Macário?
- Ah... ele me levou para uma churrascaria...
- Chur...
- Churrascaria, sim. Me pagou o jantar... já
que eu não janto desde... desde anteontem... ele comeu também... depois a gente
conversou um pouco... e... bem, depois ele me levou para o bar.
- O bar?!
- Onde eu trabalho. Eu fui trabalhar e...
bem, eu pensei que vocês iam me procurar lá. Depois o Luce me levou pra casa,
e...
- Ooh, aquele safado, eu devia saber que
ele... e nós pensando que você... – vociferou Âmbar, com indignação um tanto
ébria. – Bem, nós estivemos preocupados com seu sumiço. Por algum motivo, não
conseguimos detectá-lo. O Luce deve ter conseguido bloquear seu cheiro, e suas
ondas mentais... Senão, conseguiríamos te localizar. Fiquei angustiada... E
acabei tomando um porre. Aliás, você deve ter visto que lá na mansão eu já
estava bebendo, também. E resolvi beber mais e mais... Eu já estava triste,
fiquei mais ainda quando... Eu bebi e... bem... eu também f(...). Bebi e fiz
sexo selvagem... – ela deu mais uma risada ébria, tentando descontrair e
disfarçar a indignação. Mesmo ébria, aquela risada era maravilhosa; dizem que
ninfas sabem cantar admiravelmente, imagine então como riem. – Mas não
adiantou... Os efeitos... bem, os efeitos ainda não passaram completamente. Os
efeitos da bebedeira.
A xícara tremia em sua mão. E ela continuava
rindo.
- Pô, não havia nos passado pela cabeça, de
alguma maneira, que você estava no bar. E, bem, fui para casa dormir um pouco. O
Claus também se embebedou ontem, e me f(...). Foi com ele que fiz sexo
selvagem...
E eu fiquei imaginando como seria o sexo
entre Âmbar e o MC Claus, gorducho. Decerto... Âmbar prosseguiu:
– É, com isso aprendemos a não ficar
discutindo daquele jeito... Senão o Luce se aproveita e some com você... E,
bem, assim que minha dor de cabeça passou, eu resolvi procurar você. Acordei,
eram (sic) três da tarde. Resolvi dar uma olhada na sua casa, para ver se você
tinha voltado... e, pelo jeito acertei. Que bom que você está bem, Macário... –
e me puxou para junto dela, me abraçando. – Fiquei tão preocupada quando você
apareceu lá no depósito, todo estropiado, sujo... Aah, aquele Luce, como pode
te torturar daquele jeito?! E ainda me obriga a ligar pra você só pra soprar
aquele apito que te deixava doido...
Lembrei que houve um momento, naquela noite,
que eu recebia ligações em meu celular, e, toda vez que eu atendia, sopravam um
apito de alta frequência, que me afetava. Em determinado momento, parei de
atender os telefonemas vindos do número “(privado)”, mas atendi um que vinha
outro número... era o número de telefone da Âmbar. E era aquele apito... Me
senti aliviado em saber que Âmbar teve de fazer isso contra a vontade dela.
- Você veio me procurar... – disse eu, depois
de me soltar de seu abraço. – Ei, desde quando você sabe meu endereço?
- Desde que usei o portal mental para trazer
você para o meu quarto. Por ele também acabei descobrindo onde você mora...
e... bem, o Luce vem seguindo você desde que você veio morar aqui, mas...
- Você veio me procurar, Âmbar... – repeti,
interrompendo-a, e arqueando a sobrancelha. – Para quê, exatamente?
Temia que ela dissesse que veio ao meu
apartamento para transar comigo, mas parece que nem ela estava com disposição
para o sexo. Nenhum de nós estava. Pelo jeito, o MC Claus não era o melhor dos
amantes, e, quando o sexo é violento, tira a vontade de fazê-lo no dia seguinte.
- Para saber... se você aceitou a proposta do
Luce.
- Bem, eu não tenho certeza se foi realmente
o que aconteceu ontem, mas... eu aceitei.
- Você... você aceitou?!
- Bem... não é nada de mais, certo? Era algo
como...
- Oh, não! Isso é terrível, Macário! – ela se
exaltou.
- Terrível?
- O... o que foi que o Luce te propôs,
exatamente?!
Âmbar tinha dificuldade em coordenar as
ideias, o que demonstrava que ainda havia álcool agindo em seu sangue, em sua
cabeça.
- Bem, que eu fizesse parte da turma de
vocês, em troca de trabalhar para ele. – falei.
- Ele... ele disse isso?!
- Eu... Âmbar, eu aceitei porque... bem,
porque já que não consigo mais distinguir entre a realidade e o sonho... e... quero
saber mais sobre vocês. Sobre a natureza de vocês! Como um homem agiria se
soubesse que as pessoas com as quais começou a conviver não são pessoas...
comuns?!
- Oh, Macário, mas... – e ela começou a
chorar. – Aah, Macário, mas por quê?!
E me abraçou de novo. E tentava apertar meu
rosto contra seus seios, mas procurei resistir. Ainda mais que ela estava
espetando meu rosto com aquelas unhas.
- Âmbar?!
- Ooh, Macário, isso é terrível! Por que
aceitou?! Ooh, maldita hora em que aceitei fazer parte do jogo daquele... daquele...
vampiro!
- Âmbar?!
- Oh, Macário, você acaba de se condenar!
- Âmbar! – me assustei. – O que quer dizer
com isso? Quer dizer que o Luce... o Lúcifer... é realmente...
Ela me soltou.
- Hã, não, Macário. Não, o Luce só tem o
mesmo nome “daquele” Lúcifer. Mas... não é o que você está pensando.
- Ah, tá... – suspirei aliviado.
- Ele é pior! – ela se exaltou.
- Hein?! – me assustei.
- Oh, Macário... – Âmbar falava, entre
lágrimas. – Sabe... Oh, sabe, estamos preocupados com você. Eu estou preocupada
com você. Não é sempre que nos preocupamos com um humano, mas é que... É que...
você é diferente. É o ser humano mais incomum que conhecemos até hoje... você é
tão legal... e você acaba de assinar sua... a sua sentença, Macário!
Do modo como Âmbar falava, comecei a
acreditar que fiz uma bobagem... Mas precisava entender melhor essa história,
ainda que estivesse com o coração aos pulos, e sentindo o suor frio em minha
testa.
- Eu ainda não estou entendendo! Sentença de
quê?!
- Sentença de... bem, eu não digo sentença de
morte, é sentença de... de... É que, sabe... o Luce posa como um sujeito legal,
engraçado, excêntrico, mas... mas por dentro ele esconde um monstro. Um
carniceiro! Oh, Macário, não quero nem imaginar o que o Luce planeja para
você... logo você...
E chorava. Por que essa... (ah, Âmbar, me
perdoe, espero que não saiba ler pensamentos...) Por que essa vagabunda não ia
direto ao ponto?!
- Como assim?! – perguntei, já me indignando.
- Bem... eu... hã... ei, esse aí é o meu
telefone?!
Ela enxergou o telefone celular que estava na
minha mesa. Havia o deixado ali ontem à noite para carregar. Ela pegou o
celular, e conferiu. Eu sabia que era só para mudar de assunto... Já estava
começando a me irritar.
- Oh, Macário, o que aconteceu com o
telefone?!
- Só rachou a tela, mas continua funcionando.
Eu fui agredido anteontem. E aconteceu de novo, mas desta vez...
- Oh, Macário! Oh, não! Logo o telefone que
eu...
Fiquei sem jeito.
- Hã, foi você mesmo quem...
- S-sim, Macário. Fui eu... Fui eu quem...
hã... você me contou que seu celular havia sido destruído. Aí, eu resolvi te
comprar um novo, e...
- Mas eu te disse isso durante um... um
sonho, não foi?
- Bem, não foi bem um sonho. Foi em nosso
encontro... em outra dimensão. Sabe... o portal mental.
- Portal mental... ah, eu bem que gostaria de
saber como é que isso funciona. E... bem... Âmbar... eu não queria...
Ela se voltou para mim, sorrindo.
- Ah, tudo bem, Macário, sem problemas... Se
ainda está funcionando... Ainda podemos conversar a qualquer hora. Já gravei
seu número.
- E... bem... o que...
- Mas pior ficou você, Macário, quando lembro
o estado em que você ficou naquela noite... Quando você apareceu no depósito,
todo sujo, ensanguentado, estropiado...
- Sim, eu sei, mas...
- Ainda me preocupo com seu destino, Macário.
É que... é bem provável que o Luce não queira você apenas como garçom, ou coisa
parecida, Macário. Dependendo do que ele vá solicitar a você, é bem provável
que ele abuse de seus préstimos, e te esprema, esprema, esprema... torture você
e as pessoas de sua relação... acabe tirando tudo de você aos poucos, e daí...
você não seja mais o mesmo como o mundo lhe recebeu. Acabe ficando pior do que
um zumbi... Eu sei, Macário... eu meio que sei o que o Luce faz com as pessoas
que ele escolhe.
- Quer dizer que... há outras pessoas... em
uma situação como a minha?!
- Houve, Macário. Houve.
Engoli em seco.
- O que posso lhe dizer nesse momento,
Macário, é que você precisa ser forte. Você precisa fazer o possível para
sobreviver às exigências do Luce. Ele é dado a fazer exigências absurdas, às
vezes, e...
- Quer dizer que...
- Aah, Macário!
- Âmbar!
- Macário... Oh, Macário me desculpe, é
que...
- Você me assustou.
- Estou muito preocupada com você, Macário, é
sério. Todas estamos... E foi pra mostrar isso que eu... eu...
Impedi que ela tentasse me beijar de novo. Já
estava na hora de ser mais enérgico, ou morrerei sem entender patavina.
- Você... veio até aqui só para me avisar
sobre... o pacto, não?
- Não. Não apenas isso... Digo... Macário, só
saiba que, o que quer que o Luce for fazer com você, nós iremos proteger você.
Eu, pelo menos, não irei deixar que o Luce transforme você em carne moída,
ouviu bem?
Engoli em seco. O que ela queria dizer com
“carne moída”?!
E ela me abraça de novo, e consegue, afinal,
fazer com que meu rosto ficasse entre seus seios. Mentiria se eu dissesse que
não foi agradável, mas eu não me sentia satisfeito.
- Não se preocupe, tá, Macário? Estaremos
aqui, as garotas e eu. Ninguém vai abusar excessivamente de você...
Já estava ficando com gastura, porque aquela
garota louva-deusa não estava legal das ideias. Estava bêbada. Mas eu tinha de
ter paciência, já que não era uma garota comum...
Me soltei de seu abraço. Me sentei no sofá,
suspirando fundo. Depois, olhei para ela, de um jeito durão.
- Bem, se você diz que não vai deixar nada de
ruim me acontecer... Está bem, vou acreditar. E vou querer ver.
- Macário...
- Bem, já que você está aqui, e sabe de
tantas coisas que para mim são novidade até agora, Âmbar... quem sabe, se você
realmente estiver sóbria... possa me explicar algumas coisas, como... o que
exatamente vocês são? Digo... vocês são criaturas fantásticas, vampiros, fadas,
duendes... e...
Ela parecia hesitante. Mas não havia mais
recurso: a m(...) já estava feita, nas palavras do MC Claus.
- Bem... você é capaz de ouvir e entender?
- Pode falar. Eu... eu estou pronto. Já que a
partir de hoje começaremos a conviver... Desde quando existe esse grupo de...
- Bem, foi o Luce quem reuniu a todos nós.
- Hein?
Ela se sentou de novo no sofá, cruzou aquelas
pernas torneadas e começou a contar, numa expressão tristonha, quase se
escorando em meu corpo:
- Há muitos anos, séculos eu diria, o Luce
costuma convidar gente que ele considera “interessante” para o grupo dele.
Sabe... ele costuma identificar, de algum modo, a presença de seres como nós,
seres fantásticos, que vivem as escondidas da humanidade. Seja a qual condição
social elas pertençam no momento. Digo, não apenas seres fantásticos, mas
alguns humanos também. Tipo, uma sociedade secreta, entende?
- Hã, tipo Priorado de Sião, Maçonaria...
- Tipo os Illuminatti. Digo, uns “primos
pobres” dos Illuminatti. O Luce quer uma ordem que não fique a dever aos
Illuminatti, afinal são só humanos, enquanto nós, entende? – eu comecei a me
assustar, mas Âmbar, lânguida, e evidentemente ainda sentindo os efeitos do
álcool no corpo, continuou: – O MC Claus e eu já fazemos parte desse círculo há
mais de dez anos.
- Oh... Só podia, não é? Afinal, além de
vocês serem seres fantásticos, vocês... hum... são elite, não é mesmo?
- É, pode crer, meu amor. O MC Claus é uma
eminência na área fonográfica. Ele empresaria e grava discos de muitos
artistas... Atualmente, anda muito envolvido com funk, sabe? Mas a maioria dos
funkeiros da gravadora dele são humanos...
Ela já parecia mais lúcida.
- Eu já estava desconfiando... aliás, o que
você e o MC Claus são, exatamente?
- Hein?
Era hoje que eu ia esclarecer essa dúvida.
- Digo... vocês são casados, não são?
Ela demorou alguns segundos para responder:
- Não.
- Não?!
- Eu sou meio que uma secretária dele. Às
vezes, amante...
- Hein?!
Aí já não estava entendendo.
- Na verdade, o MC Claus é meu cunhado. É.
- Cunhado?!
- Ele é casado, mesmo, com uma irmã minha.
Mas ele também é responsável pelas suas cunhadas. E... ah, ele não é
necessariamente um ogro. É apenas uma das formas que ele é capaz de assumir. Na
realidade, ele é um... tipo, um duende, sabe. Um Duende Rei. Maior que os
outros duendes, com poderes mágicos, e altamente ambicioso.
- Oh.
- Bem. Ele é um tipo especial de duende, com
características de ogro, troll... já ouviu falar no Anel dos Nibelungos? Ele é
parecido com o protagonista de...
- Anel de quem?
- Hã... nunca ouviu falar da série de óperas
do Wagner sobre...?
- Não sou muito ligado em ópera, na verdade.
- Ahn, deixa pra lá, então. – falou ela,
olhando as unhas. Não deu certo a ideia dela de envolver cultura erudita na sua
explicação, mas acho que estou conseguindo captar o que ela quer dizer. – Bem.
O MC Claus, então, é casado com uma irmã, minha. Oficialmente. Mas também se
envolve comigo e com as minhas outras seis irmãs.
- Você tem...
- Somos em nove, na nossa família. Só minha
irmãzinha mais nova, já devo ter falado nela, não? Malva. Esta ainda está a
salvo. Bem... Meio que vivemos como um harém do rei dos duendes. Fascinado
tanto pelo ouro quanto pela luxúria. E, bem, como eu trabalho no mesmo
escritório que ele, sou meio que uma favorita dele. É óbvio, não é? – ela deu
uma risada, apontando para os seios. – Nem mesmo um Ogro, um Duende Rei, o que
quer que seja, é capaz de resistir a uma linda ninfa grega, ainda mais uma que
consegue desenvolver grandes e olímpicos seios...
Uau, nove irmãs ninfas. Seriam todas tão
gostosas quanto esta que estava diante de mim? Não duvido.
- Você nasceu na Grécia?
- Não. Minhas antepassadas que nasceram na
Grécia. Quando as Grandes Navegações começaram, até mesmo os seres fantásticos
começaram a se espalhar pelo mundo. Aqui no Brasil, as ninfas gregas
encontraram um ambiente bem propício para se reproduzir e manter seus
poderes... Sabe, houve um tempo em que as matas eram abundantes e limpas. Hoje,
temos de resistir à poluição, ao desmatamento.
- Oh.
- Bem. Tal como as ninfas migraram da Grécia
para o Brasil, os outros monstros também, incluindo os Duendes Reis. Um deles
foi o MC Claus, que formou seu harém a partir de nosso clã. Oficialmente é
casado com uma, mas todas as outras do clã são como se fossem suas esposas...
E, comigo, ele faz o que quer. Faz tudo, comigo. Tudo! Mas para mim, na
verdade, não tem problema.
Do jeito que ela vinha falando, o
relacionamento com MC Claus era terrível – dava a entender que Âmbar e suas
irmãs eram torturadas sexualmente. Pelo menos, foi o que eu estava pensando,
até ela arrematar com essa última frase.
- Não tem problema mesmo?
- Sabe, eu até gosto do modo como ele me
possui na cama... Ele pode ter toda aquela camada de banha, digo, agora que
está mais velho, mas se você visse o quanto ele pode ser viril... E ele já foi
bem mais viril do que agora... – ela lambeu os lábios. – Afinal, somos ninfas,
Macário. Espíritos da floresta associados, entre outras coisas... à luxúria. –
e me disse isso ao pé do ouvido, sussurrando lascivamente. – Assim como os
sátiros, que frequentemente costumam nos perseguir. Quando estamos bem à
vontade, nos entregamos aos nossos... perseguidores. Atraímos, e aí deixamos
que eles se aproveitem... e também nos aproveitamos. – e ela olhava
lascivamente para mim, apontando aquelas unhas para meu rosto. Suei frio. A
qualquer momento ela poderia me atacar... – Mas claro que tem vezes que não
termina bem. Não é agradável. Quando não... nos escondemos, sob a forma de...
sabe. Plantas, animais... insetos.
Dizendo isso, Âmbar se transformou novamente
em louva-a-deus. E depois, diante de mim, assumiu uma forma intermediária:
cresceu, e, do tamanho de um ser humano, a criatura tinha uma forma que
misturava características humanas e insetóides.
- Quando é preciso engrossar, Macário, bem...
esta é minha forma... defensiva.
Me encolhi, assustado. Foi essa forma que ela
assumiu quando me devorou, ao fim daquele sonho. Segundos depois, Âmbar voltou
à forma humana.
- Se assustou, Macário?
- Não posso negar que estou assustado...
- Ah, Macário, não se preocupe, não vou
machucar você.
- Mas você já machucou.
- Ahn... oh, sim. Você lembrou de quando...
- Eu lembrei. Fizemos sexo adoidados e, no
fim, você agiu como uma... louva-deusa. Me devorou, como uma louva-deusa faz
com o macho. E você... faz isso com todos os outros homens com quem você
transa?!
- Só de vez em quando, Macário. Só quando o
homem em questão se mostra violento e... sabe. Na maior parte do tempo, eu sou
vegetariana. Mas, no seu caso... eu tive de fazer aquilo, Macário.
- Você...
- Sabe, Macário? O portal mental. Funciona
assim: uma das partes faz o encantamento que permite acessar a mente da outra
pessoa. É melhor fazer isso no momento em que a mente da pessoa está cansada,
querendo relaxar. Ou melhor, no momento em que ela vai dormir... aí, a mente da
outra pessoa é puxada para uma dimensão paralela, enquanto seu corpo repousa na
dimensão original. A pessoa nem percebe. É como se ela fosse viver uma vida em
uma dimensão paralela, sabe, quando você dorme e sonha, e o sonho parece real?
Bem, as dimensões acessadas pelo portal mental são muito mais vívidas.
- Estou tentando entender... então, a transa
que tivemos foi mesmo sonho?!
- Foi e ao mesmo tempo não foi. Vamos dizer
que a sua mente foi quem transou, enquanto seu corpo dormia, e ao mesmo tempo
sentia os efeitos. Você acordou com a cama emporcalhada de p(...), não acordou?
- S... sim... – concordei, vermelho.
- Foi o que pensei. Bem, para que a pessoa
retorne para sua dimensão e acorde, ela necessita ser morta de alguma forma
dentro do sonho.
- Então foi por isso que...
- Foi por isso que devorei você. Foi por isso
que Andrômeda devorou você. Foi por isso que Morgiana e suas irmãs devoraram
você. E tivemos de nos matar, depois. Para acordar... e nos sentirmos muito mal.
Resumidamente, é assim que funciona. Necessita um trauma para poder voltar à
realidade. Satisfiz sua curiosidade?
Fiz beiço.
- Não. Assim, explicando, parece complicado.
Mas espero que depois vocês ensinem como é o encantamento que permite a invasão
da mente alheia e, quiçá... que vocês fiquem espiando a mente alheia.
Âmbar deu um sorriso meio sem graça.
- Aah, Macário, constrangido por termos descoberto
que você pode ser um taradão?
Âmbar parecia ter recuperado o bom humor. E
uma voz dentro de mim alertava: cuidado,
a qualquer momento vai ter sexo.
- Bem...
- Mas eu não acho ruim. Mesmo que tenha sido
em uma dimensão paralela, você agiu como... você mesmo. E você é uma máquina de
sexo...
Vai
ter sexo!
- Mas não era minha intenção. – falei, sem
jeito. – Além do mais, teve vezes em que fui envenenado...
- Mesmo assim. Você, quando se entrega à
luxúria, se entrega para valer. E eu gosto assim... O que me deixou mais
“bolada” mesmo foi a transa com a Morgiana. Você não perdoa ninguém mesmo...
Três de uma vez, seu tarado...
Não
vai ter sexo.
- As irmãs da Morgiana que apareceram de
repente... Se fosse só com ela...
- E ainda diz que a Andrômeda e eu parecemos
gordas!
Não
vai ter sexo.
- Eu... hã... hum! Eu não disse isso por mal,
Âmbar... É que a Morgiana estava tão complexada por causa dos seios dela, e...
- Mas eu tenho uma ponta de inveja da
Morgiana, sim. Ela é uma sereia, e é tão atlética, tão magra, com tudo em
cima... Mas eu sou uma ninfa, Macário! Por que eu seria considerada gorda só
porque tenho seios grandes?!
- Insisto, Âmbar, não foi por mal...
- Não tem problema, Macário... Eu te perdoo.
Afinal, você gosta de seios grandes, não gosta?
E me faz ficar com o rosto entre seus seios,
de novo.
Vai
ter sexo!
- Eu gosto... – falei, sem jeito. – Se tem
algum homem que não goste, eu gostaria de conhece-lo.
- Bem... O pacto com o Luce lhe trará muitos
e muitos perigos daqui para a frente, mas... Há uma vantagem, Macário, nesse
pacto... pelo menos, podemos passar mais tempo juntos... e no mundo real, ao
invés de uma dimensão paralela... hmm...
E já estava querendo me beijar. Estava com o
rosto bem junto ao meu.
Vai
ter sexo!!
Tenho que resistir!
- Mas... Mas e o MC Claus?! – pergunto,
assustado.
- Eu sei como dar um jeito quanto a ele,
Macário. Ele não pode me impedir de me encontrar com um humilde garçom. Ele já
foi capaz de oferecer seu “harém” em negociatas... aquele monstro... enquanto
você... hmm...
Vai
ter sexo!!
Âmbar já estava pronta para se atirar sobre
mim. Não vou conseguir resistir...
- Não aguento mais... Eu quero... Nós
vamos... vamos...
- Não, Âmbar... Eu estou com dor de cabeça...
- Tá não...
- Não viu que eu tive dias atribulados, e não
estou disposto a...
- Ora, vamos, Macário... Sei que você quer...
que você me quer... Isso vai te fazer tããão bem, meu amor...
E me beijava. E estava prestes a tirar os
seios para fora do decotão. Aqueles seios redondos e enormes e cheirosos...
- Me beija, Macário... Tome uma iniciativa...
Vai
ter sexo!!!
- Isso não está certo, Âmbar... – falei,
quando consegui, afinal, descolar minha boca dos lábios dela, que já tentava
colocar a mão dentro de minha calça.
- Pare de se fazer de durão, Macário, eu sei
que você... IAU!
Levamos um grande susto.
Bem na hora em que Âmbar ia avançar sobre mim,
me atiçar e fazer sexo comigo naquele sofá, somos interrompidos. Alguma coisa
caiu sobre nossas cabeças, e se debatia.
A coisa aconteceu muito rápido. Mas a coisa
se debatia sobre nossas cabeças. Uma coisa com asas, que guinchava, e nos
atacava. Era um pássaro?! Como é que um pássaro entrou na minha sala?!
- Que p(...) é essa?! – exclamou Âmbar.
Ergo os olhos. A coisa era... um morcego.
Um morcego cinzento, nem muito grande, nem
muito pequeno. Mais que cinzento: seu pelo ela praticamente prateado! Mas... mas
como o morcego entrou aqui?!
E o morcego, enquanto batia as asas
freneticamente, voando de um lado para outro, também falava!
- Tire a mão dele!!!
- Gah! Andrômeda?! – gritou Âmbar. – Você não
desconfia?!
Andrômeda?!
O morcego pousou no chão. E, diante de meus
olhos, se transformou. Se transformou em mulher. Na vampira Andrômeda, com seu
cabelo prateado, e seu vestido branco. E suas formas renascentistas. E um
decotão similar ao de Âmbar.
- Safada! – vociferou Andrômeda, indignada. –
Eu devia saber que você...
- O que você está fazendo aqui, Andrômeda?! –
gritou Âmbar.
- Mas como foi que você entrou aqui?! – foi
minha vez de perguntar.
- Oi, Macário. – ela me respondeu com um
sorriso. – Eu entrei pela janela do seu banheiro. E você vê, eu posso, como vampira,
me transformar em morcego. Bem clichê, mas é verdade... Ainda bem que você não
fechou a janela, senão eu nem ia conseguir passar... Mas quase fiquei
entalada...
Oh, não. Ia ser assim, de agora em diante?!
- Andrômeda! Você me seguiu?! – perguntou
Âmbar.
- Eu não! – a vampira respondeu. – Eu vim
procurar o Macário, ver se ele estava aqui... mas você eu não esperava
encontrar! Como foi que você... Aah, você entrou aqui na forma de inseto, não
é?!
- Entrei, sim. E você... você não vai pegar o
Macário pra você hoje! Cheguei primeiro!
- Sua p(...) safada! Trapaceira!
- Sua gorda má perdedora!
- Meninas, parem!!! – gritei, apartando a
briga no momento em que Andrômeda já ia avançar sobre Âmbar. – Acalmem-se! Por
favor! Modos!
- Macário! – gritou Andrômeda. – Você já ia
avançar sobre...
- Eu não! – tentei explicar. – Que é isso! Eu
nem esperava que ela...
- Ele estava sim! – intrometeu-se Âmbar. –
Ele já estava quase se entregando, não é, amor?
- Bem, eu... – fiquei sem jeito. Estaria
mentindo se eu negasse que, por um momento, eu não queria me entregar.
- Aah, Macário!!! – Andrômeda começou a
chorar. – E eu estava tão preocupada com você... Sou uma tola!!! Eu estava
preocupada porque você aceitou aquela proposta daquele demônio do Luce... e vejo
você aí... Se divertindo com ela!... Já não perdeu tempo, resolveu aproveitar
as cláusulas dio contrato, hein?!
Pelo jeito, estava claro que Andrômeda também
estava embriagada.
- Não é nada disso que você está pensando,
Andrômeda, por favor... Piedade...
- Sua gorda metida! – gritou Âmbar. – Logo
agora que eu ia...?
- Não bastou você ter esvaziado meu estoque
de uísque ontem, você ainda tenta se aproveitar do Macário?! E ainda se nota
que você ainda está bêbada, Âmbar! Sua pouca vergonha!
- Sua metida! E veja só que fala... olha pra
ti, você também bebeu!
- Não bebi... Digo, só suguei o sangue de um
homem, hoje, e... foi ele quem bebeu! Só pode ser... estou tonta... sangue de
homem bêbado... p(...) que pariu...
Vampiros também ficavam de sapituca quando ingerem
sangue de pessoas que ingeriram álcool?! Essa era mais uma novidade...
- Não vai seduzir o Macário, sua... –
vociferou Andrômeda.
- Não vai me roubar o Macário!! – vociferou
Âmbar. – Eu cheguei primeiro!! Entre na fila!!!
- Parem, por favor, meninas... – pedi.
- Macário, me conta direito. O que vocês dois
estavam fazendo?! – exigiu Andrômeda, me fazendo olhar em seus olhos.
Fiquei com medo daquele olhar dela. Vampiros
podem ficar ainda mais perigosos quando estão bêbados?!
- A Âmbar só estava me explicando sobre o que
ela é... Sobre os portais mentais... Sobre toda essa maluquice...
- Mais nada?
- Da minha parte não. Juro. Digo... ela que
estava querendo me... A iniciativa não foi minha...
Andrômeda me soltou.
- Ah, menos mal. E... É verdade, Âmbar, você
apenas...
- Eu apenas respondi o que ele queria saber.
– falou Âmbar, depois de respirar fundo. – Mas eu...
- Macário... – Andrômeda me fez olhar de novo
em seus olhos. – Me conte o que a Âmbar falou, exatamente. E fale a verdade...
- O... O que você vai fazer comigo depois,
Andrômeda?! – perguntei, com medo.
- Apenas me conte. Apenas... me... conte.
Suei frio.
E pedi para as duas se sentarem no sofá. Me
sentei entre elas. E comecei a explicar o que houve.
Não vai ter sexo. Ainda bem.
O próximo capítulo será publicado em 15 dias. E em 2018 a publicação continuará sendo quinzenal.
Como está ficando até o momento? Está bom? Está ruim? Preciso melhorar? Mantenho este ritmo? A qualidade da narrativa caiu? Manifestem-se! Um feedback maior que o do ano anterior pode ajudar este autor.
Continuem acompanhando. Novidades estão sendo planejadas para 2018. Isso é tudo o que peço aos meus 17 leitores.
E até mais!
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