Consigo, por mas uma semana consecutiva, publicar mais um capítulo do meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. Mas a publicação, em breve, voltará à periodicidade quinzenal, assim que eu me acertar...
ATENÇÃO: leitura não recomendada parta menores de 18 anos. Contém referências a drogas ilícitas, merchandising, assédio, consumo de bebidas alcoólicas e agressão.
- Deixe-me ver se entendi... aquela magia que
você aplicou no Luce é experimental, não é isso? Nunca havia sido usada antes?
– pergunta Morgiana para Eliane.
- Sim. Na verdade, é apenas uma nova
utilidade para o meu Pó Mental. – explicou a garota do cabelo bicolor,
mostrando o tubinho que tirou de dentro do casaco. – Patente pendente.
Luce olhava de cenho franzido para o tubinho.
Dava um certo prazer ver o vampiro quando ele não sorria.
- Pó mental?!
- Eu chamo assim... É um nome temporário.
Bem, basicamente, esse pó permite diversas aplicações relacionadas ao controle
mental alheio. Sabe, um deles é o Portal Mental, vocês sabem.
- Eu prefiro as velas perfumadas. – falou
Andrômeda, ajeitando a vistosa peruca acaju que cobria seus cabelos prateados.
– Causam menos sensação de estar me drogando.
- Aí depende do uso, minha amiga. – Eliane
deu de ombros.
- Pó Mental... – me manifestei. – Deixe-me
adivinhar: o uso é semelhante ao da cocaína, cheirando?
- Também dá para dissolver na água e beber...
E é efervescente, as bolhas fazem cócegas no nariz... E qual é o problema,
Macário, se for cheirado? O Pó de Pirlimpimpim funciona do mesmo jeito. Sabe Pó
de Pirlimpimpim? Ou seu pai não tinha livros de Monteiro Lobato em casa?
- Sei, sim... – falei, buscando na memória o
que eu já tinha lido do Sítio do Picapau Amarelo e do pozinho mágico que
permitia os personagens se transportarem de um lugar distante para outro.
- Aquela coisa de jogar o pó na cabeça é
coisa da adaptação para a tevê... no original o pó é cheirado. Nunca leu isso?
- Claro que li. – um dia meu pai me explicou
sobre isso, lembrei agora.
- Eu nunca tinha lido isso... – falou Fifi.
- Eu nunca te vi nem pegando um livro na mão.
– retrucou Eliane.
- Você só não viu. Não quer dizer que eu
nunca leio ou que eu sou analfabeta. Nyah...
- Então cadê os livros que eu nunca vi você
nem guardar no seu quarto?
- Procure direito no meio das nossas roupas.
Nyah.
Só imagino se há mesmo livros perdidos no
meio daquela bagunça de roupas espalhadas no quarto das garotas, o esconderijo
dos Animais de Rua. De repente há mesmo.
- É, quem é esse tal de Monteiro Lobato? –
pergunta Morgiana.
- Você também nunca ouviu falar de Sítio do
Picapau Amarelo?! – pergunta Andrômeda, erguendo a sobrancelha. Pelo jeito,
essa sim lia.
- Confesso que não... – a sereia respondeu,
timidamente, apertando a pasta universitária contra si. – Sabem como é difícil
ler debaixo d’água?
- Puxa, então o que você fica fazendo na
universidade?! – pergunta Luce. – Feito peixe, nada, nada, nada... Eh, eh...
Morgiana mostra o dedo médio para Luce.
Eliane continua seu comercial:
- Enfim, voltando ao assunto, o Pó Mental,
dependendo do uso, pode ser bebido, misturado na comida, cheirado, aplicado na
veia com seringa...
- Ou jogado nos olhos... – Luce falou com a
mandíbula semicerrada.
- Pois é. Se quiserem acessar a mente de
alguém, transferir seus pensamentos para a mente alheia, hipnotiza-la e
coloca-la no seu comando por até três minutos, ou simplesmente fazer uma viagem
lisérgica com efeitos menos nocivos que o LSD, vocês já sabem, Pó Mental –
agora no sabor morango. Procurem Eliane de Tarascon, do grupo Animais de Rua,
para mais detalhes.
E guardou o tubinho dentro do casaco.
Tivemos de sorrir. Há quanto tempo ela esteve
ensaiando essas falas?
- Insisto. Prefiro minhas velinhas
perfumadas. – Andrômeda falou entre dentes.
- Ah, e sexta-feira tem show da banda Animais
de Rua na boate Mãos de Fogo, próxima ao Centro da Cidade, a partir das 22
horas. – Fifi aproveitou a ocasião para fazer sua propaganda. – Se puderem,
passem para nos prestigiar.
Nessa sexta eu ainda estarei trabalhando no
bar... Mas não disse nada, naturalmente.
Depois, Luce se voltou para Morgiana, Âmbar e
Andrômeda:
- Bem, passado o bloco de comerciais,
voltamos ao nosso filme... Espero que vocês todas, suas taradas, não estejam
planejando fazer mais nada com o Macário, viu? Provem que são mulheres de
palavra. Provem que prestam. Cumpram seus acordos...
- Como se precisasse que você nos lembrasse
disso, Luce... – disse Âmbar. – Não precisa nos relembrar da promessa.
- E olhem só quem fala de “provar que
presta”... – falou Andrômeda, cenho franzido. – Nós sim somos mulheres de
palavra. O Macário sabe que prestamos, sim. Podemos ter exagerado nesses
primeiros dias, mas somos mulheres direitas...
Preferi não falar nada. Só de lembrar das
últimas noites que elas fizeram promessas... Mas, ao menos, na última
madrugada, elas cumpriram o acordo, elas não fizeram sexo comigo. Os motivos
pelos quais elas invadiram o apartamento, hoje, eram outros, mas que até eu
mesmo estava custando a entender.
- Não olhem para nós duas – falou Eliane,
apontando para si mesma e para Fifi – Nós aqui entramos de gaiatas no navio.
Não tínhamos nenhuma má intenção para com o Macário até esta madrugada.
- É isso aí, morcegão – falou Fifi.
- Espero mesmo que não estejam planejando nem
uma invasão de apartamento... – falou Luce. – Conheço vocês...
- Pô, pode confiar na gente. – falou Fifi. –
Não queremos decepcionar o nosso mecenas.
Luce responde com um muxoxo.
- Mas eu vou pensar a respeito daquela areia
que você me jogou nos olhos, Eliane. Aquela areia alucinógena. Eu vi a minha
sala se transformando em círculos coloridos... Da última vez que tive essa
sensação foi quando suguei o sangue de um sujeito que recém tinha fumado
maconha...
Espero que ninguém na rua esteja ouvindo
aqueles diálogos inacreditáveis.
Nesse momento, estávamos todos os sete,
Âmbar, Andrômeda, Morgiana, Eliane, Fifi, Luce e eu na rua, a caminho da
faculdade. Quer dizer, apenas Luce, Morgiana e eu estávamos a caminho da
faculdade; Andrômeda, Âmbar, Eliane e Fifi estavam voltando para suas casas, e
estavam aproveitando a companhia.
- Bem, agendaremos um novo dia para continuar
a nossa... terapia. – falou Eliane para mim, melifluamente.
- Tudo isso não terá sido mera desculpa para
eu contar histórias picantes para vocês? – falei, amuado.
- Que é isso, Macário. Já estava na hora
mesmo de partilharmos nossas histórias de vida. Nyah. – responde Fifi. – Breve
você saberá melhor das nossas. Vamos por aqui.
- Até logo, Macário. Boneco. – Eliane se
despediu, com um aceno de soslaio.
- Vá se preparando, gostosão. – Fifi emendou.
E as duas entraram em uma esquina, em direção a um bairro de periferia.
Engoli em seco. Eu não estava olhando para
Luce, mas tinha certeza que ele estava segurando o riso.
E, como as duas se despediram só de mim, os
outros ficaram amuados. Como se tivessem ficado invisíveis de repente aos olhos
delas. Claro, quando o assunto é o Macário Monstro, todas viram rivais. É, vou
ter de me acostumar ao apelido que a enfermeira Maura me deu: Macário Monstro.
Âmbar sacou o celular. Estava fazendo uma
ligação para MC Claus, seu chefe e amante. Com uma voz melíflua e dengosa como
a de uma filha pedindo perdão ao pai bravo por uma travessura, estava pedindo
para que ele a buscasse.
- Vou esperar aqui nesta esquina. – falou a
ninfa.
- Vou aproveitar a carona, se me permite... –
falou Andrômeda.
- Tenha uma boa aula, Macário. – Âmbar sorriu
para mim. – Você também, Morgiana. E... hã... você também, Luce. – aqui, ela
amarrou um pouco a cara.
- Comportem-se, crianças. – Andrômeda sorriu
simpaticamente.
Engulo em seco outra vez. Âmbar resistiu de
me dar um beijo em plena rua.
- Hm... está bem. Tchau. – foi o que eu
disse, timidamente.
E nós três, Morgiana, Luce e eu, nos
afastamos.
Mas eu fiquei apreensivo daquelas duas ali na
esquina, paradas perto de um poste, sob a luz do sol de fim de tarde. Âmbar
trajava um casaco leve, que cobria suas roupas curtas, mas não cobria suas
pernas cobertas pela meia arrastão; e Andrômeda, apesar do vestido comprido,
ainda chamava atenção pela peruca – acaju não era um tom de cabelo comum, mas
servia para sair à rua normalmente; o problema era o volume anormal da peruca,
que fazia Andrômeda ficar parecida com a Tina Turner. E ainda tinha o decote.
Quem visse diria que são duas prostitutas a caminho do trabalho. E em plena
esquina da entrada da Universidade! Será que alguém viu-me falando com elas?!
Segui para dentro do campus, escoltado por
Morgiana e Luce, que me seguiam silenciosamente. Eu podia sentir que Luce
estava se preparando para falar alguma coisa imprópria para o momento, ou, no
máximo, pular sobre meu pescoço. Eu podia sentir, mesmo com os nossos corpos
afastados cerca de meio metro, que Luce estava estremecendo de vontade de
falar, de fazer alguma provocação. Eu também podia sentir que Morgiana estava
apreensiva. Estava só cuidando se Luce diria algo, certamente contra ela. Eu
nem estava olhando para os dois, só olhava para a frente. Os jogos psicológicos
continuavam, pelo jeito. Pior que o canalha não fazia quase nenhum esforço para
tirar qualquer um do sério.
Por fim, cheguei na frente do edifício do
curso de Medicina. Me virei, afinal, para os dois. Ambos imóveis, tensos, nem
um músculo movendo, fora os da respiração. Depois de quase um minuto, no fim,
Luce falou:
- Bem, primo... nós vamos por ali. Nos vemos
em casa.
- Hã... sim, nos vemos em casa. – falei,
timidamente.
- Bom curso.
Pelo rabo do olho, eu podia ver: Maura e
Créssida nos cuidavam. As duas já estavam ali, meio que de campana, me
esperando. Maura ainda com o traje da enfermagem, e com um pacote de batata
frita na mão, comendo.
Morgiana não disse nada, só acenou, com um
meio sorriso.
E os dois se viraram e se retiraram. Um para
cada lado do campus.
Eu também me virei e segui, sem olhar para
trás, para o terceiro lado. Na direção das duas morenas, que certamente estavam
estranhando a presença daquela terceira morena.
- Oi, garotas. Como estão? – fui logo
falando.
- Legal, Macário. – falou Créssida.
- Quem era ela, Macário? – Maura falou, de
sobrancelha erguida, depois de engolir a batata que mastigava.
- Ela quem? – pergunto, me fazendo de
desentendido.
- A campeã de natação que acenou pra você.
- Campeã de natação? – sorri amarelo.
- É verdade – falou Créssida, ajeitando os
óculos – aquela morena lá tinha mesmo jeito de ser campeã de natação. Boa forma,
a dela.
Engraçado, não tinha mais reparado nisso.
Morgiana continuava mantendo o corpo de atleta de capa de revista, mas diante
de mim se comportava como uma moleca. Talvez seja isso que me faça olhá-la
diferente.
- Hã... é só uma colega do meu primo. – me
apressei em inventar uma história. – Conheci hoje.
- Colega do seu primo, hein? – Maura falou,
quebrando uma batatinha com os dentes. Cacos da batata caíram no chão, com
sorte agora iam servir de repasto aos pássaros.
- Ela gostou de você, Macário. – falou
Créssida.
- Mesmo? – pergunto.
Maura engole a batata:
- É sua próxima “vítima”, não é?
- Hein?
- Está planejando levá-la para sua cama? O
apartamento mudou, mas a sua cama ainda deve ser a mesma certo? Enfim... a
nadadora lá vai ser sua próxima “vítima”, certo?
- Não vai ser, não. – respondi, de
bate-pronto. – Ela... já transou com meu primo.
- É?...
- E me obrigou a olhar.
- Heeein?! – as duas exclamaram, juntas.
- Me amarrou numa cadeira e me obrigou a
ficar olhando ela fazendo sem-vergonhices com meu primo. Ela gosta que alguém
olhe, é exibicionista. Olhem para mim: tenho cara de que isso foi legal?! –
amarrei a cara.
Como sou mentiroso.
Mas acho que caprichei na historinha absurda
e na cara de aborrecido, porque as duas resolveram não me amolar com mais
perguntas. Só me olhavam, com cara de tacho. E se voltaram para o prédio da
faculdade.
Mas, justo quando eu ia entrar também,
sentindo-me triunfante, alguém bate nas minhas costas. Me viro, e sou agarrado.
Eu, por meio segundo, achava que fosse Geórgia,
ou Valtéria. Mas não, era Morgiana.
E ela me tasca um beijão na boca.
Por fim, ela me solta, e acabo caindo de
bunda no chão. A sereia sorria para mim.
- Achou que não ia ter mais nada, Macário?
Agora sim, tchauzinho.
Pegou sua pasta, que caíra no chão, e saiu
correndo, rindo.
Fiquei sentado ali no chão, agora eu com cara
de tacho. Enquanto Maura e Créssida me olhavam, com censura.
- Não foi legal, hein?! – falou Maura,
trincando outra batata nos dentes.
- Hã... hum... Ela ainda está me torturando psicologicamente.
– falei. – Está brincando comigo. Ela faz isso com todos os homens.
- Já pensa numa desforra, Macário? – pergunta
Créssida.
- Depois eu penso...
Créssida é quem me ajuda a me levantar.
Pior, teve mais gente olhando o que
aconteceu. E estavam embasbacados. Podia ouvir os comentários:
- Uau, o Macário arranja cada garota...
- Filho da mãe sortudo...
- Pôs ele de quatro...
- Não, foi de bunda no chão, mesmo...
- Filho da p(...)...
- E uma p(...) duma gostosa, ainda por
cima...
Reparo que olhavam como se tivessem visto
Morgiana pela primeira vez.
- É nova por aqui?
- Deve ter sido transferida...
- Uma p(...) duma gostosa...
- Onde o Macário consegue essas...?
Pô, como ninguém havia notado a presença de
Morgiana na faculdade?!
- Não vai ser sua próxima “vítima”, hein? –
Maura pergunta, mastigando outra batata.
- Mentira tem perna curta, Macário. – emenda
Créssida.
Acabei murchando. Não podia falar a verdade,
que eu a conhecia muito bem. E que ela é doida por mim. Que ela quer saber mais
do meu p(...) do que da faculdade, ou dos livros, que nem sequer sabia quem era
Monteiro Lobato.
Mas já sabiam que ela sabia nadar.
E Maura não ofereceu nem uma batatinha do seu
pacote.
Tão logo a aula da faculdade terminou –
ultimamente eu não estava conseguindo prestar atenção em mais nada naquele
curso, vou terminar levando bomba se isso continuar assim – eu procurei me
retirar da faculdade sem ser visto, pelo menos pelos meus conhecidos. A
escuridão da noite e as sombras dos prédios e das árvores ajudaram. Nem Créssida
nem Maura vieram falar comigo, chocadas que ficaram com o “ataque” surpresa de
Morgiana – e possivelmente decepcionadas com minhas mentiras; agora será
questão de tempo até descobrirem a verdade sobre o “maníaco mordedor” que
procuravam. Decerto, queriam dividir mais alguma descoberta sobre o Maníaco,
naquela hora, mas acabaram deixando passar.
Nem Geórgia me procurou. Nem Valtéria ou
Viridiana ou Loreta. Quanto a essas, menos mal.
Nem Luce nem Morgiana. Nem foram me procurar
pelo campus.
Ninguém me abordou.
Que estranho. Mas tanto melhor.
Corri para o meu trabalho. Nem aí fui
abordado, menos mal.
E hoje, a madrugada toda, o bar estava muito
tranquilo. Quer dizer, a maioria dos Monstros não apareceu.
Os Animais de Rua não apareceram. MC Claus
não veio. Âmbar, Morgiana e Andrômeda também não.
Para ser sincero, mais nenhuma garota do
bando apareceu. Só vieram a maioria dos rapazes – Flávio Urso, Beto Marley,
Jorge Miguel, Flávio Dragão e os Dinossauros que Sorriem, Breevort... Mas, durante
a madrugada inteira, nenhuma mulher, nem mesmo humana.
Eles todos estranharam.
- Ué?! Cadê as mulheres?! – pergunta Breevort
aos que estavam próximos do balcão.
- Eu que pergunto. – respondi.
- Ei, Flávio, onde estão as de vocês?! –
pergunta Jorge Miguel a Flávio Dragão.
- Disseram que não estavam se sentindo bem. –
ele respondeu. – Ficaram em casa, alegando dores de cabeça. Essas tiveram
justificativa.
- Ué, dores de cabeça, como assim?! A Jussara
e a Sulídea?! – Jorge Miguel ergueu a sobrancelha.
- Isso que eu também acho estranho, essa dor
de cabeça repentina. – emendou Flávio Dragão. – Pensei que ao menos as outras
garotas viriam...
- Estranho mesmo... – Breevort põe a mão no
queixo. – O Macário não teria nada a ver com isso, teria?
E me olhou com desconfiança.
- Não, pessoal, que é isso. – me apressei em
responder, enquanto servia um copo. – Por que eu teria...?
Mas Breevort ainda me olhava enviesado, como
se tivesse detectando que eu estava mentindo.
- Non amolarr o Macárrio, Brreevorrt... –
Flávio Urso saiu em minha defesa, enquanto bebia seu chope. – Clarro que non,
pensarr bem.
- Mas na noite passada o Macário estava com
cara que... Digo, eu vi no rosto dele que ele estava numa noitada logo no
início da semana...
- Bem, com Âmbarr e com Andrrômeda, talvez.
Talvez até com Morrgian (suspiro)... Êssas sim, doidas parra devorrar Macárrio.
Derron uma jeito depôs de festa de Luce, no aparrtamenta dele, e aí... Mas com
as Dinossaurras? Pouco prrovável. O Macárrio só as encontrrou uma vez... non
foi, Flávia?
Flávio Dragão acenou com a cabeça. Entre os
Monstros, as notícias corriam como o vento.
- Bem, mas e os Animais de Rua? – pergunta
Beto Marley.
- Que besteirra. Pouco prrovável.
- Vai, defende o nosso garanhão. – fala
Breevort.
- Fala assim porrque seu garrôta non virr
hoje. Talvez esteja com italiano.
- O Marto?! – Breevort começou a ficar
apreensivo. – Não... oh, não...
Não sabia se eles estavam brincando ou se
estavam falando sério ao me ligarem ao “desaparecimento” das garotas.
Luce apareceu uma hora depois de iniciada a
noitada, e vinha acompanhado de Marto Galvoni. Ambos de terno com gravata – a
vestimenta formal se chocava com o rosto cheio de tatuagens do italiano; tudo o
que ele fazia era para chocar. Já o terno de Luce, que ele deve ter trocado lá
no apartamento, estava desalinhado como se tivesse o usado numa apresentação de
rock; e seu cabelo estava penteado para trás – o estilo daquele dia, na
exposição. Os dois conversavam com certa animação, ou melhor, Luce conversava
animadamente com o pintor italiano, mas este mantinha uma postura gélida.
Negócios, com certeza.
Breevort respirou aliviado: ah, se o italiano
estava aqui, então não estava com Geórgia. E eu comecei a lembrar da madrugada
passada, quando vi os dois transando com Geórgia através dos meus sonhos, um de
cada vez. De um lado, o italiano, o maracujá de gaveta tatuado; do outro, o
viril elfo negro, arrancador de orelhas de pivetes. Melhor não falar nada,
Macário, só sirva drinques.
Luce e Galvoni já chegaram passando-me o
pedido telepaticamente. E automaticamente comecei, de modo que, quando eles
dois chegaram no balcão, seus drinques já estavam prontos.
Luce, chegando ao balcão, deixando um pouco
de falar com Galvoni, passou um minuto olhando em volta do bar, copo na mão. E
estranhou também o ambiente totalmente masculino.
- Ué, Macário? Cadê as mulheres?
- Eu que pergunto. Estávamos falando disso
agorinha. – respondo.
- O Macário andou pegando alguma
recentemente? – pergunta Jorge Miguel a Luce. – Vocês estão dividindo
apartamento, então você deve ter visto...
- Ah... Só as de sempre. As Três Safadas. –
Luce responde sorrindo. – Sempre elas, as três mais gostosas. Âmbar, Andrômeda
e Morgiana... fora essas, mais nenhuma.
- Ah, eu non falarr?! – exclama Flávio Urso.
- Que esquisito. – manifestou-se o italiano
Marto Galvoni, em perfeito português. – Sempre está cheio de mulheres quando
vamos beber.
- Talvez elas tenham tirado a noite só para
elas. – falou Beto Marley. – Uma noite só para elas. Noite das garotas...
Talvez elas estejam dando uma festa em algum lugar.
- Festa? Longe do Macário?! Não faz sentido.
– falou Luce.
- Talvez só tenham convidado os Animais de
Rua para animar a festa delas – continuou Beto – olhem só, aqueles arruaceiros
também não estão aqui.
- Estranho isso... – falou Breevort.
Além das garotas conhecidas, deviam haver
mais umas oito ou nove garotas no círculo dos Monstros, mas que eu ainda não
conheci pessoalmente, nem sabia suas espécies. Nenhuma delas estava ali no bar
naquela madrugada. Desse modo, só restou ao pessoal ali presente beber,
conversar e jogar sinuca. Mas, sem presença feminina, o clima de descontração
começou a ficar tedioso. Bar sem mulher à noite não tem graça, sei por
experiência própria.
Havia, no entanto, um clima de tensão
discreta entre Breevort e Marto Galvoni. Sabe-se lá o que Luce e o italiano
estavam combinando, se alguma exposição nova ou alguma turnê, os dois logo
saíram do balcão, sentaram em uma mesa e ficaram conversando, tendo seu diálogo
abafado pelo barulho do bar – mas Luce continuava olhando para mim toda vez que
meu olhar o encontrava. Acho que nem saberei o que levou o italiano a
comparecer ao bar naquela noite. Bem, mas dava para notar que havia uma tensão
entre os dois, Breevort e Galvoni – os dois não dirigiram a palavra um ao
outro, mas quando seus olhares se cruzavam, dava para notar as faíscas. Óbvio
que ambos ainda estavam disputando Geórgia.
A poetisa estava transando com os dois,
talvez um a cada noite. Havia um triângulo amoroso... E podia terminar em
violência...
A madrugada de serviço passou, afinal. Os
Monstros não ficaram muito tempo no bar, já que as mulheres estavam em falta.
Até Luce saiu mais cedo, na companhia de Galvoni, é claro – mas decerto estava
esperando na saída do bar, para tratar de qualquer coisa comigo.
Bem, tudo indica que vou ter uma noite
tranquila, desta vez. Espero voltar para casa sem problemas. Espero não ser
raptado para dar rolê com ninguém – não estava a fim.
Esvaziado o bar, terminei o que tinha de
fazer – limpeza, organização. Me troquei, joguei a mochila nas costas e fui
saindo. Tomara que hoje o Luce não resolva me levar para ver o nascer do sol do
alto do edifício mais alto.
Tomara que os Animais de Rua não estejam
escondidos para me “raptar” de novo.
Mas não... Luce nem estava ali na porta do
bar, me esperando. Não havia vivalma na rua além de mim. Nem mesmo um ébrio que
estivesse bebendo em algum lugar da concorrência.
Porém, quando eu cruzei um dos becos, senti,
de novo, meu braço ser puxado.
E, com violência, fui encostado contra a parede.
Os braços estendidos próximos à minha cabeça impediam minha fuga. E um rosto
enfezado, com uma tatuagem tribal de um dos lados, me olhava.
- Breevort, o que quer comigo?! – pergunto,
apreensivo.
- Só falar com você, Macário... Só falar a
respeito de uma garota...
Já sei do que se trata...
Próximo capítulo em breve.
Até aqui, como está ficando: está bom? Ruim? Continuo como está? Mudo? Paro? Manifestem-se nos comentários, se é que vocês estão realmente lendo este folhetim!
Até mais!
Um comentário:
Continue com o ótimo trabalho!
Postar um comentário