Na postagem anterior, falei sobre o filme ALICE IN WONDERLAND, de Tim Burton, produzido em 2010 e a mais recente adaptação cinematográfica do mundo maluco de Lewis Carroll.
Pois hoje vou falar de um dos subprodutos desse filme: a graphic novel.
ALICE IN WONDERLAND graphic novel também foi produzida pelos Estúdios Disney - no caso, pela divisão de quadrinhos da empresa, que nos dias atuais sobrevive na Itália (a divisão americana das HQ Disney encerrou-se há alguns anos). Aliás, desde muito tempo os italianos tem se consagrado como alguns dos melhores desenhistas e roteiristas dos quadrinhos Disney.
No Brasil, a graphic novel foi lançada pela editora On Line, dentro da coleção Cinema em Quadrinhos. Detalhe: enquanto que os quadrinhos Disney "convencionais" continuam sendo publicados pela editora Abril, a On Line está publicando a série Cinema em Quadrinhos, de adaptações dos longa-metragens animados da empresa para os quadrinhos. Sob esse selo saíram também no Brasil A Princesa e o Sapo, Toy Story 1, 2 e 3, Carros, A Bela e A Fera, Príncipe da Pérsia - As Areias do Tempo e muitos outros.
Já falei do quanto sou dado a desconfiar das adaptações de filmes para HQ, que em muitos momentos nem chegam a ser fiéis aos originais. O filme em geral é bem melhor!
Em relação ao filme, a graphic novel de ALICE IN WONDERLAND tem muitas particularidades, que fazem da HQ um material à parte.
O roteiro é de Alessandro Ferrari, adaptando o roteiro de Linda Woolverton; os desenhos são de Massimiliano Narciso e as cores são de Marieke Ferrari, com supervisão de Stefano Attardi.
A adaptação do roteiro segue a linha do original. Quase como se víssemos o filme pelos quadrinhos - mas é evidente que, por limitações de espaço, foi preciso cortar algumas partes do roteiro. E isso que a revista tem 100 páginas, contando as capas! Por exemplo:
- a parte em que Alice, durante a festa (no início do filme) flagra o cunhado aos beijos com outra mulher;
- a parte em que a Rainha Vermelha interroga os sapos mordomos para saber quem comeu as tortas que ela preparara (isso permitiria saber por que o sapo foi condenado à decapitação);
- o diálogo entre a Rainha Vermelha e o Valete de Copas, no qual ela questiona o porquê de sua irmã, a Rainha Branca, ser mais amada do que ela (essa parte é importante);
- a cena em que Tweedle-Dee e Tweedle-Dum, com corações marcados na testa, aparecem para entreter a Rainha Vermelha na frente de Alice;
- a cena em que a Rainha Branca, com ingredientes pitorescos, prepara uma poção do encolhimento na frente de Alice;
- e, finalmente, a parte da Dança Maluca do Chapeleiro Louco (claro, visto que adaptar essa dança para os quadrinhos seria difícil com poucos quadros por página).
Esses são apenas alguns exemplos de sequências que ficaram de fora do roteiro da HQ. No entanto, a essência da história foi mantida. O mais importante para a compreensão da trama não ficou de fora. A HQ foi desenvolvida em 64 das 100 páginas da revista, com calma para poder englobar todos os detalhes - ao contrário de outras adaptações, que sintetizam o filme em, em média, 48 páginas.
Outra coisa que chama a atenção na graphic novel é a arte. Narciso, escolhido após uma seletiva de artes conceituais, concebeu os personagens mais ou menos de acordo com a arte conceitual do filme, mas com jeito de terem sido desenhados às pressas, de forma pouquíssimo realista - como conviria a uma adaptação de filme para HQ. Os personagens tem todos contornos pretos que alternam-se entre linhas grossas e finas, como se tinta fosse escorrer deles (apesar de os desenhos terem sido finalizados no computador). Apesar de pouco realista, a arte de Max Narciso caiu como uma luva para passar o clima surreal presente no filme. O complemento são as cores de Marieke Ferrari, que cria um colorido difuso, tipo aquarela, quase todo em tons escuros ou fortes, que destoam de algumas cores vistas no filme - e que ajuda a tornar a arte ainda mais surreal.
Na adaptação, é evidente que os ângulos de visão observados nos quadrinhos não correspondem às da câmera do filme. Muitas cenas foram mostradas sob novos ângulos, e algumas sequências mais longas foram traduzidas em poucos desenhos - às vezes, com vários desenhos de um mesmo personagem em um mesmo quadrinho. A mudança de dia para noite em uma das cenas, por exemplo, foi traduzida apenas pela mescla entre a cor do entardecer com o escuro danoite, criando a transição ideal.
Com isso, ALICE IN WONDERLAND graphic novel foge do convencional. O roteiro é fiel ao filme, a arte é o grande diferencial. Imagine como não teria sido se tudo tivesse sido feito à mão!
E tem mais: a edição também traz uma matéria especial sobre como a graphic novel foi concebida. Essa parte é interessante aos artistas amadores e aos estudantes de arte. Nessa matéria é relatado: a escolha da arte que figuraria na HQ (mostrando as artes conceituais de Max Narciso, Anna Merli e Giovanni Rigano); as artes conceituais dos personagens da HQ comparadas a fotos dos atores; como foram montadas algumas páginas da adaptação (e alguns detalhes sobre como cenas mais longas foram traduzidas em poucos quadrinhos); e a biografia dos responsáveis pela adaptação.
Referências para a tradução? Também aparece. Somos informados que a tradução teve por base a tradução de Maria Luísa X. de A. Borges para as obras de Lewis Carroll (a mesma que usei de base para escrever o meu post sobre Alice), e a tradução de Augusto de Campos para o poema Jabberwocky (O Jaguadarte).
Para quem quiser conferir, o preço é R$ 8,99. Um preço bem honesto, visto que a HQ nem é em capa dura.
Para encerrar, mais uma ilustração de Alice!
Esta foi tirada de Alice Através do Espelho, mostrando o encontro entre Alice e Humpty-Dumpty, o personagem mais simpático (para com ela) que Alice já encontrou nos dois mundos que ela visitou. Pena que Humpty-Dumpty não entrou no filme...
Até mais!
Até mais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário