MOUSE, chuu MOUSE!

Olá.

Hoje, vou falar de mangá. Faz tempo que não falo de animes aqui no blog, e, para começar, vou falar do mangá que gerou o anime.

Há mais de um ano atrás, eu havia falado sobre o anime de MOUSE. Tal como fiz com Tenjho Tenge, vou falar de novo dessa loucura japonesa. Pois, recentemente, tive acesso ao mangá, publicado no Brasil pela editora JBC. Todos os catorze volumes.

MOUSE foi publicado no Japão, pela primeira vez, em 1999, e rendeu catorze volumes tankoubon (formato livro). Seus autores são Satoru Akahori (roteiro) e Hiroshi Itaba (desenhos).

MOUSE é um mangá não recomendável para menores de 18 anos. Na verdade, não seria recomendável para quem gosta das Histórias em Quadrinhos de qualidade. Porque MOUSE está longe de ser um mangá de qualidade. A causa pode estar no próprio mangá.

O enredo.

MOUSE trata das aventuras de um sujeito chamado Sorata Muon, um (aparentemente) pacato professor de artes do colégio Yamanoue, uma grande instituição que abrange desde o primário até o curso universitário. Sorata não é levado a sério dentro da instituição: sempre chega atrasado, é apelidado pelos alunos como "professor Ratinho" (no original japonês, "Chuu-chan"), e além disso vive sendo repreendido por suas colegas de profissão: a professora de matemática Mei Momozono, a professora de educação física Hazuki Kakio e a enfermeira Yayoi Kuribayashi.

Porém, pouca gente sabe do grande segredo de Sorata Muon: o pacato professor, na verdade, é milionário e influente. E mais: na verdade, Sorata Muon é a identidade secreta do lendário ladrão conhecido como Mouse. Vigésimo-terceiro da família Muon - o Mouse teria surgido a 400 anos - , Mouse é conhecido por promover roubos espetaculares de objetos de grande valor cultural. Aliás, é a pergunta que todos se fazem: por que um cara boa-pinta, milionário e que vive cercado de mulheres gostosas se dedicaria ao crime? Pelo desafio? Pelo prazer? É, o que esses ricos não fazem por uma emoção...

Ah: o nome do ladrão faz muito sentido. Em português, temos um xingamento antigo interessante: "murídeo", para se referir aos ladrões. Murídeo é a família do popular rato. Logo, faz sentido que o codinome do ladrão seja Mouse - rato, em inglês.

Bem, o Mouse, como disse, promove roubos espetaculares - pretensamente, na melhor tradição dos heróis ladrões, como os literários Raffles e Arsène Lupin. Ele escolhe a dedo os seus alvos - geralmente objetos muito raros e de valor incalculável - , e faz questão de que haja público em seus roubos. Ele sempre manda ao local do roubo um cartão avisando sobre sua visita, e sempre surpreende a polícia, utilizando-se de recursos tecnológicos notáveis (para não dizer absurdos) para levar os objetos-alvo. O melhor que a tecnologia tem a oferecer - seu esconderijo fica no subsolo da escola Yamanoue, e inclui até navios e aviões na "garagem"! Mouse arroga-se de que "não há nada que o Mouse não possa roubar". E ele está disposto a tudo para mostrar isso. Mesmo que seja preciso levar os prédios inteiros, não há nada que o Mouse não possa roubar. Ele pode roubar desde estátuas a pinturas murais gigantescas, animais e plantas raros e até mesmo uma torre flutuante inteira!

Ah: a personalidade dele. Como professor, Sorata é tímido, trapalhão e, assim, um cara que dificilmente pode ser levado a sério; porém, como Mouse, ele é frio, calculista (planeja friamente os seus roubos) e isso se reflete nos olhos, que mudam de forma. Chega a ser difícil acreditar que o pacato professor e o ladrão são a mesma pessoa.

Além disso, Mouse possui um código de honra bem específico: ele não mata (no máximo, põe os vigias para dormir à base de porrada) e jamais abandona seus companheiros, mesmo que ele corra perigo por conta disso.

Tanta ousadia provoca a raiva das autoridades policiais, sobretudo do estressado detetive Heitarou Onizuka e seu ajudante, Masatoshi Minami, que não descansarão até conseguirem prender o ladrão.

Ah, sim: já que falamos em mulheres gostosas, chegou a hora de apresentar as três belas ajudantes do charmoso ladrão. As três divas do colégio Yamanoue, Mei Momozono, Yayoi Kuribayashi e Hazuki Kakio, são duronas apenas na aparência. Na verdade, as três "escravas" de Sorata Muon, na frente de seu mestre, comportam-se como mulheres dengosas, loucas por sexo e sempre dispostas a satisfazer Sorata Muon em tudo. Em tudo mesmo! Elas sequer se incomodam em andarem com roupas provocantes (ou mesmo nuas) na frente dele - o que, na verdade, deixa Sorata bastante constrangido.

A mais fiel assistente do Mouse é a loiraça Mei Momozono. Bonita, gostosa e inteligente, Mei é especialista em técnicas de combate e assessora Sorata no planejamento de seus roubos. A família Momozono serve ao Mouse há gerações - ah: Mei é neta do diretor do colégio Yamanoue. No decorrer da história, Mei e Sorata descobrirão que sempre foram apaixonados um pelo outro.

Já Yayoi Kuribayashi, na aparência, é meiga e tímida, mas na frente do mestre, a peituda hacker e inventora (é ela quem desenvolve o maquinário que o Mouse usa em seus roubos, bem como invade sistemas de informática de grandes empresas para conseguir mapas ou fazer alterações) é outra: Yayoi tem tendências masoquistas - ela sempre é surpreendida imaginando as mais loucas fantasias sexuais com seu mestre. E isso que, no passado, ela era uma mocinha tímida, que odiava ficar perto dos homens... mas que mudou de lado ao conhecer o Mouse.
Hazuki Kakio, a charmosa baixinha de olhos azuis e cabelos verdes, tem como principal talento se fantasiar - ela está sempre usando os mais variados tipos de fantasia, e todas sensuais! - e aparecer dos lugares mais inusitados. É ela quem dirige os veículos que o Mouse usa em suas fugas. No passado, Hazuki tinha múltipla personalidade - e foi o Mouse quem "integrou-a" à sociedade.

Bem, não bastasse Sorata Muon ter de satisfazer as três "escravas" todos os dias, ainda tem de aturar o ciúme delas. Isso porque, além das "escravas", o Mouse vive cercado de mulheres, muitas delas as empregadas designadas para cuidar da casa dele. Na verdade, Sorata tem centenas de empregadas - e todas bonitas e gostosas! Pior ainda: o Mouse foi instruído, desde jovem, a não sentir nenhum pudor em transar com todas as mulheres que aparecerem. Sensual por natureza, Mouse é um cara realmente irresistível às mulheres. Em quase todos os episódios, Sorata faz sexo com pelo menos uma mulher. E isso garante as cenas de nudez vistas no mangá - mas não se preocupem, o sexo no mangá é mais "sublimado", não é explícito como nos hentais.

Já deu para perceber: Mei, Yayoi e Hazuki morrem de ciúme quando Sorata faz sexo com outras mulheres que não elas. E, nem que seja preciso "secar" o mestre, procuram agradá-lo da melhor forma possível. No entanto, viver assim na verdade é um constrangimento para Sorata, que faz aquele tipo tímido que costumamos ver nos animes e nos mangás - aquele garoto tímido que fica muito constrangido de ver tantas garotas se jogando em seus braços, tão "certinho" que chega a ser irritante. Sorata, ao contrário de seus antepassados, procura não ver as mulheres como objetos. O problema mesmo é quando ele fica bêbado, daí sim ele não poupa ninguém!

Bem, voltemos agora à questão dos roubos: em suas missões, Mouse sempre processa seus roubos do modo mais absurdo possível, para não dizer impossível no mundo real. É evidente que o roteirista Akahori não está nem aí para explicações científicas plausíveis: os roubos de MOUSE lembram bastante aqueles absurdos desenhos animados antigos, tipo Pernalonga e Pica-Pau, onde tudo é possível e nada precisa de explicação. Os episódios de MOUSE geralmente se encerram em um único capítulo, ou em arcos de três episódios. Porém, mais para a frente no mangá, aparecem arcos maiores, onde o bicho realmente pega para o lado de Sorata e suas garotas - o Mouse precisa enfrentar perigos aos quais ele quase não escapa com vida.

Mas não se pode pensar que tudo é fácil para o milionário e pegador Sorata: ele também tem seus arqui-inimigos. E não falo do detetive Onizuka, que nem dá para o cheiro.

O principal adversário do ladrão é o misterioso One e suas ajudantes. One, um enigmático agente de óculos e expressão sempre calma, que parece um professor, trabalha para uma agência chamada SSSS ou FourS (Sociedade Secreta de Segurança Sagrada), uma organização que tinha por objetivo defender os tesouros da humanidade da ação de saqueadores, mas que atualmente coordena o mercado negro de relíquias antigas. One tem orgulho de ser um empregado assalariado da FourS - mesmo que as intervenções do Mouse ocasionem cortes em seu salário - , possui o poder de manipular fios tanto para estraçalhar inimigos como para controlá-los como fantoches e... também é imortal. É! Toda vez que ele parece morrer - e das formas mais cruéis possíveis - , no outro capítulo One está inteiro, e pronto para outra. E ele tem ajuda em seus embates contra o Mouse: a irritadiça e tarada Rin Nyan, uma mocinha cuja habilidade é manipular guizos hipnóticos para imobilizar seus inimigos, e a muda Fon, uma lutadora grandalhona e muito feroz, que utiliza como armas duas tonfas (espécie de cassetete). Esse trio disputa tesouros com o grupo do Mouse - mas, às vezes, os dois grupos se encontram e agem como se fossem amigos, como se fosse uma coisa bem natural brigar em um momento e no outro se encontrar para beber um saquezinho...

Outros personagens importantes que aparecem na série são: Tsukioka, uma das estudantes de Sorata Muon, que deseja ser a namorada do professor de qualquer jeito (quando não está acompanhada de suas amigas, Tsukioka sempre dá um jeito de convidar Sorata para sair - e ele nunca é capaz de recusar, ainda por cima); Fuyuharu Momozono, o diretor do colégio Yamanoue (e avô de Mei), um senhor de aparência austera, mas que se comporta feito uma criança na frente do "sinhozinho" Sorata Muon; Jun Momozono, irmã de Mei e que, apesar de apaixonada por Sorata (os dois foram criados como irmãos), é rival dele - é a ladra conhecida como "Noiva de Maio"; Samarsa Morishima, a atrapalhada empregada de Sorata Muon; a também trapalhona empregada Hinako Yamahata, que fala muito devagar e possui um raciocínio meio lento; e várias outras mulheres que passam pela vida de Sorata e suas garotas. Ah, e sem esquecer dos adversários: só para citar um mais perigoso que One, temos Hiruko, um vampiro que havia sido aprisionado por um dos Mouses do passado, e que vai dar muito trabalho ao atual Mouse.

Falar de MOUSE, como vocês vêem, é muito. Mas agora, vamos à questão técnica da análise do mangá.

O roteiro de Akahori é meio fraco. Ele ressalta mais as cenas de sexo e de nudez das mulheres. As situações são muito constrangedoras, e o absurdo domina as aventuras do ladrão, principalmente com as inúmeras soluções para as tramas que parecem ter sido pensadas na última hora - o que, de certa forma, desvaloriza o roteiro. Sem falar que as situações apresentadas chegam a ser bastante cansativas. Alguns dos episódios curtos da série não acrescentam nada ao conjunto - são apenas desculpa para promover cenas de sexo e nudez altamente constrangedoras. Salva-se o fato de o mangá evoluir, em história e traço, e melhorar mais nos momentos finais - até lá, as situações apresentadas chegam a ser repetitivas.

A arte de Itaba também não ajuda. Não que o desenho dele seja ruim, pois não é. O problema é que Itaba abusa dos quadrinhos sangrados (que ultrapassam o limite dos quadros), e em muitos momentos os desenhos se misturam muito, exigindo que o leitor apure os olhos para pegar todos os detalhes. Embora o desenho de Itaba seja bonito, ele não ajuda a salvar as tramas de Akahori.

Pior ainda: o mangá apresenta uma visão de mundo extremamente machista e safada. As mulheres da série são retratadas como quase ninfomaníacas, submissas, loucas por sexo e capazes de se submeter às situações mais constrangedoras, pendendo ao sadomasoquismo. Marquês de Sade ia pular de alegria se estivesse vivo. Essas situações chegam a ser absurdas a ponto de serem engraçadas - mas não muito. No máximo, um sorriso amarelo. Por isso, MOUSE não é recomendável às mulheres.

MOUSE, enfim, não é por assim dizer uma leitura recomendável. Pelo menos aos que gostam de quadrinhos de bom gosto. E tanta gente achando que os japoneses não seriam capazes de descer tão baixo.

Bom, mas agora o estrago está feito. E o mangá está disponível no Brasil! Os catorze volumes foram lançados pela editora JBC em 2005. Hoje esgotado, ainda é possível comprar a coleção em sebos ou no mercado de usados - eu adquiri a coleção, por curiosidade, usada.

Bem, eis aqui MOUSE. Para quem gosta do tradicional estilo ecchi, ou "mostruário de calcinhas".

Para encerrar, duas da minha série "Mujeres de grafite e tinta". O momento não poderia ser mais propício para postar meus desenhos de mulheres... Desta vez, fui eu que fui capaz de descer tão baixo. Buá!

Até mais!