sábado, 8 de maio de 2010

Livro: O MENINO DO DEDO VERDE

Olá.
De vez em quando, é saudável aceitar conselhos de pessoas. Às vezes, um conselho dado por uma pessoa próxima pode ser uma furada, outras pode ser ou grande acerto.
Pois bem. Um colega de trabalho me recomendou que eu lesse o livro que vou resenhar agora. Demorou, mas finalmente segui o conselho deste colega - e li, há pouco, O MENINO DO DEDO VERDE, um clássico da literatura infanto-juvenil.
O MENINO DO DEDO VERDE foi escrito pelo francês Maurice Druon (1918-2009) em 1957. Druon foi um dos pioneiros, no século XX, do romance histórico, ou seja, dos livros de ficção construídos em cima de fatos reais. O diferencial dos romances "históricos" que eram produzidos até a década de 1950 é que Droun fazia, antes de deixar a imaginação rolar, uma rigorosa pesquisa da época retratada - cartilha seguida por muitos escritores de romances históricos atuais, como Bernard Cornwell e Conn Iggulden. Foi com grande pesquisa que Druon escreveu o ciclo de sete romances Os Reis Malditos (escrito entre 1955 e 1966), sobre os reis da época da Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra. Porém, Druon é mundialmente reconhecido por O MENINO DO DEDO VERDE, o único livro que escreveu para jovens.
Esta edição, de 2008, é a 82a, editada pela José Olympio Editora. A tradução brasileira é de D. Marcos Barbosa, e as ilustrações são de Marie Louise Nery, suíça naturalizada brasileira.

O MENINO DO DEDO VERDE é transbordante de humor e poesia (palavras do tradutor), um libelo contra a guerra e a estupidez dos homens, em forma de fábula infantil. Por isso emociona até hoje que lê.
O livro conta a história do menino Tistu, um garoto muito especial. No primeiro capítulo, Druon tece algumas considerações sobre o nome do garoto, que deveria se chamar João Batista, mas acabou sendo chamado de Tistu. A partir daí, Druon faz considerações sobre ideias pré-concebidas, que os adultos teimam em manter, principalmente com relação às crianças e ao seu futuro. Aí, o autor apresenta o ambiente onde ele vive.
Tistu é filho do Sr. Papai, um rico fabricante de canhões, e de Dona Mamãe. O menino mora em uma suntuosa mansão, sempre brilhante, chamada de Casa Que Brilha. O encarregado de manter o brilho da casa é o empregado Cárolo, de forte sotaque estrangeiro. Tudo brilha na Casa Que Brilha, desde os corrimões até os vidros, até mesmo os cavalos da família. O cavalo preferido de Tistu é o pônei Ginástico, que ao mesmo tempo é seu confidente.
A família reside na cidade de Mirapólvora, conhecida pela fábrica de canhões do Sr. Papai, com suas nove chaminés.
Desde cedo, Tistu demonstra não ser um menino como os outros. Mandado para a escola, ele não permanece, por causa que acaba sempre dormindo na aula. É o professor quem afirma que Tistu não é como os outros meninos,o que enche os pais do garoto de preocupação. O Sr. Papai decide: a educação de Tistu não será feita na escola, mas em casa - Tistu aprenderá mais com a vida que com a escola.
A primeira aula que Tistu tem é de jardinagem, com o Sr. Bigode, um jardineiro de grandes bigodes (é óbvio). É com o Sr. Bigode que Tistu descobre que possui um dom especial: é capaz de fazer brotar flores com o toque de seu polegar! A teoria do Sr. Bigode é que em todos os lugares, da terra às pedras, das grades ao metal, em tudo existem sementes escondidas, esperando brotar. Só as pessoas com o Dedo Verde conseguem fazer essas sementes escondidas brotarem. O Sr. Bigode, no entanto, recomenda que Tistu guarde segredo quanto a esse dom.
À medida que Tistu vai descobrindo as mazelas do mundo, coisas inesperadas acontecem.
A dura realidade é apresentada a Tistu por um subordinado do Sr. Papai, o Sr. Trovões, um homem de voz forte e cujas orelhas ficam sempre rubras. Primeiro, o Sr. Trovões apresenta ao menino a cadeia da cidade. Tistu, achando triste aquele lugar onde os prisioneiros ficam andando em fila na hora de tomar sol, decide usar seu dedo verde para fazer nascer flores na cadeia, gerando muitos acontecimentos inesperados. Mas benefícios também: com todas aquelas flores, os prisioneiros perderam a vontade de fugir da cadeia para se dedicar à jardinagem.
A seguir, Tistu visita a favela da cidade, um lugar muito triste, antro das piores mazelas. Tistu não perde tempo: faz flores nascerem na favela, ocasionando inclusive a melhora da vida de seus habitantes, com a eliminação do desemprego - as flores geraram condições de trabalho aos habitantes da favela.
Mais tarde, Tistu visita o hospital da cidade, e se comove com uma garotinha doente, que se contenta em ver, dia após dia, os buracos do teto de seu quarto. Tistu faz nascer um verdadeiro jardim naquele quarto, e a saúde da menina melhora muito.
Enquanto especialistas do mundo todo brigam ao tentar explicar esses fenômenos, e a cidade toda se assombra, Tistu faz mais: faz nascer um jardim no zoológico, onde os animais estavam descontentes de se verem fora de seus habitats naturais. Somente o Sr. Bigode e o pônei Ginástico (que pode inclusive conversar com Tistu como se fosse gente) conhecem o segredo de Tistu. Mais: a cidade de Mirapólvora acaba mudando seu nome (por sugestão do Sr. Papai) para Miraflores.
No entanto, o comportamento de Tistu preocupa as pessoas ao seu redor. Os pais de Tistu tem ideias pré-concebidas de que o menino sucederá o Sr. Papai na fábrica de canhões. No entanto, a realidade é outra - Tistu tem uma atitude pacifista e acredita piamente que as mazelas todas se resolvem com flores.
Tistu acaba sabendo, através de notícias que circulam por todo canto, sobre a guerra entre as nações dos Voulás e dos Vaitimboras, que disputam uma região desértica rica em petróleo. Tistu se preocupa com esta questão, pois acaba sabendo, através do Sr. Bigode, as mazelas provocadas por ela: o Sr. Bigode perdera um jardim, devastado pela guerra; Carolo perdeu seu país, e a cozinheira Dona Amélia perdeu um filho. Mas Tistu fica chocado em saber, em aula com o Sr. Trovões, que é a fábrica do Sr. Papai que vende armas tanto para os Voulás quanto para os Vaitimboras - para quem fabrica canhões, a guerra é um investimento, e não importa de que lado se está. Tistu aprende isso da forma mais dura, e resolve acabar com a guerra de modo inusitado - mesmo que isso signifique entrar em choque com as ideias pré-concebidas e ameaçar o negócio do pai.
E muita surpresas acontecem na história...
O MENINO DO DEDO VERDE é um libelo pacifista. Druon viu a Segunda Guerra Mundial de perto - inclusive, combateu lá - assim, ele entende o funcionamento da guerra. O livro é ingênuo - afinal, é para crianças - , com a idéia de que, para acabar com as mazelas mundiais, basta plantar flores. Bem, não deixa de ser uma idéia interessante, não é? Há quem acredite nas flores vencendo o canhão. Mesmo assim, O MENINO DO DEDO VERDE é um livro sensível, encantador e agradável. Cheio não apenas de humor e poesia, mas também de filosofia.
E mesmo porque, em uma passagem memorável do livro, Tistu aprende que nem tudo pode ser vencido com flores. Há uma força que resiste a elas.
Bem, talvez o que Druon queira nos mostrar é que se os homens prestassem mais atenção ao mundo ao seu redor e percebessem que manter ideias pré-concebidas sobre o mundo é um equívoco, se os homens acreditassem mais na paz que no ódio... então, o mundo seria melhor.
Quem dera houvesse mais meninos como Tistu no mundo.
Talvez por isso esse livro encante ainda hoje quem o leia.

Para encerrar, minha homenagem ao Dia das Mães.
Quando fiz este desenho, eu pensava também na Mãe Terra, mãe de todos nós. E que, nos dias que correm, está precisando de um trato.
Pensamos tanto nas nossas mães, e acabamos esquecendo da Mãe Terra... que pena.
Mesmo assim, nada como homenagear as nossas mães neste domingo. E este desenho bem que poderia ter ficado melhor... pelo menos eu acho.
Feliz dia das Mães a todas as mães do mundo! Para as que leem - e até para as que não leem - este blog!
Até mais!

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