Dia 18 de maio é o Dia Nacional de Luta Antimanicomial e Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Vocês sabiam disso, não sabiam? É, claro que não.
Nos dias que correm, o tratamento aos portadores de deficiência mental e distúrbios da mente - os populares "loucos" - passa por uma humanização. Os "loucos" já não podem ser tratados com a brutalidade dos dias anteriores. Inclusive, existe um movimento pelo fim dos manicômios - os populares "hospícios". Entende-se que, hoje, o melhor tratamento aos "loucos" é o apoio familiar. Um "louco" não pode ser mais jogado no hospício, onde certamente não sairá de lá menos "louco". O tratamento para a loucura deve passar por toda a orientação que ele possa receber, do modo mais humano possível, para que ele possa viver em sociedade.
O problema é que a sociedade tem dificuldades em aceitar quem não seja "normal". Basta apenas um costume que saia do pré-estabelecido, e a pessoa pode ser tachada de "louca", "perigosa" e, portanto, inapta a viver entre os outros. Já está mais do que provado: de perto ninguém é normal. Então, por que ainda temos de agir pior que os loucos?
O preconceito é ainda pior que a loucura. A loucura, pelo menos, permite que a pessoa sonhe, crie, saia de um cotidiano francamente massacrante. A loucura pode, sim, ser garantia de felicidade. Ainda mais em um mundo onde quem tem motivos para ser feliz são os fabricantes de remédios anti-depressivos, os psiquiatras e os escritores de livros de auto-ajuda, que faturam em cima do sofrimento das pessoas.
É uma opinião pessoal, gente. Só advertindo os que podem se chocar.
Bem. É em cima dessas reflexões que eu apresento a vocês um dos trabalhos mais raros do meu portfólio. E a história em cima dele.
Vocês estão vendo aqui um panfleto, que foi feito para uma campanha lançada pela Comissão de Saúde Mental de Santa Maria, RS, e a Secretaria de Município da Saúde. Ou seja, foi o último trabalho que fiz em Santa Maria antes de voltar para Vacaria, em 2008.
A história foi a seguinte: esta Comissão contactou o Quadrinhos S. A., Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria, para fazer uns desenhos para o panfleto, que foi distribuído no dia 18 de maio de 2008. Os temas seriam: abuso de drogas, violência doméstica, loucura e violência sexual de crianças e adolescentes. Vocês estão vendo aqui um panfleto, que foi feito para uma campanha lançada pela Comissão de Saúde Mental de Santa Maria, RS, e a Secretaria de Município da Saúde. Ou seja, foi o último trabalho que fiz em Santa Maria antes de voltar para Vacaria, em 2008.
Bem, cada membro fez os seus desenhos, e os melhores seriam escolhidos. Bem, nem precisa dizer: dois dos meus desenhos foram os escolhidos! Na verdade, três, dos cinco ou seis que fiz!
Todos fizeram desenhos muito bons, mas os meus foram escolhidos. No entanto, algumas alterações foram feitas.
Neste primeiro, o das drogas, sobre a mesa, só havia a seringa, que o personagem se segura para não pegar. Foi o Marcel Jacques que acrescentou os outros elementos - a garrafa, o copo, os cigarros, as carreiras de cocaína...
O segundo, a boneca sendo despida e derramando uma lágrima, não sofreu alterações. É o mais simbólico e compreensível - a boneca simboliza as crianças que são molestadas sexualmente, sem oferecer defesa. Algo realmente hediondo - ainda mais em tempos de internet, onde as autoridades tentam coibir a pedofilia na internet.
O terceiro desenho é que foi o mais problemático. Eu havia desenhado um rapaz descabelado dentro de uma jaula apertada, com a placa "louco - Não se aproxime", simbolizando a necessidade de humanização no tratamento manicomial. É claro que o desenho era muito forte. Por isso, havia necessidade de fazer outro.
Num fim de tarde, eu estava lavando roupa em casa, e daí o telefone celular tocou: era o Bício, que me chamou para a sede do Núcleo para refazer o desenho. Eu respondi que não podia, afinal estava lavando roupa, em casa, e essa casa ficava no bairro de Camobi, distante do centro da cidade. Não tinha como pegar o ônibus naquela hora e correr até a sede do Núcleo. Por isso, o pessal teve de fazer o desenho, tentando copiar o meu estilo.
Foi compreensível a intenção deles, vocês podem reparar.
Bem, os panfletos foram feitos, mas a tiragem foi limitada. Foi muito difícil para eu conseguir alguns exemplares do panfleto, e ainda consegui de uma sobra que havia no prédio da faculdade. Alguns distribuí para amigos.
No entanto, quando procurei a sede da Comissão para conseguir mais exemplares do panfleto... não havia mais nenhum, as tiragens foram limitadas e foram todos distribuídos! Desse modo, este panfleto é o trabalho mais raro que tenho em meu portfólio.
Pior ainda: o pagamento que foi prometido ao autor dos desenhos não saiu. Novamente, acabamos trabalhando de graça.
Mesmo assim, foi legal. O Quadrinhos S. A. mais uma vez deu sua contribuição em campanhas educativas. Ainda mais em um tema constantemente em pauta, com as notícias que correm dos males provocados pelo consumo de crack...
Era isso. Este foi o último trabalho que fiz antes de sair de Santa Maria, e que agora relato a vocês. Agora, tenho outras atividades remuneradas.
Os tempos de faculdade eram de agruras por causa da necessidade de economizar e da falta de trabalho remunerado. Mas, ainda assim, eram tempos felizes, onde eu tinha contato frequente com amigos que tinham interesses comuns aos meus.
Saudades...
Mas um dia, volto a Santa Maria para rever o que lá deixei.
Até mais!
Um comentário:
Grande postagem Rafael...
Muito boa, hehehe...
Me lembro dessa história dos desenhos para a campanha.
O da boneca realmente ficou muito bom, parabéns.
É verdade, agora que estou ausente de SM também, estou vendo como é difícil ficar longe dos amigos que deixamos lá, eu talvez volte logo, talvez não.
Mas o Núcleo de Quadrinhistas sempre estará te esperando para quando voltares Grasel!
Também sentimos muito sua falta.
Abração meu grande amigo!!
Guiga Hollweg
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