quarta-feira, 18 de julho de 2012

ROKO-LOKO E ADRINA-LINA - Márcio Baraldi, o homem que se alimenta de rock

Olá.

Aproveitando que o Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria, RS – Quadrinhos S. A. está promovendo a sua primeira exposição virtual de cartuns – a Expo Rock Virtual, confira no blog do grupo – hoje vou falar de quadrinhos: quadrinhos que tem tudo a ver com Rock.
Na minha última viagem a Santa Maria, RS, e em visita à sede do Núcleo, recebi de presente uma recordação que um famoso cartunista havia deixado para nós. É um álbum de quadrinhos – este que vocês estão vendo aí embaixo: ROKO-LOKO e ADRINA-LINA – HEY, HO... LET’S GO!, de Márcio Baraldi.

Bão. Desde a Expo Rock de 2010, promovida pelo grupo, Márcio Baraldi, o Baraldão, se tornou membro honorário do nosso grupo. O mínimo que se pode dizer do cara é que ele desenha muuuuito! Qualquer coisa que se diga a respeito de Márcio Baraldi parece pouco, mas vamos fazer uma tentativa...
A carreira deste cartunista workaholic – ou melhor, wor-rocka-holic, que melhor o define – começou nos anos 80 (ele nasceu em 1966). Seu primeiro personagem roqueiro foi Johnny Bastardo, publicado no tablóide alternativo Rocker, de São Paulo, de 1986 a 1988. Ainda nessa década, Baraldi acumulou trabalhos publicados em revistas como a Chiclete com Banana, a Inter Quadrinhos, a Porrada Special e a MAD (para a qual ainda colabora eventualmente). Desde essa época, ele cultivava seu estilo de desenho, cartunesco e ao mesmo tempo detalhado, enchendo todo o espaço da folha, e fazendo uso de um humor anárquico, crítico, que não poupa ninguém – aquele tipo de desenho de humor que arranca uma risada logo na primeira olhada. Baraldi elogia quem merece ser elogiado, critica quem deve ser criticado, esculacha quem merece ser esculachado; ele não faz concessões, nada sempre contra a corrente. Desde jovem fã de rock, ele começou a incorporar essa filosofia quando começou a trabalhar para a revista musical Rock Brigade. Foi lá que, em 1996, Baraldi lançou os personagens que o tornariam célebre: o tatuador Tatoo-Zinho, o rapper Rap-Dez e o casal Roko-Loko e Adrina-Lina.
Além da Rock Brigade, Baraldi colaborou – e ainda colabora – para muitas publicações, como o jornal alternativo Vermelho e a já citada revista MAD.
Várias histórias desenhadas por Baraldi foram compiladas em diversos álbuns, sendo os primeiros publicados pela finada editora Opera Graphica, entre 2003 e 2008: Roko-Loko e Adrina-Lina; Roko-Loko e Adrina-Lina Atacam Novamente; Roko-Loko e Adrina-Lina: Born to be Wild!; Tatoo-Zinho; Humor-Tífero; Vale-Tudo; Roko-Loko e Adrina-Lina: Hey, ho... Let’s Go!; Vapt e Vupt; Rap Dez; e várias outras publicações. Só de álbuns-solo, Baraldi contabiliza catorze álbuns. Fora ilustrações para livros de outros autores. Uma boa amostra do humor-solo, só de personagens, se encontra nos álbuns Humor-Tífero e Vale Tudo. Neste último, além de que ele carrega na violência e na ironia, Baraldi conta com as participações especiais dos já mestres das HQB Marcatti e Bira Dantas. Sem falar que foi esse álbum que inaugurou seu selo de quadrinhos, o GRRR! (Gibi Raivoso, Radical e Revolucionário).
Além disso, Baraldi ataca em outras frentes, ajudando a divulgar e defender os quadrinhos brasileiros. Ele foi colaborador do website Bigorna.net (hoje congelado por conta do descontentamento de seus administradores com os rumos das nossas HQB), e sua última incursão foi a produção do documentário Ao Mestre com Carinho, sobre a vida e obra do quadrinhista Rodolfo Zalla. Mestre também em fazer marketing de si mesmo, Baraldi tem diversos produtos relacionados à sua marca. Bem, não vou me estender muito... para conhecerem mais sobre o homem, visitem seu website oficial: http://www.marciobaraldi.com.br/.
Agora, falando um pouco sobre seus personagens mais conhecidos: Roko-Loko e Adrina-Lina.
Como já disse, eles foram criados para a revista Rock Brigade, em 1996. Já ganharam quatro álbuns, onde o leitor que não pode encontrar com facilidade a Rock Brigade nas bancas pode conferir o louco humor-rock de Baraldi. Humor-rock sim: Baraldi incorpora, nas aventuras desse casal mutcholoco, a filosofia rocker, sem firulas, óculos maiores que a cara ou corações feitos com as mãos: é rock’n roll puro. Os desenhos de Baraldi sabem traduzir os gritos guturais do rock, as guitarras e baterias gritando desesperadas, raivosas, para o bem ou para o mal. É o rock querendo se fazer ouvir entre os "baby, babies", os "nossas, nossas", os "le-le-lês" e os "tchu-tchatchás" da vida. É o ritmo que marcou gerações de pessoas, da forma como nos chegou, da forma como já foi criticado, da forma como ainda conquista nossos corações.
Bem. O casal de protagonistas da série é um daqueles que vivem sua vida cercados de rock por todos os lados. Em histórias de uma, duas, até três páginas, Baraldi põe não apenas os protagonistas em situações as mais insólitas envolvendo o mundo do rock, mas também bandas de rock reais ou pessoas ligadas à área em situações fora do comum, e dando uma palhinha a qualquer momento.
Bão. Roko-Loko é um roqueiro de coração: vive uma vida cercada de rock. O cabeludo, que também faz as vezes de “repóter” da Rock Brigade, está sempre envolvido em situações malucas envolvendo roqueiros. E as situações ficam ainda mais malucas pelo fato de Roko ser um tremendo trapalhão, daqueles que só fazem mancada, ser um tanto idiota e comumente estragar tudo - por isso, invariavelmente se dá mal. Às vezes, ele faz uns bicos em outros empregos, mas não consegue evitar de estragar tudo onde se mete. E, como humano ele também é, de certa forma, mulherengo. Como o rock costuma ser um antro de mulheres gostosas, é difícil pro nosso cabeludo e narigudo favorito resistir. O problema é que ele é – aparentemente – casado com Adrina-Lina, tão roqueira e malucona quanto Roko. Com um penteado estilo Rê Bordosa, mas um tanto mais comportada que a famosa personagem do Angeli, Adrina também curte o rock em toda sua essência – mesmo que precise atropelar Roko da frente do toca-discos, do computador... Além de tudo, Adrina é ciumenta: vive descendo o pau de macarrão em cima de Roko quando flagra o cabeludo numa situação “comprometedora”. Mas isso também não impede que Adrina se enrosque nos braços de algum roqueiro, se o Roko bobear.
Nas aventuras de Roko-Loko e Adrina-Lina, também costumam entrar bandas de rock reais, nacionais e estrangeiras. Desde gente bem conhecida de quem assiste MTV, como Metallica, Raul Seixas, Sepultura, Kiss, Nightwish, Judas Priest e muitos outros, como bandas que vocês, curtidores de sertanejo universitário, certamente nunca ouviram falar, como Rata Blanca, Torture Squad, Baranga, Slayers, Rosswell 49, Krisiun... Para entender as aventuras de Roko-Loko e Adrina-Lina, é preciso, claro, entender bastante do mundo do rock. Mas o que não falta, depois da leitura destas historinhas muito loucas, é vontade de procurar informações sobre esse pessoal, tentar conhecer suas obras. Graças a Deus temos o YouTube como um veículo.
Essas bandas são colocadas em situações insólitas, fora do comum, e só depois é que acabam se revelando como os roqueiros que são. Só para citar uns exemplos extraídos do álbum HEY, HO... LET’S GO! (cujo título evoca o famoso grito de guerra da banda Ramones), os integrantes da banda Helloween estão em uma loja de mágicas; os da banda brasileira Torture Squad estão em uma padaria meio satânica; Roko vai tratar de uma afta na boca com a vocalista da banda After Forever; e Roko-Loko recebe, de repente, a visita dos roqueiros Lordi, Slipknot, Gwar, Mortiis, e Gene Simmons, do Kiss, numa disputa para saber quem é o maior monstro do Rock. Vez em quando, Roko dá uma “ajudinha” em programas de cultura rock, como o Slayers e o Stay Heavy (e, é claro, estragando tudo com suas trapalhadas); interage com pessoas ligadas à área rock, como Syang, Gastão Moreira, Vinícius Neves e até o próprio Baraldi; isso quando não exacerba sua louca paixão por Tarja Turunen, a ex-vocalista da banda Nightwish. Enquanto isso, na primeira oportunidade, Adrina-Lina se atira nos braços de André Matos, líder da banda brasileira Shamaan, ou então se enrosca com os membros da banda Massacration (a banda semi-humorística formada pelo grupo Hermes e Renato da MTV). Isso quando não está no colo do próprio Baraldi.
As historinhas sempre começam com Roko explicando a situação na qual vai se desenvolver as tramas. E a diversão é garantida. O humor e anárquico, amalucado. Baraldi é mestre em iniciar suas historinhas a partir de uma situação qualquer e enfiar rock no meio, seja com o ET de Varginha, seja com o frango assado símbolo do Massacration; em fazer trocadilhos com nomes de bandas, discos ou situações reais; e também em caricaturar as pessoas e torná-las personagens das tramas, expondo-as ao ridículo não raro. Baraldi ocupa todo o espaço com desenhos e cores berrantes, fecha as tramas em poucos e mais que suficientes quadrinhos. E os livros ainda são completos com tirinhas, também publicadas na Rock Brigade. E o HEY, HO... LET’S GO! Ainda tem participações especiais: as introduções de Franco de Rosa (criador da Opera Graphica) e Sidney Gusman (editor do site Universo HQ) e ilustrações especiais dos quadrinhistas Mozart Couto e Getúlio Delphim.
Aah, é, eu ia esquecendo: os personagens também ganharam um jogo de computador, Roko-Loko no Castelo do Ratozinger (há, também, uma historinha no álbum justamente promovendo o jogo). O jogo, versão simples, pode ser baixado “de grátis” no site do Baraldão. Ou a versão estendida, com trilha sonora da banda Exxotica, pode ser comprada no website. Também dá pra comprar os bonecos dos personagens, vejam só!
Como eu disse, qualquer coisa que se falar deste workaholic do quadrinho nacional que é o Baraldão é pouco, e posso não ter falado tudo o que tinha pra falar aqui. Se quiserem conferir os álbuns que ele desenhou, saibam como no próprio website do Baraldão. E tenho dito. Diversão garantida.
Para encerrar, eis mais um desenho meu para a Expo-Rock virtual. Teixeirão chamando a atenção para um fato: o gaiteiro Renato Borghetti tem muito de parecido com o Slash, o ex-guitarrista do Guns N’ Roses, não repararam? Não apenas por ser um instrumentista de mão-cheia, mas pelo visual... Não sei se a piada funcionou, até porque vocês, certamente, de fora do RS, nunca ouviram falar de Renato Borghetti...
(som de peido)
Até mais!

Um comentário:

Marcio disse...

Uau, Rfael!! Muito bacana o texto.Vc dissecou minha obra mesmo.Muito obrigado.Fico feliz que gostou.
Abracao e sucesso pra nois.
Baraldao