Olá.
Hoje,
volto a falar de gibi da editora Júpiter 2, capitaneada por José Salles. E,
apesar do entusiasmo em falar de um dos personagens mais conhecidos da casa
editorial, faço isso sob sentimentos meio negativos, pois parece que atualmente
sou malquisto pelo próprio José Salles. Pelo menos, foi o tom que o cara adotou
numa de nossas últimas trocas de mensagens, à época da última resenha que
escrevi de um gibi da editora – o gibi de Juju Faísca. Afinal, o que eu fiz pra ele? Será que ele realmente me odeia,
assim como às resenhas que faço dos gibis da editora dele?
Quem
conhece José Salles, e lê o que ele escreve no blog da Júpiter 2 (http://jupiter2hq.blogspot.com.br/)
sabe que ele também costuma ser polemista: defensor ferrenho do quadrinho
nacional, inimigo fidagal dos comics norte-americanos, mangás japoneses e dos
quadrinhos underground, e, atualmente, cristão conservador, meio que um
polemista de direita, diferente do cara que já chegou a escrever as niilistas e
violentas aventuras do Máscara Noturna.
Não estou o atacando, se ele quer seguir essa linha de pensamento, até respeito
– sou seguidor de Voltaire, quando ele diz “posso não concordar com as palavras
que você diz, mas defenderei até o fim o direito de você dizê-las”. Só quero
saber o que foi que eu fiz de mal pra ele estar me odiando. Falei algo que não
devia a respeito do saudoso Gedeone Malagola, é isso?
Bem.
Sem querer ficar me detendo em pucuinhas pessoais, então hoje vou falar de um
personagem tradicional da editora: TORMENTA.
O
HERÓI
No
mercado editorial brasileiro, muita gente conhece o título TORMENTA como a
famosa série de livros de RPG criada por Marcelo Cassaro, J. M. Trevisan e
Rogério Saladino, da qual derivam as HQ Holy
Avenger e Dungeon Crawlers.
Atualmente, os títulos relacionados ao mundo de Tormenta, que eram lançados pela editora Trama/Talismã, são
publicados pela editora Jambô, de Porto Alegre.
O
TORMENTA da Júpiter 2 é um super-herói criado por Eduardo Manzano. O autor foi
o co-fundador da SM Editora, atual Júpiter 2, ao lado de Salles, e co-criador
do primeiro super-herói da editora, o Máscara
Noturna. Também já desenhou muitas histórias de personagens da editora,
incluindo a primeira parte de Capitão Macnamara e a Invasão Extraterrestre e a dramática Alameda da Saudade.
Bão.
Antes de tudo, é preciso dizer que TORMENTA não nasceu dentro da editora. O
herói foi criado em 2000, e sua primeira história publicada foi o fanzine Heróis Brazucas # 9, de 2001, editado
por Francinildo Sena. Em 2004, Salles e Manzano lançaram um fanzine com o
personagem, chamado Tormenta Número Zero.
E só em 2007 que TORMENTA ganhou gibi pela então SM Editora, e, desde então,
com a autorização de Manzano, o gibi foi um laboratório para roteiros de HQ,
apresentando diversos modos de se narrar histórias – e a maior parte dos
argumentos de Tormenta foi elaborada pelo próprio Salles, que escreveu alguns
roteiros. Por isso, o herói viveu aventuras diversas: enfrentando personagens
superpoderosos, criaturas malignas, vivendo aventuras baseadas em filmes... e
até na selva ele esteve! E até mesmo viveu uma aventura ao lado do personagem Vulto, o Vigilante, de Wellington
Santos. Porém, tudo mantendo a principal característica do personagem: é um
herói humanizado, sem superpoderes, que depende mais da sorte, de suas armas e
de suas habilidades físicas para vencer os desafios.
Essa
mistura de estilos se estende até aos desenhistas escalados para dar forma às
aventuras, como se verá a seguir.
Bem.
TORMENTA é a identidade heroica do publicitário Éder Pegoraro, que defende a
cidade de São Paulo usando uma roupa colante inteiriça vermelha, uma máscara
com manchas pretas estilo Kiss e os longos cabelos negros esvoaçantes. O
atlético Éder, como eu disse, não possui poderes, apenas conta com suas armas e
seu conhecimento de artes marciais. Ah: e aparece, tal como um Homem-Aranha, se
balançando sobre os prédios da cidade, em cordas que sabe-se lá onde estão
amarradas. A única pessoa que conhece sua identidade secreta, e sua principal
apoiadora, é sua bela esposa, Rita. Quando ela aparece, geralmente está em
casa, usando roupas sumárias como camisolas e lingeries – pelo menos, nas
primeiras histórias. E está sempre disposta a curar os ferimentos do herói,
quando ele chega em casa após um combate.
Quanto
à origem do personagem, Manzano não havia estabelecido oficialmente. Essa
tarefa ficou com Wellington Santos, quando lançou o crossover entre Vulto e Tormenta, em 2012 (do qual
falaremos mais tarde). Segundo Well, a gênese do herói se deu quando Éder
Pegoraro foi fazer um trabalho social em um hospital infantil. Lá, ele conheceu
Luís, um garoto lá internado, que adorava desenhar – o gosto comum pelas artes
fez com que ambos ficassem imediatamente amigos. Mas, naquele mesmo dia, um
grupo de viciados assaltou o hospital em busca de remédios. Eles são dominados
pelos seguranças, exceto um, que consegue fugir para o pátio onde estão Éder e
Luís. Éder consegue dominar o bandido, mas este puxa uma arma e atira no
publicitário. Mas Luís se atira na frente de Éder e toma o tiro fatal. O
assaltante foge, e Luís morre nos braços de Éder. Inconformado, o publicitário
resolve criar uma fantasia de super-herói e sair à caça do bandido. Claro que,
com a missão cumprida, Éder acaba tomando gosto pelo combate ao crime, e
resolve se tornar o “vigilante vermelho” de São Paulo. Ao menos, esta é a
versão “oficial” dos fatos, por enquanto. Falta, entretanto, a explicação do
nome.
As
aventuras de TORMENTA têm doses de humor, crítica social, violência explícita,
aventura, ação e pitadinhas de erotismo, dependendo da situação.
Até
agora, descontando o crossover com o Vulto, TORMENTA teve sete números
lançados, todos com uma história única, a saber:
TORMENTA no. 1
Lançado
em março de 2007.
A
estreia na SM Editora foi com a aventura Um
Inimigo Quase Invencível, com argumento de Salles e roteiro e arte de
Douglas Félix. Ela começa quando dois assaltantes invadem a casa de um
cientista – um deles, morrendo de sede, bebe uma fórmula que o tal cientista,
que acaba morto pelo outro assaltante, mantinha guardada na geladeira, um soro
que torna quem o consumir invencível. Ao se dar conta de que ficara forte e
poderoso, o assaltante mata seu parceiro e dá uma tremenda surra em Tormenta,
que aparecera para enfrenta-lo. Enquanto o bandido sai por aí cometendo
atrocidades, Tormenta convalesce, e só com uma ajudinha espiritual ele
readquire forças para enfrentar o bandido novamente. O roteiro é emocionante,
com economia de textos e com cenas fortes, mas a arte, cheia de grandes
detalhes pretos, abusa desnecessariamente dos grandes closes, e em alguns
momentos, é difícil distinguir o que os personagens estão fazendo. A capa é de
Edu Manzano.
TORMENTA no. 2
Lançado
em dezembro de 2007.
Trazendo
uma aventura que puxa para o lado do terror: Tormenta vs. Saci-Pererê, com argumento de Salles, roteiro e
desenhos de Renato Rei e arte-final de Luiz Meira (a mesma equipe criativa de Rajada, da mesma editora). Na trama,
Éder e Rita estão viajando para o interior, acompanhados de dois casais que
ficam amigos deles. Mas esses casais acabam sendo brutalmente assassinados, e
Éder, que trouxera o uniforme de Tormenta na bagagem, decide caçar o criminoso.
E o criminoso é o famoso personagem folclórico, o Saci-Pererê, mas esqueça o
saci dos livros infantis: aqui, ele é gigante, psicopata, armado com um machado
e usa uma perna mecânica além da famosa perna única! TORMENTA em sua aventura
mais sangrenta, cujo clima de terror é acentuado pela arte realista de Rei e
Meira. Cheio de cenas de alto impacto. A capa é de Douglas Félix, com arte-final
de Luiz Meira.
TORMENTA no. 3
Lançado
em abril de 2008.
Primeiro
gibi do herói lançado após a editora mudar o nome para Júpiter 2. Trazendo a
aventura Herói da F.E.B., com roteiro
de Salles e arte de Edu Manzano. Na trama, um veterano da Força Expedicionária
Brasileira (FEB), que combatera na Itália durante a 2ª Guerra Mundial, ao
voltar para casa após uma confraternização com outros veteranos, é sequestrado
por um violento grupo de jovens que quer assalta-lo. Nos diálogos que se
seguem, e até a intervenção de Tormenta, o velho conta histórias de sua
participação na campanha da Itália. O roteiro traz uma reflexão contundente
sobre como os valores da sociedade mudaram dos anos 40 para cá, e sobre a
importância da preservação dos exemplos do passado às futuras gerações. A arte
de Manzano, em sua arte realista em linha-clara, apresenta um capricho maior
que o observado, por exemplo, em Capitão
Macnamara – parte 1, mas com alguns deslizes em proporções, sombreamento e poses
de ação. A capa também é de Manzano. Inclui seção de cartas dos fãs.
TORMENTA no. 4
Lançado
em fevereiro de 2010.
Após
um longo hiato, TORMENTA volta com a história Pacto de Sangue, com roteiro de Salles e arte de Dennis Oliveira. A
trama se inspira no filme Double
Indemnity (Pacto de Sangue), de Billy Wilder, de 1944, clássico dos filmes
noir. Na trama – para quem não conhece o filme – um amigo de Éder Pegoraro,
Edson, é amante de uma mulher insatisfeita, e os dois planejam matar o marido
dela, dono de um supermercado, para ficar com a herança. Edson mata o homem,
mas depois descobre que foi usado pela mulher, e planeja se vingar. A
intervenção do TORMENTA se dá quando as coisas fogem do controle. Quase dá pra
dizer que a arte de Dennis Oliveira, apesar de realista e impactante, é
“fofinha”, deixando os personagens mais simpáticos. A capa é de Oliveira, e
inclui, pela primeira vez, uma ilustração pin-up,
de Edu Manzano.
TORMENTA no. 5
Lançado
em novembro de 2010.
Trazendo
a aventura dramática O Velho Amigo,
com argumento de José salles, desenhos de Dennis Oliveira e arte-final de
Flávia Andrade. Na trama, Éder Pegoraro volta ao bairro onde passou a infância,
e revê uma mulher querida, vizinha que praticamente o criou. E revê os dois
filhos dela, seus amigos. Um deles, o mais velho, entretanto, está envolvido
com “más companhias”, e, a pretexto de darem uma vida melhor à mãe, é
convencido a cooptar o irmão mais novo a colaborar com um assalto a uma casa. A
intervenção do Tormenta pode evitar o pior, mas não uma tragédia. A história é
dramática e traz uma reflexão sobre os motivos que podem levar os jovens para a
vida de crimes. A arte de Oliveira continua simpática, apesar das linhas mais
grossas de Andrade, e do conflito aparente entre o desenho realista e o
caricatural. Mas é uma das melhores histórias até agora. Capa de Wellington
Santos, com cores de Oliveira, e ilustrações pin-up de Edu Manzano, Dennis oliveira e Adauto Silva.
TORMENTA nos. 6 e 7
Lançados,
respectivamente, em abril de 2011 e fevereiro de 2012.
As
duas edições trazem uma aventura em duas partes, A Grande Aventura, com roteiro de Salles e arte de José Menezes –
que o pessoal conheceu nas coleções O Bom e Velho Faroeste e Histórias Sagradas.
A intenção de Salles, com essa aventura, é homenagear os
antigos jungle comics – os quadrinhos de aventura ambientados na selva, com os
quais Menezes trabalhara muito quando “continuou” comics norte-americanos para
a editora RGE. Assim, a aventura é cheia de referências a séries como Tarzan, Jim das Selvas, Fantasma e Turok. Entretanto, o roteiro e sua
condução são os mais fraquinhos da coleção, pois valorizam muito as cenas de
ação e mais confundem que explicam, além de os clichês presentes na aventura
mais afastarem que atraírem os fãs mais velhos do gênero. Para os leitores mais
novos, dá pro gasto. Na trama, Tormenta é inesperadamente atraído, por um
portal dimensional que apareceu do nada, para uma misteriosa selva, em um mundo
semi pré-histórico. Lá, Tormenta enfrenta feras selvagens, dinossauros,
homens-lagarto, se envolve com uma sensual princesa de uma civilização
selvagem, vira gladiador em uma cidade perdida na floresta, ganha a companhia
de um chimpanzé e de um garoto indígena, veste várias roupas diferentes...
enfim, um grande número de referências às jungle comics – e com uma pitada de
sensualidade proporcionada pela tal princesa, que quer fazer de tudo para que
Éder fique com ela. Mas, como disse, é o roteiro mais fraco da coleção. Pior
que a arte de Menezes não ajude muito, visto a idade avançada do artista.
Assim, a arte do gibi é meio prejudicada pelas pinceladas de preto e pelos
erros de proporção. A edição # 6 tem capa de Menezes com cores de Adauto Silva,
e pin-up de Edu Manzano; e a # 7 tem
capa de Adauto Silva e ilustrações de Marcos Fabiano Lopes (que faz um TORMENTA
em Super Deformed, ou SD) e José Menezes.
Agora,
aguardemos os futuros gibis do herói. Nunca se sabe que tipo de aventura ele
futuramente irá viver. Mas esperamos que sejam aventuras boas.
Quem
quiser adquirir os gibis, escrevam para o e-mail smeditora@yahoo.com.br. Os
preços são variantes: as edições 1, 2, 3, 4 e 7 custam R$ 3,00, e as edições 5
e 6 custam R$ 4,00. Conheçam mais publicações da editora acessando o blog da
Júpiter 2 (link acima).
Para
encerrar, as minhas ilustrações pin-up.
A primeira vocês viram acima, uma ilustração do herói. Mas, como
reconhecidamente não ficou tão boa quanto eu esperava, olhem aqui outra, do
TORMENTA acompanhado de sua esposa Rita.
Na
próxima postagem, o crossover entre Vulto
e Tormenta.
E
deixo aqui um recado para o editor da Júpiter 2: por favor, Salles, não me
odeie. Se falei algo que não devia aqui, não foi por mal.
Até
mais!
2 comentários:
Oi Rafael Grazel muito legal esse Heroí brasileiro chamado Tormenta, gostei da roupa e do cabelão dele , é o que deu um up na imagem e o deixou legal. Ele sem a roupa também tem esse cabelão?
Adorei também os fofos desenhos que vc fez, bem legal seu traço lembra o menino maluquinho >D
Muito obrigado pela matéria sobre meu herói fiquei honrado também com sua arte em homenagem à ele! Sucesso!!!
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