Olá.
O
universo das HQ brasileiras foi pego de surpresa esta semana: no último dia 11
de setembro, faleceu em Salvador, Bahia, o cartunista Antônio Luiz Ramos Cedraz, ou simplesmente
Antônio Cedraz, o criador da Turma do
Xaxado. O cartunista foi vítima de complicações de um câncer no intestino.
Certa vez, já escrevi sobre Cedraz e sua maior criação, por isso não podemos
fugir de relatar tal fato.
(Fonte da imagem: www.universohq.com.br)
Cedraz
nasceu em Miguel Calmon, na Bahia, a 4 de maio de 1945. Cresceu em Jacobina,
Bahia, onde se formou professor e teve seus primeiros contatos com os
quadrinhos. Sua atuação como cartunista e criador de personagens vem desde o
final dos anos 70, quando criou personagens como Zé Bola, Joinha e Sabino,
que apareceram em diversas publicações, independentes e da grande imprensa.
Mais tarde, junta-se a esse elenco o personagem Pipoca, que ganharia inclusive um gibi próprio.
Mas
pode-se dizer que foi com a criação de Xaxado
que Cedraz ganhou na loteria: o menino nordestino, que começou a ser publicado
em tiras a partir de 1998, no jornal A
Tarde de Salvador, BA (primeiro no caderno Municípios, depois no Caderno
2), foi quem tornou Cedraz conhecido nacionalmente, e praticamente eclipsou
todas as suas criações anteriores. Xaxado
teve suas tiras e histórias longas reunidas em diversos livros e gibis,
lançados pelo autor de forma independente ou com o apoio de grandes editoras,
como a HQM, a Escala e a Martin Claret. Sem falar que é uma das tiras mais
reproduzidas em livros didáticos distribuídos em escolas. O esforço que Cedraz
fez para licenciar o personagem nunca foi pequeno, sempre usando a pegada
nacionalista em suas histórias – mas como competir com os personagens
estrangeiros neste mercado de entretenimento cruel que é o brasileiro?
As
tiras de Xaxado são bem conhecidas por reunirem humor, retratos da vida do
Nordeste brasileiro, com seus tipos característicos e seu modo de falar,
poesia, lendas regionais, propósitos educacionais e crítica social, por isso o
Governo da Bahia usou o personagem em diversas campanhas educacionais, de
combate à dengue e reciclagem, entre outros assuntos de importância.
Xaxado,
neto de cangaceiros, é o bom menino do Nordeste, sempre buscando fazer o que é
certo. Sua turma de amigos reúne tipos como: o preguiçoso e atrapalhado Zé
Pequeno; a namorada deste, Marinês, incansável defensora da natureza; Marieta,
a menina inteligente, leitora voraz e que está sempre corrigindo os amigos;
Arturzinho, o “mini-coronel”, sujeitinho riquinho e ganancioso; e Capiba, o
menino que quer se tornar um grande cantor. Também participam das histórias
personagens como o Padre, o Saci-Pererê e animais de estimação, como o jumento
Veneta e o cachorro Rompe Ferro.
Xaxado
reúne muitas das memórias de infância de seu autor. Sempre primando pela
crítica social, pela vida e pelas esperanças do nordestino que vive em terras
áridas, à margem da sociedade e dos governos, pelas mensagens ecológicas, pelo
uso de lendas populares brasileiras... desse modo, a mensagem de Cedraz é
universal, independente de que região do Brasil o leitor esteja.
Ah:
pelo seu trabalho, Cedraz ganhou diversos prêmios no Brasil e no exterior,
entre eles, o do 2º Encontro Internacional de Histórias em Quadrinhos de Araxá,
MG, em 1989, seis HQ Mix e o título de Mestre do Quadrinho Nacional do prêmio
Ângelo Agostini. E, no início de 2014, foi homenageado numa exposição em Salvador.
Por
tudo isso, Cedraz vai deixar saudade. Os nossos cartunistas veteranos estão
indo cedo, antes que a gente perceba e possa homenageá-los.
Mas
como eu poderia fazer minha homenagem a Cedraz? Não sei se adianta, mas
colocando o Xaxado, cabisbaixo, de costas, andando pelo semiárido, sem destino.
Qual será o destino dele após a ida de seu pai? Poderá ele se tornar retirante,
diante de seu Nordeste constantemente ressequido? Nem tive coragem de tentar
desenhar seu rosto.
Tu
serás lembrado, Cedraz. Não te preocupes.
Até
mais!
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