Olá.
Na
última quinta-feira, dia 11 de setembro – 13º aniversário dos atentados às
Torres Gêmeas de Nova York – os quadrinhos brasileiros, como já noticiado aqui
no blog, perderam um de seus maiores lutadores da causa, Antônio Cedraz, falecido
após lutar contra um câncer no intestino.
Desde
1998, quando Cedraz começou a publicar as tiras de seu personagem mais
importante, Xaxado, o cartunista
baiano dedicou muitos de seus esforços para o licenciamento e a divulgação do
personagem, tipicamente brasileiro. Até hoje, o pequeno nordestino e seus
amigos apareceram em inúmeras publicações, independentes ou apoiadas por
editoras. Na parte independente, Cedraz chegou a criar uma editora própria, a
Editora Cedraz.
Vale lembrar que, anterior a Xaxado, Cedraz publicou outros personagens, como Zé Bola, Joinha, Sabino e Pipoca, cada um com seu núcleo de amiguinhos. Com o sucesso de Xaxado, Cedraz praticamente largou de mão seus outros personagens, voltados à vida urbana, para se dedicar a esse personagem voltado ao Nordeste rural, de secas e esperança de chuva, de desigualdade social e vida simples, de folclore e lendas. A pegada nacionalista garantiu o sucesso duradouro de Xaxado pelo Brasil.
Da
grande quantidade de material referente a Xaxado,
entre livrinhos de histórias ilustradas, coletâneas de tiras e pequenos álbuns
temáticos, podemos destacar, inclusive, o álbum especial 1000 Tiras de Quadrinhos, publicado inicialmente de forma
independente e republicado posteriormente pela editora Martin Claret. Mas eu
tenho aqui algo de relevância: os quatro números do gibi do personagem,
lançados pela editora HQM em parceria com a Editora Cedraz, em 2010.
Desses
gibis, já havia falado no blog, porém não cheguei a aprofundá-los em resenhas,
mais noticiar a chegada dos mesmos em bancas. Hoje isso muda.
Vale
ressaltar: Cedraz contava com uma equipe de produção para auxiliar na confecção
das tiras de jornal, das histórias longas e das ilustrações. O gibi só seria
viável com o auxílio dessa equipe, mas Cedraz, além de escrever, desenhar e
colorir as histórias, supervisionava os trabalhos da equipe.
A
HQM, na época, também publicava em bancas o novo gibi do personagem Senninha. Hoje, a editora praticamente
parou de investir em publicações brasileiras – seu carro-chefe é a série
estrangeira The Walking Dead. Oh, que
chances o quadrinho brasileiro tem diante dos “blockbusters” estrangeiros?
Bão.
Os quatro gibis contavam com a seguinte equipe de produção: roteiros de Antônio
Cedraz e Tom S. Figueiredo; Desenhos e Arte-Final de Antônio Cedraz, Sidney
Falcão e Mariel Viana; Cores de Vítor Souza e Antônio Cedraz; Colaboração de
Fábio Maltez e Marcos Franco. Além de histórias longas e tiras de quadrinhos, o
gibi também contava com páginas de passatempos, curiosidades e anúncios para
licenciamento do personagem e de produtos da Editora Cedraz. Todos os números
tinham preço de capa de R$ 2,90 e 36 páginas cada.
E,
em todas as histórias, transparece a riqueza cultural do Nordeste brasileiro,
com fartas doses de humor, crítica social, consciência ecológica, folclore
nacional e um pouco de crítica à política, através das pequenas aventuras de
Xaxado, o bom menino, e seus amigos Zé Pequeno, o preguiçoso, Marieta, a
intelectual, Marinês, a ecologista, Arturzinho, o “mini-coroné”, Capiba, o
aspirante a cantor, o padre e outros. As aventuras não se limitam apenas à
pequena vila do interior onde eles vivem; volta e meia, os personagens podem
ser vistos na cidade grande ou em espaços imaginários, povoados de lendas
brasileiras, como sacis, mulas-sem-cabeça e caiporas. Impossível não lembrar do
Chico Bento de Maurício de Sousa.
Vejamos
então as histórias de cada gibi, priorizando, aqui, todas as histórias de mais
de uma página.
XAXADO # 1
Fevereiro
de 2010.
Histórias:
em Uma Lição Inesquecível, Xaxado e
Zé Pequeno resolvem matar aula, e acabam se envolvendo com um estranho velhote
que se revela uma ameaça; em Lugar
Assim..., o confronto entre a realidade e os sonhos dos nordestinos; em A Pescaria, Arturzinho se aproxima de Zé
Pequeno com propósitos que revelam-se escusos; em O Dedo-Duro, Arturzinho conta com uma ajudinha “mitológica” para
ganhar no esconde-esconde – mas essa “ajudinha” vai levar a dele depois; em Orelha de Abano, qual seria o verdadeiro
motivo para Zé Pequeno brigar com alguém que vem cantar sua namorada Marinês? Em
Mãe, Arturzinho recebe uma
“carraspana” da Mãe D’Água, a entidade mitológica protetora das águas (a lição
que ele recebe também vale pra nós); e em O
Som que Semeia a Vida, Xaxado encontra um chapéu e uma sanfona capaz de
operar milagres do sertão – participação especial do eterno Rei do Baião, Luiz
Gonzaga. Xaxado, Zé Pequeno, Marinês e Marieta completam o gibi com tirinhas e
histórias curtas.
XAXADO # 2
Março
de 2010.
Histórias:
em O Anão dos Trilhos, Xaxado, em um
passeio na cidade grande, enfrenta, numa estação de metrô, uma criatura
maligna, porém pouco esperta; em Santa
Refeição, o padre estrela uma versão “estendida” de uma anedota popular; em
Liberdade, Marinês às voltas com
passarinhos – quem é mais feliz? Em Os
Pássaros, Xaxado e Zé Pequeno decidem ajudar um passarinho a aprender a
voar; e em De Quem é Esse Jegue??,
Xaxado e Zé Pequeno numa briga, intermediada pelo Padre, por causa de um
jumento muito estranho – e interesseiro. Completam o gibi histórias curtas e
tirinhas com Xaxado e Zé Pequeno.
XAXADO # 3
Julho
de 2010.
Histórias:
em A Princesa e o Dragão, inspirada
nos contos de fada e na poesia de cordel (e por isso narrada em rimas), o
clássico enredo das lutas entre cavaleiros para salvar uma princesa (Marieta)
de um monstro – qual deles vai se dar melhor: Capiba, Zé Pequeno, Arturzinho ou
Xaxado? Em Passado Esperança, a turma
recebe a visita de uma estranha criatura, que parece ter as melhores intenções;
em Bebê Radical, Xaxado passa por um
tremendo apuro para levar um bebê para a casa dele; Dengue é uma pequena história de utilidade pública – com o sempre
falado tema da prevenção dessa problemática doença através do combate ao
mosquito; em Brincadeira de Mau Gosto,
Zé Pequeno resolve assustar todo mundo, mas acaba levando a dele; e em Cuidado: Frágil, Zé Pequeno faz de tudo
para proteger um espelho. Completam o gibi histórias curtas de Marinês, Zé
Pequeno e Xaxado. E estreia uma seção de cartas.
XAXADO # 4
Agosto
de 2010.
Histórias:
em Uma História da Noite, Marinês
ouve de seu avô uma lenda popular sobre a origem da noite e do luar –
envolvendo uma história de amor proibido e um apelo ao combate à intolerância
racial; em O Eco, Capiba tenta fazer
eco no precipício, mas os melhores resultados vem de Marinês; em O Pedido, Zé Pequeno exagera ao formular
seu desejo a uma estrela cadente; em Despacho
na Encruzilhada, o confronto entre superstição, razão e fome diante de um
terreiro de macumba; Segurança no
Trânsito tem por gancho um pequeno incidente para informar aos leitores dos
perigos do trânsito; e, em A Curiosidade
Matou o Gato, Xaxado e seus amigos acabam sendo pegos na “brincadeira” de
um malandro. Xaxado e Zé Pequeno completam o gibi com histórias curtas e tiras.
Hoje
em dia, para encontrar os gibis, só vasculhando nos sebos e na internet. Não
sei dizer agora se é possível, mas dá para olhar no site da editora HQM (www.hqmeditora.com.br) ou
no site oficial do Xaxado (www.xaxado.com.br).
Assim,
fica nossa homenagem ao saudoso Antônio Cedraz. Se for possível, traremos
brevemente outros livros com Xaxado e
sua turma para vocês.
Para
encerrar, o que tenho de mais regionalista para trazer a vocês são tiras do meu
gauchão, o Teixeirão. Estas tiras, que incluem uma versão “reciclada” de uma
antiga tira que saiu na revista Quadrante
X, são de transição entre o arco de tiras que passou e o atual, cuja
publicação já está em curso em http://naestanciadoteixeirao.blogspot.com.br/
Apoiem
o quadrinho nacional! Os nossos cartunistas estão indo mais rápido do que
podemos lembrar deles!
Até
mais!
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