Olá.
Estamos em tempo de crise institucional, em que não se sabe mais no que acreditar. Nem mesmo o mercado de gibis brasileiro, por esses dias, escapa de cair no descrédito.
Vi na internet uma notícia estarrecedora: o gibi bimestral do Recruta Zero, pela Pixel, acaba de ser suspenso. Não vai mais ser publicado. A resistência acabou. Agora a Pixel vai se concentrar nos álbuns; os gibis de banca chegaram ao fim. E as resenhas periódicas no Estúdio Rafelipe também.
Ao menos uma instituição quadrinhística ao qual dou plena atenção permanece nesse tempo de incertezas: o gibi do Miracleman, pela Panini. A editora ao menos garante a publicação, até o fim, de toda a fase escrita por Alan Moore, ops, "Escritor Original", e o início da fase de Neil Gaiman - tudo anteriormente remasterizado e publicado no exterior pela Marvel Comics (desnecessário falar novamente dos antecedentes do personagem em questão). E o melhor: o preço não foi reajustado ainda.
MIRACLEMAN # 14
Com data de capa de janeiro de 2016, mas lançado agora, em março de 2016.
E continua o livro três do personagem, Olimpo. E continua a fase do "Escritor Original". E continua a arte de John Totleben, responsável também pela capa acima. E continua o desperdício: das 52 páginas da edição, contando capa, 16 são da história principal; 23 para as páginas de bastidores, basicamente as artes originais e esboços de Totleben; e cinco para uma HQ da fase clássica do Marvelman de Mick Anglo. As restantes, páginas de créditos, só uma arte pin-up (capa alternativa de Brandon Peterson) e duas páginas só com o logotipo do herói, por falta de material para preencher. Mas, ao menos, o episódio de hoje, Panteão (Miracleman 14, abril de 1988), é o menos "cerebral" do arco. Digo menos "cerebral" porque o leitor vai conseguir entender mais facilmente - já há menos complicação com a aproximação do clímax do livro. Continuamos acompanhando as memórias do herói sobre os acontecimentos de 1985 a 1988, enquanto o vemos em uma dança cósmica para espairecer - e, aqui, Totleben teve grande cuidado com a anatomia: cada quadro em que Miracleman aparece dançando é um verdadeiro estudo artístico. O episódio começa com boas notícias para o planeta Terra - em uma conferência com os alienígenas Ferreiros Cósmicos e com os Qys, Miracleman e Miraclewoman conseguiram fazer com que nosso planeta fosse incluído no Espaço Inteligente, e, portanto, um planeta importante ao restante do universo; mas com más notícias ao próprio Miracleman: a esposa, Liz, não consegue suportar as rápidas mudanças dos paradigmas de vida e se afasta do herói por um tempo; e, ainda por cima, a filha do herói, Winter, mostra-se um ser extraordinário: fala fluentemente, pode voar e demonstra ser muito inteligente - para um bebê. Até mesmo o pai tem dificuldade para acompanhar o raciocínio da pequena. Enquanto isso, Miracleman e Miraclewoman, na companhia dos ferreiros cósmicos Asa Chorn e Phon Mooda, começam seu trabalho de acompanhar a evolução da humanidade e reunir outros seres com poderes para formar um panteão, a fim de reorganizar a vida terrestre. Mas vem o pior: Liz se afasta de Miracleman em definitivo; Winter também migra para as estrelas para se juntar aos Qys; e, por conta de tudo isso, o herói resolve assumir sua forma poderosa em definitivo, e chega a simular o suicídio de seu alter-ego Mick Moran. Miracleman ainda passa um tempo em um refúgio construído na Fossa das Marianas, o ponto mais profundo do planeta Terra. Mas a apoteose vem no final do episódio, trazendo péssimas notícias: ao ser estuprado (isso mesmo) por colegas de escola, o garoto Jonathan Bates consegue libertar seu alter-ego maligno, o Kid Miracleman, e já sai promovendo chacina. Finalmente a história chega a seu clímax dramático. Depois da página dos bastidores, finalmente vem a conclusão do folhetim apresentado nas edições anteriores: Marvelman e o Grande Mistério de Gargunza - parte 6 - A Queda de um Ditador (Marvelman 77, fevereiro de 1955), roteiro e arte de Mick Anglo. Finalmente saberemos como termina a tramóia envolvendo Marvelman, o Dr. Gargunza e o ditador da Boromânia, Relti. Claro que a solução para o caso, encontrada por Anglo, é bem fácil, típica dos heróis dos anos 1950. Quem duvida que Marvelman vencerá? O inesperado é a forma como Gargunza termina a história, mesmo depois de tudo o que fez - e é até compreensível, já que, no caminho, acabou sendo traído.
Quando escrevo estas resenhas, constato, estarrecido, edição a edição: pensei que entendi tudo sobre Miracleman e as HQ inglesas de ficção científica, mas descubro que entendi muito pouco. Cada nova edição entra em choque com o que anteriormente havia entendido a respeito. Em minha defesa, esclareço que estou entre os tantos mortais que só conheceram o clássico das HQ agora, e as recebo com o deslumbramento de uma verdadeira novidade. Deveria eu revisar as postagens anteriores?
Bem, de todo modo, a presente edição sai a R$ 7,50. Não houve aumento, até o momento, nesses tempos de reajustes econômicos. E isso é um consolo.
Para encerrar, uma nova ilustração especial do Miracleman, como tenho feito desde que comecei a resenhar esta série! Aqui, desenho alguns dos membros do novo panteão: da direita para a esquerda, Miracleman, Miraclewoman, e os ferreiros cósmicos Phon Mooda e Asa Chorn. Sabem que reparei só mais recentemente, depois que havia feito uma fanart do Asa Chorn, que os Ferreiros Cósmicos possuem quatro narinas?!
Rezemos agora para que a continuidade da série nas bancas não seja comprometida, nesses tempos de incertezas, em que não sabemos sequer se teremos dinheiro para comprar a próxima edição...
Até mais!
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