Olá.
Quanto
tempo faz que neste blog, não escrevo algo a respeito de Recruta Zero, um dos
maiores clássicos dos quadrinhos de humor americanos? Como estará a situação do
Quartel Swampy depois da ascensão de Donald Trump? Quanto a essa segunda
pergunta, não sei responder a vocês...
Venho
hoje falar, isso sim, do mais recente álbum do personagem, lançado pela Pixel
Media, selo do grupo Ediouro. Apesar de já fazer cerca de seis meses desde que
foi lançado, é o mais recente, já que nenhum outro foi lançado.
Aqui
está: O LIVRO DE OURO DO RECRUTA ZERO – volume 4.
Em
dezembro de 2015, a Pixel Media encerrava a publicação do almanaque bimestral
do Recruta Zero, reduzindo, assim, as opções dos fãs de quadrinhos mais
ecléticos, e que procuram os seus em bancas. Todos os gibis de banca, aliás,
foram cancelados. A Pixel, atualmente, está se concentrando nos álbuns. Ou
estava: desde janeiro de 2017, quando seu último álbum lançado foi o da
quadrinização do filme Moana, não
temos mais notícias de novos lançamentos da editora. Nem das quadrinizações dos
filmes da Disney / Pixar, nem dos álbuns com personagens da megacorporação King
Features Syndicate.
Mesmo
antes do encerramento do gibi, a Pixel começou a publicar álbuns com
compilações de tiras de Recruta Zero. O primeiro volume apareceu em maio de
2014; no mesmo ano, em novembro, veio o segundo volume. O terceiro saiu em
outubro de 2015. E este quarto volume, foi lançado em setembro de 2016. Em
várias praças, devido à distribuição setorizada, o volume 4 chegou agora, em
março de 2017, às bancas.
Bem.
Em 2015, Beetle Bailey, criação do
estadunidense Mortimer Addison Walker (ou o nome certo seria Addison Morton
Walker?), o Mort Walker, completou 65 anos de publicação ininterrupta – o
personagem nasceu em setembro de 1950, como uma sátira à vida universitária;
mas, diante da ameaça de cancelamento da tira, e diante da comoção causada pela
Guerra da Coreia, deflagrada em 1951, Walker resolveu alistar seu personagem no
exército, de onde não mais saiu. E, em pouco tempo, Beetle Bailey se tornou a mais importante sátira às forças armadas,
e até hoje é uma das tiras mais lidas do mundo. Atualmente, o titular da tira é
o filho de Mort, Greg Walker, com a supervisão do pai.
Bem.
Para se diferenciar dos demais álbuns já lançados, o quarto volume do LIVRO DE
OURO DO RECRUTA ZERO se propõe a ser uma pequena aula de história do
personagem: reunindo tiras de diversas épocas e estilos de desenho, mostrando a
evolução do personagem e de seus coadjuvantes, que ajudam a fazer a fama do
Quartel Swampy em todo o mundo. A seleção de tiras compreende dos anos 1950 a
1980. Todos os capítulos e subtítulos são complementados com textos
explicativos do superespecialista em Zero no Brasil, Otacílio “Ota” d’Assunção
– que, recentemente, lançou livros novos, independentes, compilações das tiras
que ele publica com regularidade no Facebook.
São
quatro capítulos, divididos em subtítulos, apresentando a evolução de cada um
dos personagens – e, por consequência, do traço de Walker, que, do traço mais
esguio e “espichado” cheio de detalhes, foi ficando mais arredondado e
simplificado, por conta da progressiva redução no espaço dedicado a quadrinhos
nos jornais. Mas as características dos personagens praticamente são as mesmas,
principalmente de Zero, o nosso eterno recruta preguiçoso.
Well.
No primeiro capítulo, Os Clássicos. Começando
com o nosso querido Zero (Beetle Bailey). Com algumas pouquíssimas amostras do
seu período inicial, na universidade, quando usava um cachimbo e o que lhe
cobria os olhos era um chapéu; depois, amostras diversas de sua vida, desde o
alistamento, no Quartel Swampy, incluindo burradas, períodos de “descanso” e
conflitos com o Sargento Tainha. O Sargento (Sgt. Snokel) é quem ocupa o
subtítulo seguinte, mostrando toda sua evolução. De um sargento mais magro, com
dois dentes saindo da parte de cima da boca, se tornou o nosso conhecido
gorducho com um único dente no maxilar inferior. O livro também mostra uma
raridade: uma página dominical com a única menção de que o Sargento já foi
casado e com filhos; essa característica foi descartada na continuidade. A
timidez diante das mulheres se tornou uma das principais características do
Sargento. De resto, tudo o que foi definido, desde o surgimento do personagem,
continua o mesmo: a agressividade, a gulodice, a boçalidade; o típico militar
que praticamente não sabe fazer outra coisa da vida. E claro que é Zero quem
acaba pagando: ambos se complementam. O Sargento impõe ordens, e Zero as
desobedece.
No
prosseguimento do capítulo 1, o próximo a ser analisado é o cozinheiro Cuca
(Cookie), cuja mudança mais substancial foi mesmo a substituição do chapéu, o
quepe de cabo do exército, pelo chapéu de cozinheiro. Mas sua (má) técnica
culinária sempre foi a mesma. A seguir, o mulherengo Quindim (Killer) ganha seu
próprio subtítulo. E, fechando o capítulo, Dentinho (Zero), o adorável imbecil.
Você sabia que a tira chegou a ter um soldado mais imbecil que o Dentinho? É
Ozone, um dos vários personagens que foram descartados da continuidade depois
de algum tempo.
Capítulo
2: Os Oficiais. Com a análise
evolutiva da súcia de “figurões fardados” que (acham que) mandam no Quartel
Swampy. Começando pelo General Dureza (Amos Halftrack), o pouco competente
líder da tropa, sempre no aguardo de uma carta do Pentágono que nunca vem. A
seguir, o Capitão Durindana (Captain Scabbard), cuja maior função é servir de
“escada” aos demais; inclui uma rara aparição de sua bela esposa. A seguir, o
jovem e excêntrico Tenente Escovinha (Lt. Sonny Fuzz), recém saído da escola de
oficiais, e tentando colocar ordem no quartel – mas vá tentar convencer o velho
General Dureza disso. De aspecto evolutivo, o mais notável é que Escovinha, no
início, tinha bochechas inchadas, como se estivesse sempre mastigando chiclete.
Inclui ainda os embates psicológicos com o Sargento Tainha. Em seguida, no
prosseguimento do capítulo, o Capelão (só nos EUA ele é chamado pelo nome
completo, Capelão Staneglass), o “pilar moral” de uma tropa pecaminosa. A
seguir, temos Oto, o cachorro de estimação do Sargento Tainha, o personagem que
mais evoluiu. De um simples buldogue mal-humorado que vestia apenas uma faixa,
ele se tornou o conhecido cachorro humanizado, vestido sempre com farda do
exército, andando sobre duas patas e tendo tiradas filosóficas, às vezes. Mas,
no mais, sempre foi a cara de seu dono. Para fechar o capítulo, o Tenente
Mironga (Lt. Flap), o oficial negro, criado depois que Walker recebeu uma
puxada de orelha dos editores de uma revista dirigida ao público afro-descendente.
Capítulo
3: O Resto da Tropa, apresentando os
outros soldados do Quartel Swampy, que aparecem pouco atualmente, mas
permanecem firmes e fortes na tira. Começando pelo cambista Cosmo, e sua
lojinha de badulaques no alojamento da Companhia A (a mesma da qual fazem parte
Zero, Quindim, Dentinho e etc.); A seguir, Rocky, o “menino” rebelde, a voz
antissistema dentro do Quartel; e Julius, o filhinho de mamãe e motorista do
General Dureza. Mas espere: eles esqueceram de falar do intelectual Platão!
Como ele não ganhou seu próprio capítulo, editores da Pixel?!
O
quarto e último capítulo é dedicado às Mulheres,
que ajudam a abrilhantar o elenco masculino. Começando pela Sargento Luísa
Lorota, a “alma gêmea” do Sargento Tainha – só falta ele admitir isso. A seguir,
temos as secretárias do General Dureza: a competente, porém desengonçada Srta.
Blips, e a sensual Dona Tetê (Miss Buxley), que tantos problemas trouxe a Mort
Walker, mas continuou uma das personagens favoritas dos leitores. Atualmente, e
apesar das investidas do tarado General Dureza, Tetê namora Zero, que já teve
uma porção de namoradas durante a evolução da tira – as mais importantes foram
Galena (Buzz), dos tempos da universidade, e Mimosa (Bunny) – esta última não
aparece neste volume. Fechando o capítulo, temos Martha Dureza, a esposa
linha-dura do nosso General, e as meninas do Mamma Rosa, as atendentes da
pizzaria favorita do Sargento Tainha.
Para
fechar o livro, temos um crossover. Antes, é preciso contextualizar: em uma
tentativa de devolver Zero à vida civil, Walker criou, em 1954, uma irmã para
Zero, que recebeu, no Brasil, o nome de Zazá. Casada, ela inicialmente teve
três filhos (dois gêmeos bivitelinos e um bebê), e era morena. Pouco depois,
Zero voltaria ao exército, mas Walker resolveu dar a Zazá e sua família uma
tira própria: Ao núcleo já formado – Zazá (que acabou ficando loira), o marido
Cazuza, os gêmeos Zizi e Zuzu e à pequena Zezé, foi acrescentado o adolescente
Zozó; e assim, nasceu Hi & Lois
(Zezé & Cia), que marcou o início de carreira do desenhista Dik Browne,
mais tarde vencedor com seu Hagar, o
Horrível. Zezé & Cia. se tornou uma tira tão vendida quanto Zero –
afinal, trazia a assinatura de dois renomados cartunistas americanos. Bem:
neste volume, é apresentado um arco de tiras produzido em 1994, em que o
Recruta Zero faz uma visita a Zazá e sua família. Podemos dizer que é um
crossover, já que cada tira tomou rumo próprio.
Bem.
O álbum traz um bom material, mostra mesmo a evolução da tira desde os
primórdios. Mas tem os seus tropeços, que são perdoáveis (como o já citado
injusto esquecimento de Platão). Quer um material melhor? Então procurem os
dois volumes de O Melhor do Recruta Zero,
publicados pela L&PM em 2007. Nesses livrinhos tem material mais
completo: mais amostras do período de Zero na universidade; mas tiras com a
presença de Zazá e sua família; mais textos explicativos de autoria do próprio
Walker.
Podemos
dizer, no entanto, que O LIVRO DE OURO DO RECRUTA ZERO # 4 complementa O Melhor do Recruta Zero. Quem quiser
conhecer mais a respeito da tira, tem de ter na estante todos esses livros.
Pena que outros dois livros muito importantes são difíceis, atualmente, de
achar: Recruta Zero – Ano Um, publicado
pela Opera Graphica em 2006; e Recruta
Zero, Os Anos Dourados, publicado pela Kalaco em 2011. Ambos, álbuns
gigantes, traziam os primeiros quatro anos de publicação da tira.
De
todo modo, O LIVRO DE OURO DO RECRUTA ZERO # 4 está nas bancas: ao preço de R$
24,90. Preço alto, mas é justificável: como os outros álbuns, é totalmente
colorido, impresso em papel couché e com capa cartonada. Por uma edição melhor,
vocês certamente vão ter de pagar muito mais.
Para
encerrar, trago a vocês novas amostras recentes de meus personagens praianos,
os Bitifrendis. A produção das tiras segue em seu blog, assim como as de
Letícia e Teixeirão – embora, pelo que eu mesmo constato, essas tiras não
estejam passando pela sua melhor fase. Talvez seja pelo desânimo que acompanha
a situação do Brasil...
E
não estranhem se a atividade dos blogs ficar reduzida pelos próximos dias:
estarei envolvido em alguns projetos pessoais, que demandam muito de minha
atenção. Porém, procurarei atualizar regularmente os blogs da Rede Rafelipe.
Ainda mais com meu folhetim quinzenal, Macário,
em andamento.
Aguardem
novidades.
Até
mais!
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