Olá.
Em
eras de futuro incerto para vários setores da vida nacional, e quando se fala
muito em crise no setor editorial brasileiro, que afeta até mesmo os editores
independentes, nada como receber notícias de amigos dos quais há muito não
recebíamos notícias.
No
caso do mundo das HQ brasileiras, um desses amigos que não davam notícias era
Roberto Guedes, o criador do super-herói Meteoro. Poucos são os fãs que
realmente sabem o que ele esteve fazendo, entre maio de 2016 e agora. Porque só
agora, em setembro de 2018, é que ele lançou um novo número do ALMANAQUE
METEORO, o sétimo; uma saga das HQB que já está ganhando contornos dramáticos.
NOTÍCIAS...
Desta
vez, o tempo de espera entre os números 6 e 7 do ALMANAQUE METEORO foi muito
maior: 28 meses, mais ou menos, ou pouco mais de dois anos! Levando em conta
que o tempo de espera entre os números 4 (fevereiro de 2013) e 5 (novembro de
2014) foi de 21 meses, e entre o 5 e o 6 (maio de 2016) foi de 18 meses...
Mas
há de se entender que houve problemas pessoais envolvidos nisso, somado ao fato
de que o mercado independente é um terreno complicado para quem sonha em fazer carreira
com HQs – desenhando, ou escrevendo-as, ou escrevendo sobre elas.
Nesse
meio tempo entre os lançamentos dos últimos almanaques, Guedes conseguiu
aproveitar para lançar outras publicações. Em julho de 2017, ele lançou o livro
Jack Kirby – O Criador de Deuses, a
biografia brasileira do “Rei” dos comics, nos moldes da biografia de Stan Lee,
que ele também escreveu; no mesmo mês, ele publicou o primeiro número do
informativo Status Comics, ressuscitando
seu trabalho iniciado no final da década de 1980. E agora, entre setembro e
outubro de 2018, sua mais nova empreitada foi o lançamento de uma biografia do
quadrinhista brasileiro Gedeone Malagola (Gedeone
– O Guerreiro dos Quadrinhos), pela editora Opera Graphica, já à venda. E, junto com esta, o novo
ALMANAQUE METEORO.
PARA OS QUE NÃO SE LEMBRAM DO ÚLTIMO
ALMANAQUE...
Bão.
Vamos recordar rapidinho. Roberto Guedes, roteirista, editor e pesquisador de
HQs, criou o super-herói brasileiro Meteoro em 1992. Ao longo das décadas de
1990 e 2000, ele tentou emplaca-lo em diversas publicações. Isso incluiu
reformular o personagem algumas vezes – no total, foram três visuais
diferentes. Incluiu ainda lançar três números pela finada editora Júpiter 2 –
em 2007, 2010 e 2012.
Aí,
no outono de 2010, ele resolve lançar, pelo selo Guedes Manifesto, o ALMANAQUE
METEORO. Aqui, a tentativa deu mais resultado, ainda que o Guedes tivesse de
dar mais uma mexida no cânone do herói. O ALMANAQUE METEORO era uma revista
diferente: além das páginas de quadrinhos, do Meteoro e de outros personagens,
criados por Guedes (como Zan-Garr da
Valáquia e Patrulheiro Audacioso)
ou por outros amigos das HQB (como o Chet
de Wilde Portela, o Mylar de Eugênio
Collonese, e aparições do Capitão 7,
do Fantasticman e da heroína
estrangeira Jonni Star), trazia
matérias e entrevistas sobre o mundo das HQ, nacionais e internacionais. Os
três primeiros números tinham, cada um: 52 páginas (contando capa), tamanho
23,5 x 16,5 cm em média e capa cartonada e colorida, com miolo P&B. Saíram
em: # 1, outono de 2010; # 2, inverno de 2010; e # 3, outono de 2011.
Mas,
em 2013, ele deu uma mexida também na revista. Limou as páginas de matérias e
entrevistas, deixando só as de quadrinhos. O # 4, lançado em fevereiro de 2013
– e a edição mais malfeita da coleção – saiu em tamanho 20,5 x 14 cm e 36
páginas (contando capa).
O #
5, lançado em novembro de 2014, também saiu com 36 páginas (contando capa), mas
em tamanho maior – 21 x 15 cm. O # 6 seguiu o mesmo formato. Já firmado este
novo formato de publicação, parece já ter entrado nos eixos, e ficado mais aceitável.
É compreensível que as mudanças operadas no ALMANAQUE tenham sido por conta de
problemas operacionais, incluindo os financeiros. Mas Guedes parece decidido a
expandir seu universo quadrinhístico, já que nessa segunda metade da coleção,
ressuscitou um personagem do passado, o Guepardo,
e deu vida a outros, o Capitão X e Monique, esta última até então
engavetada, tal como a última aventura publicada de Zan-Garr.
Pois
bem. Agora, em setembro de 2018, portanto, saiu, finalmente um novo número do
ALMANAQUE METEORO. E, desta vez, mais enxuta: apenas 20 páginas, contando a
capa em papel mais fino (as edições anteriores saíram em capa cartonada), mas
mantendo o tamanho 21 x 15 cm, e agora com novo logotipo, cortesia de Robbie
Prado. E só com uma história, dando continuidade à saga do Mascarado Voador –
logo, abandonando o caráter de almanaque, ficando apenas o nome. Apesar disso,
o presente volume continua nos bons eixos. A espera de 28 meses valeu a pena –
finalmente saberemos como o Meteoro saiu da última situação em que se envolveu
(ele é um super-herói, duvida que ele possa sair vivo de qualquer enrascada que
lhe seja engendrada? E, em histórias de super-heróis, sabemos que o importante
não é saber que ele VAI sair da enrascada, porque ele VAI; o importante é o
COMO ele vai sair).
PARA OS QUE NÃO SE LEMBRAM DO METEORO...
Well.
Temos de relembrar também da saga do herói até aqui. Roger Mandari, um
adolescente meio desajustado, desprezado pelo pai jornalista, César Mandari,
morando com os avós (espinafrado constantemente pela avó e protegido pelo avô),
e que não conseguia falar com a garota da qual gosta, recebe do Fantasma
Encapotado, o membro arrependido de uma tal Sinarquia Universal, superpoderes
para combater um grande mal que ameaça a Terra. Nesse meio tempo,
Mandari/Meteoro combateu vilões espalhafatosos, se desentendeu ainda mais com o
pai, ganhou a confiança da população, perdeu essa mesma confiança após eventos
traumáticos... mas conseguiu conquistar o coração da estonteante Laura Lopez.
Qualquer semelhança com a saga do Homem Aranha não é mera coincidência – se tem
uma coisa da qual Guedes entende, é do fandom de super-heróis, principalmente
da Marvel Comics, e trouxe tais influências para suas HQ.
E,
cada vez mais, Guedes vai criando pontas soltas na história, a serem amarradas
futuramente. Há um misterioso bandido, chefão do submundo, o Encapuzado, do
qual sabemos muito pouco até agora; há uma trama envolvendo uma tal Lança do
Destino. Nem sabemos direito qual é a grande ameaça ao qual o Fantasma
Encapotado se refere. Mas a saga segue, na medida do possível.
No
último episódio publicado, o Meteoro aparentemente morre – na verdade, fica
entre a vida e a morte – após o combate contra o violento Aríete. Agora,
finalmente saberemos o que acontece a seguir – e com as pessoas que o cercam.
E, de quebra, Guedes ainda promove uma faxina no seu universo heroico.
CRISE NAS INFINITAS REALIDADES
A
grande preocupação de Guedes, desta vez, foi unificar, ou pelo menos oferecer
uma explicação para, todas as encarnações anteriores do herói.
Como
muitos fãs sabem, o herói já teve quatro versões distintas. Na primeira
encarnação, a identidade secreta do Meteoro se chamava Ric Marinetti, e seu
uniforme lembrava o do Superman. Isso quando o herói surgiu, em 1992. Ainda nos
anos 1990, surge a segunda encarnação de Meteoro / Ric Marinetti, com um
uniforme bem diferente. No início dos anos 2000, veio a terceira encarnação,
com o uniforme atual. E a identidade do herói ainda era Ric Marinetti.
Quando
Guedes resolveu resetar o universo do herói para o ALMANAQUE METEORO, a mexida
foi mais sutil. A identidade secreta do herói passou a ser Roger Mandari.
Algumas aventuras antigas do Meteoro ganharam uma atualização, apenas troca de
nomes. Mas Ric Marinetti não desapareceu por completo; dentro do ALMANAQUE,
Guedes fez Roger Mandari criar um herói chamado Zax, o Meteoro Humano, cuja
identidade secreta se chamava... Ric Marinetti.
Bem,
agora, Guedes vai promover a devida faxina no universo do Meteoro, de modo a
deixa-lo tudo mais coeso. A ideia é que as antigas encarnações do Meteoro não
sejam desconsideradas – pelo menos de todo – mas que Roger Mandari seja o
Meteoro definitivo. Se o modo como Guedes o faz vai convencer o leitor e os fãs
do personagem, aí é com estes...
Bão.
No episódio da vez, Crise de
Personalidade, com roteiro de Guedes, desenhos de Daniel Alves e arte-final
de John Castelhano (que colaboraram no último ALMANAQUE), o Meteoro é
hospitalizado. O incidente acaba mexendo com praticamente todas as pessoas ao
redor de Roger Mandari – seus avós, seu pai, Laura Lopez, o amigo Janos Jim.
Aliás, quase todos os personagens que apareceram nas edições anteriores do
ALMANAQUE METEORO fazem uma participação especial: o Fantasma Encapotado (que
conferiu a Roger seus poderes), Guepardo, Aranha Lunar, Sweet Suzy, Nico
Bazzuca... e até um dos agentes da C.L.A.V.A. (Comando Latino Americano de
Vigilantes e Agentes), uma organização do futuro inspirada nos feitos do
Meteoro (vide Meteoro Comics # 1, da
SM Editora/Júpiter 2). Disfarçado de médico, o agente da C.L.A.V.A. inicia um
procedimento para curar o herói hospitalizado, e acaba iniciando um estranho
processo: convalescente, o Meteoro enfrenta todas as suas encarnações passadas!
Enfrenta o Zax, seu próprio personagem, e as encarnações de Ric Marinetti como
Meteoro!
Só
depois desse combate é que vem a explicação, dada pelo Fantasma Encapotado. Tal
explicação é dada de modo a parecer familiar ao leitor de Marvel/DC, em tese já
acostumado a lidar com universos paralelos (ops, será que eu acabei dando
spoiler sem querer?!)
Mais
uma vez, Guedes fez uma boa escolha para dar forma a essa estranha aventura. O
traço de Alves e Castelhano é incrivelmente detalhado, mas desta vez as linhas
saíram muito finas, claras demais. Há tempos, se dispensou os cinzas utilizados
nas primeiras edições do ALMANAQUE. O roteiro deixa uma porção de pontas ainda
por amarrar, mas uma coisa é certa: Roger Mandari ainda vai ter muito com o que
lidar nas próximas edições.
E,
assim, ficamos sem saber, nesse período de incertezas, se continuaremos
acompanhando a série do Meteoro. Guedes, no editorial da revista, deu a
entender que a série continua. Quando sairá o próximo número do Almanaque? Será
que teremos de esperar de ano e meio a dois anos para tal?! Ou quem sabe
conseguiremos ler o quanto antes? Vai depender do desenrolar dos rumos da
economia brasileira... Mas pelo menos já diminuiu a angústia.
Mas,
por hora, vocês podem ajudar o nosso amigo Guedes: peçam o ALMANAQUE METEORO #
7! Custa R$ 17,00 (frete incluso). Vendas pelo e-mail: guedesbook@gmail.com. E
rápido, porque os exemplares autografados são limitados. E sabe-se lá se, no
momento em que escrevo, eles já não acabaram...
Saibam
mais sobre o que Roberto Guedes anda fazendo, entre cada número do ALMANAQUE
METEORO, em https://guedes-manifesto.blogspot.com.br/.
PARA ENCERRAR...
Não
tendo outra coisa que colocar, eu hoje ponho uns desenhos que fiz em momentos
em que estive “de bode” – uns ensaios de arte fantástica, arte-finalizados com esferográfica azul.
Quem
acompanha este blog, sabe que eu assumi um compromisso: não ficar um dia sem
desenhar, nem que seja uma folha de rascunhos. Parece simples, mas para mim
está sendo penoso, ainda mais que meus problemas pessoais ainda não terminaram.
Ter de encher uma meia folha de papel mesmo quando bate a preguiça... Já estou
nessa pelo terceiro ano consecutivo. E estou pensando em repensar esse
compromisso.
Mas
isso não quer dizer que eu vá parar de desenhar. Afinal, é preciso ao menos
abastecer meus quatro blogs com tiras e ilustrações...
Mas,
se ao menos eu tivesse a oportunidade de desenhar profissionalmente...
Até
mais!
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