Tinha planos diferentes, mas no fim decidi seguir a programação convencional: quinze dias depois, entra no ar mais um capítulo de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. No fim, nada de anormal...
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de agressão física, de nudez, de mau comportamento, de efeitos do excesso de bebida alcoólica e de depreciação humana.
E, de fato, as coisas engrossaram.
Morgiana e eu, que entramos no quarto de Luce
apenas por curiosidade, presenciamos tudo.
Âmbar levou um grande susto ao ver que era
Luce, e não eu, que estava a seu lado na cama. Ao ver que aquele não era o meu
quarto, mas o de Luce... e que ela havia transado com Luce, e não comigo.
Não podia ser de outra maneira: ela estava
bêbada naquela hora. Pelo jeito, muito mais bêbada que o “normal”.
Luce também se encontrava muito bêbado. Ele
acordou bastante grogue.
E foi com muita surpresa que ele recebeu a
primeira reação de Âmbar: ela lhe deu um tremendo arranhão no rosto com aquelas
unhas compridas. Luce acabou caindo da cama.
- Aaargh!! – gritava Âmbar. – Sem vergonha!
Monstro tarado!!
- Ei, o que está havendo?! – Luce gritou,
surpreso, acudindo o rosto ferido, sangrando.
- Seu sem-vergonha!!! Aproveitador! Cafetão! Ora
seu... aaarrrgh!!! – Âmbar, vermelha como um pimentão, avançou para cima de
Luce, tentando arranhá-lo mais, mas foi contida por Morgiana, que a segurou.
- Âmbar! Se acalma, moça!
- Me larga!! Me deixa fazer esse safado em
pedaços!!! Esse aaarrrgh...
- Se acalma, Âmbar! Pare de escândalo!
- Já disse para me largar, sua...! – e Âmbar
tentou arranhar Morgiana, mas a morena a segurava firmemente pelo abdome, como
se estivesse fazendo uma manobra Heimlich, e, por trás dela, evitava os golpes
de unha. Ainda assim, Morgiana tinha dificuldade de segurar Âmbar, que se
debatia.
Enquanto isso, eu acudia Luce, ajudando-o a
se levantar. Oh céus, Luce pelado, que visão! Pior é a constatação de que o
cara era bem dotado... que o p(...) dele era maior que o meu!
E não estava nada excitante uma gostosa nua, bêbada
e agindo violentamente, segura nos braços de Morgiana.
Agora foi Luce quem arregalou o olho.
- Ué?! Âmbar?! Você?!
Luce estava com o olhar vidrado.
- Seu aproveitador! Seu sacana! Você tomou o
lugar do Macário!! – gritava Âmbar.
- O que é que está havendo?! – pergunta Luce,
desorientado. – Por que eu acordei ao lado da Âmbar?! Achei que fosse a
Anfisbena!!
Âmbar parou de se debater por uns dois
segundos.
- An... fis... – balbuciou Âmbar, logo depois
retomando o acesso de raiva. – Ora, seu filho da p(...)!!! Seu tarado!!! Seu
grandessíssimo...
- Âmbar, por favor, se acalme!! – gritei.
- Me solta, sua piranha!!! – Âmbar gritou
para Morgiana. – Me deixa fazer esse safado em pedaços!!! Ele me roubou do
Macário!!!
- Ele não roubou, Âmbar! – Morgiana gritou. –
Você que entrou no quarto dele por engano, sua pinguça! E, além do mais, chegou
atrasada – e ela deu um sorriso sacana, com os dentes afiados – porque quem
ficou com o Macário esta noite fui eu!!
- Vo... cê... Morgi... Ah, ah, AAAARRRGH!!! –
Âmbar se desvencilhou dos braços de Morgiana e começou a avançar em cima dela,
tentando descer as unhas em cima dela. – Eu vou te matar, sua...!!
Morgiana conseguiu se defender, e segurou os
braços de Âmbar. A ninfa ainda sentia os efeitos do álcool no sangue, logo seus
reflexos estavam mais lentos.
- Se acalma, Âmbar!!! – Morgiana começou a se
desesperar.
- Que se acalma o quê, sua ladra de homem!!
Vou te matar e depois matar o Luce!!!
- Pare, Âmbar!!! Não é assim que uma ninfa
deve se comportar!!!
- AAARRRGH!!!
Âmbar agia como se fosse uma lobisomem fêmea
(ou seja lá como é o feminino de “lobisomem”), tentando morder e arranhar
Morgiana. E eu sem saber como proceder, sem poder sair do lado de Luce. Foi
quando mais uma figura entrou no quarto, de repente, e apartou aquela briga, um
reflexo prateado que interviu, rápido como um raio. O reflexo era de uma
cabeleira prateada. Era Andrômeda!
- Parem vocês duas!!! O que está
acontecendo?! – gritou Andrômeda, separando as duas.
- Andrômeda?! – exclamou Âmbar. – Até você
resolveu roubar o Macário?!
- Como assim roubar o... Ei, o que está
havendo, afinal?! Eu chego aqui no apartamento e...
- Andrômeda?! – foi minha vez de exclamar.
- Andrômeda!! – exclamou Luce.
- Andrômeda! – exclamou Morgiana.
- Macário! – Andrômeda preferiu se dirigir
diretamente para mim. – Pode explicar o que está acontecendo?!
- É, Macário, explique. – disse Luce, ainda
acudindo a bochecha cortada, mas que não sangrava tanto. – Quero entender
também o motivo dessa bagunça... O que é que a Morgiana e a Âmbar estão fazendo
aqui...
- Macário! – Andrômeda me olhou com ar de
repreensão. – Não me diga que ontem você esteve transando com as duas aqui!!
- Eu?! – exclamei. – Eu não! Digo... ontem
foi só com a Morgiana!
Andrômeda olhou para Morgiana, que vestia apenas
a minha camisa, e estava sorrindo sem jeito. Depois para Âmbar, totalmente nua,
mas agora mais calma, porém ainda com o corpo todo vermelho, e gradativamente
passando para o rosado forte.
- Só com a Morgiana, hein?! – Andrômeda
arqueou a sobrancelha.
- Só comigo, Andrômeda. – falou Morgiana. –
Posso confirmar, amiga.
Foi a vez de Âmbar arquear a sobrancelha.
- Mas... – prosseguiu Andrômeda. – Mas e a
Âmbar, aqui, peladona no... ei, este aqui é o quarto do Lúcifer, e... E o
Lúcifer aí, o que faz pelado?!
- Eu posso explicar. – intervim. – Eu só
estive transando com a Morgiana, mas não porque eu quis... Ela que havia se
escondido no apartamento enquanto todos pensaram que ela foi embora cedo... Enquanto
isso, a Âmbar estava transando com o Luce aqui... e ambos estavam caindo de
bêbados, olhe só, Andrômeda, todas estas garrafas aqui no quarto!
Andrômeda, atônita, examinou as garrafas
espalhadas no quarto.
- Luce! Você estava escondendo bebida aqui no
seu quarto?!
- Eu não, irmã! Essas garrafas aí não fui eu
quem trouxe! – Luce, ainda tonto, tentava explicar. – Deve ter sido a Âmbar
quem trouxe! Eu fui me deitar e... Eu lembro que foram só alguns bloody marys...
- Hmmm... – Andrômeda volta seu olhar para
Âmbar. – Então... você também tentou transar com o Macário... também tentou
invadir sua casa, mas... você estava bêbada de novo?!
- Bem... eu... hã... hum...
Âmbar estava se atrapalhando toda. E,
gradativamente, do rosado, seu corpo passou para verde, e, de repente, Âmbar
vomitou vigorosamente no chão. Felizmente, aos pés dela, estava um grande
tapete redondo.
Todos se afastaram. Embora no estômago de
Âmbar houvesse praticamente apenas líquido, havia bílis misturada, e uns restos
de comida. Tudo isso contribuía para manchar o tapete. E era menos sensual
ainda uma gostosa nua vomitando no chão.
Minha reação foi abrir a janela do quarto,
que estava atrás de mim, por causa do cheiro.
Depois do acesso de vômito, Âmbar começou a
olhar para todos nós, e voltou a ficar vermelha – desta vez, de vergonha.
- Ei! Meu tapete!! – gritou Luce. – Esse
tapete é novinho!! Olha o que você fez!!
Âmbar estava visivelmente envergonhada.
- Oh, não... – ela começou a lacrimejar. –
Eu... eu sou uma pessoa horrível... sou uma... uma monstra!!!
- Âmbar... – tentei falar algo, tocar em seu
ombro, mas ela se esquivou.
- Não!! Não toque em mim, Macário!!! Sei que
agora você me odeia!!!
- Como assim, te odeio?!
Mas ela não ficou para explicar. Chorando,
Âmbar se transformou em louva-a-deus e saiu voando pela janela aberta. Deixando
todos ali atônitos, sem reação.
Por fim, Luce reagiu.
- Bah! Enlouqueceu... E ainda por cima deixou
meu tapete sujo de vômito!!
- Bem, tem mais gente ainda que está devendo
uma explicação! – falou Andrômeda. – Morgiana, você...
Mas Morgiana desaparecera do quarto. Evaporou
no ar enquanto estávamos distraídos.
- Grunf! Fugiu também!! – vociferou
Andrômeda. – Essas malucas taradas!
- Mas o que você está fazendo aqui, irmã? –
pergunta Luce. – Pensei que ia voltar para a mansão...
Andrômeda nos olhava muito séria.
- E voltei. Mas resolvi dar uma olhada
aqui... Meu instinto esteve certo em vir aqui dar uma olhada nos dois marmanjos
que agora dividem o apartamento. Bem, eu estava pensando em preparar um café da
manhã aqui, digo, café da tarde, já que já passa do meio dia, e... bah, me
deparo com toda essa confusão... Com sinais evidentes de que esse apartamento
esteve exalando sexo por todos os lados... Ah, sexo, sexo... Eu sabia que essa
ideia não podia dar certo!
Engoli em seco. Marmanjo, eu? Ela também
estava brava comigo! E, quer saber? Eu merecia.
- Você está bem, Luce? – pergunta Andrômeda.
- Minha cabeça dói... – responde Luce, se
levantando, tão vermelho quanto Âmbar esteve. – Mas eu estou bem... A dor é por
causa do álcool... Mas é só eu dar uma vomitada no vaso que eu...
- Se limpe, aqui. – Andrômeda estendeu uma
toalha para Luce, que a usou para limpar o rosto sujo de sangue.
Fiquei surpreso quando vi que, assim que Luce
passou a toalha no rosto, os arranhões que ele levara de Âmbar havia sumido –
foi como se ele nunca tivesse levado um arranhão. Oh, lembro de ter ouvido algo
dizendo que os vampiros podiam curar ferimentos rapidamente, como o
Wolverine... Será mesmo verdade? Ou talvez, a toalha que era mágica. E era
mesmo: ela absorvera o sangue de Luce, e não ficou manchada! As manchas de
sangue sumiram magicamente, e a toalha nas mãos de Luce continuava branquinha!
- Que está olhando, Macário? – pergunta Luce,
olhando para mim.
- Hã... nada, digo... Seus ferimentos... e
essa toalha...
- Ah... isto? – Luce olha para a toalha. –
Ah, esta é uma toalha especial... Nada de mais.
Ainda assim, fiquei admirado.
- Bem, Luce, temos de conversar um pouco... –
fala Andrômeda. – Se veste. Olhe só para você, peladão. E não me admira que a
Âmbar... hum...
Notei um acento de lascívia no olhar de
Andrômeda ao bater o olho no p(...) de Luce, em repouso, porém grande.
- Hã... – me manifestei, envergonhado – Com a
licença de vocês, eu vou me vestir. No meu quarto.
- Sim, Macário. Depois venha para a cozinha.
– falou Andrômeda, com um olhar de mãe no momento em que repreende o filho
arteiro. Engoli em seco.
Saí do quarto de Luce chateado. Andrômeda
desconfiava que eu estivesse envolvido diretamente naquela bagunça. Afinal, ela
sabia de minha vida sexual, tanto quanto participava dela. E quem poderia
garantir que a ideia de seduzir Morgiana não fosse minha?
E como foi que Morgiana conseguiu sair do
apartamento? Suas roupas ainda estavam no meu quarto, e eu não ouvi a porta da
frente abrindo e fechando – seria a única saída possível para ela, que se
transformava em peixe (tubarão, mais precisamente) e não em inseto, como Âmbar.
Será que ela estava escondida em algum lugar do apartamento? Ela não iria mais
embora?
Bem, se Morgiana estivesse em algum lugar do
apartamento, depois eu me ocuparia disso...
Escolhi uma calça e uma camiseta para sair
(daqui a pouco tenho de ir para a faculdade), me vesti e me dirigi para a
cozinha.
Luce já estava vestido com roupas para uso em
casa e pantufas, mas não parecia nada bem. Aparentemente, já havia vomitado,
como disse que faria, mas seu corpo ainda sentia os efeitos do álcool. Eu até
me sentia contente por dentro por, naquele momento, ele não estar sorrindo,
como sempre fazia. Em vez disso, ele estava sentado no sofá, macambúzio, com
expressão de quem estava com uma dor de cabeça danada, as mãos segurando a
cabeça. E o pior, Andrômeda estava lhe passando um sermão. Estava falando sem
parar, como uma mãe ou uma sogra. Pelo que estava conseguindo captar do jorro
de palavras de Andrômeda, em tom de indignação por causa das estripulias do
irmão, ela acreditava que na verdade Luce havia seduzido Âmbar, e que ele não
devia ter bebido daquele modo, que havia sido bem feito o que aconteceu, e que
aquela festa não tinha sido uma boa ideia, e...
E Luce só escutando, e sofrendo com uma dor
de cabeça terrível. Suas reações eram apenas a de apertar a têmpora, fechar os
olhos com força. No mais, sequer se mexia.
Não ousei interromper Andrômeda. Deixei que
ela falasse, mas eu estava sentindo pena de Luce, espinafrado daquele jeito,
como se a culpa fosse toda dele. E busquei me fazer forte naquele momento – vai
que Andrômeda, depois de “acabar” com Luce, resolva me espinafrar também? Mas o
mulherengo aqui merecia...
Mas, depois de quase dez minutos de puro
falatório, enquanto Luce estava naquela posição inferior, Andrômeda parou de
falar. Mas não tirou o olho de cima do irmão.
- Já acabou, irmã? – falou Luce, enfiando um
dedo no ouvido e esfregando como se fosse um cotonete; foi seu primeiro
movimento.
- Sim, irmão. Espero que tenha entendido. –
Andrômeda falou, triunfante.
- Entendi, sim. Ótimo... – Luce se levantou
do sofá, tirou as mãos da cabeça e olhou para mim, com expressão indignada. –
Agora a conversa é com outra pessoa...
- Comigo? – perguntei, assustado.
Mas Luce respondeu... desferindo um soco no
meu rosto. Um soco poderoso, como os que ele me deu naquele dia em que me fez
de saco de pancadas. Não me nocauteou, mas balançou meu crânio e me derrubou no
chão.
- Lúcifer, o que está fazendo?! – Andrômeda
gritou, escandalizada.
Mas Luce não ouviu. Ele pegou na gola da
minha camisa e me fez levantar de novo. E me olhava com uma fúria ébria.
- L-Luce!...
- Seu sacana!! Filho da mãe!! Está vendo o
que fez?!
- Eu... eu... como assim?! O que foi que eu
fiz?!
- Por que não entrou no quarto naquela hora
que eu estava transando com a Âmbar?! Por que não nos interrompeu?!
Arregalei o olho. Era por isso que ele estava
bravo comigo?!
- Eu não queria... digo... vocês dois
pareciam estar curtindo tanto... – respondi assustado.
- Se fosse outra mulher, Macário... mas não a
Âmbar!!! Você sabe que ela não gosta de mim!
- E... eu não sabia, Luce... Não sabia que
podia interromper...
- Claro que não tinha como interromper, né?
Afinal, você estava no bem-bom com a Morgiana, né?! Estava ocupado demais para
impedir que eu transasse com a Âmbar, né?! Ou não... você aproveitou um
intervalo para ir nos espiar, não é?! Então...?
- Já disse, você não me disse que era para
interromper quando você e a Âmbar... Não tenho culpa se vocês dois estavam
bêbados naquela hora...
- Claro, né? – interferiu Andrômeda. –
Confesse que, além dos drinques da festa, você entornou mais umas bebidas antes
de dormir... aquelas garrafas de vodca eram suas, eram sim.
Luce parou um instante, e me soltou.
- Bem, eu posso ter bebido um pouco além da
conta, sim, mas... foi só uma garrafa de vodca. Foi só uma, irmã. Juro. As
outras garrafas deve ter sido a Âmbar quem trouxe, aquela pinguça tarada... Mas
me custa acreditar que ela confundiu o Macário comigo!! Pelo jeito o alcoolismo
dela está cada dia pior... tenho de ter uma conversa com o MC Claus...
- E me custa acreditar que você não transou
com a Âmbar de propósito... – falou Andrômeda. – Vai, irmão, fale a verdade,
foi de propósito.
Luce dirigiu a Andrômeda um olhar de “vai te
catar”.
- Eu também não consigo acreditar – falei –
pois parecia que vocês dois estavam curtindo bastante, Luce... Você parecia
estar gostando...
- Bem, Macário, quem é que não gostaria de
ter uma ninfa na sua cama? Uma ninfa grega curvilínea e cheia de disposição,
atacando o fauno adormecido? – Luce deu um sorriso sacana. – Mas eu não pensei
que fosse a Âmbar!! Ela me odeia, Macário, e você sabe!! Achei que fosse outra
ninfa, não a Âmbar, que está de olho em você, seu garanhão sortudo!!!
- Bem, Luce, mas hoje quase todos nós tivemos
muito azar, não? A Âmbar queria me atacar à noite, mas a Morgiana foi quem
chegou primeiro... ela sim saiu no lucro. E você, amigo, teve o azar que a
Âmbar estivesse caindo de torta... e mais azar ainda que a ninfa que você
queria... seja casada. Né? – acabei sorrindo do mesmo jeito que a Morgiana
sorriu naquela hora.
Luce não ficou feliz com o meu comentário, e
me deu um novo soco. Desta vez, no olho. Meu crânio balançou de novo, e senti
como se meu olho tivesse sido arrancado, enquanto estrelas dançavam
visivelmente na minha frente.
- Aaargh!!! – deixei escapar o grito.
- Depois a gente continua conversando, está
bem? – ouvi Luce falar, enquanto eu acudia o olho que doía muito. Ele não
gritava, parecia ter recuperado a calma. – Mas agora você já sabe, viu, seu
sacana? Se me vir transando com a Âmbar, entre no quarto e nos interrompa!!
Faça como se fosse um corno flagrando a mulher com o amante na cama, mas não
deixe eu transar com a Âmbar novamente, tá?! Ela é a tua ninfa... Agora com licença... preciso me curar dessa dor de
cabeça... aaiii... acho que não vou poder sair com você para a faculdade, e nem
para o bar. Vou ficar em casa, me curando... oohhh, mas que ressaca do cão...
que dia ruim estou tendo... acordar com a mulher errada na cama, levar um
arranhão, ter meu tapete vomitado, minha irmã me passando sermão... Ei, rimou,
isso dá até um blues...
E saiu da cozinha, resmungando. Andrômeda me
acudia.
- Oh, Macário, você está bem?!
- Aaiii... Ele precisava ter me socado
assim?! – perguntei, ainda sentindo o olho dolorido. – Ele quase arrancou meu
olho!! Se é que não arrancou!!
- Esse sacana, selvagem, açougueiro! Deixe
ver... Ah, felizmente seu olho ainda está aí... Nem está sangrando... Espere
aí, Macário...
E Andrômeda tirou da geladeira um bife
fresco, que ela prontamente aplicou no meu olho. Deu uma boa aliviada na dor.
- Ainda bem que tinha esse bife fora do
congelador, Macário... Ia fritar para o seu jantar?
- Ia... – respondi. – Obrigado, Andrômeda.
Mas na verdade, eu nem me lembrava de haver
deixado carne fora do congelador para preparar para o meu jantar. Talvez, na
verdade, tenha sido uma sobra dos ingredientes dos tira-gostos da festa. Mas
deixe estar...
Ambos sentamos no sofá. Parecia que Andrômeda
agora tinha pena de mim pelos socos que levei.
- Agora me conte, Macário. Por que você e a
Morgiana...?
- Eu já disse. Ela que fingiu ter ido embora.
Aproveitou que estava todo mundo bêbado e se escondeu aqui no apartamento... E
daí entrou no meu quarto, quando eu ia dormir, e...
- E foi bom com ela, Macário? – Andrômeda
perguntou com desconfiança.
- Hã... foi, Andrômeda. Digo... Você me
conhece, Andrômeda, eu sou um safado mulherengo, e...
- Ah, aquela menina safada. Aquela arteira. –
Andrômeda, para meu alívio, não se alterou, continuou calma. – Com razão as
irmãs se preocupam tanto.
Tentei mudar o assunto.
- Verdade que você trata dos dentes com as
irmãs da Morgiana?
- Ela contou para você? Ah, sim, Macário.
Elas fabricam uma prótese especial para eu poder sair na rua, sem revelar as
presas, sabe... – Andrômeda sorriu, mas não estava de prótese dentária. Exibia
dois caninos pontudos. – De todo modo, não podia esperar outra coisa daquela
arteira... A menina motivo de preocupação da família...
- Eu me pergunto por que vocês se apaixonaram
por mim... – afirmei, carrancudo. – Você está brava comigo, Andrômeda?
Ela me olhava, mas com pena.
- Não, Macário, com você não. Bem, eu conheço
você, sim. É da sua natureza e, bem, eu estaria achando estranho que, depois da
festa de ontem, não tivesse uma garota que... Bem, seria estranho que aquela
festa, de algum modo, não acabasse em sexo. Bem, eu até esperava que fosse a
Âmbar, aquela manipuladora... mas a Morgiana?! Ela se mostrou muito esperta,
Macário... Muito esperta...
- E acho que ela não foi embora do
apartamento. Que está escondida em algum lugar.
- Talvez esteja escondida naquele quartinho que
sobrou, Macário. Não sei no que o Luce está usando o quarto, mas...
Tirei o bife do olho. A dor já aliviara.
- Oh não, Macário, olha como seu olho ficou.
– Andrômeda examinou meu olho. – Olha o quão roxo ficou!
- Está roxo?
- Está, Macário... Olha...
E me emprestou um espelhinho, que ela tirou
não vi de onde. Realmente, o olho estava muito roxo e inchado, mas o globo
ocular continuava dentro da pálpebra, menos mal. E como não era a primeira vez
que eu me via com o olho roxo assim, eu nem dei muita importância.
- Ai, Macário, como você vai sair para o seu
curso assim?!
- Eu dou uma desculpa qualquer... – respondi
com tranquilidade. – Sempre posso dizer que sofri uma queda no banheiro, algo
assim. Tanta gente justifica uma agressão desse modo.
- Ai, Macário... Seu rosto tão bonito assim
maltratado...
- Fala a verdade, Andrômeda, você está brava
é comigo, não com a Morgiana.
- Não, Macário, é com a Morgiana mesmo.
Aquela magricela. A Pequena Sereia, aquela Ariel junkie.
- Ah, saquei. – dei um sorriso. – Você está
com ciúmes dela.
- Confesso que estou. – ela respondeu de
bate-pronto. – Com muito ciúme. Com inveja também, se é que esses sentimentos
não são sinônimos... Aliás, sempre tive inveja da Morgiana. Ela é o que eu um
dia já fui...
- Hein?
- Eu já tive um cabelo tão negro e liso como
o dela... e já fui tão magra quanto ela... Ela tem um corpo atlético,
curvilíneo... Ela parece que nunca engorda... Ela sim mantém a beleza e a
energia da adolescência e da juventude... – uma lágrima furtiva escorreu pelo
rosto de Andrômeda. – Aah, perto daquela esportista em me sinto um barril de
banha de porco...
- Engraçado... ela tem inveja dos seus seios,
Andrômeda. – falei em uma tentativa de fazer um consolo, mesmo sabendo que
seria mal sucedido.
- Meus seios? – ela olhou para o próprio
decote.
- Uma sente inveja da outra, Andrômeda. Você
sabe. Não foi ela quem me fez dizer que vocês pareciam gordas, você e a Âmbar?
Você ouviu ela dizer isso no portal mental, ouviu sim...
Andrômeda encolheu os lábios.
- E eu – continuei – já estou farto da inveja
de vocês, com o perdão da palavra. O importante é que vocês conseguem seduzir
este garoto desgraçado, e até conseguem trabalhar juntinhas para isso. Essa
rivalidade já encheu o saco... Eu é que não mereço compaixão, sou um
cafajeste...
- E eu estou farta dessa mania que você tem
de se autodepreciar, Macário. – Andrômeda sorriu para mim. – De negar as suas
qualidades de sedutor... Você não tem pena nem de si mesmo... Mas confesse que
você gosta disso e que, se pudesse, você transaria consigo mesmo. Hum?
Engoli em seco.
- Você às vezes não gostaria de ser mulher
por pelo menos um dia?
- Hã... eu... eu vou tomar um banho para ir
para a faculdade. – mudei de assunto. – Se importa?
- Não, Macário, não me importo. Quer que eu
arrume alguma coisa para você comer enquanto isso?
- Hã... sim, gostaria. Obrigado.
E deixei a sala, suando frio.
Eu já conhecia Andrômeda. Ela tinha segundas
e más intenções para comigo. Tenho mesmo é de sair dali de perto dela.
Insisto, por que as Monstras resolveram se
apaixonar justo por mim?
Se continuar assim, está muito perto do meu
pior pesadelo se realizar: o meu corpo ser analisado na próxima aula de
anatomia da faculdade, ser cortado, dissecado, desmembrado para atender
mórbidas curiosidades. E o que é pior, a primeira coisa que repararão no meu
corpo, antes de aplicarem o bisturi, é que eu morri de p(...) duro. Morto de
prazer e exaustão... Meu p(...) vai ser objeto de estudo na próxima conferência
mundial de medicina...
A porta do quarto de Luce estava entreaberta,
e pude ver, mesmo com a janela e as cortinas fechadas e a luz apagada, que Luce
estava estirado na sua cama, imóvel, os braços junto ao corpo, as pernas juntas.
Dormindo. Se ele não fosse vampiro, diria que Luce, na verdade, estava morto
ali em cima da cama – seu peito nem se mexia, pelo que sei vampiros não tinham
necessidade de respirar. E peladão, ainda por cima. E com aquele p(...)
apontando para cima, como se fosse a única coisa viva em seu corpo...
Estaria ele tendo algum sonho erótico?
P(...) que pariu...
Fiz um pacto com o demônio, e meus tributos
estão sendo pagos em sêmen. Sou um cafajeste. Não vou para o céu quando
morrer...
Foi pensando assim que entrei no banheiro. E
reparei, no box do chuveiro, uma cauda de tubarão aparecendo sob a porta
entreaberta...
Ah, eu sabia. Morgiana não foi mesmo embora.
Mas que estranho, de onde aquela banheira apareceu?!
Próximo episódio daqui a 15 dias - provavelmente será a última postagem do ano, a menos que eu mude de ideia...
Até aqui, como está ficando? Está bom? Ruim? Devo manter? Mudar? Parar? Manifestem-se nos comentários, ou continuarei fazendo o que eu quiser nesta história pecadora...
Até mais!
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