segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

MACÁRIO - Capítulo 50: "Castigo para Todos"

Olá.
Tinha planos diferentes, mas no fim decidi seguir a programação convencional: quinze dias depois, entra no ar mais um capítulo de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. No fim, nada de anormal...
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de agressão física, de nudez, de mau comportamento, de efeitos do excesso de bebida alcoólica e de depreciação humana.



E, de fato, as coisas engrossaram.
Morgiana e eu, que entramos no quarto de Luce apenas por curiosidade, presenciamos tudo.
Âmbar levou um grande susto ao ver que era Luce, e não eu, que estava a seu lado na cama. Ao ver que aquele não era o meu quarto, mas o de Luce... e que ela havia transado com Luce, e não comigo.
Não podia ser de outra maneira: ela estava bêbada naquela hora. Pelo jeito, muito mais bêbada que o “normal”.
Luce também se encontrava muito bêbado. Ele acordou bastante grogue.
E foi com muita surpresa que ele recebeu a primeira reação de Âmbar: ela lhe deu um tremendo arranhão no rosto com aquelas unhas compridas. Luce acabou caindo da cama.
- Aaargh!! – gritava Âmbar. – Sem vergonha! Monstro tarado!!
- Ei, o que está havendo?! – Luce gritou, surpreso, acudindo o rosto ferido, sangrando.
- Seu sem-vergonha!!! Aproveitador! Cafetão! Ora seu... aaarrrgh!!! – Âmbar, vermelha como um pimentão, avançou para cima de Luce, tentando arranhá-lo mais, mas foi contida por Morgiana, que a segurou.
- Âmbar! Se acalma, moça!
- Me larga!! Me deixa fazer esse safado em pedaços!!! Esse aaarrrgh...
- Se acalma, Âmbar! Pare de escândalo!
- Já disse para me largar, sua...! – e Âmbar tentou arranhar Morgiana, mas a morena a segurava firmemente pelo abdome, como se estivesse fazendo uma manobra Heimlich, e, por trás dela, evitava os golpes de unha. Ainda assim, Morgiana tinha dificuldade de segurar Âmbar, que se debatia.
Enquanto isso, eu acudia Luce, ajudando-o a se levantar. Oh céus, Luce pelado, que visão! Pior é a constatação de que o cara era bem dotado... que o p(...) dele era maior que o meu!
E não estava nada excitante uma gostosa nua, bêbada e agindo violentamente, segura nos braços de Morgiana.
Agora foi Luce quem arregalou o olho.
- Ué?! Âmbar?! Você?!
Luce estava com o olhar vidrado.
- Seu aproveitador! Seu sacana! Você tomou o lugar do Macário!! – gritava Âmbar.
- O que é que está havendo?! – pergunta Luce, desorientado. – Por que eu acordei ao lado da Âmbar?! Achei que fosse a Anfisbena!!
Âmbar parou de se debater por uns dois segundos.
- An... fis... – balbuciou Âmbar, logo depois retomando o acesso de raiva. – Ora, seu filho da p(...)!!! Seu tarado!!! Seu grandessíssimo...
- Âmbar, por favor, se acalme!! – gritei.
- Me solta, sua piranha!!! – Âmbar gritou para Morgiana. – Me deixa fazer esse safado em pedaços!!! Ele me roubou do Macário!!!
- Ele não roubou, Âmbar! – Morgiana gritou. – Você que entrou no quarto dele por engano, sua pinguça! E, além do mais, chegou atrasada – e ela deu um sorriso sacana, com os dentes afiados – porque quem ficou com o Macário esta noite fui eu!!
- Vo... cê... Morgi... Ah, ah, AAAARRRGH!!! – Âmbar se desvencilhou dos braços de Morgiana e começou a avançar em cima dela, tentando descer as unhas em cima dela. – Eu vou te matar, sua...!!
Morgiana conseguiu se defender, e segurou os braços de Âmbar. A ninfa ainda sentia os efeitos do álcool no sangue, logo seus reflexos estavam mais lentos.
- Se acalma, Âmbar!!! – Morgiana começou a se desesperar.
- Que se acalma o quê, sua ladra de homem!! Vou te matar e depois matar o Luce!!!
- Pare, Âmbar!!! Não é assim que uma ninfa deve se comportar!!!
- AAARRRGH!!!
Âmbar agia como se fosse uma lobisomem fêmea (ou seja lá como é o feminino de “lobisomem”), tentando morder e arranhar Morgiana. E eu sem saber como proceder, sem poder sair do lado de Luce. Foi quando mais uma figura entrou no quarto, de repente, e apartou aquela briga, um reflexo prateado que interviu, rápido como um raio. O reflexo era de uma cabeleira prateada. Era Andrômeda!
- Parem vocês duas!!! O que está acontecendo?! – gritou Andrômeda, separando as duas.
- Andrômeda?! – exclamou Âmbar. – Até você resolveu roubar o Macário?!
- Como assim roubar o... Ei, o que está havendo, afinal?! Eu chego aqui no apartamento e...
- Andrômeda?! – foi minha vez de exclamar.
- Andrômeda!! – exclamou Luce.
- Andrômeda! – exclamou Morgiana.
- Macário! – Andrômeda preferiu se dirigir diretamente para mim. – Pode explicar o que está acontecendo?!
- É, Macário, explique. – disse Luce, ainda acudindo a bochecha cortada, mas que não sangrava tanto. – Quero entender também o motivo dessa bagunça... O que é que a Morgiana e a Âmbar estão fazendo aqui...
- Macário! – Andrômeda me olhou com ar de repreensão. – Não me diga que ontem você esteve transando com as duas aqui!!
- Eu?! – exclamei. – Eu não! Digo... ontem foi só com a Morgiana!
Andrômeda olhou para Morgiana, que vestia apenas a minha camisa, e estava sorrindo sem jeito. Depois para Âmbar, totalmente nua, mas agora mais calma, porém ainda com o corpo todo vermelho, e gradativamente passando para o rosado forte.
- Só com a Morgiana, hein?! – Andrômeda arqueou a sobrancelha.
- Só comigo, Andrômeda. – falou Morgiana. – Posso confirmar, amiga.
Foi a vez de Âmbar arquear a sobrancelha.
- Mas... – prosseguiu Andrômeda. – Mas e a Âmbar, aqui, peladona no... ei, este aqui é o quarto do Lúcifer, e... E o Lúcifer aí, o que faz pelado?!
- Eu posso explicar. – intervim. – Eu só estive transando com a Morgiana, mas não porque eu quis... Ela que havia se escondido no apartamento enquanto todos pensaram que ela foi embora cedo... Enquanto isso, a Âmbar estava transando com o Luce aqui... e ambos estavam caindo de bêbados, olhe só, Andrômeda, todas estas garrafas aqui no quarto!
Andrômeda, atônita, examinou as garrafas espalhadas no quarto.
- Luce! Você estava escondendo bebida aqui no seu quarto?!
- Eu não, irmã! Essas garrafas aí não fui eu quem trouxe! – Luce, ainda tonto, tentava explicar. – Deve ter sido a Âmbar quem trouxe! Eu fui me deitar e... Eu lembro que foram só alguns bloody marys...
- Hmmm... – Andrômeda volta seu olhar para Âmbar. – Então... você também tentou transar com o Macário... também tentou invadir sua casa, mas... você estava bêbada de novo?!
- Bem... eu... hã... hum...
Âmbar estava se atrapalhando toda. E, gradativamente, do rosado, seu corpo passou para verde, e, de repente, Âmbar vomitou vigorosamente no chão. Felizmente, aos pés dela, estava um grande tapete redondo.
Todos se afastaram. Embora no estômago de Âmbar houvesse praticamente apenas líquido, havia bílis misturada, e uns restos de comida. Tudo isso contribuía para manchar o tapete. E era menos sensual ainda uma gostosa nua vomitando no chão.
Minha reação foi abrir a janela do quarto, que estava atrás de mim, por causa do cheiro.
Depois do acesso de vômito, Âmbar começou a olhar para todos nós, e voltou a ficar vermelha – desta vez, de vergonha.
- Ei! Meu tapete!! – gritou Luce. – Esse tapete é novinho!! Olha o que você fez!!
Âmbar estava visivelmente envergonhada.
- Oh, não... – ela começou a lacrimejar. – Eu... eu sou uma pessoa horrível... sou uma... uma monstra!!!
- Âmbar... – tentei falar algo, tocar em seu ombro, mas ela se esquivou.
- Não!! Não toque em mim, Macário!!! Sei que agora você me odeia!!!
- Como assim, te odeio?!
Mas ela não ficou para explicar. Chorando, Âmbar se transformou em louva-a-deus e saiu voando pela janela aberta. Deixando todos ali atônitos, sem reação.
Por fim, Luce reagiu.
- Bah! Enlouqueceu... E ainda por cima deixou meu tapete sujo de vômito!!
- Bem, tem mais gente ainda que está devendo uma explicação! – falou Andrômeda. – Morgiana, você...
Mas Morgiana desaparecera do quarto. Evaporou no ar enquanto estávamos distraídos.
- Grunf! Fugiu também!! – vociferou Andrômeda. – Essas malucas taradas!
- Mas o que você está fazendo aqui, irmã? – pergunta Luce. – Pensei que ia voltar para a mansão...
Andrômeda nos olhava muito séria.
- E voltei. Mas resolvi dar uma olhada aqui... Meu instinto esteve certo em vir aqui dar uma olhada nos dois marmanjos que agora dividem o apartamento. Bem, eu estava pensando em preparar um café da manhã aqui, digo, café da tarde, já que já passa do meio dia, e... bah, me deparo com toda essa confusão... Com sinais evidentes de que esse apartamento esteve exalando sexo por todos os lados... Ah, sexo, sexo... Eu sabia que essa ideia não podia dar certo!
Engoli em seco. Marmanjo, eu? Ela também estava brava comigo! E, quer saber? Eu merecia.
- Você está bem, Luce? – pergunta Andrômeda.
- Minha cabeça dói... – responde Luce, se levantando, tão vermelho quanto Âmbar esteve. – Mas eu estou bem... A dor é por causa do álcool... Mas é só eu dar uma vomitada no vaso que eu...
- Se limpe, aqui. – Andrômeda estendeu uma toalha para Luce, que a usou para limpar o rosto sujo de sangue.
Fiquei surpreso quando vi que, assim que Luce passou a toalha no rosto, os arranhões que ele levara de Âmbar havia sumido – foi como se ele nunca tivesse levado um arranhão. Oh, lembro de ter ouvido algo dizendo que os vampiros podiam curar ferimentos rapidamente, como o Wolverine... Será mesmo verdade? Ou talvez, a toalha que era mágica. E era mesmo: ela absorvera o sangue de Luce, e não ficou manchada! As manchas de sangue sumiram magicamente, e a toalha nas mãos de Luce continuava branquinha!
- Que está olhando, Macário? – pergunta Luce, olhando para mim.
- Hã... nada, digo... Seus ferimentos... e essa toalha...
- Ah... isto? – Luce olha para a toalha. – Ah, esta é uma toalha especial... Nada de mais.
Ainda assim, fiquei admirado.
- Bem, Luce, temos de conversar um pouco... – fala Andrômeda. – Se veste. Olhe só para você, peladão. E não me admira que a Âmbar... hum...
Notei um acento de lascívia no olhar de Andrômeda ao bater o olho no p(...) de Luce, em repouso, porém grande.
- Hã... – me manifestei, envergonhado – Com a licença de vocês, eu vou me vestir. No meu quarto.
- Sim, Macário. Depois venha para a cozinha. – falou Andrômeda, com um olhar de mãe no momento em que repreende o filho arteiro. Engoli em seco.
Saí do quarto de Luce chateado. Andrômeda desconfiava que eu estivesse envolvido diretamente naquela bagunça. Afinal, ela sabia de minha vida sexual, tanto quanto participava dela. E quem poderia garantir que a ideia de seduzir Morgiana não fosse minha?
E como foi que Morgiana conseguiu sair do apartamento? Suas roupas ainda estavam no meu quarto, e eu não ouvi a porta da frente abrindo e fechando – seria a única saída possível para ela, que se transformava em peixe (tubarão, mais precisamente) e não em inseto, como Âmbar. Será que ela estava escondida em algum lugar do apartamento? Ela não iria mais embora?
Bem, se Morgiana estivesse em algum lugar do apartamento, depois eu me ocuparia disso...
Escolhi uma calça e uma camiseta para sair (daqui a pouco tenho de ir para a faculdade), me vesti e me dirigi para a cozinha.
Luce já estava vestido com roupas para uso em casa e pantufas, mas não parecia nada bem. Aparentemente, já havia vomitado, como disse que faria, mas seu corpo ainda sentia os efeitos do álcool. Eu até me sentia contente por dentro por, naquele momento, ele não estar sorrindo, como sempre fazia. Em vez disso, ele estava sentado no sofá, macambúzio, com expressão de quem estava com uma dor de cabeça danada, as mãos segurando a cabeça. E o pior, Andrômeda estava lhe passando um sermão. Estava falando sem parar, como uma mãe ou uma sogra. Pelo que estava conseguindo captar do jorro de palavras de Andrômeda, em tom de indignação por causa das estripulias do irmão, ela acreditava que na verdade Luce havia seduzido Âmbar, e que ele não devia ter bebido daquele modo, que havia sido bem feito o que aconteceu, e que aquela festa não tinha sido uma boa ideia, e...
E Luce só escutando, e sofrendo com uma dor de cabeça terrível. Suas reações eram apenas a de apertar a têmpora, fechar os olhos com força. No mais, sequer se mexia.
Não ousei interromper Andrômeda. Deixei que ela falasse, mas eu estava sentindo pena de Luce, espinafrado daquele jeito, como se a culpa fosse toda dele. E busquei me fazer forte naquele momento – vai que Andrômeda, depois de “acabar” com Luce, resolva me espinafrar também? Mas o mulherengo aqui merecia...
Mas, depois de quase dez minutos de puro falatório, enquanto Luce estava naquela posição inferior, Andrômeda parou de falar. Mas não tirou o olho de cima do irmão.
- Já acabou, irmã? – falou Luce, enfiando um dedo no ouvido e esfregando como se fosse um cotonete; foi seu primeiro movimento.
- Sim, irmão. Espero que tenha entendido. – Andrômeda falou, triunfante.
- Entendi, sim. Ótimo... – Luce se levantou do sofá, tirou as mãos da cabeça e olhou para mim, com expressão indignada. – Agora a conversa é com outra pessoa...
- Comigo? – perguntei, assustado.
Mas Luce respondeu... desferindo um soco no meu rosto. Um soco poderoso, como os que ele me deu naquele dia em que me fez de saco de pancadas. Não me nocauteou, mas balançou meu crânio e me derrubou no chão.
- Lúcifer, o que está fazendo?! – Andrômeda gritou, escandalizada.
Mas Luce não ouviu. Ele pegou na gola da minha camisa e me fez levantar de novo. E me olhava com uma fúria ébria.
- L-Luce!...
- Seu sacana!! Filho da mãe!! Está vendo o que fez?!
- Eu... eu... como assim?! O que foi que eu fiz?!
- Por que não entrou no quarto naquela hora que eu estava transando com a Âmbar?! Por que não nos interrompeu?!
Arregalei o olho. Era por isso que ele estava bravo comigo?!
- Eu não queria... digo... vocês dois pareciam estar curtindo tanto... – respondi assustado.
- Se fosse outra mulher, Macário... mas não a Âmbar!!! Você sabe que ela não gosta de mim!
- E... eu não sabia, Luce... Não sabia que podia interromper...
- Claro que não tinha como interromper, né? Afinal, você estava no bem-bom com a Morgiana, né?! Estava ocupado demais para impedir que eu transasse com a Âmbar, né?! Ou não... você aproveitou um intervalo para ir nos espiar, não é?! Então...?
- Já disse, você não me disse que era para interromper quando você e a Âmbar... Não tenho culpa se vocês dois estavam bêbados naquela hora...
- Claro, né? – interferiu Andrômeda. – Confesse que, além dos drinques da festa, você entornou mais umas bebidas antes de dormir... aquelas garrafas de vodca eram suas, eram sim.
Luce parou um instante, e me soltou.
- Bem, eu posso ter bebido um pouco além da conta, sim, mas... foi só uma garrafa de vodca. Foi só uma, irmã. Juro. As outras garrafas deve ter sido a Âmbar quem trouxe, aquela pinguça tarada... Mas me custa acreditar que ela confundiu o Macário comigo!! Pelo jeito o alcoolismo dela está cada dia pior... tenho de ter uma conversa com o MC Claus...
- E me custa acreditar que você não transou com a Âmbar de propósito... – falou Andrômeda. – Vai, irmão, fale a verdade, foi de propósito.
Luce dirigiu a Andrômeda um olhar de “vai te catar”.
- Eu também não consigo acreditar – falei – pois parecia que vocês dois estavam curtindo bastante, Luce... Você parecia estar gostando...
- Bem, Macário, quem é que não gostaria de ter uma ninfa na sua cama? Uma ninfa grega curvilínea e cheia de disposição, atacando o fauno adormecido? – Luce deu um sorriso sacana. – Mas eu não pensei que fosse a Âmbar!! Ela me odeia, Macário, e você sabe!! Achei que fosse outra ninfa, não a Âmbar, que está de olho em você, seu garanhão sortudo!!!
- Bem, Luce, mas hoje quase todos nós tivemos muito azar, não? A Âmbar queria me atacar à noite, mas a Morgiana foi quem chegou primeiro... ela sim saiu no lucro. E você, amigo, teve o azar que a Âmbar estivesse caindo de torta... e mais azar ainda que a ninfa que você queria... seja casada. Né? – acabei sorrindo do mesmo jeito que a Morgiana sorriu naquela hora.
Luce não ficou feliz com o meu comentário, e me deu um novo soco. Desta vez, no olho. Meu crânio balançou de novo, e senti como se meu olho tivesse sido arrancado, enquanto estrelas dançavam visivelmente na minha frente.
- Aaargh!!! – deixei escapar o grito.
- Depois a gente continua conversando, está bem? – ouvi Luce falar, enquanto eu acudia o olho que doía muito. Ele não gritava, parecia ter recuperado a calma. – Mas agora você já sabe, viu, seu sacana? Se me vir transando com a Âmbar, entre no quarto e nos interrompa!! Faça como se fosse um corno flagrando a mulher com o amante na cama, mas não deixe eu transar com a Âmbar novamente, tá?! Ela é a tua ninfa... Agora com licença... preciso me curar dessa dor de cabeça... aaiii... acho que não vou poder sair com você para a faculdade, e nem para o bar. Vou ficar em casa, me curando... oohhh, mas que ressaca do cão... que dia ruim estou tendo... acordar com a mulher errada na cama, levar um arranhão, ter meu tapete vomitado, minha irmã me passando sermão... Ei, rimou, isso dá até um blues...
E saiu da cozinha, resmungando. Andrômeda me acudia.
- Oh, Macário, você está bem?!
- Aaiii... Ele precisava ter me socado assim?! – perguntei, ainda sentindo o olho dolorido. – Ele quase arrancou meu olho!! Se é que não arrancou!!
- Esse sacana, selvagem, açougueiro! Deixe ver... Ah, felizmente seu olho ainda está aí... Nem está sangrando... Espere aí, Macário...
E Andrômeda tirou da geladeira um bife fresco, que ela prontamente aplicou no meu olho. Deu uma boa aliviada na dor.
- Ainda bem que tinha esse bife fora do congelador, Macário... Ia fritar para o seu jantar?
- Ia... – respondi. – Obrigado, Andrômeda.
Mas na verdade, eu nem me lembrava de haver deixado carne fora do congelador para preparar para o meu jantar. Talvez, na verdade, tenha sido uma sobra dos ingredientes dos tira-gostos da festa. Mas deixe estar...
Ambos sentamos no sofá. Parecia que Andrômeda agora tinha pena de mim pelos socos que levei.
- Agora me conte, Macário. Por que você e a Morgiana...?
- Eu já disse. Ela que fingiu ter ido embora. Aproveitou que estava todo mundo bêbado e se escondeu aqui no apartamento... E daí entrou no meu quarto, quando eu ia dormir, e...
- E foi bom com ela, Macário? – Andrômeda perguntou com desconfiança.
- Hã... foi, Andrômeda. Digo... Você me conhece, Andrômeda, eu sou um safado mulherengo, e...
- Ah, aquela menina safada. Aquela arteira. – Andrômeda, para meu alívio, não se alterou, continuou calma. – Com razão as irmãs se preocupam tanto.
Tentei mudar o assunto.
- Verdade que você trata dos dentes com as irmãs da Morgiana?
- Ela contou para você? Ah, sim, Macário. Elas fabricam uma prótese especial para eu poder sair na rua, sem revelar as presas, sabe... – Andrômeda sorriu, mas não estava de prótese dentária. Exibia dois caninos pontudos. – De todo modo, não podia esperar outra coisa daquela arteira... A menina motivo de preocupação da família...
- Eu me pergunto por que vocês se apaixonaram por mim... – afirmei, carrancudo. – Você está brava comigo, Andrômeda?
Ela me olhava, mas com pena.
- Não, Macário, com você não. Bem, eu conheço você, sim. É da sua natureza e, bem, eu estaria achando estranho que, depois da festa de ontem, não tivesse uma garota que... Bem, seria estranho que aquela festa, de algum modo, não acabasse em sexo. Bem, eu até esperava que fosse a Âmbar, aquela manipuladora... mas a Morgiana?! Ela se mostrou muito esperta, Macário... Muito esperta...
- E acho que ela não foi embora do apartamento. Que está escondida em algum lugar.
- Talvez esteja escondida naquele quartinho que sobrou, Macário. Não sei no que o Luce está usando o quarto, mas...
Tirei o bife do olho. A dor já aliviara.
- Oh não, Macário, olha como seu olho ficou. – Andrômeda examinou meu olho. – Olha o quão roxo ficou!
- Está roxo?
- Está, Macário... Olha...
E me emprestou um espelhinho, que ela tirou não vi de onde. Realmente, o olho estava muito roxo e inchado, mas o globo ocular continuava dentro da pálpebra, menos mal. E como não era a primeira vez que eu me via com o olho roxo assim, eu nem dei muita importância.
- Ai, Macário, como você vai sair para o seu curso assim?!
- Eu dou uma desculpa qualquer... – respondi com tranquilidade. – Sempre posso dizer que sofri uma queda no banheiro, algo assim. Tanta gente justifica uma agressão desse modo.
- Ai, Macário... Seu rosto tão bonito assim maltratado...
- Fala a verdade, Andrômeda, você está brava é comigo, não com a Morgiana.
- Não, Macário, é com a Morgiana mesmo. Aquela magricela. A Pequena Sereia, aquela Ariel junkie.
- Ah, saquei. – dei um sorriso. – Você está com ciúmes dela.
- Confesso que estou. – ela respondeu de bate-pronto. – Com muito ciúme. Com inveja também, se é que esses sentimentos não são sinônimos... Aliás, sempre tive inveja da Morgiana. Ela é o que eu um dia já fui...
- Hein?
- Eu já tive um cabelo tão negro e liso como o dela... e já fui tão magra quanto ela... Ela tem um corpo atlético, curvilíneo... Ela parece que nunca engorda... Ela sim mantém a beleza e a energia da adolescência e da juventude... – uma lágrima furtiva escorreu pelo rosto de Andrômeda. – Aah, perto daquela esportista em me sinto um barril de banha de porco...
- Engraçado... ela tem inveja dos seus seios, Andrômeda. – falei em uma tentativa de fazer um consolo, mesmo sabendo que seria mal sucedido.
- Meus seios? – ela olhou para o próprio decote.
- Uma sente inveja da outra, Andrômeda. Você sabe. Não foi ela quem me fez dizer que vocês pareciam gordas, você e a Âmbar? Você ouviu ela dizer isso no portal mental, ouviu sim...
Andrômeda encolheu os lábios.
- E eu – continuei – já estou farto da inveja de vocês, com o perdão da palavra. O importante é que vocês conseguem seduzir este garoto desgraçado, e até conseguem trabalhar juntinhas para isso. Essa rivalidade já encheu o saco... Eu é que não mereço compaixão, sou um cafajeste...
- E eu estou farta dessa mania que você tem de se autodepreciar, Macário. – Andrômeda sorriu para mim. – De negar as suas qualidades de sedutor... Você não tem pena nem de si mesmo... Mas confesse que você gosta disso e que, se pudesse, você transaria consigo mesmo. Hum?
Engoli em seco.
- Você às vezes não gostaria de ser mulher por pelo menos um dia?
- Hã... eu... eu vou tomar um banho para ir para a faculdade. – mudei de assunto. – Se importa?
- Não, Macário, não me importo. Quer que eu arrume alguma coisa para você comer enquanto isso?
- Hã... sim, gostaria. Obrigado.
E deixei a sala, suando frio.
Eu já conhecia Andrômeda. Ela tinha segundas e más intenções para comigo. Tenho mesmo é de sair dali de perto dela.
Insisto, por que as Monstras resolveram se apaixonar justo por mim?
Se continuar assim, está muito perto do meu pior pesadelo se realizar: o meu corpo ser analisado na próxima aula de anatomia da faculdade, ser cortado, dissecado, desmembrado para atender mórbidas curiosidades. E o que é pior, a primeira coisa que repararão no meu corpo, antes de aplicarem o bisturi, é que eu morri de p(...) duro. Morto de prazer e exaustão... Meu p(...) vai ser objeto de estudo na próxima conferência mundial de medicina...
A porta do quarto de Luce estava entreaberta, e pude ver, mesmo com a janela e as cortinas fechadas e a luz apagada, que Luce estava estirado na sua cama, imóvel, os braços junto ao corpo, as pernas juntas. Dormindo. Se ele não fosse vampiro, diria que Luce, na verdade, estava morto ali em cima da cama – seu peito nem se mexia, pelo que sei vampiros não tinham necessidade de respirar. E peladão, ainda por cima. E com aquele p(...) apontando para cima, como se fosse a única coisa viva em seu corpo...
Estaria ele tendo algum sonho erótico?
P(...) que pariu...
Fiz um pacto com o demônio, e meus tributos estão sendo pagos em sêmen. Sou um cafajeste. Não vou para o céu quando morrer...
Foi pensando assim que entrei no banheiro. E reparei, no box do chuveiro, uma cauda de tubarão aparecendo sob a porta entreaberta...
Ah, eu sabia. Morgiana não foi mesmo embora.

Mas que estranho, de onde aquela banheira apareceu?!

Próximo episódio daqui a 15 dias - provavelmente será a última postagem do ano, a menos que eu mude de ideia...
Até aqui, como está ficando? Está bom? Ruim? Devo manter? Mudar? Parar? Manifestem-se nos comentários, ou continuarei fazendo o que eu quiser nesta história pecadora...
Até mais!

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