domingo, 5 de setembro de 2010

MOBY DICK - do mar para o livro, do livro para HQ

Olá.
Hoje, vou falar de mais uma adaptação de obra literária para HQ.
Mas hoje, vamos de adaptação de obra estrangeira. Hoje vamos falar de MOBY DICK, de Herman Mellville.
MOBY DICK - O LIVRO
MOBY DICK foi publicado pela primeira vez em 1851, em três volumes. Seu autor, o estadunidense Herman Mellville (1819 - 1891) foi um aventureiro na vida real. Muitos de seus livros foram baseados em experiências reais vividas pelo autor quando trabalhava em navios. Mellville, em vida, nunca obteve sucesso comercial com seus livros, e sua vida foi bastante atribulada, cheia de altos e baixos, aventuras e agruras. Em vida, seu livro mais vendido foi o primeiro, Taipi- Paraíso de Canibais (1846) - e isso que esse foi um de seus livros mais difíceis de se publicar, pois os editores custaram a acreditar que Taipi, baseado na experiência do autor nas Ilhas Marquesas, no Pacífico, era verdadeiro. E a obra-prima de Mellville, MOBY DICK, nem obteve sucesso quando foi publicado: só foi reconhecido após a morte de Mellville, que também publicou, entre outros: Omoo (1847), White Jacket (1850), Bartleby, o Escrivão (1853) e o inacabado Billy Budd (publicado postumamente em 1924).
MOBY DICK faz, através de uma aventura fascinante, o retrato de uma indústria que estava em alta no século XIX, mas que hoje é condenável: a indústria baleeira. No século XIX, matar baleias era um negócio que rendia muito dinheiro: o óleo (que era usado na iluminação pública e caseira), os ossos (usados para esculpir ornamentos) e a carne dos grandes mamíferos e suas diversas espécies (as baleias comuns e as do tipo cachalote, diferentes por ser o cachalote dotado de dentes) tinham alto valor comercial à época. As cidades de New Bedford e Nantucket, ambas no estado de Massachussets (EUA) eram as principais cidades baleeiras do mundo: Nantucket era a capital americana, e New Bedford a capital mundial da caça à baleia. Essa atividade entrou em declínio com a Guerra Civil Americana (1861 - 1865) e com o uso de fontes alternativas aos produtos extraídos das baleias, como o petróleo. Hoje, muitos países proíbem a caça às baleias, visto que esses animais correm risco de extinção - porém, ainda há países, como o Japão, que mantém a caça sob licença, sob alegação de pesquisas científicas.
Melville viu de perto a indústria baleeira, então no auge: ele trabalhou, em 1841, em um navio baleeiro, o Acushnet. Matar baleias não era uma atividade fácil, visto que na época a caça se fazia mediante arpões manejados por muitos homens em barcos que partiam a partir do navio baleeiro. O óleo depois era retirado - numa atividade extremamente sangrenta - do couro das baleias mortas, fervido e estocado em tonéis. O risco de incêndio era grande, sem falar nas mortes que normalmente ocorriam nos navios, por acidentes ou por doenças. Uma vida dura, onde os pagamentos eram irrisórios e se passavam anos no mar, longe das famílias.
Bem. A indústria baleeira, e seus métodos, são o pano de fundo para o romance de Mellville. MOBY DICK é narrado em primeira pessoa por Ismael, um homem que decide se fazer ao mar por vontade e por não ter o que fazer em terra. Durante sua estada em New Bedford, Ismael conhece Queequeg, um nativo de uma ilha do Pacífico Sul que trabalhava como arpoador. A princípio, Ismael sente medo perto de Queequeg, que obviamente era um canibal; porém, acaba se tornando amigo do indígena, ao ver que seus modos eram bastante polidos e educados - a aparência de Queequeg, que possui tatuagens em todo o corpo, é que não ajuda.
Ismael e Queequeg decidem embarcar juntos em um navio baleeiro em Nantucket. E se empregam no Pequod, navio comandado pelo Capitão Ahab. Ahab, que não possui uma das pernas, é um personagem movido por vingança, e leva a sua tripulação a se aventurar nos mares em busca de um único objetivo: vingar-se de Moby Dick, a baleia branca, de testa enrugada e vários arpões no corpo, que foi quem arrancou a perna de Ahab. A caça às baleias era apenas um pretexto. E, no fim, Ahab acaba conduzindo a tripulação do navio, bem como a si mesmo e seu navio, a um fim trágico na luta contra a baleia branca.
Outros personagens importantes desse romance, além de Ismael, Queequeg e Ahab, são: os suboficiais Starbuck e Stubb; os arpoadores Tashtego (um índio de longos cabelos), Dagoo (um negro muito alto) e Fedallah (um indiano dotado de poder profético). Entre outros.
Em vários momentos do romance, cada sinal visto pelos homens - seja um polvo gigante, seja um acidente grave - é interpretado como mau presságio: nenhum dos homens - à exceção de Ismael, que consegue se salvar a muito custo - volta para o porto. Tudo é profecia, tudo é azar.
E o romance é mais que uma simples aventura marinha: a perseguição de Ahab à grande baleia branca nada mais é que a eterna luta do homem contra seu destino, luta contra as forças da natureza, em um mundo que jamais será um paraíso. E não é pouco.
Bem, a capa que vocês veem aqui é de uma adaptação da obra para o público jovem, pela saudosa série Reencontro, da editora Scipione. Adaptação de Werner Zotz. Foi o primeiro contato que tive com essa obra, e como não podia deixar de ser, meu primo Luís Felipe (para quem eu li em voz alta) e eu achamos uma aventura emocionante.
MOBY DICK HQ
A adaptação que vocês veem foi publicada em 2008, pela Companhia Editora Nacional, dentro da série Quadrinhos Nacional - sob essa série, foram publicadas também as adaptações feitas pelo brasileiro Laílson de Holanda Cavalcanti para os romances Triste Fim de Policarpo Quaresma, O Alienista e Memórias de um Sargento de Milícias.
MOBY DICK, entretanto, faz parte de uma série traduzida dentro dessa coleção: a linha de obras da literatura mundial. Esta adaptação foi publicada em 2006, pela Salariya Book Company (não sei dizer o país de origem). A adaptação é de Sophie Furse e a arte é de Penko Gelev.
Esta não é a primeira vez que MOBY DICK é adaptada para os quadrinhos: muita gente considera que a melhor adaptação do romance de Mellville foi a realizada pelo americano Bill Sienkievicz, para a série Classics Illustrated, publicada nos anos 80 do século XX. Bem, foi anunciado que a Editora HQM está relançando a Classics Illustrated no Brasil - a primeira publicação dessa ótima série foi pela Editora Abril. Dessa série, já li as adaptações de Hamlet de Shakespeare, O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas e Grandes Esperanças de Charles Dickens.
Bem, voltando à adaptação de MOBY DICK por Furse e Gelev: a rigor, MOBY DICK HQ não poderia ser considerado uma HQ, mas uma história ilustrada. Isso porque os quadros são estreitos, em grande parte horizontais e com legendas embaixo. Mas existem balões de fala.
Além disso, a adaptação tem muitos erros e acertos. O grande acerto é a arte belíssima e detalhada de Gelev, colorida em tons escuros, que transmitem a sensação claustrofóbica da HQ. Primeiro erro: os personagens não têm expressões faciais adequadas, tem todos um rosto "duro" e de expressões limitadas. Segundo erro: a falta de dinamismo e impacto dos desenhos. As cenas de ação são um pouco estáticas e os personagens carecem de movimentos amplos, apesar de algumas cenas serem realmente impactantes. Falta emoção, em suma. Falta aquilo para considerarmos MOBY DICK uma verdadeira aventura em quadrinhos. Como disse, é mais uma história ilustrada. E com a pretensão de ser uma "história em quadrinhos"? A intenção era boa, mas o tiro foi de raspão.
E essa edição da Companhia Editora Nacional, apesar de trazer no posfácio bons textos sobre a vida de Herman Mellville e sobre a Indústria baleeira, bem como informações sobre MOBY DICK em outras mídias - cinema, TV, desenhos animados - , não traz informações sobre Furse e Pelev. Desse modo, não tenho como informar aqui a origem da coleção e de seus autores.
Uma pena. No mercado, se podem encontrar adaptações muito melhores. Bem, mas ainda é preciso esperar chegar ao mercado, novamente, a adaptação de Sienkievicz.
Pelo menos, MOBY DICK HQ introduz o leitor à densa obra de Mellville, e permite visualizar partes que podem soar obscuras no original. Foi feita especialmente para os jovens em idade escolar, e no Brasil foi incluída no PNBE - Plano Nacional de Bibliotecas em Escolas, de 2009. Bem... agora já foi.
A VOLTA DE LETÍCIA!
Para encerrar, resgato de meus arquivos uma HQ de Letícia.
Esta historinha, com ecos em MOBY DICK, foi produzida por mim em 2004. O original foi desenhado em uma folha A3, e para publicá-la para vocês, tive de escanear em duas partes.
Podem ver que é a Letícia em seu início de carreira. Quando criei a personagem, eu a desenhava em folhas A3 - as tiras viriam depois.
Queria ter feito algo melhor para a postagem de hoje, mas devido a problemas de tempo e muitas tarefas, isso é tudo o que tenho para oferecer a vocês hoje. Buá!
Até mais!

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