domingo, 19 de setembro de 2010

O IMPEACHMENT de Geandré

Olá.
Hoje, vou falar mais uma vez de política. Através de cartuns. O clima é de eleições, só poderia ser.
Há algum tempo atrás, adquiri, num sebo daqui de Vacaria, uma raridade: uma revista de cartuns chamada O IMPEACHMENT. Só charges do artista gráfico Geandré.

QUEM?
Infelizmente, pouco se sabe sobre Geandré nos dias de hoje. Tudo o que consegui saber sobre esse artista é que ele editava uma revista de humor, a Ovelha Negra, entre os anos 80 e 90. Segundo informações, Geandré ainda participa de eventos cartunísticos pelo Brasil.


O IMPEACHMENT
Esta revista foi publicada por volta de 1993, pelo contexto histórico apresentado. É uma publicação do selo Mel da Motivo Editorial, e é uma revista muito rara.
Nesta revista, Geandré mostra, através de seus cartuns, o clima reinante durante o governo de Fernando Collor de Mello (1989-1992), o presidente mais jovem do Brasil, e (por enquanto) atual senador da República.

CONTEXTO HISTÓRICO
Muito gente com mais de 20 anos de idade já vivenciou o que foi o governo Collor. O primeiro presidente eleito pelo povo após a Ditadura Militar (1964-1985), ele bateu Luís Inácio Lula da Silva nas eleições de 1989. Sua campanha política, sua imagem de "caçador de Marajás" e seu estilo esportivo encantaram o povo - uma vez que a Rede Globo apoiou sua candidatura. A mídia, porém, elege mas não mantém. E, mal tomou posse, anunciou um novo plano econômico para tentar superar a crise econômica que o Brasil vivia desde o fracasso do Plano Cruzado, de José Sarney. Este plano, capitaneado pela ministra Zélia Cardoso de Mello, consistia num confisco nas poupanças, e os clientes dos bancos só poderiam retirar de suas cadernetas o mínimo estipulado pelo governo. No entanto, o Plano Collor fracassou, claro.
No governo de Collor, também ocorreu o fechamento da Fundação Nacional de Artes - FUNARTE. Entre os prejuízos causados para a indústria cultural brasileira, o fechamento da FUNARTE estagnou a indústria brasileira de histórias em quadrinhos, já que a Fundação distribuía muitos trabalhos de autores nacionais para jornais e revistas. Poucos foram os títulos brasileiros que sobreviveram à crise, como a Mônica de Maurício de Souza.
Mas o marcante mesmo foi o escândalo de corrupção envolvendo o presidente. Capitaneado pelo empresário Paulo César Farias, o "Esquema PC" desviava dinheiro público para contas particulares - entre elas, a do Presidente. Tudo isso foi revelado pelo irmão do Presidente, Pedro Collor, em entrevista à revista Veja, em maio de 1992. Outra revista que deu uma mão para a investigação foi a IstoÉ, que publicou, em junho de 1992, entrevista com Eriberto França, o motorista da secretária de Collor, que dava detalhes sobre o funcionamento do esquema.
As investigações da CPI instaurada até então revelou a ligação de Collor com Paulo César Farias, e muitas outras pessoas envolvidas em corrupção, como Rosane Collor, a primeira-dama. O descontentamento do povo foi geral, e os jovens pintaram seus rostos e saíram às ruas para protestar. O movimento dos caras-pintadas tomou o Brasil.
Collor, para não sofrer o processo de impeachment (afastamento), renunciou, a 29 de dezembro de 1992. No entanto, o Senado determinou que Collor não poderia disputar eleições até o ano 2000. E o governo foi entregue ao vice-presidente de então, Itamar Franco. E, vejam agora: Collor voltou à política, desta vez como senador. O povo não tem memória mesmo!
Bem, este foi um resumo mais ou menos do contexto histórico. Devo ter trocado alguma informação... porque escrevi quase tudo de cabeça. Buá!
AGORA, A REVISTA
O IMPEACHMENT mostra que Geandré era anti-Collor desde o início. Todas as suas charges (a data de publicação e o periódico em que saíram não constam, se é que as charges saíram anteriormente em periódicos) revelam como era o Brasil e o clima de descontentamento do povo com o governo. Geandré é dono de um traço simples, porém com variedade de tendências de desenho: cartuns em traço rápido, outros feitos com mais elaboração (com o uso de hachuras e detalhes em aquarelado). São 36 páginas e muitos cartuns de página inteira.
Os jovens de hoje nem fazem ideia de como era a época de hiperinflação e hiper-dívida externa. Tudo isso já ficou no passado, mas agora o povo precisa aprender a voltar bem, a votar melhor, a escolher os candidatos.
O IMPEACHMENT vale pelo caráter histórico. Como diz a capa, era uma edição para guardar, com muito humor. Muita gente não deve ter guardado. É bom para relembrar a época (mas quem gostaria de relembrar?) ou simplesmente conhecer a época.
Se alguém tiver informações sobre o artista, por favor, entrem em contato.
Para encerrar, mais uma das charges bancárias que eu publiquei no jornal Conta Corrente, do Sindicato dos Bancários de Santa Maria, por intermédio do Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria - Quadrinhos S. A., todos de Santa Maria - RS.
Desta vez, é uma ilustração a cores, de capa. Com a data e tudo.
Até mais!

Nenhum comentário: