Hoje, volto a falar de quadrinhos. E de quadrinhos brasileiros.
Hoje vou falar de um super-herói do tipo que a gente anda precisando muito em nosso país.
Hoje vou falar de VULTO.
O VULTO é criação do quadrinhista mineiro Wellington Santos. A trajetória do herói é um belo exemplo de perseverança nesse país onde é difícil para um artista de quadrinhos viver de sua arte.
Wellington Santos criou o VULTO em 1990, mas foi só em 2005 que Santos conseguiu publicar, por conta própria, a primeira aventura do herói, que tinha (pasmem!) 82 páginas. A revista Vulto, o Vigilante, foi produzida sob o selo criado pelo autor, o WHQ, e foi lançado em um evento produzido pela escola de artes Studio A4, de Belo Horizonte, graças ao contato com o parceiro de empreitada Raimundo Gomes. Esse lançamento teve repercussão da mídia (jornais, internet, revistas e TV), e ajudou a tornar o VULTO conhecido do público.
Em 2007, iniciou-se a parceria entre Santos e a editora Júpiter II, de José Salles. Foi através da Júpiter II que saiu a segunda aventura do herói, Guerra Declarada. Seguiu-se a esta, pela mesma editora, as edições Um Estranho na Cidade e Vulto - 20 Anos. É um belo exemplo de perseverança, a trajetória de Wellington Santos, esse pai de família e artista admirável.
Já foram, até o momento, quatro revistas e cinco aventuras completas do VULTO - quatro delas desenhadas pelo próprio Wellington.
QUEM É O VULTO?
O VULTO é um vigilante mascarado, no melhor estilo do Justiceiro, da Marvel Comics. Ele protege a sua cidade natal, Belo Horizonte (MG), dos mais diversos tipos de bandidos: traficantes de armas e de drogas, chefes do crime, policiais corruptos e muitos outros foras-da-lei.
A identidade secreta do Vulto se chama Nelson Montenegro. Ele começou sua carreira no GE, Grupamento Especial, um renomado esquadrão de operações especiais (uma espécie de S.W.A.T.). No entanto, Nelson acaba descobrindo, durante uma missão, que os chefes do GE estavam ligados ao narcotráfico (tráfico de drogas). Nelson começa a se empenhar em reunir provas dessa conexão, porém, durante suas investigações, é despedido do GE e ainda sofre um atentado, que quase o matou. Salvo da morte por dois garotos, ele se recupera e continua as investigações de onde parou, com a ajuda de seu colega Cássio, que também se torna foragido. Nelson, refugiado em um galpão abandonado, resolve então criar o uniforme do VULTO: uma roupa inteiriça, a prova de balas, com uma máscara para esconder seu rosto. O VULTO então decide levar as provas a um homem de confiança, que se tornaria seu maior aliado: o delegado Anderson Costa, um homem realmente honesto e empenhado em combater o crime. Com a ajuda de Anderson, Nelson consegue desmascarar o GE e sua ligação com o narcotráfico, mas o custo é alto: dois de seus amigos foram assassinados - um deles é Cássio, que atuaria como testemunha contra o GE, mas foi assassinado ao tentar salvar sua esposa que foi sequestrada.
O GE foi desmascarado e os líderes - entre eles o maquiavélico capitão Lúcio - foram presos. Mesmo assim, Nelson decide não parar por aí: ele resolve declarar guerra ao crime. Aperfeiçoa o uniforme, adota como símbolo duas facas com a lâmina em V e sai pela noite caçando bandidos.
O VULTO não possui superpoderes: ele se vale de seu preparo militar e de um arsenal próprio para caçar os bandidos. Esse arsenal inclui armas de fogo, um arco com flechas explosivas e as famosas facas. O VULTO ainda é bom de briga e extremamente durão. Um adversário à altura ao crime em grande escala.
Porém, civilmente, Nelson é menos durão, principalmente na presença de sua namorada, a bela Márcia - que naturalmente desconhece a dupla identidade do herói. Ainda.
O único que conhece a identidade secreta do Vulto, até o momento, é o Doutor Anderson Costa - após o assassinato de Cássio, para poder testemunhar contra o GE, Nelson é obrigado a revelar sua identidade ao delegado.
O VULTO segue o apelo da sociedade civil: já que a polícia mal pode fazer algumaa coisa contra a criminalidade, precisamos de um super-herói. Além disso, as aventuras do VULTO são bem sintonizadas com a realidade - e o tchans do conceito da série está justamente no fato de as aventuras se passarem em um cenário real - Belo Horizonte, MG - criando desse modo uma imediata identificação com o leitor brasileiro, pois trata-se de um cenário conhecido da maioria.
O ESTILO DE WELLINGTON SANTOS
Wellington Santos tornou-se conhecido pelos seus personagens de traço forte e com bom domínio da anatomia - os músculos, principalmente dos braços dos personagens masculinos, sempre ficam bem aparentes, mesmo nos personagens que estão meio "fora de forma", com a barriga saliente. E as mulheres de Santos são todas bonitas e gostosas - destaque para Márcia, a namorada do herói. O traço de Santos dá ao VULTO o jeito durão que é sua marca registrada. Além disso, é evidente o domínio das técnicas de claro e escuro - Santos é quem desenha e artefinaliza todas as histórias.
As aventuras do VULTO costumam ser bem dinâmicas e cheias de ação, sem abusar demais da violência explícita. O sangue de escorre vem principalmente dos buracos dos tiros. Mas existem alguns problemas: o primeiro é a carência dos símbolos cinéticos nas cenas de ação - dá a impressão de que algumas sequências que devem ser representadas com amplos movimentos são estáticos como na imagem de uma fotografia. Outro defeito reside nos balões e nas caixas de texto em profusão: Wellington costuma dividir o texto em muitas caixas e balões, às vezes é difícil saber qual a ordem certa de leitura. E, às vezes, é perceptível que alguns textos dos quadrinhos são desnecessários, já que vale mais a imagem.
Felizmente, esses defeitos são raros se considerarmos o conjunto inteiro das histórias. Os roteiros são sempre narrados em terceira pessoa, com narrador onisciente (que narra como "sabedor" de tudo o que vai acontecer e dos pensamentos dos personagens). A cada quadrinho, Wellington alterna os planos de visão, quer dizer, em cada quadrinho a "câmera" está posicionada em um ângulo diferente, exceto em algumas sequências. O grande charme das aventuras do VULTO ainda reside na arte.
AS AVENTURAS DO VULTO LANÇADAS ATÉ AGORA
E agora, vamos conhecer as quatro revistas do VULTO produzidas até agora.
VULTO, O VIGILANTE
Lançada em agosto de 2005.
É a aventura de estreia do herói, com 82 páginas. Nela, é narrada a origem do VULTO, conforme a descrição acima. Desde quando Nelson Montenegro descobre a conexão do GE com o narcotráfico até quando os líderes da operação são presos. Uma aventura de bastante impacto. Texto e arte de Wellington Santos. E inclui ainda ilustrações especiais pin-up de Gleison Santos, Rodrigo Santos, Raimundo Gomes, Eckner Darwin e do próprio Wellington Santos. A capa é de Wellington Santos com cores de Eckner Darwin e Tiago C. Castro.
VULTO - GUERRA DECLARADA
Lançada em novembro de 2007.
É a primeira parceria entre Wellington Santos e a editora Júpiter II. Com 24 páginas. Nessa aventura, o uniforme do herói passa por uma mudança (o cinto, por exemplo, que era reto, agora é em V) e o VULTO passa a usar as facas. Aqui, Nelson Montenegro começa sua luta contra o crime: como Vulto, ele "visita" bandidos, empresários que financiam o crime, traficantes e outros meliantes, com o intuito de "avisá-los" sobre sua presença. Texto e arte de Wellington Santos. Inclui ilustrações de Angelo Roncalle eVinícius Moura. Capa de Wellington Santos, com cores de Ecner Darwin e Tiago C. Castro.
VULTO - UM ESTRANHO NA CIDADE
Lançada em 2008.
Nessa nova aventura, de 28 páginas, vemos o retorno de alguns personagens que apareceram em Guerra Declarada. Um conhecido bandido do Rio de Janeiro, Rinaldo Oliveira, o "Rio", pretende instalar uma base da organização criminosa "Comado Arsenal" em Belo Horizonte, com a anuência de alguns figurões da cidade. É lógico que o Vulto, com a ajuda do Doutor Anderson Costa, não vão permitir sua presença. Após uma rápida ação do Vulto, "Rio" é capturado, porém o novo delegado, Antônio Maia, pretende fazer uma parceria com o criminoso. Claro que o Vulto vai estar em cima, e vai ganhar um novo inimigo. Inclui, como um adicional mais que especial, ilustrações pin-up feitas por grandes nomes da HQ nacional: Allan Alex, Júlio Shimamoto e E. C. Nickel. Capa de Wellington Santos com cores de Tiago C. Castro.
VULTO - EDIÇÃO ESPECIAL DE 20 ANOS
Lançado em abril de 2010.
Esta edição especial, de 28 páginas, foi lançada duas vezes: em abril e em agosto deste ano. Na segunda é que teve a festa de lançamento. Bem, mas desta vez esta revista reúne duas histórias: a primeira, A Noite do Herói, traz uma aventura do Vulto pelo ponto de vista de um cidadão comum: o próprio Wellington Santos! Sim! O autor se insere como personagem da história, e vai refletindo sobre as ações do Vulto, até o momento em que o encontra pessoalmente - e ainda salva sua vida! Uma história muito interessante. Texto e arte de Wellington Santos. A seguir, uma matéria especial, onde Wellington Santos conta a trajetória do VULTO, desde sua criação, em 1990, até o momento, relatando inclusive as diversas mudanças de visual do personagem. E, fechando com chave de ouro, a segunda história, Conflito no Morro. Nela, Vulto combate o traficante Alison "Caveira" (que também apareceu em Guerra Declarada), que comanda o tráfico na vila Pai Joaquim, em BH. O roteiro sintoniza-se com a realidade das crianças, que são cooptadas para o tráfico, ou são vítimas dele, e dos trabalhos sociais desenvolvidos em favor delas. O grande diferencial da história é a arte, que desta vez ficou a cargo de Raimundo Gomes (o texto é de Wellington Santos), e que deixou os personagens mais "simpáticos", porém o roteiro é impactante. Inclui ilustração de Adauto Silva, um dos melhores capistas da editora Júpiter II. Capa de Wellington Santos com cores de Raimundo Gomes.
Para adquirir as edições da Júpiter II, escrevam para José Salles: smeditora@yahoo.com.br. Ou acessem: http://jupiter2hq.blogspot.com. As edições custam R$ 3,00 cada uma (mais baratas que um gibi do Justiceiro, mas com o mesmo impacto!). Já para adquirir Vulto, o Vigilante, é preciso escrever para o próprio Wellington Santos: vultohq@yahoo.com.br. Com sorte, ainda é possível adquirir um exemplar da primeira aventura do herói, pelo preço de R$ 7,00. Vale a pena, para quem ainda acredita nas HQ nacionais.
A minha ilustração do Vulto vocês puderam conferir acima. Só queria ter feito melhor o desenho das armas... buá!
Em breve, mais HQ no Estúdio Rafelipe! Aguardem novidades!
Até mais!
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