sábado, 4 de setembro de 2010

WHO FIGHTER e O CORAÇÃO DAS TREVAS

Olá.
Hoje, passado o aniversário do blog, vou falar de mangá. Quadrinhos japoneses, mas publicados no Brasil.
A editora HQM (que publica o gibi de Xaxado) também entrou na onda de várias editoras em lançar mangás. Sob o selo HQMangá, a editora já lançou três: os brasileiros Vitral e O Príncipe do Best Seller (ambos produzidos pelo Futago Estúdio: o primeiro com texto e arte de Shirubana; e o segundo com texto e arte de Soni) e o japonês WHO FIGHTER E O CORAÇÃO DAS TREVAS, de Seiho Takizawa, do qual falo agora.

WHO FIGHTER E O CORAÇÃO DAS TREVAS apresenta pela primeira vez no Brasil a surpreendente obra de Takizawa, publicado no Ocidente primeiramente pela editora americana Dark Horse. É uma coletânea, em volume único, de três histórias de guerra.
WHO FIGHTER é um trabalho dos mais surpreendentes. A começar pela forma como a HQM publicou, numa impressão em papel de boa qualidade e capa cartonada - é difícil a gente encontrar aqui no Brasil obras publicadas com tão boa qualidade, talvez porque tal cuidado acabe aumentando o preço final do produto. Mas o recheio desta edição é ainda mais legal: são boas histórias, e em um estilo realista, que foge um pouco do traço "standard" do mangá, de olhos enormes. Ah: e no sentido de leitura original japonês, de trás para a frente (no que é a frente para nós, ocidentais).
WHO FIGHTER, como eu disse, traz três "contos estranhos de guerra". As três histórias do álbum "exploram o tributo que o combate cobra da mente humana e as forças sombrias que são liberadas pelas recorrentes investidas da humanidade na guerra", segundo o texto da contracapa. As três histórias se passam na época da Segunda Guerra Mundial - a última, entretanto, dá um salto para o Futuro.
A primeira história é Who Fighter. Trata-se de uma história de guerra com toques de ficção científica, numa abordagem dos lendários "Foo Fighters", apelido dado pelos pilotos da Segunda Guerra Mundial às misteriosas "bolas de fogo", tidas como OVNIs (Objetos Voadores Não-Identificados). Um ás japonês, o tenente Kitayama, durante uma missão em seu avião, vê e abate uma dessas "bolas de fogo", que ao longo da história é tido como uma arma de guerra dos americanos. Desde esse fato, ameaças nefastas e estranhas visões assombram-no, ameaçando sua sanidade. E ele está sob investigação, conduzida pelo agente Ozaki, de um laboratório secreto de pesquisas - Ozaki, entretanto, também acaba envolvido nas visões. Como a própria sinopse entrega, é uma história que envolve alienígenas, abduções, estranhas marcas no corpo dos envolvidos e lances de ufologia, que evoca filmes como Contatos Imediatos de Terceiro Grau e séries como Taken. Assustador é o mínimo que se pode dizer de Who Fighter: é a primeira demonstração que Takizawa faz dos efeitos da guerra nos homens. Os céus são maiores do que você pensa.
A segunda história, O Coração das Trevas, traz uma visão única do autor sobre o romance homônimo do escritor anglo-polonês Joseph Conrad, publicado em 1902. Para quem não conhece, O Coração das Trevas, o romance, faz uma crítica à política imperialista de sua época, entre os séculos XIX e início do século XX - quando países europeus como Inglaterra, França, Alemanha e Rússia lançaram-se à conquista de países da África e da Ásia, e inclusive promovendo barbaridades com as populações locais em nome da expansão de seus então mercados industriais. O Coração Das Trevas foi, inclusive, a base para o diretor Francis Ford Coppola produzir o clássico cinematográfico Apocalipse Now, de 1979, passado na Guerra do Vietnã.
O Coração das Trevas de Conrad se passa na África, quando um marinheiro, Marlow, conta a seus companheiros de barco as aventuras que empreendeu para resgatar Kurtz, um chefe de um acampamento de extração de Marfim que havia enlouquecido e não estava cumprindo as ordens da companhia; porém, ao adentrar selva adentro, Marlow visualiza as atrocidades de seu império sobre o continente africano, e descobre que os motivos que levaram à deserção de Kurtz eram diferentes do que haviam lhe contado.
O Coração das Trevas de Takizawa se passa na Brimânia, na Ásia, na época da Segunda Guerra Mundial - é mais ou menos como o que Coppola fez em seu filme quando adaptou Conrad para o Vietnã. O jovem capitão Maruo é enviado à Birmânia para exercutar o Coronel Kurutsu, um herói de guerra japonês que enlouquecera e, tal como Kurtz, decide fundar um reino particular na selva birmanesa. E Maruo, tal como Marlow, também acaba vendo de perto os horrores que a guerra fez naquele país, quando encontra construções devastadas, soldados esfarrapados e homens enlouquecidos - tudo antes de adentrar no "reino" de Kurutsu, e descobrir os reais motivos da deserção do coronel. Uma adaptação literária que não é adaptação literária, mas uma visão pessoal de uma obra literária - algo que a gente não encontra muito por aí nas lojas ou nas bancas.
Tanques, uma história curta, fecha a edição com chave de ouro: é uma viagem surreal através de gerações de tanques de guerra. A cada instante, um modelo de tanque de guerra de diferentes épocas aparece na história, da Segunda Guerra Mundial até o futuro. Uma história de encerramento antes de voltarmos ao normal, após a jornada pela loucura da guerra, e voltarmos à nossa guerra particular, a do dia-a-dia e a que vemos nos noticiários da televisão.
Era algo que estava faltando no mercado brasileiro - nós, que atualmente estamos com as bancas atulhadas de mangás, e nem todos de boa qualidade. WHO FIGHTER é um material que vale a pena dar uma olhada. O preço? R$ 14,90.
Para terminar, inspirado em WHO FIGHTER, produzi uma ilustração: um avião passando em frente ao sol. Caneta e lápis de cor. Temo, entretanto, não ter saído fiel à realidade, como inicialmente imaginei... buá!
Até mais!

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