Ontem, o humor do Brasil foi dormir triste. Isso porque recebemos a notícia da morte de Chico Anysio, um dos maiores mestres do humor brasileiro – se não o maior.
O ator, escritor, criador de personagens e, principalmente, humorista, não resistiu à série de males de saúde que o acometiam desde o final do ano passado.
Fazer uma breve explanação da carreira de Chico Anysio não é fácil, pois ele teve muitas faces. Literalmente: ele criou nada menos que 209 personagens humorísticos, boa parte deles memorável. Cada um com um bordão, uma cara, um trejeito diferente do outro. Poucas pessoas conseguem isso de fato. Citar entre seus personagens apenas Alberto Roberto (o “ídalo sescual”), Coalhada (“mas hein?”), Bento Carneiro (“Não creu n’eu, se finou-se”), Painho (“afff...”), Bozó (“eu trabalho na Globo, ta legal?”), Justo Veríssimo (“quero que pobre se exploda!”), Valentino (“eu sou criança, não sou de nada...”), Nazareno (“Caaalada!!!”), Pantaleão (“È mentira, Terta?”), Professor Raimundo (“E o salário, ó...”), etc., dentre os mais conhecidos, seria injustiça para com todos os outros.
Chico Anysio também foi um professor. Não falo apenas do seu personagem mais querido, o Professor Raimundo: o artista também influenciou gerações de humoristas, entre alunos da Escolinha e outros aos quais ele apenas serviu de escada.
Vindo do estado brasileiro pólo exportador de humoristas – o Ceará - , Chico Anysio, nascido Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, em Maranguape em 1931, e que se mudou ainda jovem para o Rio de Janeiro, sempre gostou de contar que sua carreira começou graças a um par de tênis: um dia, quando ele foi pegar um par de tênis, em casa, para jogar futebol, surpreendeu a irmã se arrumando para ir fazer um teste numa rádio – e resolveu ir junto. E foi no rádio que não apenas fez grande carreira como locutor e humorista, como também lançou alguns de seus personagens – como o já citado Professor Raimundo. Quando ele começou a fazer cinema e televisão (foi na TV Globo que ele se consagrou), ele se mostrou um tipo multifacetado. Vários personagens, vários programas de TV dentre próprios e/ou apenas quadros em programas coletivos, e foram tantos que ele precisou criar uma cidade inteira para todos eles – Chico City.
Chico Anysio deixou também uma dinastia de comediantes – vários familiares seus, dentre irmãos, filhos e netos, são atores e humoristas. Foram quatro casamentos – um deles, com a ex-ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello, a que havia ordenado, em 1990, o confisco das poupanças.
Ele também escreveu livros, de contos e de crônicas. Citar apenas O Batizado da Vaca, O Enterro do Anão e Na Curva do Calombo dentre os mais conhecidos é até covardia, pois vários outros ficam de fora.
É, ele vai deixar saudades.
Eu sou, inclusive, um daqueles que cresceram tendo por principal diversão de fim de tarde ver o Professor Raimundo e seus alunos muito loucos. E quem, na infância, nunca chegou a brincar de escolinha, aos moldes do Prof. Raimundo Nonato?
Mas, dentre os personagens que o Chico criou, um dos meus favoritos era o Nazareno, o bêbado e machão, e seu bordão “Caaalada!!! Senta aí!”.
O Estúdio Rafelipe, nesta postagem singela, deixa registrada a homenagem a este grande artista.
Acima, vocês puderam conferir uma das ilustrações de hoje: enquanto muitos tiveram por escolha natural usar o Professor Raimundo para fazer uma homenagem em forma de charge, eu resolvi usar o vampiro brasileiro, Bento Carneiro. Infelizmente, este não teve a sua “vingança ‘malígrina’”.
E, abaixo, mais uma: como aqui no Rio Grande do Sul ainda esta sendo uma novela a questão do piso salarial do magistério – que o governo daqui insiste em dizer que não tem verbas para honrar com o piso nacional – é, portanto, natural evocar o prof. Raimundo Nonato. Como também sou professor, eu sei como ele se sente.
Não se preocupe, Chico. Nós ainda temos motivos para rir aqui no Brasil. Você pavimentou o caminho por onde o humor deve passar. Mas, ainda assim, sentiremos sua falta.
É isso aí.
Até mais!
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