segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Romero Britto, uma história de amor e puzzles (parte 1)

Olá.
Hoje não vai ter desenho no blog: vai ter fotos.
Na primeira postagem deste ano, eu relatei, entre os pontos positivos de 2014, que consegui montar dois quebra-cabeças de Romero Britto. Bem, hoje vou contar - e com ilustrações - um pouco mais sobre isso.
Quem aqui ainda não ouviu falar de Romero Britto? Brasileiro, nascido no Recife, atualmente residente em Miami, Flórida, EUA. Pintor e escultor, conhecido por seus quadros coloridos, alegres, com grandes contornos pretos, lembrando vitrais com motivos infantis. Aclamado no mundo todo, elogiado por celebridades do Brasil e do exterior, odiado por alguns tantos que classificam sua arte como um pastiche de clichês da pop art. Suas pinturas estampam produtos, desde bolsas até capinhas de celular... passando por quebra-cabeças.

Há algum tempo, a empresa brasileira Grow comercializa jogos de quebra-cabeça com estampas dos quadros romerobritteanos (terei sido o primeiro a criar o adjetivo? Acho que não...). De acordo com o quadro, o número de peças varia - o maior, pelo que pude descobrir, tem 6000 peças.
Bão. Foi a pedido da diretora do colégio onde trabalho que montei os dois quebra-cabeças. Entenderam que eu seria o único por ali com  capacidade mental para cumprir essa tarefa, ou talvez porque eu, naquele momento, era o professor que tinha mais períodos livres.
O primeiro foi justamente um dos maiores quebra-cabeças romerobritteanos: Britto's Garden, tamanho 97,4 x 137,2 cm, 5000 peças. E o grande complicador do quebra-cabeça é a existência de grandes espaços com uma só cor, em peças aparentemente iguais. E as peças das laterais estavam todas misturadas com as peças normais, que por sua vez estavam todas embaladas em saquinhos separados por cores semelhantes. Ainda bem que tinha a ilustração na tampa da caixa para ajudar.
O trabalho de montagem, no total, levou cinco meses, começando em maio e terminando em setembro, trabalho interrompido por causa das férias escolares da metade do ano; seis a oito horas por semana, em média, indo montar o quebra-cabeça na biblioteca da escola, que era onde tinha a mesa suficientemente grande para acomodar o quebra-cabeça. Ao término de cada período de montagem, onde eu conseguia encaixar numa média de 20 a 40 peças por dia, bastava enrolar o quebra-cabeça em um suporte especial, inflável, que permite que o trabalho não se perca. Ao final do período de trabalho, o quebra-cabeça enrolado era guardado na secretaria, com todo cuidado. O suporte também pode se encontrado nas mesmas lojas de brinquedos que vendem os quebra-cabeças. E esse trabalho todo feito sob olhares de professores e alunos que passam constantemente na biblioteca da escola.
Mas o trabalho valeu a pena, foi muito elogiado. O único defeito: faltou apenas uma pecinha, provavelmente perdida em um momento de descuido. Felizmente, era uma peça em um setor escuro, quase invisível.
Sabe a terrível constatação? Muita gente ao meu redor, que me via trabalhando, e que elogiou mais tarde minha capacidade (modéstia à parte) declarava abertamente que era incapaz de montar um quebra-cabeças daquelas proporções. Um triste reflexo da educação brasileira, pois sabiam que montar quebra-cabeças ajudam a desenvolver o raciocínio lógico e são tão eficientes para treinar a mente quanto as palavras cruzadas? Ainda mais quebra-cabeças de mais de 1000 peças, com cenários de detalhes complicados como árvores com galhos finos, grama e grandes espaços abertos e monocromáticos. No caso dos quebra-cabeças de Romero Britto, é um tanto mais fácil por causa dos detalhes com os ideogramas, bolinhas, listras...
Mas, ao fim de um enorme período de trabalho extra, o colégio agora tem um "legítimo" Romero Britto em exposição. A diretora mandou emoldurar o quadro, e pendurá-lo no corredor de entrada, e com a peça faltante bem discreta.
Britto's Garden. Pessoas, flores, corações e animais em um grande espaço colorido.
Na próxima postagem, o segundo quebra-cabeça romerobritteano.
Até mais!

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