sexta-feira, 19 de março de 2010

DIDI E LILI GERAÇÃO MANGÁ: era só o que faltava...

Olá.
Estou de volta! E, antes de começar a série especial sobre Crepúsculo, vou falar de gibi novo que chegou recentemente às bancas.
Atualmente, os famosos estão trabalhando junto com seus filhos, lançando os mesmos como artistas, sucessores deles. Isso já é fato no caso de Xuxa Meneghel e sua filha Sasha, e de Renato Aragão, o Didi d'Os Trapalhões, e sua filha Lívian, a Lili. No caso desses dois, a filha de Didi Mocó Sonrizep Colesterol Novalgino Mufumbbo (nome completo do personagem do Sr. Aragão) já estrelou uma penca de filmes e especiais de TV junto com o pai. Todos, claro, voltados para crianças, afinal é a especialidade de Didi. Portanto, não espere algo realmente surpreendente e de inteligência profunda, meu exigente leitor.
Pois agora o cara inventou um novo produto ao lado da filha. Trata-se do gibi DIDI E LILI GERAÇÃO MANGÁ.

Isso mesmo: agora Didi Mocó aparece em mangá! Esse estilo de desenho está mesmo se propagando feito uma praga nas publicações nacionais: depois de um período entre 1997 e 2005 de revistas em estilo mangá elaboradas por artistas brasileiros das editoras Escala, Trama (posteriormente Talismã), Linhas Tortas e outras, agora a onda é transformar personagens célebres em mangá: primeiro foi a Turma da Mônica, depois a Luluzinha. Agora, o Didi.

SENTA QUE LÁ VEM UM POUCO DE HISTÓRIA!
Este já é o quinto gibi que Didi estrela no Brasil - sem contar a série de revistas de atividades e os livros infantis estrelados por seu colega Dedé Santana. A bem da verdade, Didi estrelou três revistas junto com Os Trapalhões Dedé, Mussum e Zacarias e duas solo (contando essa de agora).
Como muita gente sabe, Os Trapalhões marcaram época na televisão brasileira. Muitos adultos de hoje paravam aos domingos, às seis da tarde, para acompanhar as verdadeiras loucuras promovidas por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Eu aqui, por exemplo, adorava não só o programa, mas também os filmes - se passar filme dos Trapalhões na Sessão da Tarde, tô dentro!
Bem. Os vários produtos gerados pelo fenômeno Trapalhões também incluía os quadrinhos. A primeira revista estrelada pela trupe apareceu em 1976, pela Bloch Editores (a mesma da finada revista Manchete), com direção de arte do mestre Edmundo Rodrigues. Não foi uma fase assim marcante, até porque os Trapalhões dividiam a revista com personagens como o Gato Félix.
A segunda e mais marcante fase dos personagens na HQ começou em 1980, quando um artista célebre chamado Ely Barbosa jogou um dos exemplares da revista em cima da mesa dos editores da Bloch e declarou: "Isto aqui é uma m(...)!". E, sob sua direção de arte, começou a melhor fase d'Os Trapalhões em HQ, pela mesma Editora Bloch. Nessa fase, onde prontificavam o humor escrachado e as inúmeras sátiras aos super-herói e filmes - como o Super-Ômi, o Frangasma, a Nega Maravilha e muitos outros - , a arte ficava por conta de artistas que hoje devemos ter ouvido falar em alguma ocasião: Eduardo Vetillo, Watson Portela, Bira Dantas e muitos outros. Ely Barbosa também ficaria conhecido como o criador de personagens como Turma do Cacá, Turma da Fofura, O Gordo e Cia. e Turma da Patrícia, que também marcaram a infância deste que vos digita.
A terceira fase d'Os Trapalhões em HQ data de 1988, pela editora Abril Jovem. Desta vez, os personagens são transmutados em crianças, e a concepção artística é de César Sandoval, o criador da Turma do Arrepio. Essa fase, visivelmente mais infantil, no entanto não abre mão do estilo do programa televisivo. Mesmo crianças, Os Trapalhões satirizavam também as séries e filmes famosos, e renderam uma segunda revista, As Aventuras dos Trapalhões.
O tempo passou. Com as mortes de Mussum e Zacarias, o quarteto dispersou-se. Didi e Dedé foram fazer carreira solo. Dedé, que se converteu ao evangelho, estrelou o programa Comando Maluco, no SBT, com a turma que trabalha no parque do falecido Beto Carrero; Didi não saiu mais da Globo, e continuou fazendo filmes e programas. Nunca saiu das paradas, formou até uma nova turma.
Mesmo em carreira solo, Didi estrelou uma nova revista. Em 2003, pela editora Escala, aparece As Aventuras do Didizinho, produzida pela Twister Estúdio. Nessa fase, foi formada a chamada Trupe do Didi, toda de personagens especialmente criados para essa série e baseados em personagens e bordões proferidos por Didi: tivemos portanto o Mãozinha, a Livinha, a Sabe-Tudo, o Ananias, o Som na Caixa, o Ô da Poltrona e muitos outros. Livinha e Mãozinha até chegaram a estrelar seus próprios gibis!
Bem, novamente o tempo passou. Dedé voltou a se reunir com o Didi, e ambos continuam dando um show nas tardes da Globo. E agora, em março de 2010, chegou a nova revista do Didi.

DIDI E LILI GERAÇÃO MANGÁ
E é novamente a Editora Escala que está encampando o projeto!
Desta vez, ao lado da filha Lívian, claro.
Bem, quando comprei o gibi, eu não esperava grande coisa, possivelmente histórias humorísticas, sem pé nem cabeça, como as que o Didi protagoniza aos domingos. Na verdade, só me interessei pela revista porque o grande artista Arthur Garcia estava na equipe de produção.

QUEM?!?
Para quem não conhece, Arthur Garcia (nascido em 1963) é um dos mais versáteis artistas brasileiros. Ele desenha tanto em estilo comics como em estilo mangá.
Ele começou sua carreira no início dos anos 80 do século passado, desenhando quadrinhos eróticos para a editora Grafipar, em 1981, e a seguir desenhando Zorro para a editora EBAL. E tudo isso antes de se formar na faculdade de Educação Artística. Mais tarde, em 1985, ele desenha para os estúdios Ely Barbosa - foi ele quem desenhoua história de abertura da primeira edição de Os Amendoins e também já fez parte da equipe da segunda fase do gibi d'Os Trapalhões. Garcia também já morou em Portugal, onde desenhou por lá e chegou até a ganhar um prêmio, o Mosquito, em 1990. De volta ao Brasil, em 1981, ele trabalha na revista do Jaspion, da Editora Abril, e pela editora Vidente, dentro da revista Porrada Especial, produz Piratininga.
Garcia, no entanto, começaria a se consagrar por volta de 1994, desenhando na revista Street Fighter. Ele produziu histórias especialmente escritas para a edição brasileira das HQ baseadas no célebre jogo de videogame - algumas dessas revistas foram publicadas pela - adivinhe! - Editora Escala. O traço dessas histórias ainda era comics, e entre os roteiristas, está Rodrigo de Góes, parceiro de Garcia em muitas publicações. Aliás, em 1994, ele é premiado com o troféu Ângelo Agostini de melhor artista - e receberia o mesmo prêmio no ano seguinte.
Ainda em 1994, pela mesma editora, Garcia publica, em parceria com João Pacheco, a revista Força Ômega, uma série de heróis brasileiros no estilão da Image Comics, na época dando muito o que falar (um ano antes, João Pacheco publicava, pela editora Vidente, outra série de super-heróis que durou três números: Cyber - Máquinas + Heróis). Pacheco desenhava os personagens-título (roteirizados por Garcia), enquanto que Garcia desenhava uma história secundária, Pulsar, interessante combinação de super-heróis com a Ditadura Militar brasileira. O estilo de desenho dessa revista também era comics. Força Ômega durou três números, mas Pulsar teria mais histórias publicadas nas três edições da revista Master Comics, pela mesma Escala. Tratava-se de uma revista informativa, que publicava quadrinhos junto com notícias sobre entretenimento - na época, Cavaleiros do Zodíaco era a série japonesa de maior sucesso. Não por acaso, Alexandre Nagado, o editor da Master Comics, publicava nessa revista Blue Fighter, HQ no estilo mangá com um herói de armadura bem no estilo japonês. Completava a revista as histórias de Aton - O Cavaleiro da Estrela, de Rodrigo de Góes e Martinez.
Um ano antes, 1994, Pacheco e Garcia publicaram, pela editora Infoprint-Price, as HQ da Esquadrilha da Fumaça. Foram quatro edições com aventuras do Esquadrão de Demonstração Aérea da Aeronáutica. João Pacheco faleceria no ano seguinte.
Por volta de 1997, a editora Trama passou a investir em publicações de HQ nacionais em estilo mangá. Aproveitando a oportunidade, Alexandre Nagado resolveu relançar Blue Fighter, cuja série havia ficado incompleta devido ao cancelamento da Master Comics. Mas, desta vez, a revista, que foi lançada em três edições, foi só escrita por Nagado; a arte ficou a cargo de quem? De quem? Arthur Garcia, é claro! E, desta vez, no estilo mangá, que acabou celebrizando o traço do desenhista.
Garcia ainda tem três outros trabalhos relevantes: a graphic novel Nosferatus, que foi lançada pela editora Ópera Graphica; a série infantil Daniel, o Anjo da Guarda, de 2001, com roteiros de Rodrigo de Góes (desta vez, Garcia emulava o traço de Akira Toriyama, de Dragon Ball), pela editora Escala (Daniel foi lançado junto com o gibi de Fráuzio, de Marcatti, a primeira HQ underground lançada por uma grande editora); e Gamemon, em parceria com Sílvio Spotti e Alexandre Silva, pelo selo Graphic Talents da Editora Escala, único número lançado por volta de 2002, 2003, de uma possível série que imitava Pokémon ou Digimon.
Com DIDI E LILI, Garcia volta a fazer parceria com a Editora Escala.

ESTÁ BEM, CHEGA DE CONVERSA! VAMOS AO QUE INTERESSA:
DIDI E LILI GERAÇÃO MANGÁ, ao contrário das outras revistas do gênero, não possui uma série que se estende por vários números; esta edição de lançamento fecha três histórias curtas e completas, especialmente voltadas ao público infantil. A direção e criação é de Franco de Rosa, especialista em HQ e co-fundador da finada editora Ópera Graphica.
Nesta revista, Didi aparece numa espécie de versão adolescente (mas sem dispensar a aparência debochada e o palavreado típico do personagem), e Lili como uma menina namoradeira. No entanto, Didi tenta a todo custo impedir as possíveis conquistas de Lili, com gracinhas ameaçadoras. É humor, romance e aventura, portanto, na medida para crianças.
As três histórias foram escritas por Debrah Demaris. Uma história com o Didi e a Lili juntos, e as outras duas são solo, uma da Lili e outra do Didi. Os artistas variam.
A primeira história tem 16 páginas coloridas - o restante da revista é em preto-e-branco. Lili e o Príncipe do Shopping, solo de Lívian, tem um jeitão de shoujo mangá, para contar como Lili se apaixona perdidamente por um modelo, que personifica um príncipe encantado de um castelo montado em um shopping center. Com uma boa análise psicológica da personagem, é a melhorzinha da edição. A arte é de Ivan Rodrigues e as letras são de Daniel de Rosa.
Didi e Lili e o Relógio do Contratempo é a historinha desenhada por Arthur Garcia - com arte final de Antônio Lima, Wanderley Felipe (conhecido também como Vanderfel, que pelo selo Graphic Talents desenhou a revista Turma do Barnabé, junto com Franco) e Daniel de Rosa. Após ter um sonho meio maluco, Lili decide comprar um relógio. Após muita negociação com o relojoeiro, Didi compra um estranho relógio para Lili, cujos ponteiros se mexem ao contrário - e no dia seguinte, a garota acorda transformada em criança! Nisso, alguém tenta roubar o tal relógio... É a historinha que mais se aproxima do estilo do programa televisivo, com um roteiro fantasioso. A arte é a melhor da edição, o roteiro é mais ou menos.
Didi e os Vampiros do Crepúsculo é a historinha mais sem pé nem cabeça da edição. A arte é de Alexandra Mattos, com cinzas de Vanderfel e letras de Daniel de Rosa. Após ser atacado por morcegos, Didi se depara com uma vampira-demônio, que aproveitando um eclipse, transporta o trapalhão para a antiga Transilvânia, terra do Conde Drácula. Didi assiste à luta da vampira com o famoso caçador de vampiros Van Helsing, e decide ajudar... A arte e o roteiro não são os melhores da edição, mas ao menos os vampiros que aparecem pendem mais para os do filme Van Helsing - o Caçador de Vampiros que para os de Crepúsculo. Isso é o legal da historinha.
No mais, com essa diversidade, o gibi não é ruim. Só é bastante infantil, o que pode não agradar a todos os fãs de mangá. Ha, mas o que se pode esperar do Didi? Provavelmente não um Dragon Ball ou coisa parecida.
Se quiserem algo mais dinâmico, meus caros, as bancas de revista estão cheinhas de mangás. É só escolher.
Mas para quem se interessou, o preço de lançamento é R$ 4,90. E a revista promete ser mensal...

PARA ENCERRAR:
Um desenho meu, lógico. Por pura falta do que fazer com um papel e uma caneta, resolvi fazer uma versão no meu traço do famoso quadro O Grito de Edvard Munch.
Esse quadro é um dos mais fascinantes da pintura mundial, não apenas pela expressão de horror do personagem em primeiro plano, mas pelo clima esquizofrênico das cores empregadas pelo artista. Esta versão é em preto-e-branco, mas aqui resolvi treinar umas hachuras só para gastar a tinta de uma velha esferográfica que há tempos está no meu estojo...
Ah, ignorem o bonequinho batendo na bundinha embaixo do quadro...
É só falta do que fazer, mesmo. Não levem a sério.
Até mais!

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