sexta-feira, 12 de março de 2010

Nota de falecimento: GLAUCO VILLAS-BOAS

Olá.
Os quadrinhos brasileiros hoje se encontram de luto. Na madrugada do dia 12 de março de 2010, foi noticiado o assassinato do cartunista Glauco Villas-Boas. Com ele foi assassinado seu filho Raoni, a tiros, na sua casa em Osasco, SP. O assassino até este momento não foi localizado.
Glauco Villas-Boas, nascido em 1957 em Jandaia do Sul, Paraná, era um daqueles cartunistas cujo traço era reconhecido a quilômetros. Sua marca registrada eram os personagens, sempre de olhos arregalados, nariz grande e redondo (sejam homens ou mulheres), pernas e braços que se "multiplicavam" a cada movimento e pelo humor escrachado e "bagacera". Traço o qual o autor se manteve fiel até o fim, e com as tiras produzidas ainda no antigo sistema de nanquim sobre papel, mas com toques de computador - astiras mais recentes dele eram letreiradas e balonizadas assim. Glauco fazia parte da geração brasileira de quadrinhistas contraculturais, que fundaram e publicaram, mais tarde, na revista Chiclete com Banana. Glauco começou a publicar HQs em 1977, no jornal Folha de São Paulo. Na mesma época, ele foi premiado no Salão de Humor de Piracicaba.
Em 1981, aparece seu personagem mais famoso: Geraldão, um cara vadio e cheio de manias que atormentava a vida de sua mãe. Mais tarde, o cartunista desenvolveu a versão infantil do personagem, o Geraldinho. A marca registrada de Geraldão era a garrafa na cabeça, o "terceiro braço" que segurava um negócio que parecia um cachorro-quente pingando catchup, e ele andar sempre de cuecas - quando não andava pelado. às vezes, com seringas espetadas pelo corpo - frequentemente, no nariz.
Além do Geraldão, Glauco desenvolveu muitos outros personagens, todos tão politicamente incorretos quanto o personagem que lhes deu projeção: Casal Neuras, um casal que vive sempre implicando um com o outro - a mulher sempre tentando despertar no marido o ciúme que ele não assume (até já virou quadro no finado programa TV Pirata); Doy Jorge, um cantor de rock viciado (exemplo abaixo, publicado na Chiclete com Banana); Dona Marta, uma solteirona a perigo, de seios enormes, que vive atacando os homens que aparecem na sua frente; Zé do Apocalipse, um tipinho que está sempre anunciando o fim do mundo; Faquinha, o garoto favelado; e muitos outros.
Glauco também integrou a trupe que publicava, desde 1985, a revista Chiclete com Banana. Aliás, foi na Chiclete que ele, Laerte e Angeli criaram a célebre série Los Tres Amigos. Essa série era produzida em conjunto pelos três e, apesar de Laerte fazer quase todos os cenários e personagens secundários, cada um desenhava o personagem que o representava; no caso, Glauco era o Glauquito, Angeli era o Angel Villa e Laerte era o Laerton. Mais tarde, Adão Iturrusgarai entraria para o bando, como o Fanzueca.
Glauco também editou sua própria revista: pela mesma editora Circo Editorial que editava a Chiclete, ele lançou a revista Geraldão, que, além de histórias do personagem-título e outras do próprio autor, também era uma espécie de coletânea de artistas. Glauco também publicava charges políticas - algumas coletâneas dessas charges foram publicadas recentemente pela editora Devir, enquanto que coletâneas de tiras do Geraldão foram lançadas pela editora L&PM. A charge aqui em baixo é da coletânea 90 Charges Diretas 89, já resenhada aqui no blog, sobre as eleições presidenciais de 1989.
Glauco também tinha uma banda de rock e era adepto da religião do Santo Daime, a "religião da selva" - suspeita-se que o assassino fazia parte da igreja Céu de Maria, que o próprio Glauco fundou.
Nos últimos tempos, perdemos muitos artistas que marcaram época no nosso país: já se foram Ely Barbosa, Eugênio Collonese, Cláudio Seto, Minami Keizi, Ivan Saidenberg, Oscar Kern, Gedeone Malagola... todos esses falecidos de morte natural ou doença. Mas a morte do Glauco foi a mais estúpida até agora - morrer assim, assassinado?!
Os quadrinhos nacionais estão encarando perdas irreparáveis ultimamente. O que será de nós quando todos os nossos maiores artistas falecerem de repente?
Foi esse sentimento que expressei no desenho abaixo, feito sem esboço. No mesmo estilo histérico do Glauco. Uma forma de homenagem.
Descanse em paz, Glauco.
Se depender dos fãs de Geraldão, seu trabalho nunca mais será esquecido.
Também, como esquecer, com um traço assim tão inconfundível?
Até mais!

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