sexta-feira, 23 de abril de 2010

Livro: LEOCÁDIO - O LEÃO QUE MANDAVA BALA

Olá.
Cá estou eu de volta!
E hoje vou voltar a falar de livro. Hoje vai ser um livro infantil, mas que pode interessar também aos adultos.
Trata-se de LEOCÁDIO - O LEÃO QUE MANDAVA BALA, do americano Shel Silverstein (1930-1999). Este autor de livros infantis, dramaturgo, ilustrador e cartunista, é um artista realmente multifacetado - basta saber, para confirmar essa afirmativa, que Silverstein foi colaborador da revista Playboy, só para citar uma das revistas onde ele publicou trabalhos humorísticos. No entanto, ele costuma ser conhecido pelo seus livros infantis.

No Brasil, sua obra está sendo editada pela editora Cosac Naify, que já publicou: A Árvore Generosa, Uma Girafa e Tanto, Quem Quer Comprar um Rinoceronte, Fuja da Garabuja e, é claro, LEOCÁDIO. Ou seja, o livro que vocês estão vendo aqui, publicado originalmente em 1963. A tradução é de Antônio Guimarães, publicado, claro, pela Cosac Naify.
Silverstein é de uma categoria de escritores que hoje está em extinção no mercado editorial, a dos autores ilustradores - hoje, a tendência é que os escritores solicitem a desenhistas profissionais para ilustrarem seus livros. Nada contra, mas hoje em dia é difícil encontrar no mercado livros que tenham sido escritos e ilustrados pela mesma pessoa - no Brasil, a última grande autora-ilustradora foi Maria Heloísa Penteado, de No Reino Perdido do Beleléu.
LEOCÁDIO é uma espécie de fábula, onde Silverstein demonstra, além de um ego elevado, sua preocupação com a natureza e seu desapego ao consumismo. Ao mesmo tempo engraçada e reflexiva, numa linguagem amalucada e cheia de neologismos e frases longas e de efeito. E os animais que aparecem aqui falam com naturalidade com os seres humanos e interagem com a mesma naturalidade. E é de um tempo em que a ecologia não era assim tão forte, caçar leões não era considerado tabu, mas um esporte, e o uso de armas de fogo não era tão malvisto quanto é hoje - só para alertar aos cultores do politicamente correto.
A história:
O personagem principal da fábula é um leão que, quando jovem, era como todos os outros. Ou quase: ao invés de correr dos caçadores, como os outros leões, ele fica à espreita, tomado pela curiosidade - nunca vira um caçador antes. Numa cômica cena em que dialoga com o caçador que o cerca, ele ouve falar pela primeira vez da comida que seria a sua favorita - o marshmallow, do qual começa a gostar só de ouvir o som da palavra. Quando o tal caçador ia alvejá-lo, a sorte estava do lado do leão: a arma estava descarregada, e o leão devora o caçador, e fica com sua arma, já que não pode comê-la.
Interessado com sua nova aquisição, ele começa a treinar como utilizar a arma, até que consegue atirar, dando um susto nos outros leões. Assim, ele começa a praticar sozinho, até conseguir dominar o uso do utensílio. E começa a usar a arma para se defender dos caçadores - é devorando caçadores que o leão conseguia munição para sua arma, ao mesmo tempo que beneficiava os outros leões.
Até que, um dia, um estranho homem, o dono de circo chamado Belorvalho, encontra por acaso o leão atirador na floresta. E lhe faz uma proposta: de trabalhar em seu circo, com promessas de fama e riqueza - e, naturalmente, marshmallows. E o leão, após um diálogo inacreditável com o homenzinho, concorda em ir com ele para a cidade.
Na cidade, o jovem leão fica impressionado com os prédios. No entanto, para poder andar pela cidade, o leão precisa, literalmente, conseguir as coisas no grito, ou melhor no rugido. Para vencer a resistência de quem não queria fazer o que ele queria, ele rugia. Primeira, para andar de taxi com Belorvalho; a seguir, para se hospedar no hotel, onde acaba se encantando com os elevadores, que exige que suba e desça várias vezes; depois, para cortar o cabelo numa barbearia (é aqui que ele conhece seu outro amigo, o tio Shelby, o narrador da história, a quem ele pede conselhos); e, a seguir, para almoçar num restaurante, onde afinal experienta marshmallows (e gosta, evidentemente), e de todas as formas; e depois, fazer um terno numa alfaiataria - foi desastroso para fazer um terno de marshmallows como o leão queria.
Mas as coisas começam a acontecer mesmo quando o leão atirador - batizado por Belorvalho como Leocádio - começa a se apresentar no circo: excepcionalmente bom, ele em pouco tempo se torna rico e famoso, e começa a agir como um ser humano, vestindo-se como um, praticando esportes como um, comendo como um, e deixando aos poucos de ser leão.
Porém, numa ocasião em que estava triste pela falta do que fazer de novo - a vida rica já estava cansando Leocádio, que também estava enjoado de andar de elevador, beber coalhada e comer marshmallows - Belorvalho propõe algo novo: que Leocádio vá caçar leões. Aí é que se estabelece o grande conflito: de que lado Leocádio vai estar quando se defrontar com os leões - coisa que ele deixou de ser há muito tempo?
Como veem, uma fábula sobre caráter, identidade e máscara social: de que lado uma pessoa - mesmo um leão - deve se encaixar numa sociedade? Apesar da linguagem evidentemente infantil, e do enredo meio sem pé nem cabeça, LEOCÁDIO oferece uma boa peça de reflexão. As ilustrações, caligráficas, ainda assim combinam bem com a história. Shel Silverstein faz parte da categoria que está faltando na literatura mundial.

A MARCA DA PERVERSIDADE
O desenho de hoje é mais um da série "desenhos toscos a caneta sem esboço". No caso, esta aqui eu fiz com esferográfica azul.
Quinta-feira à noite, eu assistia ao jornal do SBT. As quatro notícias aqui transcritas são reais, foram mesmo anunciadas. E aí, me fazem refletir: até onde vai a maldade do ser humano? Por que ele está fazendo o que faz? E não falo apenas das agressões ao meio ambiente e ao seu próximo...
É, eu sei, eu sei. Roubar figurinhas da Copa não é uma maldade tão grande quanto matar semelhantes humanos com bombas e metralhadoras... ou quanto envenenar uma pobre criança com chocolate envenenado... ou pichar o rosto do Cristo Redentor. Mas enfim.
Mas acho que não acertei na expressão de tristeza, os olhos esbugalhados. Eu queria fazer algo que eu tinha visto num cartum da Samanta Floor, do Cornflake, mas não ficou como eu imaginei...
Até mais!

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