sábado, 24 de abril de 2010

Livro: O HUMOR DA PLAYBOY

Olá.
Muita gente, quase todo mundo, sabe que o corpo feminino é a representação maior da natureza enquanto perfeição, ou seja, a mulher é o homem em seu maior acabamento. Nenhuma fêmea da natureza tem as formas da mulher humana. Aliás, se diz: Deus criou a mulher depois do homem - afinal, sempre é preciso fazer um rascunho antes de uma obra perfeita.
Bem, quem sabe isso melhor do que qualquer pessoa é um estadunidense chamado Hugh Hefner. Sabem quem é ele? Vocês já devem ter ouvido falar, pô! Foi o lendário criador da lendária revista PLAYBOY!
Hoje, Hefner vive cercado de mulheres - a vida como ele planejou e com a qual qualquer homem heterossexual sonha, mesmo que secretamente - na mansão que montou com o império estabelecido por uma simplória revista impressa a partir de um empréstimo feito pela própria mãe do então jornalista, em 1953.
Bem, a Playboy tem público cativo em todo o mundo - incluindo o Brasil. Uma verdadeira vitrine de mulheres bonitas que embelezam suas páginas. Mas não só isso: a Playboy também é uma verdadeira vitrine de cartunistas e humoristas que ali desenvolvem um humor refinado e de bom gosto, apesar das cenas de nudez. Proibido para menores de 18 anos, mas ainda assim de bom gosto.
É o que prova o mais recente especial editado pela editora Abril, O HUMOR DA PLAYBOY, uma senhora coletânea, lançada em janeiro de 2010, que reúne um verdadeiro staff de excelentes desenhistas e escritores.
Bem, eu tenho de dizer. Só que ninguém vai acreditar em mim se eu disser que eu não compro a Playboy mensalmente. É sério mesmo, eu não compro! Nem mesmo por causa das entrevistas! Ó, não que vontade não me falte, mas é que até recentemente eu não podia comprar, já que a revista é cara. Isso não quer dizer, no entanto, que eu também nunca tenha pego uma Playboy em mãos: até hoje, só tive uma Playboy em casa, e lembro que a garota da capa era a Rosenery Mello, a "fogueteira do Maracanã", que ficou célebre quando, num jogo das eliminatórias da Copa do Mundo, jogou um foguete em um goleiro.
Bem, já que ninguém acreditou em mim, vou continuar.
O HUMOR DA PLAYBOY tem 252 páginas, impressão de boa qualidade e um preço meio salgadinho - que salgadinho o quê, beeem salgado mesmo: R$ 64,00! Ainda assim, é uma edição que vale a pena ter em casa, nem que seja preciso assaltar sua conta-poupança da faculdade do filho. Ou pelo menos é o que recomenda o Universo HQ, em paráfrase. É sério mesmo, e não é só porque tem mulher pelada no meio!
Ah, sim: este livro foi publicado em comemoração aos 35 anos da Playboy no Brasil - a revista chegou aqui por volta de 1975, e se chamava, quando aportou aqui, HOMEM. No entanto, naquela época, a genitália feminina era censurada...
O HUMOR DA PLAYBOY reúne diversos artistas nacionais e estrangeiros que publicaram desenhos e textos na revista desde seu aparecimento no mundo. Alguns trabalhos são bem recentes, até 2009.
Bem, comecemos pelos escritores.
O mais marcante de todos é ninguém menos que Luís Fernando Veríssimo, nosso maior cronista da atualidade. Nos textos selecionados para figurar neste livro, Veríssimo fala sobre a segunda-feira, a morte, a comida japonesa, o carnaval... enfim, alguns de seus melhores trabalhos.
Depois dele, vem o compositor Aldir Blanc, que comparece com duas: sobre as domésticas como objetos de desejo, e sobre a lua-de-mel do Fantasma.
Ivan Lessa, brasileiro assim como LFV e Blanc, tem textos mais curtos, nos quais fala sobre a intimidade de James Joyce, do casal Sartre e Simone de Beauvoir, Jorge Amado, Edélsio Tavares, encontro de um funcionário público com três travestis...
O também brasileiro Edson Aran, o atual diretor de redação da Playboy brasileira, comparece com Surge o Dominador Mental!, que mostra super-heróis numa mesa de bar como qualquer outra pessoa, falando de mulher, ou melhor, de super-mulheres.
O único escritor estrangeiro que aparece aqui é Shel Silverstein (na última postagem, resenhei um dos livros infantis dele, Leocádio - O Leão que Mandava Bala), americano, que escreve e ilustra, de forma engraçada, a história da revista, desde as primeiras pretensões de Hugh Hefner até os... digamos... dias atuais. Pena que, apesar de ser um texto bastante divertido e revelador, Silverstein não diga tudo sobre a história da Playboy; ele omite, por exemplo, que Hefner teve de pedir 1000 dólares emprestados à mãe dele para imprimir o primeiro número da revista, que trazia fotos anteriormente publicadas - em um calendário - da então diva Marilyn Monroe.
Agora vem a melhor parte: os cartunistas.
Antes que se diga, é bom que se advirta: pela forma como um desenhista desenha uma mulher, já se sabe o quanto é bom um desenhista. Para saber se um desenhista é bom, peça para que desenhe uma mulher - de preferência, pelada. Ah: mas nem todos os artistas citados aqui desenham mulheres peladas, embora a maioria tenha nudez feminina e insinuações sexuais leves - afinal, o que um homem e uma mulher fazem quando estão juntos, sozinhos e pelados? Não responda! Porque nem é preciso responder.
Como brasileiro eu sou, vou começar pelos brasileiros. E o mestre de todos, o que mais trabalhos tem aqui publicados, é o mestre mineiro Ziraldo Alves Pinto. Além das diversas ilustrações que fez para as crônicas aqui publicadas, ele comparece aqui com cartuns - a começar pelo clássico nacional, Mineirinho, um homem conquistador queestá sempre na cama com uma mulher. Também tem, dele, Sêo Pinto, o precursor (?) do Bráulio - o pênis falante sob a calça de um homem comum. Ziraldo aparece também com A Cantada na Idade da Pedra e Que Fantasia é Essa? (cartuns sobre o carnaval). Porém, em quase todos os cartuns, ele mostra o tipo de mulher que o consagrou, as suas "boazudas", de seios em forma de míssil, mas grandes, coxas grossas e bunda enorme.
Outro ilustrador dos textos é Lula, com seu estilo esquisito, que ilustra as crônicas de Ivan Lessa.
Luís Fernando Veríssimo, que também é quadrinhista, também aparece na ala dos cartunistas. Do próprio punho, ele aparece com as tiras de Queromeu, o Corrupião Corrupto, personagem de sua clássica tira As Cobras, que representa a moral dos nossos políticos. Já como roteirista, Veríssimo comparece com os cartuns de seu famosérrimo personagem, O Analista de Bagé, com a bela arte pintada de seu conterrâneo, o também gaúcho Edgar Vasques (recentemente, foi publicado um livro que compila algumas das melhores páginas do Analista de LFV e Vasques).
Outro gaúcho, com muito orgulho, que aparece na coletânea é Allan Sieber. Ele comparece, fazendo uso de seu humor ácido e atacando a mediocridade humana, com Atos Fálicos, Grandes Falsificações da Pintura Mundial e com Vivendo com Estilo por Afrânio Mendes, com seu personagem boa-vida dando dicas de comportamento.
Miguel Paiva é outro nome de peso. Ele comparece aqui com Radical Chic, sua personagem mais famosa, publicada aqui em forma de fotonovela, interpretada pela atriz Kelly Cristina (a única mulher de verdade que aparece pelada, ou melhor, seminua, em toda a edição), e com Gatão, a próprio punho, antes de este se tornar o Gatão de Meia-Idade, que até foi adaptado para o cinema.
Outros dois brasileiros famosos: Jorge Guidacci, que satiriza Tarzan, e Nani (Ernani Diniz Lucas), com O Vampiro Erótico. Dois monstros sagrados do cartum brasileiro, do tempo do Pasquim. E, para completar, O Planeta Diário, o jornal editado pelos então futuros membros do Casseta e Planeta, Reinaldo e Hubert (ao lado de Cláudio Paiva), que teve páginas publicadas na revista.
Outro brasileiro, estreante, para encerrar o rol brasileiro, é Mauro A., que desde 2009 publica as divertidas fotomontagens de Wagner e Beethoven, pondo os dois cânones da música clássica para conversas sobre temas atuais e que, certamente, não combinam com eles.
Passemos agora aos cartunistas estrangeiros. É aqui que se revela que, pelo estilo como desenha uma mulher, um cartunista se diferencia.
Comecemos por um mestre, Jules Feiffer, e seu traço caligráfico, onde ele, com seu estilo pessimista e depressivo, discorre sobre a vida a dois e sobre a caserna.
Uma dupla que fez história na Playboy é Harvey Kurtzmann e Bill Elder - o primeiro é o lendário fundador de outra revista famosa, a humorística Mad. Pois é no estilo Mad que Kurtzmann, com a arte de Elder, comparece com o clássico Aninha - Bonita e Gostosa, a personagem que nasceu como uma sátira ao quadrinho infantil Aninha, a Pequena Órfã. Aninha, uma loira de seios enormes, satiriza magistralmente a realidade dos anos 60 e 70 e o mundo do showbiz. Recentemente, um livro da personagem foi lançado aqui no Brasil, editado pela mesma Playboy.
Bobby London é outro nome de menção, que aparece com a tresloucada animal strip Dirty Duck, um pato boa-vida e falastrão que xaveca as meninas peitudas que cruzam seu caminho, sempre acompanhado de seu ajudante, o inseto Weevil.
Gahan Wilson publica aqui seus cartuns de humor negro, de situações pra lá de bizarras.
Arnold Roth apresenta Sagrado e Profano, duas versões de uma mesma historinha.
Os espanhóis Juan Alvarez e Jorge Gomez, respectivamente desenhista e colorista, comparecem com suas Histórias Safadas, histórias eróticas de uma página com temática urbana.
Agora, veremos a forma como cada desenhista retrata a mulher:
Dedini, que comparece com Os Faunos e A Alegria do Sexo, retrata as mulheres mais rechonchudas; o egípcio Kiraz, com As Safadinhas, desenha as mulheres com carinha de bebê, pernas longas e seios pequenos; Sokol, de Ah, as Mulheres... e Sofisticated Ladies, tem uma arte mais expressiva, e mulheres mais próximas das mulheres reais, mas sempre as mais gostosas; as mulheres de Erikson, de Cenas da Vida, tem nariz arrebitado e cintura fina, menor que o quadril; e temos também, com um estilo mais difícil de definir: Interlandi (O Amor está no ar), Sneyd (Muitos Prazeres), Smilby (O amor não tem idade), B. Kliban (Só Absurdo) e John Dempsey (Que situação!). E, para fechar a lista de nomes: Buck Brown (Ai, minha Coluna!, sobre o amor na terceira idade), Marthy Murphy, Chuck Miller, Rowland Wilson, Don Madden, Killian, Raymonde e Dink Siegel. E, claro, não podia faltar LeRoy Neiman, que criou a personagem Femlin, a mulherzinha que veste apenas meias, sapatos e luvas que ilustra a página de piadas da revista. Quase todos aqui citados, quase todos americanos, publicam cartuns de uma página, de desenho e colorização refinados. Coisa de artista, mesmo.
No entanto, alguns artistas só comparecem com um trabalho, e esse trabalho às vezes ocupa só um quarto de página - é o caso de Raymonde, Chuck Miller e Killian. Assim, um dos grandes pecados desta edição é a falta de equilíbrio entre os artistas escolhidos - há trabalhos demais de uns, há trabalhos de menos de outros. Mais: faltam as datas de publicação originais de cada trabalho - é difícil saber qual o mais antigo e qual o mais recente. Porém, nada que prejudique o conjunto, de certa forma.
Como se vê, ainda assim é uma seleção de muito bom gosto. Vale a pena investir 64 reais por uma porção de mulheres peladas. Recomendado para quem compra a Playboy por causa das entrevistas, ou mesmo dos cartuns.
Ah, é bom avisar: não é recomendável para menores de 18 anos. Então, pirralho, é melhor não cobiçar este livro.
Insito: eu não compro a Playboy. Mas comprei este especial, para não perder a oportunidade.

OS CARTUNS QUE ENFEITAM A POSTAGEM
Já que falamos da Playboy, para ilustrar este post, resolvi fazer uma série de desenhos de mulheres, vocês viram.
Tratam-se de estudos de desenhos femininos, às quais denomino Mujeres de Grafite e Tinta - Mujer é a forma como se diz mulher em espanhol.
Afinal, não é muito coisa que pode se comparar ao corpo feminino - em todas as suas nuances. Não é algo fácil de se dominar em desenho. As minhas não saem tão sensuais quanto a princípio pretendia. Mas, quer saber? Até que foi divertido desenhar estas mulheres. Afinal o momento não poderia ser mais apropriado.
Bem, o que acharam? Podem comentar e digam o que acharam. Isso estimula a desenhar mais dessas belezinhas.
Reitero e insisto: EU NÃO COMPRO A PLAYBOY!
Porém, sei que ninguém vai acreditar em mim... então...
Até mais!

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