domingo, 27 de março de 2011

Filme: O GRILO FELIZ - exemplo de perseverança e de estigma

Olá.
Há alguns dias atrás, voltei a ver, em DVD, um filme que eu havia assistido há algum tempo atrás. Esta animação - sim, é um filme de animação - com certeza representa um marco para a história dos desenhos animados no Brasil - sim, este filme foi produzido no Brasil!
Estou falando de O GRILO FELIZ.
O GRILO FELIZ foi produzido pela Start Desenhos Animados, dirigido por Walbercy Ribas, animador publicitário, e estreou nos cinemas em 2001. A produção do filme é considerada uma aventura à parte: o projeto do filme foi iniciado em 1997, e o trabalho consumiu 37 meses e contou com a colaboração de 70 artistas, rendendo um filme de 82 minutos. O custo do filme foi de R$ 4 milhões, custeados pelo próprio Ribas, que concebeu os personagens principais nos anos 80, para entreter seus filhos Juliana e Rafael, à época com 8 e 6 anos respectivamente. No entanto, as crianças cresceram quando Ribas conseguiu enfim encampar seu projeto - e ainda ajudaram o pai: Juliana Ribas, à época do filme com 24 anos, é a produtora executiva, e Rafael Ribas, aos 21 anos, atuou na pós-produção, dando vida às cenas em computação gráfica. Trata-se, portanto, de um exemplo de perseverança no Brasil, onde até mesmo produzir um desenho animado é difícil. O problema não é tanto o público torcer o nariz para o fato de ser um filme nacional: é mais o fato de, desde seu título, o filme já nascer estigmatizado, ou melhor, tachado como "filme para criancinha". Dirigido primordialmente ao público infantil, O GRILO FELIZ conta como personagens principais insetos desenhados de forma "fofinha", uma história que se sustenta na luta entre o bem e o mal, um visual colorido e idílico, e a mensagem que incentiva o poder da amizade e a defesa da natureza, num clima "pra cima". Ou seja, o filme se apóia nos valores que hoje estão sendo renegados pelos jovens em processo de formação de sua identidade, o que é uma pena. Hoje em dia os jovens maiores de 8 anos têm tendência a abominar tudo o que atenda aos requisitos acima, mesmo que estes requisitos tenham por intuito passar uma mensagem positiva a eles. Será que o mundo ultimamente anda tão neurótico assim, que até os mais jovens estão se contaminando? Bem, controvérsias à parte, O GRILO FELIZ tornou-se um marco do nosso cinema, e um sucesso de bilheteria - muito embora o filme tenha de ser reexibido nos cinemas algum tempo depois que chegou em DVD nas locadoras. E ainda garantiu uma continuação - mas desta falaremos depois. O filme mistura a animação tradicional dos personagens, em papel, com cenários de computação gráfica. Para se ter uma ideia do tamanho da empreitada, foram feitos cerca de 201.600 lay-outs dos 16 personagens principais! A animação dos personagens foi feita de tal maneira que estes praticamente não param de se mexer, mesmo parados! E a interação da animação convencional com o 3D de cenários e alguns objetos de cena é perfeita. Bem. O GRILO FELIZ gira em torno de um grupo de insetos, que habitam uma floresta que é ameaçada por um vilão. O líder dos insetos é Feliz, um grilo músico. Ele toca uma violinha de casca de amendoim sem cordas - as cordas são mágicas - e, com este instrumento, Feliz é capaz de entrar em sintonia com o universo. Ele tem como grande confidente e musa inspiradora a estrela Linda, a mais brilhante estrela do céu. Grilo vive em uma harmonisa comunidade de insetos, que se organiza como uma vila humana, e para eles passa com suas músicas mensagens de otimismo e cidadania. E, claro, ele vive cercado de amigos. Seus melhores amigos são: Bituquinho, um besouro de aparência infantil, mas inteligente, que vive criando geringonças malucas com sucata que ele recolhe de um lixão próximo; Moreninha, uma joaninha, líder das meninas e que tem uma paixão secreta por Bituquinho; Bacaninha, uma centopéia (de oito patinhas!) ingênua de de forte instinto maternal por seu protegido, o caracol bebê Caracolino; Juliana, uma borboleta romântica e que adora flores; e Rafael (meu xará!), um gafanhoto esportista. Tudo era paz, até que um dia chegou o grande vilão da história: Maledeto, um lagarto gordo, babão e malvado que decide proclamar-se rei da floresta. Maledeto reúne todas as características de um típico vilão: é megalomaníaco, perverso, opressor, ignorante e possui total desprezo pela vida. Pois Maledeto decide que toda a região, de agora em diante, pertencerá a ele. E ele tem a ajuda de um exército de sapos mal-humorados e de Faz-Tudo, um louva-a-deus bajulador, rastejante e concordino - a única coisa que ele parece saber fazer é concordar com tudo o que Maledeto diz, seguir suas ordens e atuar como bobo da corte. Maledeto não apenas ordena a devastação total da floresta, praticamente transformando-a em deserto, e em oprimir os insetos da região, a quem obriga a fazer monumentos com sua imagem: o lagartão também deseja a estrela Linda, que ele imagina ser um brilhante que lhes dará poderes ilimitados. E é aí que inicia-se o grande conflito entre Feliz e Maledeto. Ah, sim: Maledeto também odeia música, e proíbe todo tipo de música em seu "reino". É claro que Feliz e seus amigos não concordarão com isso. O filme pode ser dividido em quatro segmentos interligados: 1) o início, com a apresentação dos personagens e seu mundo, e a instalação do reinado de Maledeto, até o momento em que Linda cai do céu; 2) a jornada de Grilo Feliz e seus amigos para salvar Linda, que caiu em um pântano de plantas maléficas; 3) A felicidade dos amigos aos recuperar Linda - que decide ficar na Terra com Grilo e seus amigos - até quando a estrela, junto com Caracolino, cai nas mãos de Maledeto; e 4) Quando Feliz e seus amigos iniciam a luta para valer contra Maledeto, para salvar Linda e Caracolino. Outros personagens que fazem parte do filme, alguns de participação meteórica, são: um velho caracol, a quem Bacaninha e Caracolino vão pedir informações; uma aranha cartomante, que quase devora Bituquinho e Juliana; um mosquito roqueiro; e o Tucano Mágico, a quem Grilo e seus amigos pedem ajuda para resgatar Linda. Alguns momentos do filme são de puro suspense, como a parte em que Grilo Feliz e Bituquinho se enredam nas plantas carnívoras que tentam impedir o grilo de tocar seu violão e ativar o brilho de Linda. Outros soam como puro absurdo, como o trecho em que Maledeto, através de um estilingue, atira Faz-Tudo ao espaço para que este pegue a estrela Linda - e este fica pendurado na lua crescente. Ah, sim: como em todo filme do gênero, também tem música, meu bem. Desde as canções entoadas pelo Grilo Feliz (o ponto alto é o dueto entre o grilo e Linda, quando esta é resgatada e decide ficar na Terra), até uma peça de rap, entoada pelos sapos guardas de Maledeto. O filme, nas entrelinhas, delineia o confronto entre o poder constituído, representado por Maledeto, contra as liberdades individuais, representadas por Feliz e seus amigos. Além da mensagem ecológica - alguns trechos fazem uma crítica ao desperdício de recursos naturais - , também conta uma mensagem de amizade e de perseverança. O porém é o enredo parecer distante das questões atuais, e o evidente direcionamento de público - o filme é "infantil", sem tirar nem por. E alguns trechos do filme ficariam melhores se tivessem ganhado alguns minutos a mais - como o ataque dos insetos contra o exército dos sapos. Outro defeito é o excessivo maniqueísmo: Feliz, por exemplo, não possui nenhuma qualidade ruim, e Maledeto não possui nenhuma qualidade boa. Mesmo quando ele tenta parecer engraçado, soa forçado. Feliz então é o bonzinho, e Maledeto é o malvado, e ponto final. Não há meio termo. E quem garante o humor da série nem mesmo é o rastejante Faz-Tudo: é exército dos sapos, que se saem melhores nos trechos de comédia que todos os outros personagens somados. Tirando os defeitos, não há nada o que se dizer de ruim sobre O GRILO FELIZ. A intenção de Walbercy Ribas foi das melhores: recuperar a ingenuidade que os desenhos animados gozavam outrora, e que constituía sua melhor qualidade. Hoje, com essa enxurrada de obras "para adultos", as produções infantis perderam seu jeito de ser, e o excessivamente pueril é garantia de condenação. Se convencionou atualmente que as melhores histórias não podem ter final feliz! O GRILO FELIZ é recomendado para crianças, é compreensível. E com louvor, eu digo. É daqueles filmes que toda a família pode assistir sem problemas. E serve também para calar a boca de quem acha que tudo o que é produzido no Brasil tem qualidade inferior. Visitem o site oficial, e saibam um pouco mais: www.ogrilofeliz.com.br/ogrilofeliz01/index.html. O GRILO FELIZ ganhou uma continuação: O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes, em 2009. Mas esse episódio é diferente por ter sido produzido totalmete em 3D. Mas deste falaremos em outra oportunidade. Para encerrar, duas tiras inéditas de Letícia. Estas são as tiras 201 e 202. A série continua - e ela pode ser conferida, desde o início, no Blog da Letícia (http://leticiaquadrinhos.blogspot.com/). Nada mais apropriado, já que falamos de filme infantil. Com isso, acho que garanti minha execração. Tenho quase certeza que, depois de O GRILO FELIZ, cheguei ao fundo do poço, tanto quando eu falei de animes hentai aqui no blog! Até mais!

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