sábado, 23 de julho de 2011

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, de Moya e Sganzerla

Olá.
Hoje, trago a vocês uma descoberta que fiz dia desses no Youtube.
Trata-se de um raro curta-metragem de documentário, sobre Histórias em Quadrinhos. Aliás, o nome do documentário é bem esse mesmo: HISTÓRIAS EM QUADRINHOS.
Este mini-documentário foi produzido em 1969, por Álvaro de Moya e Rogério Sganzerla.
Os cinéfilos brasileiros conhecem Rogério Sganzerla como um dos maiores expoentes do cinema marginal brasileiro - seu filme mais conhecido é O Bandido da Luz Vermelha, de 1968.
Já Álvaro de Moya é conhecido pelos quadrinhófilos brasileiros. É um dos maiores pesquisadores e especialistas sobre HQ do Brasil e do mundo. E sua importância vai além disso.



MOYA
Álvaro de Moya nasceu em São Paulo, em 1930. Desde pequeno, era apaixonado por Histórias em Quadrinhos, e pela ideia de ser um quadrinhista. Ele até exerceu a profissão de cartunista, publicando cartuns, charges e ilustrações em diversos jornais brasileiros. Foi, inclusive, um colaborador dos Estúdios Disney brasileiros.
Porém, foi em 1951 que Moya entrou para a história dos Quadrinhos mundiais, e não foi com HQ. Com os amigos Jayme Cortez (o célebre cartunista português radicado no Brasil), Syllas Roberg, Reinaldo de Oliveira e Miguel Penteado, Moya organiza a Primeira Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos. Essa exposição foi importante porque foi a primeira do mundo, em uma época em que os Quadrinhos ainda eram menosprezados no Brasil e no mundo, e a perseguição a Nona Arte era grande - na verdade, os quadrinhos nem eram considerados arte, quanto mais Nona Arte. A exposição, realizada no Centro Cultura e Progresso, de São Paulo, foi reconhecida pelos europeus como a pioneira - uma exposição que mostrasse ao público originais de HQ e a sua importância para a comunicação e a cultura mundiais. Basta saber que a exposição de Bordighera, na Itália, uma das mais importantes do mundo, só foi montada pela primeira vez em 1965 - e, nesse mesmo ano, ela é trazida para o Brasil, através da Bienal de São Paulo. Na exposição brasileira, foram mostrados originais de Alex Raymond (de Flash Gordon), Hal Foster (Tarzan e Príncipe Valente), Al Capp (Ferdinando), Will Eisner (Spirit) e muitos outros. O detalhe é que, quando a turma brasileira pediu os originais dos artistas estrangeiros para expor, a intenção nem era montar uma exposição, e sim estudar as técnicas dos artistas... Saibam mais sobre isso nesta matéria do site Mundo HQ, onde Moya fala sobre os acontecimentos da época: http://www.mundohq.com.br/site/detalhes.php?tipo=5&id=8
Com a I Exposição, o Brasil se inseria, nesse modo, entre os pioneiros países a estudarem "seriamente" as HQ. Em 1966, Álvaro de Moya está entre os representantes brasileiros no festival de quadrinhos de Lucca, na Itália (que substitui Bordighera como a mais importante convenção europeia dos anos 60), junto com Sérgio Lima, Maurício de Souza e Jayme Cortez. Naquele ano, o Brasil foi o único país da América Latina a enviar representantes para Lucca. E este foi apenas um dos vários eventos onde Moya representou o Brasil.

E não só quadrinhos: Álvaro de Moya também está entre os pioneiros da televisão no Brasil. Um ano antes da I Exposição, Moya e seus amigos desenharam os letreiros de apresentação da inauguração da TV Tupi, em 1950 - a pioneira estação de TV brasileira. Moya também foi diretor da TV Excelsior e foi um dos inauguradores da TV Bandeirantes, em 1967. Dirigiu vários programas televisivos.

Em 1970, mais um pioneirismo: Moya, junto com Moacy Cirne, publica um dos primeiros livros de estudo das HQ. A coletânea Shazam!, publicada pela Perspectiva dentro da série Debates, reune artigos de Moya e de colaboradores, onde se faz um apanhado da história das HQ até então e de textos relacionando sua importância na cultura e na comunicação. Cirne, por sua vez, publicou o pioneiro A Explosão Criativa dos Quadrinhos pela editora Vozes - e abriu caminho para outros especialistas. Moya é professor aposentado da USP, e também lecionou na ECA - Escola de Comunicação e Arte.

A Shazam!, seguiriam os outros livros de Moya: História das Histórias em Quadrinhos (1993), O Mundo de Walt Disney (1996), Anos 50/50 Anos (2001, o livro onde ele relata a experiência da I Exposição) e Vapt Vupt (2002). Também escreveu para a revista Witty World, dos EUA, e colaborou para diversas enciclopédias no mundo.

O currículo de Moya, entretanto, é extenso. Esta pequena parte é só para vocês terem uma ideia da importância do homem.


O FILME

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, produzido pelo estúdio do próprio Sganzerla e com sonorização da Vera Cruz, é um apanhado ilustrado da produção quadrinhística até aquele ano, 1969. Alia duas grandes paixões de Moya: cinema e HQ, desde que ele descobriu que uma tem relação à outra - e que seria o grande mote dos estudos "sérios" sobre as HQ. Informações sobre HQ ilustradas por páginas de HQ que se movem na tela de modo caótico. Algumas das palavras proferidas pelo narrrador do texto, Orfeu P. Gregori, também estariam presentes nos textos de Shazam!. O documetário é, infelizmente, datado, e ficam de fora fatos além dos anos 60, quando as HQ evoluíram bastante. Ainda assim, HISTÓRIAS EM QUADRINHOS ganha com a trilha sonora bem humorada e as informações mais que didáticas. É uma pequena História das HQ.

No entanto, também se ressalte que alguns fatos relevantes ficaram de fora. Vários personagens deixaram de ser citados. E olhe que o documentário tem cerca de 10 minutos!

Mesmo assim, um documentário fundamental aos amantes da Nona Arte. E que eu trago aqui, para vocês verem. Não em primeira mão, é claro - outros já o fizeram antes de mim.




Para encerrar, resolvi colocar um desenho já colocado antes: uma pequena ilustração do Yellow Kid (citado no documentário), que eu publiquei quando reeditei a minha História das Histórias em Quadrinhos. A intenção, inicialmente, era fazer personagens célebres de HQ no meu traço para ilustrar a nova edição desse meu trabalho, mas desisti. E o Yellow Kid por sinal não ficou lá essas coisas, né? Porém, nada mais apropriado para ilustrar uma matéria sobre HQ.

Ah, a propósito: no Blog da Letícia, saiu uma nova tira inédita da minha personagem - antes do Estúdio Rafelipe. Olha ela aqui, neste blog, servindo de aviso. Ela também pode ser conferida no Quadritiras (www.quadritiras.com.br).
Até mais!

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