sábado, 18 de agosto de 2012

POPEYE E SEUS AMIGOS - sem espinafre, mas com todo vigor!

Olá.

Os fãs de quadrinhos clássicos, que estavam cansados das bancas de revistas atulhadas de comics de super-heróis e mangás de gosto duvidoso, devem estar muito felizes nesse momento. Motivo? A editora Pixel Media, selo do grupo Ediouro, resolveu, de uma hora para outra, colocar nas bancas de todo o Brasil uma série de republicações de quadrinhos clássicos que há muito tempo estavam fora do mercado, e a preços acessíveis.

Depois de reativar sua linha de quadrinhos com o gibi Luluzinha Teen, produzido no Brasil e que atualiza as aventuras da personagem clássica em estilo mangá, a editora colocou nas bancas, no ano passado, o gibi clássico da personagem criada pela estadunidense Marjorie H. Buell – e cujos números venho resenhando desde o relançamento. Depois, foi o gibi do Bolinha que voltou. E, no início de 2012, a editora aumentou seus investimentos em quadrinhos clássicos. Após adquirir um pacote da King Features Syndicate, a maior corporação e distribuidora de tiras de quadrinhos do mundo, e cujas tiras estavam até então limitadas a alguns jornais brasileiros e antologias de tiras lançadas em livrarias, a Pixel Media largou um gibi novo, o do Recruta Zero, que, além do personagem principal, trazia um mix de quadrinhos clássicos, como Hagar o Horrível, A Arca dos Bichos, Sam e Silo e Zezé & Cia.
O pacote também incluía quadrinhos há muito fora do circuito e praticamente desconhecidos das novas gerações de leitores, como Zé Fumaça, Popeye e Blondie. Tudo isso saiu nos três números do gibi do Recruta Zero lançados até agora.
A Pixel Media agora enlouqueceu. Agora, além do pacote da King Features, adquiriu também o da Harvey Comics, que é distribuído pela Classic Media, também responsável pelos quadrinhos da Luluzinha. E o pacote da Harvey Comics inclui os gibis do Gasparzinho e do Riquinho, que agora retornam ao circuito editorial brasileiro. Mas esses ficam para mais tarde.
A prioridade, agora, é resenhar o mais novo gibi da Pixel. Alavancado, possivelmente, pelas aparições do Popeye nos gibis do Recruta Zero, a Pixel lança, agora, em agosto de 2012, um gibi próprio do personagem. É isso mesmo! O mesmo formato de almanaque, com tiras clássicas da King Features, ganhou um reforço com um gibi estrelado pelo famoso marinheiro comedor de espinafre!
Bem, vamos desde o princípio.
O marinheiro Popeye, o nosso velho conhecido comedor de espinafre, que protagonizou inúmeros episódios de desenho animado, apareceu em 1929, dentro de uma série de tiras chamada Thimble Theatre, que foi iniciada em 1919. A aparição desse marinheiro aumentou o sucesso dessa tira, que até então era uma série de situações cômicas de personagens da classe média norte-americana; e, dentro de pouco tempo, ele se tornaria o protagonista da tira. Ah: e seu criador se chama Elsie C. Segar, que desenhou-a até 1938, quando faleceu de leucemia. Desde então, as tiras foram desenhadas por outros autores. Uma curiosidade adicional: sabiam que a namorada do Popeye, a magérrima Olívia Palito, já estava na série muito antes da estréia do marinheiro? Ah, e não preciso falar muita coisa sobre a série, por exemplo, que ela colocou palavras no vocabulário norte-americano, como jeep e wimpy; e que, além do marinheiro, ficaram famosos dentro da tira vários personagens coadjuvantes como o pequeno Gugu, o rival Brutus, o guloso Dudu e a própria Olívia Palito. Muita coisa vocês já devem saber só de assistir os desenhos animados (que, atualmente, passam nos canais de TV a cabo, como o Tooncast, e podem ser facilmente encontrados em DVD).
Bão. O novo gibi traz, além de algumas historinhas do Popeye, outras tiras clássicas. Apesar de o material publicado neste gibi ser de boa qualidade, ele eclipsa o personagem principal, cujas histórias ocupam menos de um terço do gibi. Mas vamos começar outra vez.
O primeiro número do gibi do Popeye começa com a história de capa, Popeye e a Sereia. Esta história (como todas as outras do personagem no gibi) foi desenhada por Bud Sagendorf, que assumiu as tiras após a morte de Segar (e que também era genro do criador do marinheiro). Nela, o marinheiro, durante uma pescaria, acaba fisgando a sereia do título, uma jovenzinha que, além de não querer se desfazer do marinheiro, é capaz de atrair tempestades com seu canto toda vez que se irrita. Sushi de Chuchu é seu nome, e, em suas peripécias em terra firme, precisa enfrentar o ciúme quase doentio de Olívia e ainda é objeto de um plano maluco de Dudu para ganhar dinheiro. Mas somente Popeye, para desespero de Olivia, pode reverter a situação quando as coisas fugirem do controle – e ele o faz sem uso de espinafre. Esta sequência é uma série de tiras interligadas que, no conjunto, formam uma situação comum – por isso, existem erros de continuidade no decorrer da narrativa. Mas o bom humor da história é contínuo.
Após um interlúdio, com uma história curta do Recruta Zero, o gibi continua com Hagar o Horrível, criação de Dik Browne (e atualmente desenhada por seu filho Chris). Em Vikings ao Mar!, as tirinhas giram em torno das muitas situações que ocorrem enquanto Hagar e seus homens estão em seu barco. Muitos dos desastres que ocorrem são ocasionados pela zica atraída pelo imediato do viking, Eddie Sortudo. Reparem também que a carranca do navio do Hagar movimenta os olhos...
Após um novo interlúdio, com mais uma história curta do Popeye (desenhos novamente de Sagendorf), novidade na coleção: algumas amostras (cinco páginas, pra ser preciso) de Krazy Kat, uma das tiras mais pessoais e surrealistas do mundo dos quadrinhos. Criada em 1911 por George Herriman, também foi um dos raros casos em que uma tira não foi continuada por outro artista após a morte de seu criador – nesse caso, Herriman morreu em 1944, e a tira, muito elogiada pelos especialistas, parou por aí. A trama de Krazy Kat, desenhada em um estilo incomum, gira em torno do curioso triangulo amoroso entre uma gata, Krazy, apaixonada por um rato, Ignatz, que vive lhe atirando tijolos na cabeça, e o cachorro policial Ofissa Pupp, que é apaixonado pela gata, e vive prendendo Ignatz. As situações ocorrem em uma região desértica cujo cenário vive mudando de forma, ressaltando ainda mais o tom surreal dessa tira. Essa tira estava fora do circuito editorial brasileiro desde 2003, quando a editora Opera Graphica havia lançado dois álbuns reunindo algumas páginas dominicais. Para que queria conhecer essa tira, e não sabia onde achar, é uma ótima notícia. E a curtição é maior sabendo que é a única HQ do gibi, além das do Recruta Zero, desenhada pelo criador – as outras foram desenhadas por continuadores.
Em seguida, quem ganha sua sequência de tiras é Blondie (batizada aqui como Belinda e Adalberto). A tira de famílias, criada por Chic Young em 1930, gira em torno da mulher Blondie (ou Belinda), seu marido Dagwood (ou Adalberto), dos filhos Alexander e Cookie e da cadela Daisy. Após o retorno da personagem no terceiro gibi do Recruta Zero, Belinda volta trazendo tiras que giram em torno da vida a dois com Adalberto. E é claro que é ele quem rouba a cena na tira, com suas trapalhadas, seu relacionamento com os vizinhos, suas tentativas de agradar a mulher e seus lanches noturnos, com seus sanduíches de vários andares. Ah: as tiras presentes nessa edição foram produzidas por Dean Young (filho de Chic) e seu assistente Marshall.
Após mais um interlúdio com outra história curta do Popeye (Sagendorf de novo), quem comparece é o Henry (Pinduca), também estréia na coleção. O personagem, um garoto careca e sem boca, foi criado por Carl Thomas Anderson em 1932, e se firmou como clássico desde o início, por se constituir de piadas pantomímicas (sem palavras), e por isso muito apreciada. E, em tiras de quatro quadrinhos e sem um balão sequer, as novas gerações são apresentadas às travessuras deste garoto simpático. Ah: as tiras desta edição foram desenhadas por John Liney (que, junto com Don Trachte, foram continuadores da tira após o adoecimento de Carl Anderson). Pena que são só duas páginas. Mas já é um bom retorno para o personagem, que também foi publicado, pela última vez, em álbum da editora Opera Graphica por volta de 2002.
A seguir, quem volta é o Zé Fumaça, o caipirão indolente que explora o trabalho da mulher. As tiras, que haviam estreado no primeiro número do Recruta Zero, continuam no mesmo humor caipira e singelo, cheio de sotaque, e desenhadas por Fred Lasswell, continuador do trabalho do criador do personagem, Billy de Beck. Ah: desnecessário dizer que Zé Fumaça foi um dos mais famosos casos de Spin-off (série surgida de outra) das HQ, por o caipirão surgiu dentro das tiras do personagem Barney Google, criado por De Beck em 1919.
A seguir, após um novo interlúdio, com uma história curta do Hagar, quem comparece é A Arca dos Bichos, criação de Mort Walker (sob o pseudônimo Addison) e desenhada por Frank Johnson. Mais situações com o capitão humano e os tripulantes animais falantes da referida arca.
Em seguida, Recruta Zero. Na sequência de tiras Todo Dia é Dia de Não Fazer Nada, o recruta, nas tiras desenhadas por Mort Walker e seu filho Greg, faz o que melhor sabe fazer: nada. Só na preguiça, apesar dos gritos do Sargento Tainha.
E a revista termina com outra história curta do Popeye (Sagendorf forever).
Bem, a revista poderia ter sido melhor se houvesse mais histórias do Popeye do que dos outros personagens. Mesmo assim, é ótimo. Ainda mais com a presença de Krazy Kat, Pinduca e Blondie, mas creio que as tiras do Hagar e do Recruta Zero poderiam ter sido reservadas para a revista dele. Ainda assim, é imperdível!!! E a um preço módico: R$ 4,50.
Agora vamos ver a quanto ficará a periodicidade de mais esse gibi: o do Recruta Zero foi anunciado como sendo mensal, e acabou se tornando bimestral. Vamos ver a que pé andará mais esta iniciativa louvável da Pixel Media.
É isso aí.
Para encerrar: como falamos de tiras de HQ, vou colocar, outra vez, uma sequência de tiras minhas. Desta vez, o arco mais recente de Letícia, a minha Luluzinha. Essa sequência já foi concluída no blog dela, e agora está disponível, na íntegra, aqui.
Na próxima postagem: saibam mais sobre os novos gibis do Gasparzinho e do Riquinho, que chegaram agora.
Até mais!

Nenhum comentário: