Olá.
Quanto
tempo será que faz desde que escrevi alguma coisa relacionada a televisão?
Talvez porque pouco me importe a televisão; não acompanho séries de TV,
limitando-me mais aos livros, quadrinhos e internet. Televisão, mesmo, só assisto
os noticiários e alguns filmes, portanto é raro os leitores me verem comentar
aqui no blog assuntos referentes à televisão. Mas hoje, vou falar de televisão.
E de literatura.
Entre
os dias 1º e 3 de janeiro de 2014, a Rede Globo veiculou, numa minissérie em
três capítulos, a adaptação do livro O TEMPO E O VENTO, de Érico Veríssimo. Em
verdade, trata-se de uma versão estendida do filme homônimo, que estreou em
setembro de 2013, produção da Globo Filmes em parceria com o Estúdio Nexus,
dirigido por Jayme Monjardim – e é o segundo filme desse diretor (o primeiro
foi Olga, de 2004).
A
adaptação da epopeia da formação do Rio Grande do Sul foi roteirizada pelos
escritores Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski, ambos gaúchos e entendidos em
romances históricos ambientados no estado natal – Ruas é autor de Netto Perde
Sua Alma, que gerou o filme homônimo, e de outros romances tematizando a
Revolução Farroupilha; e Wierzchowski, a autora de A Casa das Sete Mulheres,
que deu origem à aclamada série de TV. Os dois fizeram uma adaptação fiel da
obra de Érico Veríssimo, mas com algumas liberdades em relação ao romance.
Bem,
este filme nem é, para os que ainda não se inteiraram do assunto, a primeira
adaptação da epopeia gaúcha às telas: a primeira adaptação de O TEMPO E O VENTO
é de 1967, em forma de novela, pela TV Excelsior; depois, a Globo produziu uma
minissérie em 1985.
E,
claro, esta adaptação contempla apenas o primeiro livro da trilogia, O
Continente. Aah, espere aí, já explico.
OS
LIVROS
Para
quem não conhece, O TEMPO E O VENTO é uma trilogia literária elaborada entre
1949 e 1962. Érico Veríssimo, autor nascido em Cruz Alta, RS, em 1905
(portanto, conterrâneo de meus colegas Henrique Madeira e Greice Pozzatto,
criadores do Cruzaltino), e falecido em Porto Alegre, RS, em 1975, se consagrou
nacionalmente com essa obra, composta de sete livros. Sete? Sim, uma “trilogia
de sete livros”. É que cada uma de suas três partes – O Continente, O Retrato e
O Arquipélago – é dividido em livros menores, devido à extensão da obra (mais
de duas mil páginas!). O Continente é dividido em dois livros; O Retrato,
também em dois; e O Arquipélago, em três livros. Todos os sete volumes podem
ser facilmente encontrados em bibliotecas, livrarias e sebos (os modelos da
capa e as editoras que publicaram a saga variam) e são muito cobrados em
trabalhos escolares e vestibulares. Érico Veríssimo, pai do cronista Luís
Fernando Veríssimo – tão talentoso quanto – escreveu uma quantidade
considerável de romances, livros de viagem, contos e livros infantis.
Num
outro momento, podemos fazer uma análise mais detalhada de O TEMPO E O VENTO, a
série literária. Mas o básico que você precisa saber é que toda a trilogia
conta a história do Rio Grande do Sul, desde a segunda metade do século XVIII,
com a experiência missioneira, até a renúncia do presidente Getúlio Vargas, em
1945, através da saga da família Terra Cambará, seus homens e mulheres, e da
evolução da Vila de Santa Fé. Enquanto os personagens homens vivem baseados na
guerra, na morte e na valentia, as mulheres que aparecem na série são fortes e
decididas apesar do papel de submissão imposto pela sociedade. O título pode
ser explicado da seguinte maneira: o “tempo” se relaciona aos homens, num
sentido de passagem, corrosão, destruição, morte – os homens, sempre guerreando
e construindo o Estado a sangue, antecipam o trabalho do tempo; já o “vento” se
relaciona às mulheres, num sentido de repetição continuidade, permanência – as
mulheres retratadas por Veríssimo representam a resistência contra as guerras e
o instinto da morte. Desse modo, as mulheres que aparecem na trilogia literária
estão entre as mais marcantes personagens femininas da literatura brasileira. É
o caso de Ana Terra e Bibiana Terra. Do lado dos homens, o personagem mais
marcante é o Capitão Rodrigo Cambará, um arquétipo do homem gaúcho, aguerrido e
cheio de vontade de viver – e cujas características psicológicas serão passadas
a outros personagens da saga.
O
cenário principal de O TEMPO E O VENTO é a cidade fictícia de Santa Fé, fundada
no final do século XVIII, como um povoado; mais tarde, é elevada à categoria de
Vila, e depois de Cidade, antes mesmo da Proclamação da República, em 1889.
Santa Fé é o retrato ficcional de como se deu a evolução política, urbana e
social do Rio Grande do Sul, do domínio ao crepúsculo do poder dos grandes
estancieiros e suas relações com trabalhadores e escravos, passando pela
transformação do papel da mulher no Rio Grande do Sul.
Bem,
a parte mais conhecida da trilogia literária é O Continente, por causa do
recorte de tempo maior – a trama se desenvolve do século XVIII até 1895, época
da Revolução Federalista no RS. O Retrato e O Arquipélago tem um recorte de
tempo menor – a história de O Retrato vai de 1895 a 1930, época da República
Velha no RS; e O Arquipélago, que já retrata a desintegração da família Terra
Cambará, vai de 1930 a 1945. Por alguma razão, O Retrato e O Arquipélago são
ignorados pelas adaptações literárias e pelos leitores, de forma geral.
E a
adaptação mais recente, como não poderia deixar de ser, contempla apenas O
Continente, que mostra a formação e a consolidação da família Terra Cambará.
O
Continente é dividido em sete capítulos: A Fonte, Ana Terra, Um Certo Capitão
Rodrigo, A Teiniaguá, A Guerra, Ismália Caré e O Sobrado. Este último, ao longo
do livro, é dividido em sete capítulos menores, que entremeiam cada um dos
capítulos maiores. Ana Terra e Um Certo Capitão Rodrigo são os trechos mais
famosos – tanto que foram também lançados em livros separados.
FINALMENTE,
O FILME (E A SÉRIE DE TV)
O
filme. Na época da produção, iniciada em 2011, o filme foi rodado em Bagé, RS,
onde foi construída a cidade cenográfica que representa a vila de Santa Fé. Mas
também foram construídos cenários como a Missão Jesuítica de São Miguel, onde a
saga tem início, e a fazenda da família de Ana Terra. Como em todo filme padrão
Globo, o filme conta com um grande elenco de estrelas globais, quase todos
talentosos e superconhecidos, e cada personagem é interpretado por diversos
atores, de acordo com a idade e a época. Logo, alguns dos atores tem aparições
breves no filme.
Bem.
O filme já começa com uma liberdade poética. O livro se inicia em 1895, no
contexto da Revolução Federalista, quando o sobrado onde residem os Terra
Cambará está sitiado pelos seus inimigos, a família Amaral. O conflito entre as
famílias Terra Cambará e Amaral é o principal motor da trama – esse conflito
inicia meio que por um motivo fútil em Um Certo Capitão Rodrigo, e, durante
toda a saga, ambas as famílias assumem ideologias políticas opostas. Aí o filme
começa com um recurso que não existe no livro: a velha Bibiana Terra (Fernanda
Montenegro), quase totalmente caduca e alojada em seu quarto no sobrado, recebe
a visita do fantasma de seu falecido marido, Rodrigo Cambará (Thiago Lacerda).
E esta começa a contar para ele a história da família.
A
primeira parte do flashback contempla a primeira parte do livro, A Fonte, que
conta a história de Pedro Missioneiro (na infância, interpretado por Matheus
Costa), filho de uma índia estuprada por bandeirantes, que é acolhido na Missão
de São Miguel, e se torna pupilo do Padre Alonzo (Cesar Troncoso). Pedro, com
grande talento para a música, ganha do padre o principal símbolo da família
Terra Cambará: um punhal de cabo e bainha de prata. Quando a Missão é atacada e
destruída por invasores portugueses, Pedro foge montado em um cavalo baio.
Depois,
começa a trama de Ana Terra. A moça (Cléo Pires), filha do tropeiro Maneco
Terra (Luis Carlos Vasconcellos) e de Henriqueta Terra (Cyria Coentro), e irmã
de Antônio Terra (José Henrique Ligabue) vive com a família isolada em um
rancho em algum lugar do Rio Grande de São Pedro, por volta de 1777. Até que
ela encontra Pedro Missioneiro (na idade adulta, por Martín Rodriguez,
dialogando em espanhol) ferido em uma sanga. O índio é acolhido pela família
como uma espécie de agregado, e acaba encantando Ana Terra com a música de sua
flauta – a moça nunca tinha ouvido música na vida, e por isso desperta em si
sentimentos de solidão e inquietude que norteiam a decisão de se entregar ao
índio e engravidar dele. Porém, Maneco descobre o caso, e, a pretexto de
defender a honra da filha (“honra se lava com sangue”), com a ajuda de Antônio,
mata Pedro – sem resistência, pois o índio previra sua própria morte. Ana dá à
luz o filho Pedro (Eduardo Correa, na infância), e fica de mal com o pai. Mas,
mais tarde, a estância é invadida por bandoleiros castelhanos que matam o pai e
o irmão de Ana, destroem e saqueiam a estância e estupram Ana. Mas ela salvara
a tempo o pequeno Pedro, e ambos, acompanhando uma comitiva de carreteiros, vão
para a vila de Santa Fé, fundado pelo estancieiro Ricardo Amaral (José de
Abreu). Ana (na idade madura, por Suzana Pires) se torna a parteira do povoado;
Pedro cresce e acaba indo para as guerras que se seguem. Os vários sofrimentos
de Ana Terra ao longo da vida – a morte do único homem a quem amou,a perda da
mãe, a morte dos familiares, as esperas que faz do filho – tornam-na uma mulher
forte, e por isso uma das mais admiráveis mulheres da trama.
O
flashback seguinte contempla Um Certo Capitão Rodrigo. O bonachão e
encrenqueiro Rodrigo Cambará (Lacerda) chega a Santa Fé em 1828, causando
alvoroço (eles não esqueceram o famoso trecho do “Buenas e me espalho, nos
pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!”, em que Rodrigo se
apresenta, embora no filme o trecho soe muito artificial), mas logo firma
amizade com Juvenal Terra (Cris Pereira), filho de Pedro Terra (na idade
madura, por Cacá Amaral) e irmão de Bibiana Terra (na adolescência, por
Marjorie Estiano). Outro personagem com quem Rodrigo estabelece laços de
amizade é o Padre Lara (Zé Adão Barbosa), que tenta convertê-lo, sem sucesso,
ao cristianismo. Rodrigo se encanta por Bibiana, e decide se casar com ela. Mas
Pedro, um tanto conservador, não gosta do homem, cheio de vontade de viver, que
gosta de cantar, falar alto e parece muito devotado a satisfazer seus desejos
eróticos e físicos – ou seja, gosta mesmo é de mulheres, de beber e de brigar.
Para piorar, Rodrigo faz como inimigos Ricardo Amaral Neto (Paulo Goulart), o
manda-chuva do local, e o filho Bento (Leonardo Medeiros), que também está de
olho em Bibiana. A tensão entre Bento Amaral e Rodrigo explode durante uma
festa no povoado, quando o Capitão, convida Bibiana para dançar, e enfrenta a
intervenção de Bento. Os dois acabam duelando, onde Rodrigo, antes de ser
gravemente ferido por um tiro de pistola a traição, marca sua inicial, de forma
incompleta (“só falta a perninha do ‘R’!”) no rosto de Bento. Depois de recusar
a extrema-unção do padre Lara, Rodrigo consegue o que queria: se casar com
Bibiana. Em parceria com Juvenal, Rodrigo resolve montar um bolicho
(mercadinho). Porém, a vida de “homem sério” não faz muito bem a Rodrigo, tão
acostumado a ser um homem livre, como o gaúcho um dia já foi, e vai buscar
prazeres em outros lugares. Mas Bibiana permanece-lhe fiel, e sabe que, apesar
de tudo, o “seu homem” sempre voltará. Até que, no contexto da Revolução
Farroupilha (1835 – 1845), os Cambará e os Amaral ficam de lados opostos no
conflito, que termina de modo trágico para Rodrigo. Mas ele consegue levar
Ricardo Amaral consigo.
É no
trecho seguinte que fica evidente a diferença entre o filme e a série de TV:
minutos a mais. É que, na versão para a TV, Jayme Monjardim optou por incluir
trechos que ficaram de fora da edição final do filme, e que contemplam o trecho
A Teiniaguá. A casa e as terras da família Terra são tomadas por um
“estrangeiro”, Aguinaldo Silva (Carlos Cunha), que constrói, em 1845, um belo
sobrado – o mesmo onde o filme começa.Para lá se muda com a neta, Luzia (Mayana
Moura), a "teiniaguá" do título - referência ao ser mitológico do folclore gaúcho, também conhecido como Salamanca do Jarau, a princesa moura que vira um lagarto com uma pedra preciosa na cabeça, que leva os homens à perdição. Os primos Florêncio (Rafael Cardoso), filho de Juvenal, e Bolívar (Igor
Rickli), filho de Bibiana, se encantam pela moça “com modos de cidade”. Bibiana
(Janaína Kremer, na idade madura), por sua vez, vê num possível casamento de um
deles com a moça a chance de recuperar as terras que eram de sua família. Quem
se casa com Luzia é Bolívar, mas esse casamento não é feliz, pois Luzia é
masoquista – sente prazer com o sofrimento alheio, e por isso tortura
psicologicamente o marido. Luzia e Bolívar tem um filho, Licurgo. Mas o
casamento tem um fim trágico: após uma viagem a Porto Alegre, que estava
atacada por uma epidemia de cólera-morbo (motivada pela mulher, que quis ficar
só pra ver o sofrimento dos doentes nas ruas), Bolívar e Luzia são colocados em
uma quarentena forçada por Bento Amaral. Bolívar acaba brigando com a esposa
por causa de um desentendimento dela com Bibiana, e, ao tentar romper a
quarentena, o rapaz, destroçado psicologicamente, é morto pelos capangas de
Amaral.
Depois,
o filme pula os trechos correspondentes aos capítulos A Guerra e Ismália Caré,
que mostram o desenvolvimento psicológico de Licurgo. Em A Guerra, seria
mostrado o conflito silencioso entre Bibiana e Luzia – esta, morrendo aos
poucos por causa de uma doença, tem suas tentativas de se casar de novo
frustradas pela sogra, que, além de perceber a doença mental da nora, objetiva
que, com a morte de Luzia, o neto Licurgo acabe herdando a propriedade sozinho.
E, em Ismália Caré, é mostrado os conflitos pessoais de Licurgo, noiva de Alice
Terra, filha de Florêncio, objeto da paixão da futura cunhada, Maria Valéria, e
dividido entre o casamento e as amarras sexuais que o prendem a Ismália Caré, a
filha de um agregado pobre de uma fazenda vizinha, a do Angico. Em Ismália Caré,
também é mostrado como Licurgo adere à causa do republicanismo e liberta seus
escravos, levando a um novo conflito com os Amaral, que, evidentemente, fica do
lado oposto.
O
filme vai direto aos acontecimentos mostrados em O Sobrado. Licurgo (Marat
Descartes) ainda comanda a defesa do sobrado sitiado, enquanto Alice Terra
(Elisa Volpatto) está em trabalho de parto. O bebê nasce morto, e é enterrado
no porão. Meio por alto, é mostrada a paixão secreta de Maria Valéria (Vanessa
Lóes) por Licurgo. E o final melancólico do livro é substituído, no filme, por
um final mais romântico, “padrão globo”.
Um
elemento do qual o filme não prescinde é os vários momentos em que se ouve o
vento soprando, indicando mudanças na vida das personagens femininas (tal como
no livro, onde as principais memórias delas vem em dias de vento). Do lado
masculino, o punhal de prata ainda exerce importância simbólica. Mas, para
caber em cerca de duas horas, o filme teve de fazer cortes em trechos do
romance e em personagens. Por exemplo: Ana Terra tem outro irmão, Horácio, e
uma cunhada que também sobrevive ao massacre do bando de castelhanos; em Um
Certo Capitão Rodrigo, é mostrada a chegada de imigrantes alemães a Santa Fé, e
o envolvimento do Capitão com uma imigrante, Helga; em A Teiniaguá, temos a
presença de um médico alemão, o Dr. Winter, que, além de cronista dos costumes
do povoado, tem um interesse especial pela “doença” de Luzia (é ele quem compara Luzia à Teiniaguá). E a família Caré,
gente sem eira nem beira que faz um contraponto social aos outros personagens,
também ficou de fora.
Há
outros personagens que fazem apenas aparições muito breves no filme. É o caso
de Chimango, que tem uma grande importância em A Guerra, um peão bonachão e
conhecedor de lendas, histórias e sabedoria popular, é o principal “professor”
de Licurgo. Achar Chimango no filme é difícil, de tão idiossincrática que ficou
sua aparição.
Outro
personagem que faz uma meteórica aparição é Rodrigo Cambará, o bisneto (Kaic
Crescente), ainda um menino: ele terá importância nos segmentos seguintes da
Trilogia literária, O Retrato e O Arquipélago.
Quem
tiver oportunidade, leia o romance inteiro e depois assista o filme para
comparar. Dá pra dizer que O TEMPO E O VENTO, o filme, é cerca de 65% fiel a O
Continente. O livro é mais completo, certamente. Mas até que é um filme bonito,
com belíssimas imagens, valorizado muito mais pelos momentos sem a trilha
sonora de fundo, só com os ruídos dos cascos dos cavalos e do vento, bem
gravado, emocionante. E, se vocês acharem que Thiago Lacerda convence como o
Capitão Rodrigo, assim como Mayana Moura como a masoquista Luzia, é bem
interpretado.
A
versão para a TV contou com uma belíssima abertura semi-animada. Quem pode ver,
viu. Quem não pode ver, aguarde uma próxima oportunidade para visualizar – ou
procure no YouTube.
O
TEMPO E O VENTO já está disponível em DVD. Com os minutos a mais mostrados na
série de TV? Acho que não. Mas vamos esperar mais um pouco.
Para
encerrar: os desenhos de hoje. Eis aqui uns desenhos antigos que fiz sobre a
História do RS, para um trabalho de Pós-Graduação. O tema era o período das
charqueadas no RS – as fábricas artesanais de carne-seca, ou charque, base da
economia gaúcha ligada à pecuária nos séculos XVIII e XVI, e motor de eventos
maiores como a Revolução Farroupilha.
O
TEMPO E O VENTO não retrata a era das charqueadas. Mas faz parte da História do
RS.
No
primeiro desenho, o modo como se caçava o gado selvagem para a extração do
couro (a pecuária, introduzida no Continente de São Pedro pelos padres Jesuítas
espanhóis e depois amplamente explorada pelos portugueses que ocuparam o
território, destinava-se inicialmente à extração do couro. Como o território
ainda era pouco povoado, não havia mercado para a carne, que era descartada, e
as reses mortas apodreciam nos campos. Só mais tarde é que foi introduzida a
técnica de charqueamento da carne – numa época em que não havia geladeira,
salgar a carne e secá-la ao sol era a melhor maneira de conservá-la por longos
períodos. Sem falar que a venda de charque para outros estados do Brasil
constituiu a base para a economia gaúcha nos séculos XVIII e XIX).
E,
no segundo, um retratinho do trabalho da charqueada, nas mãos dos escravos
negros, submetidos a uma jornada de trabalho estafante, pouco higiênica e, bem,
escrava. Relações sociais e de trabalho e técnicas “primitivas” que,
felizmente, foram superadas com o correr do tempo.
Em
breve, mais filme pra vocês. Faz tempo que encontrei outros assuntos para
tratar aqui que não sejam quadrinhos.
Até
mais!
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