Olá.
Hoje,
mais uma vez vou falar de quadrinhos. Hoje, mais uma vez vou falar de Recruta
Zero.
Não:
ainda não estamos em tempo de falar no gibi do Recruta Zero pela editora Pixel
Media, selo do grupo Ediouro. O gibi é bimestral, e como o último número foi
lançado entre final de setembro e início de outubro, um novo exemplar só deve
chegar entre final de novembro e início de dezembro.
Mas
este Recruta Zero saiu pela Pixel Media: trata-se de um álbum de tiras, O LIVRO
DE OURO DO RECRUTA ZERO. Foi lançado em maio de 2014, mas várias bancas só
receberam exemplares bem depois.
A Pixel Media, além dos gibis convencionais – Luluzinha Teen, Luluzinha, Bolinha, Smurfs (que combina quadrinhos e passatempos) e Recruta Zero, sem falar nos já suspensos Gasparzinho, Riquinho, Brasinha e Popeye – está lançando uma série de álbuns, com mais páginas, lombada quadrada, papel couché, cerca de 130 páginas e material feito, em maior parte, pelos criadores, de personagens clássicos dos quadrinhos. Já foram seis volumes de álbuns da Luluzinha, compilando histórias antigas, um do Bolinha, dois álbuns do Fantasma de Lee Falk e Ray Moore, dois do Mandrake de Falk e Phil Davis, um do Recruta Zero e um do Popeye. Mas os álbuns ainda não estão chegando às bancas na época do lançamento, algumas praças recebem na data certa, outras só bem depois, meses e até mais de um ano depois.
Deixando
de lado essa questão da distribuição, que esperamos que a editora tome providências
para resolver, O LIVRO DE OURO DO RECRUTA ZERO foi lançado para sanar uma
necessidade do leitor brasileiro de quadrinhos clássicos: uma coletânea bem
organizada de tiras do personagem.
O
gibi que sai bimestralmente também publica tiras, vez em quando, do personagem,
mas, desde o número 8, está publicando também histórias em quadrinhos longas do
personagem, tirando muito do encanto que o gibi tinha desde o lançamento.
E,
há tempos, não saía mais livros compilando tiras produzidas pelo criador do
Recruta Zero, Mort Walker. E os livros, quando saíam, saíam esporadicamente.
Das
últimas grandes coletâneas de tiras de Zero: em janeiro de 2006, a editora
L&PM lançou, dentro da série L&PM Pocket, o primeiro volume de uma
coletânea, O Melhor de Recruta Zero, em
que o próprio Walker contava os bastidores da criação e da evolução da tira;
ainda em 2006, em outubro, a editora Opera Graphica lançou o álbum gigante Recruta Zero – Ano Um, compilando as
tiras produzidas de 1950 a 1951, quando Beetle
Bailey, o nome da tira nos Estados Unidos, ainda era uma tira sobre a vida
universitária e, aproveitando a comoção pela Guerra da Coreia (1950 – 1953),
Walker fez seu personagem se alistar no exército; em janeiro de 2007, a
L&PM lança o segundo volume de O
Melhor de Recruta Zero; e, antes do lançamento do gibi do Zero pela PixelMedia, em março de 2012, a editora Kalaco, “sucessora” da editora Opera
Graphica, lança, em outubro de 2011, o álbum Recruta Zero – Os Anos Dourados, compilando as tiras da série de
1952 a 1953, portanto, continuação de Recruta
Zero – Ano Um.
Desde
a mudança de diretriz do gibi lançado bimestralmente, o público devia estar
clamando por uma coletânea decente de tiras do Recruta Zero, que traga as situações
do Quartel Swampy do jeito como costuma sair nas tiras dos jornais em
circulação pelo Brasil. A Pixel atendeu aos clamores, e lançou, em maio de
2014, O LIVRO DE OURO DO RECRUTA ZERO.
Este
álbum traz tiras diárias do Recruta, produzidas por Mort Walker entre 1983 a
1986, quando as formas de todos os personagens já estavam completamente
definidas. Como devem saber, o traço de Walker passou por diversas mudanças, do
estilo mais esguio e “espichado” dos anos 50 até o mais “fofo” e arredondado dos
tempos atuais. Atualmente, as tiras de Zero são produzidas por Mort Walker em
parceria com seu filho Greg.
O
álbum traz ainda textos introdutórios de Otacílio D’Assunção, o Ota, contando,
a história resumida do personagem, a trajetória do personagem no Brasil – desde
a editora Novo Mundo, em 1952 até hoje, passando pelas editoras Rio Gráfica
(atual editora Globo), Saber, L&PM e Opera Graphica – e a biografia do
autor, que também criou as tiras Zezé
& Cia, em 1954 (com Dik Browne, criador de Hagar, o Horrível), Sam’s
Strip, em 1961, (com George Dumas) que, em 1977 se transforma em Sam & Silo, e A Arca dos Bichos, em 1968 (mais tarde assumida por Frank Johnson).
Nesses textos, existem ainda informações que o pessoal certamente não sabe a
respeito da tira: sabiam que, por exemplo, o nome da tira, nos primeiríssimos
tempos, era Spider – e que mudou para
Beetle Bailey por imposição do syndicate? Que, quando chegou ao Brasil,
Zero era publicado, pela Novo Mundo, sob o nome Recruta 23? Que a Saber publicava o personagem quase ao mesmo tempo
que a RGE, que detinha os direitos plenos sobre o personagem, mas com nomes
levemente alterados e, aproveitando de uma brecha contratual, no formato
“livro”?
Mas
algumas informações eu já devo ter dado em postagens anteriores ao personagem,
certamente. Por exemplo: que Mort Walker já havia servido ao exército, de 1943
a 1947, dando baixa como primeiro-tenente; que Beetle Bailey, quando surgiu, comprada e distribuída pela
megacorporação King Features Syndicate em setembro de 1950, era uma tira sobre
a vida na universidade, e Zero já era, ainda como um pacato estudante com um
cachimbo sempre na boca, um preguiçoso, sempre recorrendo a jeitinhos para se
dar bem; e que suas vendas eram baixas até que, em março de 1951, Walker
alistou o personagem no exército; que as vendas da tira começaram a crescer no
momento em que a principal publicação do exército dos EUA, a Star and Stripes, censurou a tira, mas a
King Features incentivava o público a recortar as tiras do personagem dos
jornais e enviá-las para os soldados no front; que Recruta Zero,
consequentemente, se tornou a segunda tira da história a ser publicada em 1000
jornais (a primeira foi Blondie, de
Chic Young); que Hi & Lois (Zezé
& Cia) surgiu como spin-off de Recruta Zero – Zezé e sua família foram
criados como coadjuvantes da tira, até que Walker e Browne resolveram dar vida
própria aos personagens; que Mort Walker enfrentou muitas polêmicas com sua
tira, sendo a mais notória a acusação de promoção do machismo, através da
relação conflitante entre o velho General Dureza e a estonteante secretária
Dona Tetê; que Walker nunca deixou de modernizar a tira, introduzindo novos
personagens e situações ao longo do tempo – os maiores exemplos são o Tenente
Mironga, o primeiro negro incluído na tira, e, em tempo recentes, o soldado
Gizmo, o geek especialista em
informática.
Apesar
de tantas mudanças, Walker nunca cogitou a ideia de promover Zero de posto: ele
sempre permaneceu um soldado raso, trapalhão, preguiçoso, azarado, sarcástico,
questionador da autoridade militar, perseguido pela fúria do gordo, comilão,
atrapalhado e irascível Sargento Tainha. O próprio Walker afirmou: “Zero e a
Pedra de Gibraltar permanecerão como são pelo resto da eternidade”. E,
convivendo com Zero e Tainha, também permanecem: o mulherengo soldado Quindim,
o imbecil Dentinho, o violento Roque, o intelectual Platão, o cambista Cosme e
o geek Gizmo; o mauricinho e
incompreendido Tenente Escovinha, o tranquilo Capitão Durindana, o Major, o
cozinheiro de talento questionável Cuca, o Capelão, tentando inutilmente
colocar juízo na cabeça de soldados altamente pecaminosos, e o Tenente Mironga,
o negro do quartel; o pouco competente General Dureza, sua mulher Marta e as
secretárias, a desengonçada Srta. Blips e a estonteante Dona Tetê; e o cachorro
de Tainha, Oto, que, de um cachorro normal evoluiu para um ser antropomórfico,
fardado e tudo mais. Todos tirando, desde os anos 50, a aura heroica do
exército estadunidense, tão propagada pela propaganda oficial, pelo cinema e
pelos quadrinhos “sérios”.
Well.
O LIVRO DE OURO DO RECRUTA ZERO, como já dito, reúne tiras clássicas de 1983 a
1986, quando a tira vivia um bom momento. E as tiras, totalmente coloridas, são
separadas por temas – cada capítulo é dedicado a um personagem ou situação
comum do Quartel Swampy.
O
primeiro tema, A Dupla do Barulho, é
dedicado à conflituosa relação entre Zero e Tainha – Zero desobedecendo as
ordens do Sargento, e este deixando o pobre soldado, muitas vezes, totalmente
amassado no chão; depois, O Bambambã do
Regimento, é o capítulo dedicado ao General Dureza, amante do comando, do
golfe, das jovenzinhas... mas nem sempre se faz respeitar; Um Soldado Bem Trapalhão é o capítulo dedicado ao ingênuo Dentinho,
sempre levando ordens ao pé da letra; Tropa
de Elite já é dedicado às campanhas militares que nem sempre acabam bem,
ligado a este capítulo, A Comilança
retrata as refeições fora do quartel, e, finalmente, Na Calada da Noite, às vigias noturnas, encerrando a parte fora do
quartel. No Quartel da Fuzarca é o
capítulo seguinte – por que será que o Quartel Swampy é praticamente esquecido
pelo Pentágono? Pergunte a quem faz parte dele; O Tenente Nada Sedutor é o capítulo dedicado ao Tenente Escovinha,
suas tentativas inúteis de colocar ordem no quartel e de se fazer ouvir pelo
General Dureza; Ferrado pra Cachorro
é dedicado a Oto, o cachorro de Tainha, que, apesar de andar de farda e sobre
duas patas, não deixa de ser um cachorro; O
Homem que Amava as Mulheres é dedicado ao mulherengo e “carne-fraca”
Quindim – e uma boa oportunidade de Walker incluir mulheres bonitas à tira; O Sargento de Ferro já é dedicado ao
Sargento Tainha, esse sujeito guloso, que desaprendeu da vida civil, ingênuo,
truculento, enfim, muito querido; A
Cozinha do Inferno é o capítulo dedicado a Cuca e sua terrível comida – em
parte porque Zero ajuda a fazê-la; e, fechando o volume, O Pecado Mora ao Lado é estrelado pela exuberante, provocativa e sex-symbol Dona Tetê, sempre em conflito
com o General Dureza – ela merece o título de símbolo do machismo nos
quadrinhos?
Cerca
de 120 páginas de tiras (descontando os textos, o que já aumenta o número de
páginas para 128, sem contar capa), algo que já estávamos sentindo falta no
mercado brasileiro – e sem necessidade de ter de revirar em sebos em busca das
edições da RGE / Globo, Saber e Opera Graphica.
Nas
bancas pelo acessível preço de R$ 16,90. Um preço justo para um álbum desse
porte!
Para
encerrar, Bitifrendis, meus personagens praianos. É uma espécie de tradição no
Estúdio Rafelipe, por vezes quebrada, que os Bitifrendis acompanhem as
postagens referentes aos gibis do Recruta Zero. Até porque se pode encontrar
semelhanças entre os personagens de Mort Walker e os meus. Mereceria Ionara, a
musa de Carlão e Sidnelson, o título de sucessora de Dona Tetê como símbolo do
machismo nos quadrinhos? Claro que não é minha intenção, mas não pensem que eu
não sei o que vocês estão pensando...
De
todo modo, eis aqui tiras do arco mais recente dos meus personagens praianos,
quando eles foram obrigados a tomar jeito na vida e arrumar trabalho. Desta
vez, tirando um momentinho de descanso – e com a estonteante Ionara, garantia
de aumento da audiência da tira, e o priminho Guto, o "departamento infantil" da tira.
E,
em breve, mais álbuns e gibis da Pixel Media aqui, no Estúdio Rafelipe.
Até
mais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário