Olá.
Hoje,
concluiremos a nossa série de postagens sobre os álbuns de Luluzinha pela
Pixel, selo do grupo Ediouro. Ao menos, dos álbuns que consegui adquirir. E
esta série “celebra” a memória dos gibis de Luluzinha e Bolinha, que foram
encerrados em abril último.
O
último álbum lançado, da série de álbuns da Pixel, foi LULUZINHA – TURMA DA
ZONA NORTE.
Os
que conseguiram juntar todos os álbuns da coleção lançada pela Pixel puderam
constatar que as HQ de Luluzinha – criada por Marjorie “Marge” H. Buell e
transposta para os gibis por John Stanley – lida com temas variados, ligados à
vida das crianças da classe média estadunidense da década de 1940. Pequenas
iniciativas infantis para conseguir dinheiro para o sorvete, conflitos entre
meninos e meninas, voos de imaginação infantil, solidariedade entre crianças
através da formação de clubes... e, claro, bullying, em um tempo em que o termo
ainda não era usado, mas seu significado era conhecido.
LULUZINHA
– TURMA DA ZONA NORTE, lançado em agosto de 2014 – dois meses depois de Luluzinha – Pirralhos Espertos –
tematiza este último aspecto. Se o Clube do Bolinha retrata, nas HQ, a formação
de pequenas associações de meninos que pipocavam nos EUA no período pós-Segunda
Guerra Mundial – conforme visto em Luluzinha – Meninos x Meninas – a Turma da Zona Norte é o setor que trata das rixas
entre “gangues” rivais de meninos.
Nos
anos 40, era fácil saber qual era o modelo de menino “valentão”: geralmente
mais fisicamente desenvolvido que outros meninos, retratado geralmente como
tendo cabeça raspada e traços mal-humorados – retrato até hoje usado para se
retratar um “bullyer”, que agride outras crianças por diversão e/ou necessidade
de se impor numa suposta “lei da selva” estudantil. Sabe, aquele tipo de menino
que rouba o lanche dos pequenos. E, se descuidar, leva armas para a escola
(alguém lembrou de Columbine?)
Well.
Voltando à Turma da Zona Norte. Os três meninos grandalhões, liderados por Zico
– e, até onde sei, o único deles que tem nome; é o que tem o gorrinho na cabeça
– também tem o seu barraquinho de madeira. E são os maiores rivais do Clube do
Bolinha. Mas, apesar de a vantagem ser maior para o clube formado por Bolinha,
Carequinha, Juca e Zeca – quatro contra três – os meninos “amigos” tem medo dos
membros da Turma da Zona Norte. Afinal, Zico e seus capangas são fisicamente
mais desenvolvidos. E estão sempre ameaçando os rivais. No geral, as vitórias
do Clube do Bolinha, tanto nos combates diretos como em eventos esportivos
“honestos”, se dão pela sorte ou pela esperteza de Bolinha.
Isso,
claro, quando não é Luluzinha quem resolve o problema. Em várias oportunidades,
a menina acaba envolvida nas rixas entre os meninos – afinal, é ardente nela, e
na amiga Aninha, o desejo de se juntar ao clubinho dos meninos, apesar da hoje
superada lei do “menina não entra”. Mas, do lado da Turma da Zona Norte, eles
também tem uma aliada menina: Ciça, irmã de Zico, que geralmente é responsável
por iniciar os problemas com Bolinha. As aparições de Ciça não são muito
frequentes, mas são significativas.
A
aparência dos membros da Turma da Zona Norte varia a cada historinha, mas o
padrão é que Zico seja o do gorro na cabeça. Só mais tarde ficou fixo que, dos
capangas de Zico, um use boné, e outro tenha cabeça descoberta e cabelo mal
penteado.
Os
embates entre o Clube do Bolinha e a Turma da Zona Norte deram origem a
imitações em gibis infantis posteriores. Dentre exemplos mais conhecidos de
bullyers que enfrentam os protagonistas de outros gibis, temos a Turma da Rua
de Cima, dos gibis da Mônica de
Maurício de Souza; a Turma da Rua de Baixo, do gibi dos Trapalhões, a fase infantil de César Sandoval; e a Turma do Jarbas,
do gibi do Gordo & Cia de Ely
Barbosa. Só para mostrar a influência das HQ de Luluzinha sobre outras criações
memoráveis dos gibis infantis. Por sua vez, John Stanley, ao criar a Turma da
Zona Norte como adversários da Turma do Bolinha, provavelmente se inspirou no
romance infanto-juvenil húngaro Os
Meninos da Rua Paulo (1907), de
Ferenc Molnár.
Bueno.
LULUZINHA – TURMA DA ZONA NORTE apresenta alguns embates da turminha com a
Turma da Zona Norte em suas 128 páginas em papel couché colorido e lombada
quadrada. Mas seguindo o mesmo esquema visto em Luluzinha – Pirralhos Espertos: um simples almanaque com as
melhores histórias, todas já publicadas anteriormente nos gibis de linha da
Pixel, sem texto introdutório nem datas originais de publicação nos EUA. Só se
sabe que as histórias foram produzidas pela “dupla de ouro” dos gibis da
editora Dell Comics, John Stanley e Irving Tripp. E apresentando aspectos
vários do embate entre clubes: os meninos do clubinho juntos contra os
bullyers, Bolinha sozinho contra a Turma da Zona Norte, encrencas do gordinho
com Ciça, Luluzinha ajudando os meninos do clubinho, ou só o Bolinha, sozinha
ou com a ajuda de Aninha, histórias em que a Turma da Zona Norte marca presença
quase só depois, perto do fim da história... E rixas ou diretas, com direito a
brigas físicas, ou através de esportes. Plínio Raposo, Alvinho e Glorinha
também marcam presença nas aventuras.
Começando
com O Resgate, que já foi publicado
anteriormente em Luluzinha # 1, da
Pixel. Na longa história cheia de trapalhadas, os meninos só complicam, ao
invés de fazerem as coisas pela via mais fácil, para resgatar um amigo
capturado, ou, conforme a coisa se desenvolve, amigos capturados pela Turma da
Zona Norte. E Luluzinha e Aninha, tentando ajudar, só pioram a situação para os
meninos.
Em Os Cabeças de Panela (anteriormente em Bolinha # 7), a Turma da Zona Norte
entra depois – a maior parte da trama é centrada numa ideia estapafúrdia de
Luluzinha para que Bolinha e Juca façam as pazes.
O Vingador (Bolinha # 5) tem a presença do riquinho
Plínio Raposo. Para poder vingar uma ofensa do mauricinho a um amigo, Bolinha,
infelizmente, tem de passar pela Turma da Zona Norte, contratada como
guarda-costas.
Jogada de Mestre (Bolinha # 26) também tem aparição breve
da Turma da Zona Norte – e em quantidade maior de membros além dos tradicionais
três. No mais, a história é centrada numa absurda ideia dos meninos para
angariar fundos para a compra de uma bola de beisebol para um importante jogo.
Luluzinha acaba entrando na jogada – e se torna a salvação dos meninos do
clubinho! Uma rara oportunidade de verdadeira confraternização entre sexos.
Tudo por um Sorvete (Luluzinha # 21) é toda centrada em
Luluzinha – a Turma da Zona Norte praticamente entra como elemento de tensão,
perseguindo a menina enquanto ela, ávida por sorvete, tenta escapar com o
dito-cujo dos bullyers. Detalhe é que os meninos do Clube do Bolinha bancaram o
sorvete.
Em A Rainha do Pedaço (Luluzinha # 5), a menina, em novo confronto com a Turma da Zona
Norte, deixa os meninos do Clube do Bolinha no chinelo – com uma leve
mentirinha.
Em Bolinha Vai à Luta (Bolinha # 9), Plínio resolve ver o circo pegar fogo entre as
gangues de meninos, e incita uma luta de boxe. Mesmo querendo tirar o corpo
fora, Bolinha vence! E Lulu é a juíza (só podia ser).
Em O Faxineiro (Bolinha # 25), o objetivo de Bolinha era apenas recuperar um
dinheiro roubado, mas consegue muito mais: servir de exemplo à cidade (só que
não).
Ladrão de Boneca (Bolinha # 32) traz uma intervenção de
Ciça, querendo encrencar Bolinha. E seu plano para despistar a Turma da Zona
Norte tem várias fases, mas o resultado é bom.
A
aparição da Turma da Zona Norte em A
Vigia (Bolinha # 20) é
idiossincrática; a história é centrada em outro esforço de Lulu para entrar no
clubinho – só para ser passada para trás outra vez.
Em Cavando um Porão (Bolinha # 13), o gordinho se aproveita de uma “intervenção” da
Turma da Zona Norte para fazer uma reforminha no clubinho. Sendo história da –
provável – fase inicial do gibi do Bolinha nos EUA, a arte é mais tosca.
A Pacificadora (Luluzinha # 3) mostra uma ideia maluca
de Luluzinha para tentar fazer as gangues fazerem as pazes. Tudo na pura
espontaneidade e necessidade de promoção da paz.
A Saída Secreta (Bolinha # 27) traz outra ideia para
melhorar o clubinho que dá certo... só por um curto período.
O gigante (Bolinha # 29) é história constituída por
um dos sonhos tidos por Bolinha, motivados pelo medo. No gibi do Bolinha, esse
tipo de história, marcada pela surrealidade, era bem comum.
A mascote (Bolinha # 4) é a única aparição de
Alvinho no álbum. A ideia seria integrá-lo ao clubinho como mascote, mas o
menininho se envolve numa série de confusões envolvendo um jogo de empurra e
troca-troca com a Turma da Zona Norte.
Vovó Pelanca (Luluzinha # 7) traz uma “incrível” ideia
da menina para ajudar Bolinha a fugir da Turma da Zona Norte. E, no saldo
final, ela é quem sua mais.
Peixe Voador (Bolinha # 20) apresenta outra
participação de Ciça. Ela engambela Bolinha para beneficiar a turma do irmão,
mas o gordinho consegue dar a volta por cima. Em grande estilo.
O Tônico Tonico (Bolinha # 10) tem a única presença de
Glorinha no título. O enredo gira em torno do temido fortificante infantil
(criança sofria naquela época) que, tomado em excesso, tem efeitos
imprevisíveis.
E,
terminando, A Ajudante do Bolinha (Luluzinha # 2) traz a menina com uma
ideia “genial” para conter o bullying da Turma da Zona Norte para cima do
Bolinha. Mas não dá tão certo quanto planejado.
Não
tem caráter histórico, mas LULUZINHA – TURMA DA ZONA NORTE garante a necessária
cota de diversão aos fãs. E é um dos álbuns ainda mais fáceis de encontrar nas
gibiterias e sites. Preço: R$ 16,90.
Da
coleção dos álbuns de Luluzinha pela Pixel, vou ficar devendo o terceiro, Luluzinha – Aventuras com Bolinha. Se eu
conseguir encontrar esse, depois terá resenha. Não sei dizer quando. Mas
ficarei devendo.
Para
encerrar, deixarei aqui as páginas finais de meu livrinho teórico de HQ, Quadrinhos – Conceito e Prática. Neste
trecho final, temos quase só textos – os apêndices. Um deles é importante:
nele, explico como faço as minhas tiras – ou melhor, o traçado básico para as
tiras de Letícia, Bitifrendis e Teixeirão, que vocês leem junto com os textos
do Estúdio Rafelipe. E como faço os textos dos balões, sem computador. Aliás, o
livrinho foi todo feito à mão, como puderam notar – até as letras.
Já
contei como acho o balonamento por computador e a fonte comic sans uma
patifaria? Ao menos, no caso dos meus quadrinhos. Os outros quadrinhistas podem
se acertar com os textos inseridos no computador, mas eu não. Prefiro colocar
os textos à mão – isso deixa meu trabalho mais pessoal. Computador, mesmo, só
uso para escanear os originais e colorir desenhos. Às vezes, uma eventual
editada no traço, mas textos, só à mão.
Devaneios
à parte, agora o livrinho está completo! Em breve, a versão integral será
disponibilizada de outras maneiras. Aguardem!
Já
tenho coisas planejadas para as próximas postagens, não se preocupem. Os gibis
de Luluzinha foram encerrados, mas o Estúdio Rafelipe vai continuar! E, agora,
perto da aguardada postagem no. 1000, não pararemos mesmo!
Fiquem
com a gente!
Até
mais!
Um comentário:
Obrigado pelas resenhas dos gibis e especiais da Luluzinha e sua turma.
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