Olá.
Devido
aos planos que tive para as últimas postagens, um assunto do qual eu queria
tratar foi sendo empurrado para mais adiante. Hoje não dá mais para adiar – não
enquanto o assunto em questão ainda estiver no mercado.
Hoje,
vou falar novamente de quadrinhos. Hoje vou falar de quadrinhos brasileiros.
Hoje vou falar de Graphic MSP, que é o que vem limpando a barra do sempre mal
falado quadrinho brasileiro. Hoje vou falar do mais recente lançamento do selo.
Hoje vou falar de PENADINHO – VIDA.
NOS CAPÍTULOS ANTERIORES...
Vamos
rememorar rapidinho: em outubro de 2012, saiu o primeiro álbum da mais
intrigante iniciativa dos Estúdios Maurício de Sousa, que há anos vem
encantando gerações com a Turma da Mônica. Desde a série MSP 50 (três volumes entre 2009 e 2011), em que artistas foram
convidados a reinterpretar os clássicos personagens de Maurício à sua maneira,
até o álbum Mônica(s), de 2013, que
contou até com artistas internacionais, passando pelo também álbum Ouro da Casa, de 2012, artistas
brasileiros estão oferecendo aos leitores outra visão do universo de Maurício
de Sousa – e com autorização e supervisão do próprio e de Sidney Gusman, o
editor do site Universo HQ.
A
iniciativa mais destacada do Estúdio, que voa em céus de brigadeiro desde que
passou a publicar seus gibis e álbuns pela Panini, é a série Graphic MSP, onde os personagens
estrelam histórias mais adultas que os gibis de linha. E a série ainda
contribui para aumentar a fama de talentos das HQ nacionais que até então só
contavam com eles mesmos para divulgar sua arte.
Começou
em outubro de 2012, com Astronauta – Magnetar, de Danilo Beyruth. Veio, depois, em maio de 2013, Turma da Mônica – Laços, dos irmãos
Vítor e Lu Cafaggi; em agosto de 2013, veio Chico Bento – Pavor Espaciar, de Gustavo Duarte; e, completando a primeira leva,
em novembro de 2013, Piteco – Ingá,
de Shiko. Ainda no final de 2013, é anunciado o início do segundo ciclo de
álbuns da série, que previa seis álbuns – número ampliado posteriormente para
sete. Já saíram: em agosto de 2014, Bidu – Caminhos, de Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, e, em dezembro de
2014, Astronauta – Singularidade
(continuação de Magnetar), de Danilo
Beyruth.
E
agora, em maio de 2015, é lançado o primeiro álbum do presente ano, PENADINHO –
VIDA, de Paulo Crumbim e Cristina Eiko.
E
chegou atropelando: estava previsto que o álbum seguinte a Astronauta – Singularidade seria o do Louco, por Rogério Coelho, mas problemas fora do controle da
Panini, a publicadora dos álbuns, e o autor, atrasaram o lançamento.
Ainda
estão previstos, além do Louco por
Rogério Coelho, álbuns do Papa Capim,
por Marcela Godoy e Renato Guedes, da Turma
da Mata, por Roger Cruz, Artur Fujita e Davi Calil (originalmente, seria
Greg Tocchini quem integraria o projeto, mas ele foi responsável pela primeira
baixa na iniciativa), e a continuação de Turma
da Mônica – Laços, pelos irmãos Cafaggi.
E,
já que falamos nos gibis de linha da Maurício de Sousa produções: recentemente,
foi noticiado que, a partir de agora, com a numeração dos gibis de linha
reiniciando (elas alcançaram o número 100, pela Panini, em maio) as histórias
serão creditadas! É uma antiga reivindicação dos quadrinhistas brasileiros, que
vem desde que as histórias dos quadrinhos Disney, publicadas no Brasil pela
editora Abril, começaram a creditar os autores.
EIS OS AUTORES
PENADINHO
– VIDA ganhou vida através do traço de dois autores independentes que atuam de
forma, digamos assim, discreta: apesar de já fazerem algum sucesso, seus nomes
não são muito citados em muitas mídias.
Assim
como Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, Paulo Crumbim e Cristina Eiko
Yamamoto não participaram, anteriormente, da série Graphic MSP, assim como os outros autores.
O
casal faz quadrinhos conjuntamente desde 2010. Em comum, os dois tinham a
paixão por HQ e a vontade de trabalhar no ramo – e nas animações. Crumbim,
nascido em Santos, SP, é formado em publicidade; Eiko, nascida em São Paulo, é
formada em Design Digital.
Ambos
se conheceram em um estúdio de animação – os nomes de ambos constam nos
créditos dos filmes de animação Asterix e
os Vikings (apesar de ser uma produção francesa, teve parte de sua animação
feita aqui no Brasil) e Uma História de
Amor e Fúria (este sim, 100% brasileiro).
Desde
2010, Crumbim e Eiko produzem a série de HQ Quadrinhos
A2, que conta, de forma surreal e bem-humorada, o cotidiano dos dois – com
a inserção de elementos fantásticos em estilo que, segundo a crítica, lembra Scott Pilgrim. Quadrinhos A2 já rendeu três álbuns, lançados de forma
independente: Quadrinhos A2 – Primeira
Temporada saiu em novembro de 2011; Segunda
Temporada saiu em novembro de 2012; e Terceira
Temporada saiu em novembro de 2013.
Nesse
meio tempo, em outubro de 2012, Crumbim lançou um álbum solo, Gnut, com as aventuras de um simpático
alienígena.
Apesar
de atualmente estarem desatualizados, os sites oficiais dos autores ainda podem
ser visitados: www.quadrinhosa2.com/ e www.gnutcomics.com/.
EIS O PERSONAGEM
O
escolhido para o trabalho pelo casal Crumbim e Eiko foi o Penadinho, o
fantasminha criado por Maurício de Sousa em 1963, para o suplemento infantil do
jornal Folha de S. Paulo. Mas o anteriormente chamado apenas de Fantasminha só
recebeu o nome no ano seguinte. Mas já apresentava a forma consagrada através
dos anos: o de “lençol branco” vivo, rechonchudo e com cabeça em forma de
porongo (o fruto que, aqui no Rio Grande do Sul, se usa para fazer cuias de
chimarrão).
Penadinho
insere-se no gênero do quadrinho terrir, ou seja, o terror humorístico. Sendo
uma série feita para crianças, o terrir não tem nada de assustador, apesar de
utilizar monstros e criaturas sobrenaturais. Elas são tiradas d elemento gótico
para serem satirizadas. Claro que o representante mais notório do gênero é o
Gasparzinho de Sy Reitt e Joe Oriolo. Certamente, o Fantasminha Camarada deve
ter servido de inspiração para Maurício de Sousa dar vida ao Penadinho.
Mas,
ao contrário de Gasparzinho, a principal diversão de Penadinho é assustar
pessoas. E o faz do modo “antigo”: aparecendo e fazendo “bu”, por vezes de modo
escandaloso – nada de correntes para acentuar o efeito. A credulidade das
pessoas faz o resto. Tem quem sequer se assuste – ainda mais hoje em dia, em
que há coisas muito mais assustadoras que “um fantasma boboca”. Mas os sustos
são a fonte de alimento de Gasparzinho e seus amigos.
Penadinho,
como o próprio nome diz, é uma alma penada, cujo destino é atormentar os vivos.
E ele é a alma de alguém que já morreu, tanto que mora em um cemitério, em
local nunca especificado, mas evidente que esse cemitério fica no Brasil. Se
bem que pode ser em qualquer parte do mundo, já que a tira, como as demais do
universo de Maurício de Sousa, foi exportada – nos EUA, Penadinho é conhecido
como Bug a Boo. E teve uma história em prosa publicada em um livro infantil,
escrito por Maurício, nos anos 1960, lançado pela editora FTD. Em 2015, a série
de livros infantis de Maurício deverá ser relançada pela WMF Martins Fontes.
Como
bom representante do gênero terrir, Penadinho é cercado de personagens típicos
desse universo – alguns um tanto díspares para um cemitério brasileiro. Tem um
vampiro, o azarado Zé Vampir, elegante porém atrapalhado, e que enfrenta
agruras para poder sugar sangue de suas vítimas; Frank, um Frankenstein com
força enorme, bom coração e mentalidade de criança (o cientista louco que o
criou, seu pai, também vive nos arredores do cemitério); Muminho, uma legítima
múmia egípcia que sabe-se lá como foi trazida ao cemitério, cheia de manias e
que não gosta de sujar suas faixas; Cranicola, um crânio falante, inteligente e
cujo maior complexo é não poder sair do lugar por conta própria sem depender de
alguém para ser transportado; o lobisomem atrapalhado, que só posteriormente
foi batizado como Lobi – e cuja aparência mudou bastante; Alminha, também
fantasminha, a “alma gêmea” de Penadinho – sua namorada, entenderam?; um
fantasminha bebê que entrou posteriormente (por isso, não sei o nome dele –
quem puder, me ajude nos comentários); e a Dona Morte, em sua clássica
representação, rosto cadavérico, de capuz e foice na mão, mas cheia de manias
como uma trabalhadora comum. Esqueçam a gatinha de roupa gótica do galhofeiro
Neil Gaiman.
Aliás,
algumas das melhores histórias de Penadinho, apesar de levar seu nome, são as
em que ele não tem o protagonismo, e sim a Dona Morte: no melhor estilo do Spirit de Will Eisner, são contadas as
trajetórias de pessoas comuns, com hábitos excêntricos, desde que sua mania se
desenvolveu até quando encontraram a morte e viraram fantasmas. E foram muitos
os casos: um cara que odiava árvores, outro que odiava cães, um cleptomaníaco
compulsivo, um que viveu a vida toda na pressa, um que aproveitou a morte para
colher autógrafos de ídolos mortos... dentre os casos que me lembro, quando lia
os gibis da Mônica. A presença da Dona Morte é constante, no final das
historinhas.
Há,
ainda, dois personagens recorrentes nestas histórias: a Dona Cegonha, o símbolo
do renascimento, cujo trabalho é conduzir as almas a reencarnar em outro corpo
(nem sempre com o resultado esperado); e o Diabo, e seus asseclas, cujo
trabalho é fazer as almas receberem a condenação por seus pecados em vida. Isto
é, se as almas não forem conduzidas, pela Dona Morte, ao Paraíso, ao
Purgatório... ou ficarem no limbo, mesmo, fazendo companhia ao Penadinho e seus
amigos no cemitério.
Penadinho
também tem um gibi próprio, almanaque bimestral das melhores histórias pela
Panini, e uma compilação de tiras pela L&PM Pocket.
EIS O ÁLBUM
Crumbim
e Eiko, em PENADINHO – VIDA, constroem um enredo que combina terror leve, uma
história de amor, questões filosóficas, referências a filmes e outras mídias do
universo do terror, tudo em um traço sombrio, porém “fofo”, feito a quatro
mãos. O roteiro foi escrito conjuntamente, e os desenhos também: Crumbim
desenha e colore, Eiko faz a arte-final e a assistência.
Tal
como os outros álbuns do Graphic MSP, os autores interpretam os personagens à
sua maneira, mas mantendo as características consagradas, às quais os antigos
fãs estão acostumados. Penadinho perde apenas a cabeça de porongo e tem as mãos
e pés reduzidos – ele flutua, ao invés de andar, como faz nas HQ normais; Frank
ganha traços “fofos”, que contrastam com a aparência frankensteiniana; Muminho
ganha uma maior aparência de morto-vivo, com rosto cadavérico embaixo das faixas
e tudo; Zé Vampir é reduzido a um boneco de formas minimalistas, mas mantém a
personalidade irônica e bem-humorada; Cranicola é desenhado como um crânio,
mesmo, de formas mais realistas; Alminha troca a aparência rechonchuda e o
cabelo chanel por um vestido, um cabelo esvoaçante, enfim, uma aparência mais
de alma penada; Dona Cegonha é uma cegonha realista – não tem nem o boné com o
qual aparece nos gibis de linha; e a Dona Morte, sua aparência mais
assustadora. A grande surpresa é a forma como Lobi é inserido na história.
Crumbim
e Eiko ainda criam personagens exclusivos para o álbum. E eles conduzem uma das
melhores histórias – apesar dos “pecadilhos” – desde Turma da Mônica – Laços e Bidu
– Caminhos.
A
tônica de PENADINHO – VIDA é a vida após a morte. Mas com pesadas questões
filosóficas: quanto duraria, em realidade, a “vida após a morte”? O que
aconteceria se alguma coisa, de repente, determinasse uma segunda passagem – da
vida após a morte para outra vida? Desse modo, teríamos mesmo a eternidade para
resolvermos os assuntos que deixamos pendentes tanto na antiga vida quanto na
pós-vida?
Bueno.
A introdução de PENADINHO – VIDA tem dois acontecimentos paralelos. No
primeiro, dois entregadores vão à casa de um estranho senhor, para entregar
umas caixas – folhetos de propaganda que ele mandou imprimir. O tal senhor,
chamado Sr. Crowley (referência ao ocultista britânico Aleister Crowley,
certamente), é um velho morto-vivo, sempre cercado de moscas, produtor de
perfumes – o ingrediente usado para tal é que é seu segredo mais sórdido – e
especialista em “trazer de volta as pessoas amadas” de quem lhe consulta,
“vivas ou mortas”. Ele tem duas criaturas a seu serviço, os esquisitos Amaimon
e Pazuzu (referência ao filme O Exorcista),
responsáveis por serviços gerais, desde distribuir os tais panfletos até
coletar almas perdidas. Sim: Amaimon e Pazuzu são entidades sobrenaturais –
praticamente demônios – que andam pela cidade vestindo chamativas roupas de
garoto. Enquanto Amaimon é tranquilo e conformado, Pazuzu é reclamão e
mal-humorado pelo contrato eterno que deve prestar ao Sr. Crowley.
O
segundo acontecimento se dá no cemitério onde Penadinho vive. Ele, Frank, Zé
Vampir, Muminho, Cranicola e Alminha estão brincando de esconde-esconde no
cemitério – Lobi ainda não faz parte do grupo, mas aparecerá até o fim do
álbum. Até que, quando é a vez de Penadinho procurar os amigos, a Dona Cegonha
aparece, com uma notícia nada animadora ao fantasminha: Alminha vai ser a
próxima a reencarnar – e, consequentemente, vai ser separada dos amigos.
Ocorre
que Penadinho nunca confessou a Alminha que ela é o grande amor de sua pós-vida
– apesar de o sentimento ser recíproco. O fantasminha sabe que aquela será sua
única oportunidade, pois Dona Cegonha a buscará ao amanhecer – até então,
acreditava que teria a eternidade toda para isso. Em boa parte do álbum,
Penadinho reluta em admitir que ama Alminha, mesmo com a insistência de Zé
Vampir em fazê-lo confessar. E o fantasminha decide levar a “quase” namorada
para sair. Mas Alminha está emburrada, já que Penadinho nunca cumpriu as
promessas que fizera de levá-la para ao menos um passeio. Na discussão,
Penadinho se afasta de Alminha.
Aí,
ela é abordada por Amaimon e Pazuzu, que, após chegarem simpáticos e até
contarem-lhe uma historinha, capturam-na e a prendem numa garrafa. E Alminha é
levada até o Sr. Crowley - mas,–antes, Amaimon e Pazuzu resolvem parar numa
sorveteria.
De
volta ao cemitério, o triste Penadinho recebe a notícia, através dos amigos, do
desaparecimento de Alminha. E decide ir atrás dela. Zé Vampir, Muminho e Frank
vão junto – Cranicola fica no cemitério.
Durante
a procura na cidade, Frank recebe um dos folhetos do Sr. Crowley, e, então,
Penadinho decide consulta-lo. A jornada é feita através de um local assustador,
onde até os monstros relutam em atravessar. O mais assustado, em vários
momentos, é Muminho – Penadinho está tão determinado que nada o assusta, Zé
Vampir leva tudo “na boa” e Frank está praticamente alheio, por conta da
mentalidade infantil, mas é útil quando necessário.
Na
jornada, os quatro atravessam, de bote, um lago, e, do outro lado do lago, são
recepcionados por uma voz assustadora, que os ameaça. Mas, logo, descobrem que
o dono da voz, na verdade, é um homem. Um estranho rapaz que vive junto a
criaturas assustadoras – ele tem um segredo, que é revelado perto do fim do
álbum. O rapaz põe as quatro criaturas a par dos estranhos acontecimentos do
local: criaturas estão desaparecendo, sem motivo aparente. As que sobreviveram
estão sob a proteção de Mamãe, uma enorme árvore viva, que esconde em seu
interior uma mansão. Lá, o chamado “forasteiro” vive com outras criaturas, como
a serelepe Pequena e a velha de quatro braços Torta de Mel, a cozinheira.
Dentro
da mansão, Penadinho e amigos põem o Forasteiro a par de seus motivos para
estar ali, e o rapaz decide ajuda-los. Os conduzem, através de uma passagem
secreta, até a mansão do Sr. Crowley, que fica ali próxima. Chegando ali, Frank
acaba fazendo bagunça no depósito de Crowley, que, atraído pelo barulho, desce
para ver o que acontece. E, ouvindo a história de Penadinho, se dispõe a
auxiliá-lo a encontrar Alminha. Que, claro, está com o senhor, aprisionada em
um grande jarro, junto com outras almas.
Dentro
do jarro, Alminha conhece o simpático Marchimelo, uma companhia para conversar
no meio das almas que gemem e gritam em desespero. E consegue manter o controle
ali, pois, de algum modo, sabe que Penadinho está vindo salvá-la.
Em
comum com Penadinho, o Sr. Crowley também tinha uma paixão não-correspondida, a
qual ele só se importou quando já era realmente tarde demais. Por isso, ele se
dedica à estranha atividade.
Ao
ver o jarro de almas – e saber do uso que Crowley faz delas – Penadinho se
irrita, e ameaça Crowley, que, então, liberta três demoninhos ferozes para
conter os ânimos do pessoal. Mas esses três demoninhos acabam fazendo, sem
querer, o feitiço se voltar contra o feiticeiro, conduzindo ao apoteótico final
da narrativa, onde a Dona Morte e a Cegonha marcam presença. Só a Dona Morte
pode salvar o Sr. Crowley da confusão que criou. Mas... Será mesmo a última
despedida de Penadinho e Alminha... ou haverá uma segunda chance, já que ambos
estão entendendo o significado da “vida”, depois disso tudo?
Bem.
Apesar da boa condução do principal assunto da história – a busca de Penadinho
por Alminha – o álbum peca por seu final, que deixa pontas mal-amarradas nos
nós narrativos. Também o aproveitamento dos personagens secundários deixa a
desejar. O Sr. Crowley tem o melhor tempo dentro da narrativa, mas é o reclamão
Pazuzu que rouba a maior parte das cenas em que está presente, praticamente
sufocando o parceiro Amaimon. A personagem Pequena seria muito promissora, se
tivesse mais voz ativa na narrativa. Assim como o simpático Marchimelo
(referência ao monstro gigante que aparece no final do primeiro filme d’Os Caça-Fantasmas?), que é rapidamente
defenestrado após os diálogos com Alminha. E o grande sustentáculo do
personagem Forasteiro, além do auxílio que dá aos personagens principais, é o
segredo que carrega – só posso revelar que tem algo a ver com a lua cheia, e a
aparição de Lobi no álbum. Está certo que o espaço do álbum era limitado – só
84 páginas, contando capa, e ainda tinha de reservar espaço para as páginas de
extras – mas, Srs. Crumbim e Eiko, pra que defenestrarem precocemente o
Cranicola? Ele não podia ir junto, carregado pelo Frank? Nem ao menos para
soltar comentários irônicos?
A
arte é o melhor do álbum, sombria, com momentos luminosos – mas como se fosse
iluminada como uma lâmpada – combinando perfeitamente com os personagens. Em
uma das páginas, Crumbim e Eiko conseguem uma incrível solução narrativa:
resumem a jornada de Penadinho e seus amigos através dos túneis, até o porão do
Sr. Crowley, a uma imagem que reproduz uma tela dos antigos games 8-bits – com
direito às falas de personagens transformadas em legendas. É bem o estilo do
casal, que também tematiza videogames nas histórias dos Quadrinhos A2. Ah: embora os balões sejam evidentemente inseridos
por computador, parece que houve melhorias nos softwares, já que nem parecem
ter sido feitos no computador. Há balões personalizados para alguns
personagens, e, toda vez que eles gritam, as letras são grandes, vermelhas e em
negrito. Ah: prestem atenção, também, nas referências a filmes de terror e
outras HQ célebres.
E
não podem faltar os extras! Introdução de Maurício de Sousa, bastidores da
produção e biografia dos autores. E posfácio do cineasta Luiz Bolognesi -
“patrão” de Crumbim e Eiko em Uma
História de Amor e Fúria. E as duas versões disponíveis: capa dura, a R$
31,90, e capa cartonada, a R$ 21,90. Que fase... até os álbuns do Graphic MSP
estão sendo atingidos pela inflação.
Apesar
dos tropeços, já posso considerar PENADINHO – VIDA um dos melhores álbuns da
série Graphic MSP. Os últimos álbuns não foram muito bem de crítica, muitos
consideram-nos superestimados. Mas a série Graphic MSP ainda cumpre seu papel
de livrar a barra do quadrinho brasileiro: além de pouco chegarem às bancas, as
melhores HQB disponíveis são conhecidas por poucos.
Well.
Até chegar o próximo álbum, já dá para estabelecer o ranking pessoal dos
álbuns. Claro que baseado em opinião pessoal deste que vos escreve. Vocês tem
os seus? Compartilhem através dos comentários! Por ordem de classificação:
1º)
Turma da Mônica – Laços
2º)
Bidu – Caminhos
3º)
Penadinho – Vida
4º)
Piteco – Ingá
5º)
Astronauta – Magnetar
6º)
Chico Bento – Pavor Espaciar
7º)
Astronauta – Singularidade.
PARA ENCERRAR...
...já
que tratamos do tema, vou partilhar com vocês uma redescoberta de meus arquivos
pessoais.
Nos
meus tempos de formação, por volta de 1999 – 2001, também criei um personagem
de terrir. Apresento-vos, então, a Fantasmina, a Fantasma adolescente. Aqui,
numa ilustração conceitual em linha-clara.
Me
baseei em uma fantasma que apareceu em uma história do Penadinho – vejam vocês.
E dei vida – curta – a esta personagem, e seus amigos Nuno, o fantasma, e Lobo,
o lobisomem. No total, encontrei dez tirinhas da personagem. Para vocês terem
uma ideia, eis aqui algumas amostras de páginas dominicais que fiz da
Fantasmina. A arte-final foi feita a esferográfica, em letra cursiva.
Eu
disse, é do meu período de formação. Fui aprender mais sobre HQ quando fui
estudar em Santa Maria, e me juntei ao Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria –
Quadrinhos S. A.. Ali que aperfeiçoei a minha técnica atual.
Bem.
Se quiserem, em breve, eu coloco mais páginas de Fantasmina para vocês. Se
quiserem, volto a produzir historinhas com a personagem. Pelo menos, digam
alguma coisa!
Estaremos
no aguardo, agora, do próximo Graphic MSP!
Até
mais!
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