terça-feira, 25 de outubro de 2016

Livro: O FILHO DO BABY DOLL

Olá.
Hoje, falo de livro de novo, depois de dias sem falar de nada. Novamente, ando meio enrolado com tantas coisas com relação ao meu trabalho, mas não vou deixar meus 17 leitores na mão.
Hoje, volto a falar da obra de Fidélis Dalcin Barbosa, escritor e ex-padre. Hoje volto ao resgate de sua obra. Hoje, volto a falar de mais um de seus livros de contos, de pequenas histórias que evocam um passado bucólico e mais acolhedor do Rio Grande do Sul.
Hoje, vou falar de O FILHO DO BABY DOLL.

O FILHO DO BABY DOLL foi publicado pela primeira vez em 1992, pela Tipografia e Editora La Salle, de Canoas, RS – as indicações da editora constam na última página; pela falta de ficha catalográfica nas páginas iniciais da obra, é possível crer que o livro foi lançado de forma independente, à custa do próprio autor. A ilustração de capa é de Elita Facchini.
O livro reúne 20 contos do autor, sendo alguns já publicados anteriormente, em outros livros. Desse conjunto, 10 contos seriam republicados na nova edição de O Primeiro Beijo, lançada no ano seguinte – se eles, claro, não haviam aparecido na edição de 1961. Aliás, na orelha do livro, consta a informação: dos 20 contos, uns são inéditos, outros reproduzidos de livros esgotados – mas sem passar por atualização ou revisão.
Bem. Quando resenhei O Primeiro Beijo, falei desses 10 primeiros contos: O Filho do Baby Doll, Respeito, O Pequeno Marginal, A Normalista, O Pinheiro, Tesouro Escondido no Campo, O Nhandu, O Negrinho do Pastoreio, O Ébrio e Arlete. A estes, no presente livro, se juntam os contos Perseguido de Mulheres, O Hoteleiro, Pescador de Coruja, Pescaria a Dinamite, Lagoa Vermelha – 110 Anos, Quinzote, Os Guadagnin, O Combate da Encruzilhada, Granjeiro Modelo e Granja Três Pinheiros.
O FILHO DO BABY DOLL, embora não deixe de lado o moralismo e a religiosidade comuns à obra do autor, desta vez investe mais em resgatar histórias mais cotidianas, de conhecidos seus ou de gente que fez a diferença em suas regiões. Várias das histórias tem caráter humorístico e evocativo do passado do interior do Rio Grande do Sul – prevalece, nesta obra, o Frei Fidélis contador de causos. Boa parte das histórias se passa na cidade de Lagoa Vermelha, RS, e região – cidade onde Frei Fidélis fixou residência na maior parte de sua carreira, e onde eu, o autor desta resenha, também residi dois anos.
Bem. Vamos ver – e rever – os contos que compõem esse livro.
Abrindo com O Filho do Baby Doll, que dá título ao livro. O conto procura ser um tratado sobre o relacionamento ideal entre marido e esposa, através da história de uma mulher, esposa de um prefeito que, a conselho de um psicólogo, reencontra o entendimento com o marido reinvestindo no cuidado com a aparência pessoal.
Respeito foi extraído do folclore paranaense. A história de um cachorro “de unha perdida” que, em vida, operava incríveis façanhas junto a sua família; e, depois de ter um fim trágico, começou a operar milagres, como um santo. Como? Leiam para saber!
O Pequeno Marginal conta, em primeira pessoa, a história do filho de uma prostituta, nascido em Lagoa Vermelha, que vive uma vida marginal, vivenciando até sentimentos de vingança – ele tenta, várias vezes, matar um homem que lhe fizera mal – até ser recolhido à Casa do Menor Abandonado daquela cidade e, sob os cuidados do professor Idílio Biavatti (ex-aluno de Fidélis Barbosa), acaba descobrindo o caminho da redenção, do perdão, da vida honrada e do futuro melhor.
A Normalista é outra história com a presença e intervenção do Prof. Biavatti. É narrada a história de como o professor conseguiu salvar uma aluna do Colégio Rainha da Paz, de Lagoa Vermelha, que havia sido desgraçada por um rapaz, da prostituição, e ainda conseguiu reconciliá-la com o tal rapaz, formando uma família e garantindo a ela um futuro honrado.
O Pinheiro conta a história de uma enorme araucária que enfeitava a beira da BR-285, em Lagoa Vermelha, atraindo a admiração dos passantes – incluindo o autor – até ser criminosamente derrubado. Mas a finalidade da derrubada, que no fim foi útil, impede que o narrador da história reclame com o culpado.
Tesouro Escondido no Campo narra a história de um jovem pobre, empregado de uma serraria do município de Barracão, RS, que, guiado por sonhos, decide comprar um lote de terra, buscando encontrar nele um tesouro escondido; mas acaba encontrando mais do que a princípio esperava – e ao custo de um trabalho árduo e honesto.
O Nhandu é uma história humorística. O garoto Valentim – Valentim Rodegheri, o conhecido Frei Brás de Lagoa Vermelha – vivencia uma cômica experiência durante uma caçada pelos campos, decidido a pegar uma ema, a avestruz latino-americana. Porém, sem resultados positivos... Ao mesmo tempo, o leitor, além de se divertir com essa caçada, também aprende a respeito da ema.
O Negrinho do Pastoreio é a recriação de Fidélis Barbosa de uma das lendas tradicionais do Rio Grande do Sul. Porém, há uma terrível constatação: o conto, na verdade, é uma versão resumida e até copiada de conto do pelotense Simões Lopes Neto! Comparem o conto deste livro com a versão da história presente no livro Lendas do Sul...
O Ébrio trata dos males causados pelo alcoolismo. Um homem acaba levando a família à desgraça por conta do vício nas bebidas alcoólicas, até que, em um último ato desesperado, a esposa o recomenda para trabalhar em um colégio de freiras. Mas até ali, ele acaba driblando a abstinência, até que um milagre o faz, afinal, se curar.
Perseguido de Mulheres trata de um episódio da vida de um amigo de Fidélis Barbosa, Bélio Fiori, de Vila Flores, RS, quando este foi a Urucânia, MG, pedir a bênção a um padre – e, ali, é seguido quase que obsessivamente por uma moça local.
O Hoteleiro é um resumo da história de Daniel Bertelli, que foi tema de um livro anterior de Frei Fidélis (Daniel Bertelli, Hoteleiro, Porto Alegre: EST, 1987). O católico e fervoroso Bertelli iniciou suas atividades de hoteleiro em Lagoa Vermelha, mudando-se posteriormente para o Paraná; lá, na cidade onde se instalou, o hoteleiro move mundos e fundos para construir uma igreja, e para conseguir um pároco para a mesma – até que consegue convencer um ex-padre a voltar ao sacerdócio.
Arlete conta um episódio da vida do Padre Paulo – alter-ego de Fidélis Barbosa – que estrelara uma série de contos em O Primeiro Beijo. A caminho de Portugal, onde ficaria alguns anos, o Padre passa uns dias no Rio de Janeiro, e a empregada de uma livraria acaba se apaixonando por ele. Apesar de esse amor não poder ser levado adiante, a moça e o padre continuam a se corresponder à distância, até que, um dia, subitamente, Arlete não dá mais notícias. O que acontecera?
Pescador de Coruja trata das façanhas de Daniel Barreto, também de Lagoa Vermelha, exímio atirador e que conseguira, inclusive, pescar uma coruja! Causo de pescaria? Frei Fidélis garante que é verdade...
Por falar em pescaria, o conto seguinte, Pescaria a Dinamite, também trata de uma aventura de pesca inacreditável, também vivenciada por conhecidos de Frei Fidélis. Tal aventura se dá por conta de uma controversa técnica de pesca praticada por um dos personagens – mas que, no fim, o faz perder o cachorro.
Lagoa Vermelha – 110 Anos é a reprodução de um discurso do vereador José Antônio de Andrade, ex-aluno de Frei Fidélis, proferido na ocasião do aniversário de 110 anos do município, comemorados em 1991 – se não estou enganado.
Falando em Lagoa Vermelha, Quinzote resgata a história de valentia e tragédia de um dos fundadores do município, Joaquim Antônio Fernandes.
Os Guadagnin também evoca o município de Lagoa Vermelha, que já foi – e continua sendo – um importante polo de fabricantes de móveis. Que o diga a família Guadagnin, fundadora da Móveis Rodial, ainda em funcionamento. A crônica se concentra, principalmente, na história de um dos membros da família, Antônio, e de como ele conseguiu driblar uma morte trágica, na primeira metade do século XX. Aliás, lembro que uma vez, quando estudava em Lagoa Vermelha, visitei as oficinas da Móveis Rodial em uma excursão escolar...
O Combate da Encruzilhada também se passa na região de Lagoa Vermelha. É a tentativa de resgatar um episódio sangrento da Revolução de 1923, conflito ocasionado por conta da tentativa do governador Borges de Medeiros em se perpetuar no poder.
Granjeiro Modelo foi publicada originalmente no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, em 1964 (isso está informado no fim da crônica), e resgata tanto a história como um depoimento do empreendedor Raul Feijó, e seu modelo de gerenciamento dos empregados de sua granja. Lembra o romance Prisioneiros do Campo.
E, por fim, Granja Três Pinheiros resgata a história da empresa que já foi a maior produtora e comercializadora de cereais da região de Lagoa Vermelha – bem como a de seus antigos proprietários, o português Adriano Botelho Machado e sua esposa, Alzira Bonotto. O conto resgata a história do esforçado Adriano, que enxerga valor no aproveitamento total dos pinheiros – incluindo suas partes “inúteis” – e como ele conheceu a esposa. Inclui uma foto – a única ilustração do miolo do livro.
Só que conhece Lagoa Vermelha notará algo familiar nas crônicas de O FILHO DO BABY DOLL. Os outros encontrarão nas páginas deste livro o resgate de uma época que já foi, mais ensolarada, e infelizmente, superada – ficaram os sentimentos negativos. Seria o símbolo de um lado “positivo” da época do Regime Militar? Que fique claro que, ao contrário do que propagam por aí, o período 1964 – 1985 não foi homogêneo: houve gente que conseguiu viver de forma diferente do “modelo econômico”, das guerras entre “direita” e “esquerda” e da censura. A prova disso é que estamos aqui, descendentes de quem viveu naquela época.
De todo modo, fica a recomendação: O FILHO DO BABY DOLL, para quem quer tentar conhecer como se vivia no século XX.
Para encerrar, não conseguindo produzir alguma outra coisa para incluir, ponho mesmo, apesar de não ser quinta-feira no momento em que escrevo, mais um trecho do atual arco de tiras do Teixeirão, meu personagem sul-riograndense. Por mais que tente, não consigo chegar logo ao final do arco em questão, A Irmandade do Chimarrão. Ainda estou adiando o final pretendido – ao menos, a julgar pelas ideias que tive para as próximas tiras. Eu digo que vou concluir o arco, mas algo acontece e... adio de novo. Talvez o arco, em sua totalidade, acabe fechando, mesmo, em 185, 190 tiras. Mas vou fazer o possível para concluir de vez! Agora vai!
Enquanto isso, continuem acompanhando as tiras mais recentes no blog do Teixeirão (https://naestanciadoteixeirao.blogspot.com.br).
E ficamos por aqui, por hora. Retomaremos as atividades aos poucos.

Até mais!

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