Olá.
Hoje,
para não ter de falar de eleições ou de política (no momento em que escrevo, estamos à véspera de uma nova eleição, provando que o Brasil ainda é, no fim das contas, uma nação de regime democrático... desculpem), vou falar de quadrinhos. De
quadrinhos feitos no Brasil. Por gente que não é famosa, mas vai se tornar
famosa em breve.
Depois
de muita espera, afinal, a editora Japan-Brazil Connection (JBC), a maior
publicadora de mangás japoneses do Brasil – tendo como principal rival a Panini
Comics e seu selo Planet Mangá; a New Pop e a Astral Comics ainda não ameaçam o
“império” da JBC – finalmente liberou o segundo volume de sua coletânea
HENSHIN! MANGÁ, com os vencedores do concurso nacional de mangás Brazil Mangá
Awards (BMA)! Eis aqui: HENSHIN! MANGÁ Volume 2.
RELEMBRANDO RÁPIDO...
Foi
uma longa e maldita espera dos leitores que esperavam desde o lançamento do
volume 1, e também dos participantes da segunda edição: afinal, o segundo BMA
iniciou em outubro de 2014, cerca de um mês depois do lançamento da primeira coletânea do HENSHIN! MANGÁ. O prazo de envio dos trabalhos seria,
originalmente, até janeiro de 2015, porém, o prazo foi estendido para o mês de
maio. Os vencedores do 2º BMA só foram anunciados em fevereiro de 2016; e a
presente coletânea, com os cinco trabalhos vencedores, saiu agora, em setembro
de 2016. E a editora JBC anunciou, já, que o 3º BMA pode ter suas inscrições abertas
ainda neste segundo semestre de 2016...
Bão.
O primeiro Brazil Mangá Awards (BMA) iniciou no início de 2014, e ainda naquele
ano divulgou seus cinco vencedores, que tiveram suas histórias, curtas e em
formato one-shot, publicadas em uma coletânea, que inaugurou o selo Ink!
Comics, da JBC, que se propõe a lançar obras diferenciadas, não apenas
japonesas (por esse selo, por exemplo, saiu o mangá baseado no anime Kill la Kill), mas de outros países –
inclusive brasileiras.
Não
faz muito que a JBC voltou a investir em quadrinhos brasileiros, passada cerca
de uma década. Em agosto de 2013, saiu o primeiro de dois álbuns da nova série
dos Combo Rangers, de Fábio Yabu – o
segundo volume saiu em dezembro de 2015. E, em novembro de 2015, a JBC lançou
outro álbum que havia sido anunciado em 2014, Robô Esmaga, de Alexandre Lourenço. Esperem, já estou desviando o
assunto...
Bão.
No primeiro BMA, foram vencedores: Quack,
de Kaji Pato (Carlos Antunes Siqueira Júnior); Crishno, o Escolhido, de Francis Ortolan e Lielson Zeni; [Re]fabula, de Nameru Hitsuji (a dupla
Ivys Danillo e Breno Fonseca); Entre
Monstros e Deuses, de Pedro Neonelli e Dharílya Sales Rodrigues; e Starmind, de Ryot (Ricardo Tokumoto) e
Toppera – TPR (Daniel Ferreira).
E
pelo menos dois dos participantes do 1º BMA se deram muito bem: Kaji Pato
lançou, pela editora Draco, um gibi (em março de 2015) e dois álbuns (o
primeiro volume em novembro de 2015 e o segundo em julho de 2016) de Quack, dando prosseguimento à aventura
vista no primeiro volume de HENSHIN! MANGÁ (e que, na minha opinião, deveria
ter ganho o 1º lugar); já Ryot, já conhecido graças ao website Ryotiras,
lançou, também pela Draco, em novembro de 2015, um gibi de Starmind. Kaji Pato e Ryot, ainda, faturaram o HQ Mix deste ano –
claro que cada um em uma categoria diferente (Kaji Pato, na categoria Especial
Mangá; e Ryot, na categoria Web Tiras)!
Vejamos
como será a vida dos vencedores do 2º BMA depois desta coletânea...
O PRÊMIO 2016
Bueno.
Em relação ao primeiro certame, o 2º BMA premiou trabalhos onde se notou um
grande crescimento em sua qualidade, tanto em termos de roteiro quanto de arte.
Os participantes se preocuparam em entregar histórias mais completas, com menos
furos no roteiro, com menos situações absurdas e/ou forçadas (há trabalhos que
não conseguiram evitar esse detalhe...). Todas as histórias investem no gênero
aventura, com toques de humor, drama e algum suspense. Alguns trabalhos tiveram
como fonte os mangás japoneses de comédia dos anos 1970 e 1980; outros fizeram
uso de aspectos da cultura brasileira na composição de seus enredos. E, desta
vez, só um trabalho foi feito em dupla, parceria roteirista-desenhista; todos
os outros foram feitos, roteiro e desenhos, por uma única pessoa.
A
comissão julgadora desse 2º BMA teve como membros: Cassius Medauar, o editor
geral da JBC; o roteirista de mangás brasileiros Marcelo Cassaro (substituindo
Fábio Yabu, juiz do 1º BMA); Arnaldo Oka, o único juiz do 1º BMA, além de
Medauar, a permanecer; Guilherme Kroll; e Marcelo Bouhid.
E os
vencedores, em ordem decrescente de colocação, escolhidos entre 183 trabalhos
válidos, e que passaram por peneiras de 50, 30 e depois 12 finalistas, e que
tiveram o direito de publicarem suas histórias na coletânea de 178 páginas em
papel-jornal, preto-e-branco, foram...
Em 5º lugar, Maria, de Fabiano Oseias Emiliano
Ferreira (apesar de na capa constar Fábio). Nessa aventura, que mistura drama,
mitologia indígena brasileira combinada com a oriental e elementos mágicos à
moda Avatar – A Lenda de Aang, somos
apresentados à história de Maria, uma poderosa garota lobisomem (mas que
permanece como loba durante o dia, e se transforma em garota na lua cheia),
mais nova de sete irmãos. Com um poderoso sopro, uma enorme força e um coração
tão grande quanto seu decote, a criatura protege seus irmãos e a vila onde vive
dos ataques das criaturas de um deus mitológico maligno. Na luta contra uma
perversa Iara, a mulher-peixe, Maria pode se encaminhar para o seu sacrifício
supremo, e um consequente fim trágico – indo na contramão do pensamento de seu
irmão mais velho, que não gostaria de vê-la contrariando seus próprios sonhos
por conta de um dever sagrado. O roteiro é comovente, e o traço é um pouco
desajeitado, mas bonito.
Em 4º lugar, As Loucas Aventuras de Joy Comet da Polícia
Galáctica, de João Eddie (João Edimar de Araújo). Em uma aventura espacial
humorística no melhor estilo histérico de Akira Toriyama (de Dragon Ball e Dr. Slump), somos apresentados a Joy Comet, uma desmiolada e meio
patricinha policial galáctica, e seu assistente, o gato alienígena falante
Gatinho, mais sério, e tentando inutilmente colocar juízo na cabeça da garota.
Os dois são convocados pelo seu rabugento superior para resolver um impasse
entre dois planetas, o “Feijão” e o “Soja”, ligados por uma planta. O tal
impasse envolve uma ameaça de invasão por três irmãos mafiosos, uma vaca, um
robô gigante, um monstro também gigante, um grande mal-entendido, muita
metalinguagem (que acaba se tornando cansativa) e uma disputa sobre qual
personagem vai dizer as últimas palavras da história! O humor da história é um
pouco forçado, mas o melhor é a arte, que remete aos mangás dos anos 1970 e
1980 – isso se descontarmos alguns problemas de proporção na anatomia dos
personagens.
Em 3º lugar, Träumen, de ORO8ORO (João Victor Turozi
Mausson). A história de um rapaz que se tornou herói sem querer. Quando o
rapaz, cuja marca notória é uma mancha de limão do olho, consegue realizar seu
sonho de infância – simplesmente construir uma casa na árvore – seu sonho acaba
arruinado por um monstro, que destrói o local em busca de uma ogiva nuclear
enterrada. Por caprichos do acaso, o rapaz, que nada tem de especial, consegue
eliminar o monstro, ganhando fama repentina... e passa a ser perseguido por
heróis do mundo inteiro. Mas tudo o que ele quer é paz – mas parece que o
monstro o amaldiçoou... Uma história simples, nonsense, que não exige muito do
leitor, cheia de referências a outras séries.
Em 2º lugar, Chuva de Meteoros, de Rafael Oliveira
Brindo da Luz. Com características do universo de One Piece, de Eiichiro Oda e uma arte estilizada, com requintes de
histeria, é uma história sobre a percepção infantil a respeito da guerra e da
maldade humanas. A impetuosa e ingênua menina Samantha e seu amigo, o cachorro
falante Champ, que pularam de um trem que saía da cidade deles, acabam parando
em uma instalação militar. A menina, de grande força física mas ingenuidade
idem, tem por principal desejo assistir uma “chuva de meteoros” ao lado de sua
mãe, que ficara na cidade. Porém, Samantha, no desejo de ir para o espaço no “foguete”
da instalação, trombando com o assustado oficial encarregado do lançamento do
artefato, e sob os protestos do desconfiado Champ, acaba descobrindo que a
verdade sobre tudo o que lhe contaram até hoje é mais amarga do que pensava, ao
trombar com uma organização que planeja a dominação mundial. Mas ela acaba
dando um jeito, do seu jeito, para impedir uma catástrofe e salvar sua cidade. Através
dessa história carregada de humor e ternura, o leitor pode entender por que
alguns autores gostam de personagens impetuosos – e imbecis.
E o 1º lugar ficou com Escarra
Brasa, o Cangaceiro Gentil, de Rafa Santos (Rafael Cardoso Santos) e Wagner
Elias dos Santos Araújo. Com elementos pós-apocalípticos e retratando um
Nordeste fantástico e ao mesmo tempo violento, o leitor acompanha o
reaparecimento de Escarra Brasa, um cangaceiro criminoso e cruel que
desaparecera por anos depois de haver sido amaldiçoado por uma estranha velha.
Anteriormente maligno, o cangaceiro passa a fazer o bem... contra a sua vontade
– e para não ter de ajudar as pessoas, decide se exilar e viver uma vida
eremita. Porém, o encontro com uma sensual e briguenta garota, ameaçada por um
grupo de criminosos liderados por um playboy, pode mudar os rumos de sua vida.
Ou talvez nem tanto. Uma história cheia de ação, violência e uma arte dinâmica,
apesar do roteiro confuso.
Cada
história apresenta, no início, um texto com mensagem de seu(s) autor(es), e, no
final, o parecer dos cinco juízes.
Bão.
Como aconteceu com a coletânea anterior, os critérios para definir a colocação
das histórias estão sujeitos a polêmicas. Eu, por exemplo, considero que, fosse
eu um dos juízes, a colocação das histórias deveria ter ficado da seguinte
maneira: Chuva de Meteoros devia ter
ficado com o primeiro lugar; Maria em
segundo; Träumen permaneceria em terceiro; Escarra Brasa em quarto, e Joy
Comet em quinto.
Por
quê? Bem: Chuva de Meteoros e Maria tem roteiros de grande ternura, e
personagens principais mais cativantes, mas Chuva
ganha pela arte mais elaborada; Träumen
não precisava de mais para configurar uma boa história, pois seu roteiro e
arte são sustentáveis por si – só pena que, do início ao fim, nada de bom
aconteça ao herói. Escarra Brasa, a
quem quer enganar? O herói não é tão bem definido, em suas motivações, quanto
seus autores pensavam. E Joy Comet tem um humor cansativo e cheio
de clichês, e sua heroína, com mais defeitos que qualidades, é bem pouco
carismática.
Agora,
fica a critério de vocês, leitores. Não precisam concordar com o que digo; deem
vocês, agora, seus pareceres.
Mas,
para isso, claro, vocês precisam comprar o gibi. Nas bancas a R$ 12,90. Um
pouco mais caro que a edição anterior (que custou R$ 11,50), mas é bom para
vocês saberem o que há de novo no quadrinho nacional.
PARA ENCERRAR...
Não
tendo mais o que colocar, mais uma vez, me sirvo de desenhos de treino, tirados
de meus arquivos. Alguns rabiscos em caneta esferográfica vermelha, feitos para
passar o tempo durante uma palestra. Portando recordações de coisas que vi por
aí, como cenas de mangás e revistas de humor.
Tanta
gente divulga esboços para dar ideia aos leitores de como seu trabalho
funciona... comigo não seria diferente. Mas claro que meu traço não é digno de participar de um BMA. Droga.
Em
breve, novos assuntos relacionados a quadrinhos.
Até
mais!
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