Hoje, segunda-feira, cumpriu 15 dias. Ultimamente, as postagens do blog tem sido na proporção de duas a cada duas semanas, mas vou tentar corrigir isso.
De todo modo, hoje é dia de episódio inédito de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. Um dos motivos porque o blog não pode parar.
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de insinuação, seminudez, corpos machucados e agressão física e verbal.
Que reencontro inesperado.
Já havia praticamente esquecido de Valtéria e
de Viridiana, as duas amigas problemáticas. Com os acontecimentos dos últimos
dias, com a quantidade anormal de gente com a qual comecei a conviver... Só em
alguns momentos lembrava delas. Mas essas lembranças eram só por alguns
segundos.
E agora, ali estavam as duas garotas.
Valtéria e Viridiana. Na minha porta. O que eu não esperava.
E a cena do reencontro, bem, foi atípica.
Viridiana havia me dito que ambas iriam para
outra cidade, passar um tempo longe. Digo, Valtéria foi primeiro; Viridiana,
depois, tirou alguns dias de folga do trabalho para ver como a primeira estava.
Após o inacreditável incidente em que Valtéria quase fora devorada por cães –
e, alega-se, ela matou esses mesmos cães – as duas voltaram para sua cidade,
passar o que poderia se classificar como um período sabático (parece que foi
isso que a Viridiana disse antes de viajar), com o objetivo de tentar me
esquecer. Valtéria havia subitamente se apaixonado por mim; e Viridiana quis
fazer ”aquilo” comigo mais uma vez – conseguiu duas vezes.
Bem, elas ficaram alguns dias fora, mas, no
fim, parece que não adiantou: Valtéria, aparentemente, não me esqueceu.
Valtéria se atirou em mim no instante em que
abri a porta. Até gritou, aparentemente feliz em me ver. Estava usando roupas
compridas, calça e blusa de moletom. E nem parecia que ela havia quase sido
devorada por cães, que ela havia passado por uma experiência traumática.
Atrás dela, estava Viridiana. Esta não se
atirou nos meus braços. Ela estava parada, olhando com um misto de indignação
e, talvez, ciúme. Vestida com casaco, calças compridas justas, e a camisa de
baixo cobria o umbigo, impedindo de ver o piercing.
A cena ficava ainda mais constrangedora
porque eu estava sem minha camisa, trajando apenas as calças.
- O... a... garotas?! – balbuciei.
- Macário! – exclamou Valtéria, ainda
abraçada a mim.
- Oi, Macário. – falou Viridiana, secamente.
- Oh... ah... Valtéria. Viridiana. – tentava
liberar uma frase de minha garganta. – O... o que estão... ah... O que fazem
aqui?!
- Não vês, Macário? Viemos ver você! –
exclamou Valtéria, sem me soltar. – Eu quis ver você, e ela... ela também quis
ver você. Eu sabia... ela não sabe mentir. – e olhou para Viridiana com uma
expressão maligna.
- Valtéria, já lhe disse, não é nada disso
que você está pensando!
- Claro que é. Você também gosta do Macário,
não é? Quer dar pra ele de novo, mas
está sempre perdendo a oportunidade. Perde muito tempo fingindo sentir raiva
dele, fica gritando com ele, quando na verdade... Não teria vindo para cá se
não fosse...
- Valtéria, modos, por favor. Não vamos
começar com essa loucura de novo. – falou Viridiana, delicadamente, separando
nós dois. – Hoje... hum... só viemos conversar com ele. Conversar. Con-ver-sar.
Não é, Macário?
Valtéria fez um muxoxo.
- B-bem... – balbuciei. – Se vocês querem
assim... Apenas conversar... Vamos entrando. Eu... eu só vou colocar uma camisa
e já volto.
As duas entraram. E se sentaram no sofá. Assim
que fechei a porta, corri para o quarto e procurei uma camiseta para vestir. Meio
minuto depois, retornei à sala, já vestindo a camiseta.
- Desculpem a indiscrição – já fui me
justificando. – Vocês me pegaram desprevenido. Eu estava lavando minha roupa.
- Você lava sua roupa, Macário?! – Valtéria
pareceu surpresa.
- Tenho de lavar, moro sozinho.
- As suas garotas não lavam sua roupa também,
Macário? – pergunta Viridiana.
- Não. Elas vão embora cedo. E quem lava roupa
sou eu. A minha. Tem garotas que lavam a própria roupa no meu tanque.
Mas ninguém riu. Noto que Valtéria faz cara
feia para Viridiana.
Sei que Viridiana só tinha dito aquilo para
descontrair – ela sabia que quem lavava minha roupa era eu, embora um dia tenha
lavado a roupa dela na minha área de serviço. Noto que ela parecia
constrangida: ela parecia estar evitando a todo custo revelar que voltara a
transar comigo, ao menos para Valtéria. Mas eu me perguntava por que ela trouxe
Valtéria para cá.
Sentei no sofá com elas. Mas eu me sentei em
uma das pontas; Viridiana sentou ao meu lado, ficando entre Valtéria e eu. A
loira, emburrada, evidentemente não ficou feliz de não poder sentar ao meu
lado.
- Bem, sobre o que vocês vieram conversar,
garotas? – perguntei.
- Eu vim... hã... Nós viemos ver como você
está. – responde Viridiana.
- Bem... podem ver que eu estou bem. A vida
continua uma loucura, passei por uns episódios meio... excêntricos. Mas estou
bem.
- Como assim, episódios excêntricos?
- É difícil explicar. E quanto a vocês? –
mudei de assunto. – Como foi na outra cidade? Na cidade de vocês, digo. Vocês
disseram que iam passar uns dias fora, e...
- E fomos. Ficamos alguns dias... – começou
Viridiana.
- ...muito tristes. – interrompeu Valtéria. –
Muito chatos e muito tristes. Eu tentei, Macário, eu tentei te esquecer. Eu
procurei descansar, como você pediu. Procurei descansar no hospital, mas aí
meus pais vieram me buscar para passar alguns dias longe, e aí a Viridiana veio
para cuidar de mim, e nós fizemos uma porção de coisas, fomos a cinemas,
festas... mas... no fim...
- ...no fim, parece estar surtindo algum
resultado. – interrompeu Viridiana, sorrindo amarelo. – Ela se manteve, sim,
muito calma. Buscamos muitas formas de distrair a mente. Ela deu uma
descansada. Eu garanti que ela descansasse, eu estive boa parte do tempo ao seu
lado. E garanti que ela não pensasse tanto em você, pois isso não seria
saudável, no estado em que ela esteve, né, Valtéria, amiga?
- Mas todo esse descanso, Macário, não adiantou...
– continuou Valtéria, olhando apenas para mim. – Não consegui te esquecer. De
alguma forma, tua lembrança reaparecia em mim. Passei dias só pensando no seu
rosto, no seu cabelo, no seu...
- Valtéria, por favor. – interrompe
Viridiana. – Não pode alimentar esse tipo de esperança. Como eu ia dizendo há
dias, o Macário aqui, com certeza, já se envolveu com outras garotas, e já te
esqueceu. Né, Macário? Para você, a Valtéria foi apenas mais um caso, não foi?!
– e Viridiana me olhou com um olhar maldoso.
- Vi... Viridiana, não foi bem assim. –
falei, nervoso.
- Como não?!
- Eu... bem, tive outros casos enquanto
vocês... digo... eu tive outros casos, mas, como eu disse, a minha vida se
tornou uma loucura. Não está dando para aproveitar direito. Desde aquele dia em
que eu também fui hospitalizado, e... Hum... Valtéria, como estão os seus...
ferimentos? – procurei mudar de assunto.
- Meus...? Ah, sim, os feitos pelos
cachorrinhos. Meus ferimentos já sararam. Descansei, e eles já sararam. Quer
ver como eles sararam? Eu mostro. Veja...
- Valtéria, não!... – Viridiana tentou
protestar, mas não conseguiu.
Valtéria levantou do sofá e, defronte a mim,
tirou a blusa e abaixou a calça de moletom. Ela estava usando sutiã e calcinha,
felizmente, mas não as faixas – Valtéria não estava mais feito aquela múmia do
hospital. Mas Viridiana e eu arregalamos os olhos, afinal, por si só, a cena
era bizarra.
O abdômen, os braços e as pernas apresentavam
muitas marcas vermelhas e cicatrizes, já fechadas, porém aparentes, uma ou
outra mantendo as cascas, algumas mantendo o contorno dos dentes dos cães, ou
as depressões dos pontos. Incrível como levou pouco tempo para sarar todos
aqueles ferimentos. Quantas semanas fez mesmo, duas, três? Mas o fato é que a
pele apresentava uma aparência de ter sido surrada, com todas aquelas
cicatrizes, marcas de arranhões... Mas, apesar disso, seu corpo ainda estava em
forma. Meu temor era que ela fosse ficar completamente nua ali na sala, naquela
tarde.
- Está vendo, Macário? Olha o que os cachorrinhos
fizeram comigo. Quase me devoraram...
- Valtéria, se vista! – gritou Viridiana. – Ele
já viu, agora...
- Macário, veja só... Olha o que fizeram com
meu pobre corpo...
E virou de costas, agora, para que eu pudesse
ver as cicatrizes nas costas. Era constrangedor, poderia ser mera desculpa para
aquela garota se desnudar diante de mim. Valtéria mantinha o mesmo corpo formoso
daquela noite que passamos juntos, mas agora cheio de cicatrizes. E ela parecia
estar se insinuando para mim, até empinou a bunda para que eu visse as
cicatrizes ali. Decerto, tentava me seduzir.
- Olha, Macário... será que eu deixei de ser
atraente depois do que os cachorrinhos fizeram comigo? Olha como estou
flagelada, estigmatizada... Olha como ficaram os meus peitos...
E já ia mexendo no sutiã, mas Viridiana
impediu.
- Tá, Valtéria, ele já viu, agora vista-se,
mulher, vista-se!! – gritou Viridiana.
Mas Valtéria não se vestiu imediatamente.
Continuou foi se exibindo.
- Só pude tirar todas aquelas faixas esta
semana, Macário... não vou poder usar roupas curtas por um bom tempo... e
queria muito que você visse o que aconteceu comigo... quase fui devorada...
fiquei cheia de marcas...
- Sim... eu vi, Valtéria... – falei, de cenho
franzido.
- Eu estava feito uma múmia lá no hospital...
oh, Macário... enquanto você... você me deixou sozinha neste mundo cruel...
onde mulheres inocentes são continuamente devoradas por cachorros ferozes...
oh, Macário, por que você deixou que isso acontecesse?! – e Valtéria agarrou
minhas bochechas. – Agora você não vai mais me querer, não é?!
- Valtéria! – gritou Viridiana.
- Por causa dessas cicatrizes, agora você não
vai mais me querer, Macário? Deixei de ser a sua gostosa, ooh, Macário?!
- Ai, Valtéria, está doendo! – protestei.
- Macário, me diz... – Valtéria começou a
chorar, ainda apertando meu rosto como se eu fosse um boneco de borracha. –
Depois que eu quase fui devorada pelos cachorrinhos, eu deixei de ser a sua
gostosa?! Oh, por favor, diga que não, diga que eu...
- Vista-se, Valtéria, por favor! – ordenou
Viridiana, com indignação. – Se comporte!
- Macário, por favor, diga que eu...
- VALTÉRIA! – gritei.
Com o susto, ela finalmente soltou minhas
bochechas.
- Valtéria, por favor, acalme-se, vista as
suas roupas e sente-se! – falei, com calma. – Eu estou vendo o que os cães
fizeram com você, e com certeza vou me lembrar disso por muito tempo. Mas agora
vista-se. Não fica bem uma mulher no seu estado se exibindo assim no
apartamento de um homem... hum... com a melhor amiga olhando.
Fazendo beiço, Valtéria afinal ergueu a
calça, vestiu o moletom, tirou o cabelo comprido de dentro da gola e sentou de
novo no sofá, ao lado de Viridiana.
- Parece criança. – falou Viridiana, entre
dentes.
- Parece uma mãe chata. – falou Valtéria,
entre dentes.
- Meninas, vamos nos comportar. – foi minha
vez de falar. – Vocês estão no apartamento de outra pessoa. Aqui também se
busca ter respeito. Vocês costumam discutir desse jeito no apartamento de
vocês?! Vocês costumam ficar tão à vontade assim?!
- Ok, Macário, diz aí, quantas garotas você
trouxe para cá depois que... – Viridiana começou a falar, mas Valtéria
interrompeu:
- Eu sei que você não me esqueceu, apesar
disso, não é mesmo, Macário? Apesar de todas as garotas que você trouxe aqui,
você não me esqueceu... a melhor, no fim das contas, fui eu, só eu, não foi,
Macário? Eu que sou a sua nota dez, não foi?!
- Meninas! – gritei. – Por favor. A minha
vida não está sendo fácil. Está tudo fora de controle, e...
- Não mude de assunto, Macário! – gritou
Valtéria. – Isso quer dizer que você não me ama mais?!
Ela fez um olhar pidão. Eu já estava ficando
constrangido.
- Valtéria, eu já disse para não confundir as
coisas! – disse Viridiana.
Antes que as duas recomeçassem a discutir,
comecei a falar:
- Valtéria, eu estive muito preocupado com
você, é sério. – procurei esclarecer. – Depois dos ferimentos que você sofreu.
Qualquer um ficaria preocupado com uma garota que quase foi devorada por cães. Se
eu não tivesse visto seu corpo assim, enfaixado, mordido... eu não acreditaria.
Mas, bem... a Viridiana aqui já deve ter lhe dito, tenho uma natureza, digamos
assim, não muito... aceitável. E, bem, houve, sim, várias outras garotas aqui
neste apartamento, mas... mas eu estive pensando em você, sim.
- Esteve?! Sério?! – Valtéria sorriu.
- Estive. Estive pensando se você estava bem,
e, pelo visto, sim, você está bem. Eu me preocupei à toa...
- Aah, está vendo, Vi?! – Valtéria olhou
triunfante para Viridiana. – Ele ainda me ama!
- Você interpretou mal o que ele falou, Valtéria.
– Viridiana falou secamente.
- Não interpretei não! Ele não é o rapaz
repulsivo que você diz que ele é! Ele me ama! É a mim que ele ama, oh, Macá...
- Chega! – gritou Viridiana. – Se comporte,
tá! Senão eu te levo embora!
- Mas... mas...
- Macário, podemos falar em particular? –
Viridiana se dirigiu a mim.
- Vi?! – gritou Valtéria.
Compreendi pelo olhar de Viridiana que era
sério.
- Hã... sim. Va... Valtéria, pode esperar
aqui um instante? Já voltamos. Enquanto isso, se acalme. Olha, aqui tem um livro,
vá olhando enquanto conversamos. O assunto pode ser importante. Está vendo o
livro? É de anatomia. Olha que interessante...
Valtéria parece que recebeu minhas ordens
melhor que as de Viridiana. Se comportou. Praticamente ficou quieta. Mas nos
dirigiu um olhar maligno, antes de voltar sua atenção para o compêndio de
anatomia que eu lhes passei, que estava jogado ali na cozinha, a esmo.
Viridiana me levou até a área de serviço –
dali, podíamos vigiar Valtéria.
- Macário, me desculpe. – Viridiana começou a
falar, sussurrando. – Se soubesse que ia ser desse jeito, eu não teria permitido
a Valtéria de vir comigo.
- Eu estava mesmo me perguntando por que você
a trouxe aqui, Viridiana. – sussurrei.
- Na verdade, Macário... Eu queria vir aqui
sozinha, para ver como você está. Mas foi ela quem me seguiu.
- Ela seguiu você?! – arqueei a sobrancelha.
- Havia deixado ela no nosso alojamento. Ela
estava descansando. Ainda precisa de remédios para dormir. Ela ainda está fora
da casinha! Eu fui trabalhar hoje, e saí mais cedo para ver como ela está, mas
aí eu lembrei de você e... resolvi passar aqui antes de voltar para o
alojamento, e... E como eu podia imaginar que ela estava me seguindo escondida?
Aliás, como ela pode ter adivinhado que eu resolvi dar uma escapada para ver
como você estava?! Quando eu me dei conta, ela estava atrás de mim, bem no
momento em que cheguei na sua porta, e...
- É, realmente muita coisa para tentar
entender. Mas... E... bem, como ela está, digo, e o trabalho dela, e a
faculdade?
- Pois é, ela foi mesmo despedida do emprego
dela, mas estou tratando de arranjar outro trabalho para ela se ocupar. Porque
os estudos não estão adiantando... Ela está de volta ao curso, e precisa
recuperar muito tempo perdido. E... ooh, por que você foi flertar com ela
naquela noite, seu...!
- De novo essa implicância? – tentei manter o
tom de voz sussurrado enquanto dava minha resposta indignada. – Como eu podia
saber, Vi?! Quantas vezes, e de quantas formas tenho de dizer isso?! Como eu
podia saber que ela... ela ia se comportar do jeito como se comportou?! E... eu
mesmo ainda custo a acreditar na história dos cães lá do beco, garota...
- E... Macário, como você tem passado desde
aquele nosso...?
- Ela... Vi, ela sabe que você voltou a
transar comigo?
- Fala mais baixo!! Eu... não, isso ela não
pode saber. Eu pensei que ela ia melhorar depois daqueles dias que... ooh, pelo
visto o jeito é mudar de faculdade, mesmo. A única maneira de tudo voltar ao
normal é mantê-la afastada de você, o mais longe possível, mas... Mas...
Macário, eu mesma também não consigo esquecer você... eu... eu ainda te amo.
- Hein?!
- Eu... a melhor maneira de afastar a
Valtéria de você é muda-la de faculdade, mas serei eu capaz de fazer isso? Eu,
que ainda te amo?! Por isso vim te ver, e... e vejo que você não mudou nada,
mesmo... pois olha só...
E apontou para as calcinhas penduradas no
varal.
- Nós duas sofrendo, e você continua bancando
o lobo devorador de mulheres. – Viridiana fez um muxoxo. – A minha calcinha é
só mais uma entre muitas, não?!
Engoli em seco.
- Não é por vontade própria, Viridiana. A
minha vida ultimamente anda uma loucura. Mas não sou eu que estou procurando as
garotas, elas é que estão me procurando.
- Aham, sei. Como se isso mudasse tudo... Pois
olhe só... uma, duas, três, quatro, cinco... Cinco calcinhas! Cinco garotas!
Quantas mais além dessas?!
- Eu... oh, Viridiana, eu posso explicar com
calma...
- Então explique... – falou uma voz atrás de
mim.
Tomamos um susto: Valtéria se postou atrás de
nós.
- Valtéria! – exclamou Viridiana. – Você nos
ouviu?!
- Bem, não tudo. Só a parte das calcinhas
penduradas. Essas aqui?
As duas, agora, me olhavam com indignação.
- Por favor, meninas, eu posso explicar... –
falei, já tremendo de medo. – Se prometerem pelo menos fingir que acreditam em
mim, eu posso explicar... Mas posso lhes assegurar que é verdade que eu...
eu...
- Pode explicar, Macário, sem pressa. – falou
Valtéria, com um sorriso sacana. – Mas sei que nem foi tão legal assim, porque
você precisou lavar todas essas calcinhas, não? Se tivesse sido bom, você não
as lavaria, as guardaria ainda com o cheiro delas, não?
- Va...!
- Olhe o que eu achei aqui, Macário... – e
Valtéria mostrou uma página do compêndio de anatomia, que ela estava marcando
com os dedos. – Olhe. Uma ilustração de um órgão reprodutor masculino. Não
lembra alguém?
- Valtéria! – gritou Viridiana.
Estava criado o clima de tensão.
- Diz aí, amiga. Não lembra de alguém, essa
foto de um pênis? Ah, ah...
- Valtéria, pare de...!
- Pombas, Macário, se eu soubesse que você
colecionava calcinhas, eu tinha deixado a minha... aliás, se quiser, eu deixo a
minha agora mesmo...
- Valtéria, nem pense nisso! – gritou
Viridiana. – E, Macário, vai ou não explicar...?
- Claro que vou explicar, é claro que vou...
eu...
Porém, quando eu ia começar a falar, ouço
batidas na porta.
- Ué, mais gente?! – perguntou Valtéria.
- Eu... eu vou ver quem é. Esperem aí.
E me afastei, e abri a porta. Quem podia ser,
naquele momento? Serás que era o Luce?! Se fosse, eu já temia pela segurança
das garotas...
Mas, no instante que abri a porta, antes de
reparar no rosto de quem quer que seja, sou recebido com um grito e um tabefe:
- Seu filho da p(...)!!!
O tabefe não doeu muito, mas me deixou muito
surpreso. Só aí é que consegui distinguir quem estava na porta. Era mulher! E
era...
- Geórgia?!
- Oi, Macário. – responde ela, de cenho
franzido e uma lágrima no olho.
Geórgia. Estava de saia e de camiseta, casual
como se tivesse voltado do mercado. Mas não parecia nada feliz.
- Ge... Geórgia, o que houve?!
- Eu ouvi tudo, seu mulherengo. – falou, já
entrando.
- Ouviu tudo o quê, garota?!
- Eu ouvi as vozes das sirigaitas! Seu
mulherengo... eu sofrendo, eu tive de ir para o hospital dia desses, e você...
você já voltou a encher teu apartamento de mulher?! Demorei um pouco para bater
na porta para tentar ouvir o que vocês conversavam... e...
Senti que agora havia entrado bem.
Geórgia parou defronte a Valtéria e
Viridiana. E todas começaram a se olhar com cara de ponto de interrogação.
- Eu posso explicar, Geórgia... – já fui
falando, mas me calei imediatamente diante das três garotas.
- Vo... vocês também são garotas do Macário?!
– perguntou Geórgia para as outras duas, depois de alguns segundos de silêncio.
- Hã... em algum momento nós fomos. – falou
Viridiana, educadamente. – E você?!
- Eu... eu também. – Geórgia deu um sorriso
amarelo. – Eu me chamo Geórgia.
- O meu é Viridiana, e esta aqui é a
Valtéria. Prazer em conhece-la, Geórgia...
- Eu... eu digo o mesmo. E... – voltando-se
para mim. – Pô, Macário, logo duas?! Você é insaciável mesmo, hein?
- Não, Geórgia. Você entendeu errado. Nós não
estávamos transando. – falei. – Elas estão aqui para uma visita. Só vieram me
visitar. Assim como você... você só veio me visitar, certo, Geórgia?
- Bem – falou Geórgia, desconcertada – eu
tinha vindo tratar de uns assuntos com você, mas vejo que cheguei numa hora não
muito apropriada... he, he... posso vir noutra hora para...
E já ia se afastando em direção à porta, mas
Valtéria segurou seu braço.
- Não, Geórgia, fique com a gente. – pediu
Valtéria. – Vamos conversar. Você também esteve com o Macário no período em que
eu estive ausente da cidade, não? Claro que sim, reparo que sim. E, puxa, como
você é linda.
- Bem, eu... – Geórgia praticamente se
desmontou com esse elogio. – Pô, obrigada. Difícil ouvir isso de uma... rival.
- É sério. Você é tão bonita... o Macário tem
tanto bom gosto... e você... você tem pinta debaixo do olho, e... uau, eu
queria ter pinta debaixo do olho, sabia?! Acho tão charmoso.
- Ah, que é isso, gata... eu que queria ter
um cabelo tão bonito quanto o seu. Sério... hã... Valtéria. Você tem um cabelo
bonito, e o meu... olha, só, é uma juba!
- Ah, mas eu adorei, adorei! – exclamou
Valtéria.
Agora éramos Viridiana e eu olhando atônitos
para Valtéria e Geórgia travando uma amizade muito estranha.
- Macário – Viridiana, depois de alguns
segundos, dirigiu-me a palavra, baixinho. – Ela também...?
- Juro que não esperava que ela aparecesse.
Juro, juro.
- Ela tem jeito de p(...).
- Garanto que é só o jeito. Ela é só uma
garota infeliz.
Ainda bem que, aparentemente, Geórgia não
escutou, entretida no seu papo com Valtéria.
- Como é que a Valtéria se deu bem com
essa...?
Mas aí... batem de novo à porta,
interrompendo os estranhos papos. Vou atender.
E tomo novo susto. Desta vez, não sou
recebido com gritos ou tabefes, ou gente se jogando nos meus braços. Mas, quem
olhasse, diria que eu estava dando uma festa no meu apartamento, em plena tarde
de quinta-feira.
Entraram três garotas de uma só vez:
Créssida, Maura e Loreta. Créssida de roupa casual, camiseta e calça; Maura,
mais uma vez, toda vestida de jeans azul, saia, casaco, tênis; Loreta de saia
comprida e camiseta, justas; evidentemente voltou a engordar, ainda que
discretamente.
- Oi, Macário. – cumprimentou Créssida. –
Como vai?
- Cumprimos o prometido e viemos ver você. –
falou Maura, com um sorriso. – Hoje é a reunião inaugural do fã-clube do
Maníaco Mordedor.
- Glup! – engoli em seco.
- E trouxemos um novo membro. Lembra da
Loreta aqui? – apontou Créssida.
- Oi, Macário! Nós acordamos você? –
cumprimenta Loreta, com um sorriso.
- N... não, eu já estou acordado há horas. –
falei. – Que horas são?
- Já são quatro e meia da tarde. – falou
Maura, consultando o relógio de pulso.
- Pô. Mas não esperava que vocês três...
- É que hoje tivemos de ir ao médico. – falou
Maura. – Não fomos trabalhar, tiramos um atestado hoje. E aproveitamos a tarde
livre para ver como você está, e...
- Quem está aí, Macário? – ouvi uma voz lá de
dentro.
- Quem está aí com você? – pergunta Loreta.
Ah, eu me ferrei!
- Hã... Entrem. – pedi. – Mas não é nada
disso que vocês podem pensar, tá? Está todo mundo vestido.
- Como assim, todo mundo... – ia perguntando
Créssida, mas se calou.
Um silêncio constrangedor se formou no
momento em que os olhares das seis garotas se cruzaram, em pleno apartamento.
Ninguém estava esperando ninguém.
Ao fim, antes que alguém mesmo se
manifestasse, eu comecei a chorar.
- Por favor, meninas, me deixem ao menos
explicar tudo com calma... aí depois podem me esbofetear à vontade... por
favor...
As garotas todas começaram a me olhar,
atônitas. Até então, sei que apenas uma daquelas garotas me viu chorar.
O que mais eu podia fazer diante dessa
situação?
Próximo capítulo daqui a 15 dias.
Como está até o momento: devemos continuar? Parar? Modificar? Manifestem-se!
Até agora o feedback, quando vem, tem sido positivo. Será que é assim mesmo? Não há mesmo o risco do patrulhamento ideológico da internet cair sobre mim?
Se não existe esse risco, continuem acompanhando-nos. Aguardem novidades.
Até mais!
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