Olá.
Hoje,
vamos tratar de narrativas sequenciais – não são necessariamente histórias em
quadrinhos, mas seu descendente mais próximo.
Hoje,
vamos tratar de uma narrativa que é considerada uma das precursoras das
histórias em quadrinhos como a conhecemos. Embora não seja uma história em
quadrinhos propriamente dita, ela costuma ser muito citada pelos especialistas
em HQ como uma história em quadrinhos pioneira.
Hoje
vou tratar de Max und Moritz, ou, na
tradução brasileira, JUCA E CHICO.
PREÂMBULO
Max und Moritz – Eine Bubengeschichte in
sieben Streichen (na tradução brasileira, Juca e Chico – História de Dois Meninos em Sete Travessuras), publicado
pela primeira vez na Alemanha em 1865, é
um dos livros infantis mais vendidos de todos os tempos – porém, nos dias de
hoje, o que nele está escrito não passa pelo filtro do politicamente incorreto,
pois é de outra época, e quando a educação das crianças era bem diferente, sem
as leis protetivas e sem a moderna psicologia infantil, que exclui a palmatória
e os castigos físicos.
Seu
autor, tanto dos textos em versos como das ilustrações, foi Wilhelm Busch (1832
– 1908), influente pintor, caricaturista e poeta, famoso por suas histórias
satíricas.
Com
frequência, Busch costuma ser citado entre os pioneiros europeus das modernas
HQ – foi no século XIX que, segundo o consenso dos especialistas no assunto, as
narrativas ilustradas sequenciais, ou melhor, as histórias ilustradas com
desenhos que formam sequência, saíram dos livros ilustrados, então restritos ao
público alfabetizado da época, começaram a sair em publicações voltadas a um
público maior, como as revistas humorísticas e os jornais, e passaram a fazer
parte da cultura de massa, ou seja, chegaram à apreciação do público em geral,
graças às ilustrações que facilitam o entendimento das histórias. Inicialmente
na forma de ilustrações montadas em uma única prancha, com legendas embaixo,
sem a presença de balões de fala e onomatopeias (palavras que imitam sons)
inseridas nas ilustrações, mas com a presença de símbolos cinéticos (linhas
indicando movimento).
Ainda
se discute, entre especialistas amadores e profissionais, qual teria sido, de
fato, a primeira HQ propriamente dita. A primazia das narrativas sequenciais de
massa, de acordo com as características apontadas acima, caberia aos europeus,
mas o Brasil também corre nesse páreo. Há quem aceite que o pioneiro das HQ,
propriamente dito, foi o francês Jean Charles Péllerin, que começou a divulgar
suas Estampas de Épinal em 1820; há
quem aceite que o pioneiro das modernas HQ foi o suíço Rudolf Töpffer, que
começou a publicar suas primeiras histórias nessa mesma época (sua obra mais
citada é o Monsieur Vieux-Bois, de
1827). Busch veio mais tarde, quase junto com Rafael Bordalo Pinheiro
(Portugal) e Ângelo Agostini (Brasil).
À
parte das polêmicas entre especialistas em HQ, o fato é que Max und Moritz atravessa o tempo. O que
torna essa obra ímpar a outras obras de sua época é que Max und Moritz serviu de inspiração para outras obras posteriores,
e seus personagens principais são as primeiras “crianças terríveis” das
narrativas sequenciais. São os antepassados de personagens como Sobrinhos do Capitão, Luluzinha e Bolinha,
Dênis o Pimentinha, Reco-reco Bolão e Azeitona, Turma do Gordo, os
sobrinhos do Pato Donald, do Mickey e do Zé Carioca... e, num estágio mais
avançado, dos Skrotinhos de Angeli.
WILHELM BUSCH
Well,
um perfil rápido do autor.
Heinrich
Christian Wilhelm Busch nasceu em 15 de abril de 1832 em Wiedensahl, localidade
próxima a Hannover, e faleceu em 9 de janeiro de 1908 em Mechtshausen. Ele
iniciou os estudos em engenharia mecânica, mas mudou sua formação para a
pintura, estudando em Düsselforf, Antuérpia e Munique – porém, ele conquistou
fama internacional como cartunista de humor. Suas primeiras histórias
ilustradas começaram a ser publicadas a partir de 1859, nos jornais Münchener Bilderbogen e Fliegede Blätter, de Munique. Seu estilo de desenho e de poesia
tendeu sempre para a sátira e para o humor. Max
und Moritz saiu em 1865, e foi o terceiro livro publicado pelo autor, e seu
primeiro best-seller (ver adiante).
Por
volta de 1870, Busch já era uma celebridade no Alemanha, por conta de suas
histórias satíricas ilustradas, muito próximas ao cotidiano das pessoas. No
entanto, foi por volta desse ano que Busch resolveu parar com as narrativas
figuradas, e a se dedicar exclusivamente ao desenho e à ilustração, já tendo
deixado material suficiente para apreciação das novas gerações. Busch pintou
cerca de mil quadros a óleo, a maioria não tendo sido vendida até a morte do
artista, em 1908, e ainda fez alguns trabalhos em escultura. Mas, ainda em
vida, Busch exerceu influência sobre artistas do mundo todo. Um deles foi o
luso-brasileiro Rafael Bordalo Pinheiro, que, ao publicar, no semanário O Besouro no. 38, de 1878, a prancha Fagundices – Phrases e Pensamentos
Fagúndicos, acrescentou o subtítulo “Imitação livre de Busch”, em
referência ao trabalho do alemão.
Da
extensa obra de Busch, Max und Moritz é
a mais lembrada, porém, o Brasil conheceu outros exemplos de sua obra (ver
adiante).
O CONTEXTO DE CRIAÇÃO
As
informações a seguir, a respeito do contexto da criação de Max und Moritz, foram extraídas do verbete sobre a obra na Wikipedia:
“Depois de
um curso incompleto em Düsseldorf e Antuérpia, Wilhelm Busch quis continuar seus estudos de
artes em Munique, mas esse desejo resultou em um desentendimento com seu pai,
que o mandou para Munique com um último auxílio financeiro. Contudo, o curso
de artes na Academia
de Belas Artes de Munique não correspondeu às suas expectativas. Busch
entrou em contato com a cena artística de Munique no clube de artistas Jung München,
em que se reuniam quase todos os pintores importantes da cidade. No jornal
desse clube, Busch e vários outros artistas publicaram caricaturas e textos
informativos. Kaspar Braun, que editava os jornais
satíricos Münchener
Bilderbogen e Fliegende
Blätter
interessou-se pelo estilo de Busch e ofereceu a ele um trabalho autônomo.
Graças a essa remuneração, ele estava pela primeira vez com as contas em dia e
tinha dinheiro o suficiente para seu sustento.
Entre 1860
e 1863, Wilhelm Busch contribuiu com mais de cem trabalhos para o Münchener
Bilderbogen e Fliegende Blätter. Busch achava que sua crescente dependência em Kaspar Braun o
restringia, então ele procurou um novo editor: Heinrich Richter, filho do
pintor saxônio Ludwig Richter. Na
editora de Richter tinham sido publicadas até então apenas obras de seu pai,
assim como livros infantis e de cunho religioso e edificante. Busch
possivelmente não estava ciente da natureza do trabalho da editora quando
combinou com Heinrich Richter a publicação de um livro ilustrado. Ele era livre
para escolher o tema, porém, sua proposta encontrou objeções por parte de
Richter. Busch começou a trabalhar no Max und Moritz em novembro de
1863, quando sua obra anterior Bilderpossen ainda estava no prelo. Em 12
de dezembro do mesmo ano ele tinha desenhado cerca de cem ilustrações que
ofereceu para publicação a Richter em outubro de 1864.
As dúvidas
de Heinrich Richter perante as histórias do Bilderpossen de 1864 foram
confirmadas. O livro se mostrou um fracasso, pois não era nem uma coletânea de
contos, um livro ilustrado ou de caricatura, e ainda superava em muito a
crueldade encontrada em Struwwelpeter (traduzido para o português
como João Felpudo). Ainda em novembro de 1864, o editor deu esperanças a
Busch de que a vendagem no período de Natal aumentaria, o que, no entanto, não
aconteceu. No começo do ano de 1865, Richter rejeitou o manuscrito de Max
und Moritz por causa da baixa expectativa de venda. Além disso, seu pai,
Ludwig Richter, havia concluído que as pessoas que gostavam desse gênero não
compravam livros.
Wilhelm
Busch se comunicou novamente com seu antigo editor Kaspar Braun em 5 de
fevereiro, embora desde algum tempo eles não se falavam nem se correspondiam:
Prezado
Senhor Braun! [...] Envio-lhe a história de Max und Moritz, que tive o prazer
de colorir, com o pedido de que a examine com carinho e um ocasional sorriso.
Eu pensei que ela pudesse ser publicada como uma pequena epopeia infantil em
alguns números do Fliegende Blätter.
Kaspar
Braun autorizou a publicação em fevereiro de 1865, sem comentar sobre o desentendimento
entre ambos, e só pediu a Busch para aperfeiçoar novamente o texto e as
imagens. Diferente do que Wilhelm Busch propôs, Braun não
queria publicar a história no Fliegende Blätter, mas sim aumentar a
seção de livros infantis da editora Braun
& Schneider. Pelos
direitos autorais, Braun pagou à vista 1000 florins a Wilhelm Busch, o
que correspondia a quase dois anos de salário de um trabalhador braçal e foi
uma soma considerável para ele. Para Kaspar Braun e sua editora, o negócio da
publicação se mostrou um golpe de sorte a médio e longo prazo. Em agosto de
1865, Wilhelm Busch desenhou a trama em uma prensa de madeira e em outubro a
história ilustrada foi publicada com uma tiragem de 4000 exemplares. A vendagem
dessa primeira edição, com encadernação simples de papelão claro, estendeu-se
até 1868. Um exemplar dessa primeira edição foi vendido, em um leilão em 1998,
por um valor equivalente a 125.000 euros.”
Como visto, Max und
Moritz se tornou um grande sucesso graças a um golpe de sorte. E se tornou
influente, ainda por cima, pois serviu de inspiração à primeira HQ popular moderna,
propriamente dita. O alemão Rudolph Dirks, quando começou a trabalhar nos
Estados Unidos, se inspirou em Max und
Moritz para criar os seus Sobrinhos
do Capitão (The Katzenjammer Kids), em 1897. De fato, quem conhece ambas as
séries, prontamente conseguem notar as semelhanças entre os meninos Max e Moritz
e os protagonistas da série de Dirks, Hans e Fritz, todos crianças arteiras, e
com semelhanças físicas.
Max und
Moritz ganhou tradução
brasileira em 1901, sob o já citado nome de JUCA E CHICO, pelo poeta parnasiano
Olavo Bilac, sob o pseudônimo de Fantásio, e publicada pela editora Laemmert. Mais
tarde, JUCA E CHICO, cuja tradução se manteve inalterada por causa do renome do
responsável (apenas com a atualização da ortografia), passou por outras
editoras: a partir da 4ª edição, passou a sair pela Livraria Francisco Alves, e
depois pela Melhoramentos, que também editou outras obras de Busch dentro da
coleção intitulada Juca e Chico. A
última edição conhecida do livro é da editora Itatiaia, de Minas Gerais, nos
anos 1980, que também reeditou a coleção Juca
e Chico, composta por outras sete obras:
O Macaco e o Moleque, O Fantasma Lambão, O Corvo, O Camundongo, Rico, o Mico, A
Cartola e O Trenó do Joãozinho.
A tradução de Bilac, embora não seja totalmente fiel ao
original alemão, consegue captar o tom de sátira presente na obra, e o objetivo
moralista. Ele preservou a construção métrica, em versos em redondilha maior
(sete sílabas métricas) e rimas a cada dois versos. Pelos atuais critérios, os
versos traduzidos, cheios de ideias repetidas e sinônimos, parecem “de pé
quebrado”, visando ao leitor recém-alfabetizado. Outro cuidado tudo por Bilac
foi o de traduzir os nomes de todos os personagens, de modo que eles se
encaixassem nas rimas traduzidas. E também, nos textos, estão presentes muitas
onomatopeias, que se combinam às rimas, como presente no original alemão.
A presente postagem baseia-se em edição da editora
Melhoramentos (capa abaixo), de 1976, que eu encontrei por sorte em um saldo de
livros usados. Nesta edição, os desenhos foram colorizados (também é possível
encontrar as mesmas em preto-e-branco) e editados: alguns foram ampliados,
alguns ocupando dias páginas, e outros foram espelhados. E, de fato, em suas 68
páginas (contando capa), fica parecendo mais um livro infantil simples do que
uma HQ. Mas nem é uma HQ de fato, visto que não possui balões de fala, quadros
separando a ação, e onomatopeias inseridas no desenho.
O LIVRO
A narrativa de JUCA E CHICO estrutura-se em um prólogo,
sete capítulos e um epílogo. E trata das travessuras de dois meninos,
aparentemente irmãos, que vitimam adultos da aldeia onde moram por pura
diversão.
A história é carregada de humor negro e nonsense e de um
moralismo irônico e cruel, de um tempo em que a pedagogia ainda era baseada em
castigos físicos, limitação das brincadeiras e as crianças ainda trabalhavam
cedo. Busch retrata costumes das aldeias camponesas alemãs, uma das obsessões de
sua obra (ele mesmo cresceu em uma aldeia de agricultores, e alguns biógrafos
dizem que foi uma amizade de infância com o filho de um moleiro que inspirou as
histórias de JUCA E CHICO), e se preocupa em apresentar os personagens
envolvidos nas travessuras dos meninos, suas ocupações, gostos, costumes
diários. É frequente o jogo de contrastes entre a ordem e o caos – a ordem
representada pelo cotidiano até então imperturbável das vítimas, o caos
representado pelos dois meninos que dão um jeito de perturbar essa ordem. Ao
mesmo tempo, ironiza a propensão infantil à maldade, além de subverter a imagem
das crianças presente nos romances da época. Em vários dos livros de Busch, os
personagens infantis são agressivos e perversos, ao contrário da imagem ideal
da criança no ambiente bucólico, obediente e abnegada. A educação na época era
vista como um recurso de “civilização” da criança que, naturalmente propensa à
maldade, quando não se torna uma criminosa se não for corrigida a tempo, acaba
morta. Claro que o objetivo de Busch é demonstrar ao leitor mais jovem o que
acontece com quem é desobediente e apronta pequenos delitos “por diversão”, mas
a forma como o faz é chocante ao público politicamente correto dos dias de
hoje, pois, ao final das traquinagens, os meninos acabam tendo um destino
trágico. Porém, graças aos desenhos de Busch, o final trágico acaba soando
engraçado.
JUCA E CHICO é um bom demonstrativo das histórias antigas
europeias para crianças, carregadas de nonsense, ironia e violência com
objetivos pedagógicos, incutindo lições através dos sustos – em algum momento,
o leitor já deve ter lido a respeito das versões originais dos “contos de
fadas”, e se chocado em descobrir que histórias infantis como Chapezinho
Vermelho, João e Maria, Cinderela, Branca de Neve, etc., tinham versões mais
sangrentas e carregadas de erotismo. E que as crianças do século XIX ouviam
antes de dormir!
Bem. O prólogo da história, na tradução de Bilac,
apresenta assim os personagens principais:
Não têm
conta as aventuras,
As peças,
as travessuras
Dos meninos
mal criados...
- Destes
dois endiabrados,
Um é Chico;
o outro é o Juca:
Põem toda a
gente maluca
Não querem
ouvir conselhos
Estes
travessos fedelhos!
- Certo é
que, para a maldade,
Nunca faz
falta a vontade...
Andar pela
rua à toa,
Caçoar de
uma pessoa,
Dar nos
bichos, roubar frutas,
Armar
brigas e disputas,
Rir dos
homens respeitáveis,
São coisas
mais agradáveis,
Que ir à
escola ou ouvir missa...
Antes a
troça e a preguiça!
No decorrer da história, fica claro que as estripulias de
Juca e Chico não possuem uma justa causa, eles buscam o próprio entretenimento
e o prejuízo dos adultos, ao engendrarem as suas sete travessuras. Assim era,
mais ou menos, o modelo que se tinha de um protótipo de um bandido, que prefere
as travessuras e a vadiagem aos estudos e ao trabalho.
A primeira vítima das travessuras de Juca e Chico é a
viúva Bolte (viúva Chaves, na tradução brasileira). A viúva possuía três
galinhas e um galo. Juca e Chico induzem os galináceos a comerem quatro iscas
presas umas às outras com barbantes. No desespero para se soltarem, as galinhas
e o galo acabam se estrangulando ao voarem para o galho de uma árvore. E a
viúva pranteia a perda de sua criação de aves.
A segunda travessura é um seguimento da primeira. A
viúva, depois de chorar a perda de suas aves, decide dar a elas um destino
conveniente: cozinhá-las. E, enquanto ela vai para o porão, deixando o cachorro
a cuidar das aves que fritavam em uma panela, Juca e Chico, no telhado da casa
da viúva, pescam as aves com um anzol, através da chaminé. E quem acaba pagando
pela estripulia é o cachorro, que apanha da viúva. Vem desta travessura a mais
conhecida imagem de divulgação do livro, da casa da viúva em corte, com dois
andares, e os meninos fisgando as aves fritas pela chaminé.
A vítima da travessura seguinte é o alfaiate Böck (Brás
Duarte). O alfaiate morava em uma casa perto de um rio, acessível através de
uma ponte de madeira. Juca e Chico serram parcialmente a tábua da ponte, depois
provocam o alfaiate com insultos, induzindo-o a sair de casa; este, ao tentar
passar pela ponte, a quebra e cai no rio, se salvando agarrando-se a dois
gansos que nadavam; e, ao voltar para casa, tem uma crise de dor de barriga,
sendo salvo pela esposa.
Quarta travessura. Vítima: o mestre Lämpel (professor
Gouveia), respeitável professor e sacristão, responsável por tocar o órgão nas
missas, e cujo único defeito era o gosto por fumar seu cachimbo, em casa.
Aproveitando a ausência do mestre, Juca e Chico invadem a casa e enchem o
cachimbo do professor de pólvora. Este, quando chega em casa e vai relaxar
fumando, acaba vitimado por uma violenta explosão, que deixa seu rosto
queimado, sua casa revirada e seu cachimbo destruído.
Quinta travessura, vítima: o tio Fritz (tio Frederico).
Juca e Chico simplesmente catam alguns besouros de uma árvore e os colocam na
cama do tio. Este, quando vai dormir, acaba tendo de travar uma violenta luta
com os bichinhos, até exterminá-los.
Na primeira, e nestas duas últimas travessuras, Juca e
Chico não ficam para conferir o resultado, é o leitor quem acaba assistindo a
desgraça dos envolvidos.
Na sexta travessura, Juca e Chico não são bem sucedidos.
Eles invadem, através da chaminé, a padaria do padeiro Bäcker, a fim de roubar
os biscoitos da Semana Santa. Mas não conseguem: caem primeiro em um recipiente
com farinha, e, ao tentarem alcançar os biscoitos da prateleira, caem em um
recipiente cheio de massa. O padeiro chega nessa hora, pega os garotos cobertos
de massa, os enrola e os põe no forno, transformando-os em pão. Mas eles
escapam roendo a casca do pão e fugindo.
Já a última travessura resulta na morte dos dois meninos
– isso mesmo. Eles se escondem em um celeiro e fazem cortes nos sacos de trigo
do agricultor Mecke. O trigo, é claro, escapa pelos buracos dos sacos, mas o
agricultor pega os meninos em flagrante. Ele simplesmente enfia os garotos no
saco e os leva ao moinho, e Juca e Chico acabam sendo jogados no moinho,
triturados e a ração resultante é devorada por gansos famintos.
No epílogo, todas as vítimas demonstram satisfação pelo
destino dos dois capetinhas. Ninguém lamenta.
JUCA E CHICO tem uma maneira um tanto estranha de passar
às crianças a lição de que “o crime não compensa, e a maldade não fica sem
castigo”. Na parte dos desenhos, nota-se que o traço de Busch apresenta um
estilo econômico, de poucos e necessários traços, e várias hachuras, mas que
transmitem a sensação de movimento.
Para os dias de hoje, JUCA E CHICO não seria uma boa
história para crianças, visto que temos recursos menos violentos para
transmitir lições – e nem todas muito bem sucedidas. Vale mais pelo patrimônio
cultural deixado por Wilhelm Busch – e como exemplo da gênese das histórias em
quadrinhos, de um modo geral. Lendo o verbete completo da Wikipedia, vocês
podem ter uma ideia melhor a respeito de como funcionava o pensamento da época
de Busch.
Peço aos leitores que perdoem a falta de jeito deste
texto, eu bem que procurei escrever o melhor texto possível.
E, quem tiver sorte de encontrar um exemplar de JUCA E CHICO...
mas esperem, há uma versão que pode ser lida na internet! Está disponível aqui:
http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/LiteraturaInfantil/jucaechico/jcindice.htm
Além do já citado verbete da Wikipedia, esta postagem teve as
seguintes fontes:
e verbete na Enciclopedia
dos Quadrinhos, de Goida e André Kleinert, Porto Alegre: L&PM, 2011, p.
73 – 74.
PARA
ENCERRAR...
Não tendo outra coisa, nem tido tempo para preparar pelo
menos um cartum, lanço mão de algumas ilustraçães “tapa-buraco” que fiz com
meus personagens, arte-finalizadas a caneta esferográfica azul. É que, enquanto
não conseguia preparar novas tiras de Letícia
e Bitifrendis para seus
respectivos blogs, quebrei o galho fazendo algumas ilustrações rápidas, para
imprimir e colorir. Isso é constrangedor principalmente no caso de Letícia, cujas tiras inéditas não saem desde janeiro.
Mas agora, anuncio aos leitores: as tiras inéditas de
Letícia voltaram, depois de cerca de quatro meses! Finalmente consegui alguma disposição
para preparar material inédito com minha personagem. Confiram a primeira da
nova temporada em https://leticiaquadrinhos.blogspot.com.br/.
E aguardem novidades. Porque, apesar da tal da crise, nós
não podemos desistir. Nós não podemos deixar de fazer o que nós gostamos de
fazer, para atender aos interesses de alguns.
Até mais!
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