Olá.
Hoje,
vamos esquecer por um momento as atualidades.
Hoje,
vamos tratar novamente de livro.
Hoje,
é mais um livro sobre a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Hoje,
é mais um livro escrito pelo maior especialista atual da história da cidade,
Rafael Guimaraens.
Hoje,
falando sobre um dos pontos turísticos fundamentais da Capital. Dizer que nunca
transitou por esse ponto é praticamente o mesmo que ir à Roma e não ver o
Papa...
Hoje,
vamos tratar de RUA DA PRAIA – UM PASSEIO NO TEMPO.
RUA
A PRAIA – UM PASSEIO NO TEMPO foi publicado pela editora Libretos, de Porto
Alegre, em 2010 – há cerca de duas décadas a casa publicadora do autor. Um
álbum bastante generoso no formato: 204 páginas, sem contar capa, colorido, em
papel couché de alta gramatura, em generosa medida quadrada – 27,5 x 27,5 cm. Com
boa quantidade de textos informativos. E fartamente ilustrado. Embora não seja
feito para caber em qualquer prateleira, é um livro imprescindível para
conhecer Porto Alegre e sua rica história.
Os
textos são de Rafael Guimaraens, que já havia tornado a Rua da Praia o cenário
de seu livro mais famoso, Tragédia da Rua
da Praia; já as ilustrações são compostas por fotos antigas e atuais: as
antigas foram extraídas de arquivos; as atuais (tiradas na época da publicação,
é claro) são de Marco Nedeff. Já as ilustrações a bico de pena e inserções de
quadrinhos são de Edgar Vasques, parceiro de Guimaraens em outras obras da
mesma editora (como a versão em HQ de Tragédia
da Rua da Praia). Colaboraram nesta obra, ainda, Clô Barcellos na coordenação
e no design gráfico; Sérgio da Costa Franco na consultoria histórica; e Günter
Weimer na consultoria sobre a arquitetura e croquis de edifícios.
Esses
especialistas são os responsáveis por conduzir o leitor a um passeio pela histórica
Rua da Praia – atual Rua dos Andradas – uma das mais famosas vias comerciais de
Porto Alegre. É a história da capital dos gaúchos contada através dos edifícios
que se concentram em toda extensão da Rua da Praia – dá para dizer que a rua
assistiu boa parte da história da cidade. Assistiu não apenas a efervescência
cultural e social da cidade ao longo do século XX, mas também a eclosão de
revoluções, conflitos bélicos, manifestações populares e um assalto que virou
filme.
Aliás,
Rua da Praia é o nome popular – desde 1865 que a rua é batizada como Rua dos
Andradas. O nome Rua da Praia foi atribuído ainda na época da colonização
açoriana. A rua já foi chamada, brevemente de Rua da Graça.
A
Rua é analisada edifício por edifício, com o devido histórico de construção, as
mudanças na fachada, detalhes arquitetônicos mais importantes, que tipo de
instituições cada edifício comporta ou já comportou. Como cada edifício data de
épocas distintas, a cronologia não é linear – a história de Porto Alegre é
fragmentada, com idas e vindas para frente e para trás no tempo. E não apenas
os edifícios são “personagens” do livro, como também as pessoas que passaram
por ali. Nem todos os edifícios retratados ficam exatamente localizados na rua,
uma parte fica nos arredores.
A
jornada inicia na Usina do Gasômetro, bem na beira do Rio Guaíba, e, nesta
ordem, seguem as edificações até a outra ponta da Rua: o Museu do Trabalho
(antigo galpão da Usina do Gasômetro); a Praça da Harmonia; o Largo da Forca
(onde se realizavam execuções de condenados de 1821 a 1857); os QGs da Brigada
Militar e do Exército (o antigo e o atual), o Museu Militar e o Arsenal de
Guerra; a Igreja das Dores (famosa pela lendária maldição da época de sua
construção); o Hotel Majestic (atual Casa de Cultura Mário Quintana – o poeta
foi, por anos, seu inquilino mais ilustre, e pode ver, em vida, o edifício se
tornar centro cultural); o antigo Atelier de Virgílio Calegari, um dos mais
importantes fotógrafos da Porto Alegre antiga; a Casa Egípcia, ou Palacete
Varejão, com sua vistosa escultura na fachada; o antigo prédio do jornal A
Federação (atual Museu de Comunicação Social Hipólito da Costa); a Igreja
Episcopal, ou Matriz da Trindade, um dos principais pontos de culto dos
protestantes em Porto Alegre; o edifício do jornal Correio do Povo; o Grande
Hotel (atual Rua da Praia Shopping); o Cine Imperial (e vários outros cinemas
famosos que funcionaram na Rua da Praia); a Praça da Alfândega (o berço de
Porto Alegre, pois foi a partir daqui, um dos pontos mais próximos do antigo
Cais do Porto, que a cidade se formou); o Clube do Comércio; a Casa Beethoven,
célebre loja de instrumentos musicais (atual Bar Antonello); o Largo dos
Medeiros; o Café Colombo; o Clube dos Caçadores (atual Centro Cultural CEEE
Érico Veríssimo); os edifícios Sulacap e Sul América (apenas dois dos edifícios
mais “modernos” construídos no entorno da Rua da Praia); a Esquina Democrática;
o edifício da Livraria do Globo; a Galeria Chaves; a Casa Masson (uma das mais
famosas relojoarias de Porto Alegre); a Galeria Malcon, maior palco da
efervescência juvenil dos anos 1960; o Clube Caixeral; a Cia. da Arte; e,
afinal, o topo (a famosa “subidinha”, esquina com a Rua Dr. Flores).
Ainda
há muitos capítulos especiais de fatos não necessariamente ligados à Rua da
Praia. Há um capítulo dedicado à Feira do Livro de Porto Alegre, realizada
anualmente na Praça da Alfândega desde 1955; e um capítulo dedicado aos
edifícios adjacentes à Praça, que não ficam localizados na Rua da Praia, como o
Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) e o Antigo Prédio dos Correios
(atual Memorial do Rio Grande do Sul). Há um capítulo dedicado à comoção gerada
em Porto Alegre com a estreia do clássico Tempos
Modernos, de Charles Chaplin; e, falando na Livraria do Globo, uma das mais
importantes casas publicadoras de romances nacionais e estrangeiros do Brasil
no século XX, há um capítulo dedicado à Revista do Globo, sua mais importante
publicação mensal – antes da ascensão da histórica O Cruzeiro. A Revista do
Globo circulou de 1929 a 1967.
Há
capítulos dedicados a relatar como a Rua da Praia “enxergou” grandes conflitos
a nível nacional e internacional, como a Revolução de 1930, as Grandes Guerras
Mundiais, greves gerais, comícios, o Golpe de 1964, os protestos em favor da
redemocratização... e as disputas (pacíficas) que ocorriam na época do
carnaval.
Há
capítulos dedicados a relatar a convivência da boemia porto-alegrense, da
primeira metade do século XX, com a Rua em si – cantada em verso e prosa. Há um
capítulo que trata do antigo hábito do footing,
ou o passeio a pé, sem grandes pretensões além do passeio em si – com
sorte, dava para conhecer a “alma gêmea” em uma volta a pé, ainda que fosse uma
época em que as moças “direitas” não andavam desacompanhadas.
Saltam
personagens bastante pitorescos, como Oddone Greco, boêmio famoso por suas
pegadinhas (várias de suas histórias formam o corpo do célebre Anedotário da Rua da Praia), o poeta
Mário Quintana, o fotógrafo Virgílio Calegari, o líder político Osvaldo Aranha e
Gilda Marinho, um tipo raro – socialite e, ao mesmo tempo, militante comunista.
Um capítulo dedicado a mostrar como pintores e cartunistas célebres, como Joseph
Lutzemberger, Sampaio, Santiago e Sampaulo, enxergaram a via. Alguns capítulos
tratam da contribuição negra para a Rua – por exemplo: boa parte dos condenados
à morte no Largo da Forca eram escravos que faltaram com seus deveres. E teria
sido por conta da maldição de um escravo acusado injustamente e depois
enforcado que a construção da Igreja das Dores tenha demorado muito para ser
concluída – de 1813 a 1904.
Há
um capítulo dedicado aos efeitos da Grande Enchente de 1941 na Rua da Praia
(vide A Enchente de 41, também de
Guimaraens); há um capítulo dedicado à comoção gerada pelo suicídio de Getúlio
Vargas (na Praça da Alfândega, foi colocada uma placa de bronze com reprodução
da carta-testamento de Vargas). Há um capítulo dedicado aos bondes que
circularam na primeira metade do século XX, desde o bonde puxado por mulas até
o bonde elétrico. E alguns capítulos que demonstram o verdadeiro embate entre
os edifícios antigos e os modernos por espaço na Rua da Praia. Foi no início do
século XXI que foi empreendido um verdadeiro trabalho de revitalização dos
edifícios da Rua da Praia, visto que dos anos 1960 até os 1990, o espaço esteve
entregue ao descaso e ao vandalismo. E um pequeno guia das mais célebres casas
de comércio que ficavam na extensão da Rua da Praia – e também de suas esquinas
mais famosas.
Tudo
entremeado com as fotos de Nedeff, com seus retratos dos edifícios a partir de
ângulos insólitos e retratos de tipos populares que circulam por ali
diariamente.
Edgar
Vasques, por sua vez, oferece ao leitor, além de suas ilustrações, três
inserções de quadrinhos (com roteiro de Guimaraens). A primeira, em quatro
páginas, relatando como se deu a Revolução de 1930 em Porto Alegre, no QG do
Exército, onde Osvaldo Aranha atuou; a segunda, uma das mais famosas pegadinhas
de Oddone Greco; e a terceira, um resumo de quatro páginas do famoso assalto da
Rua da Praia de 1911, transformado em filme – uma versão rápida da história que
virou álbum de quadrinhos anteriormente. Porém, desta vez, Vasques abriu mão do
seu estilo consagrado: suas HQ feitas para o livro tiveram inserções de cinzas
e de letras feitas por computador, no lugar das letras feitas à mão que fazem
seu estilo. Porém, nada que comprometa demais.
As
ilustrações de Vasques dividem espaço com os croquis de edifícios antigos
feitos por Weimer, em estilo arquitetônico simples. Trabalho que é útil nas
ações de restauração dos edifícios. As ilustrações de Vasques e Weimer, e as
fotos de Nedeff e dos arquivos, são muito bem equilibradas graças ao trabalho
de design de Barcellos.
Aí
está, pessoal, um guia definitivo a respeito de Porto Alegre, da Rua da Praia.
Claro que Porto Alegre possui outros pontos turísticos significativos que ficam
mais distantes da Rua dos Andradas, como o Parque da Redenção, a Catedral
Metropolitana, O Theatro São Pedro, o Mercado Público, etc., mas isso pode ser
tratado em outra ocasião, em outra publicação. Se você gosta de admirar e
fotografar edifícios antigos, cheios de detalhes esculpidos e estátuas nos
capiteis; se você gosta de conhecer museus e centros culturais, enfim, se você
gosta de respirar História quando passeia, viaja ou realiza footing, não deixe de ler RUA DA PRAIA –
UM PASSEIO NO TEMPO – e saiba por onde ir e andar. Garantia de que você não vai
se perder pelo Centro Histórico de Porto Alegre, pelo ponto de onde Porto
Alegre começou a crescer.
É
isso aí.
Como um complemento a esta postagem, algumas fotos que eu tirei de alguns dos locais citados no livro, em minha última viagem a Porto Alegre, no verão de 2017. A qualidade das fotos não é das melhores porque são fotos tiradas de celular. A Usina do Gasômetro...
...um aspecto da Praça da Alfândega...
...o Memorial do Rio Grande do Sul...
...o Palacete Varejão...
...e a Casa de Cultura Mário Quintana.
E, em
breve, traremos mais livros do quarteto Guimaraens, Nadeff, Vasques e
Barcellos. Guimaraens já se firmou como o maior especialista atual sobre Porto
Alegre. Só falta ele ser mais conhecido nacionalmente, porque, em Porto Alegre,
sem dúvida...
Para
encerrar, é claro que insiro aqui mais páginas inéditas - quatro, desta vez - de minha HQ
folhetinesca, O Açougueiro. Só em
tempos mais recentes consegui encontrar disposição para dar continuidade à HQ –
ainda mais com as armadilhas que me envolvi durante a sua produção. Mas o jeito
é levar a coisa até o fim, custe o que custar.
Aguardem
novidades.
Até
mais!
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