terça-feira, 11 de maio de 2010

PAGANDO O PATO - as indas e vindas dessa vida...

Olá.
A vida revela-se, nesse momento, cheia de indas e vindas, coincidências, achados e perdidos, oportunidades imperdíveis e chances desperdiçadas.
Pois para mim, têm pintado muitas oportunidades imperdíveis.
Há algum tempo atrás, eu havia resenhado, aqui no blog, as tiras do personagem O PATO, criado em 1968 por Cecília Whitaker Vicente de Azevedo Alves Pinto, a Ciça. Trata-se de uma HQ que satiriza a vida nacional e os desmandos do país através de animais. (Clique no hiperlink - a palavra sublinhada acima - para ler a matéria. Ei, é o primeiro hiperlink que consigo instalar numa postagem do blog!)
A coletânea de O PATO que eu resenhei na ocasião é a edição de 2006, publicada pela editora L&PM Pocket.
Mas vejam as coisas como são: dias atrás, encontrei, numa lojinha de livros usados, a primeira edição da coletânea PAGANDO O PATO, editada pela Circo Editorial em 1986! É a capa abaixo!
Abaixo, a capa da edição da L&PM para vocês compararem:
O primeiro diferencial entre as duas edições é o formato: a edição de 1986 é maior, tem mais páginas e reúne mais tiras. A de 2006 é no formato bolso.
A segunda grande diferença é o conteúdo. Na edição de 2006, foram colocadas tiras mais atemporais, de piadas mais simples. Já a de 1986 é mais temporal, e os acontecimentos retratados remetem ao período da ditadura militar, de 1964 a 1985. Algumas, no entanto, mantém uma incrível atualidade.
Na edição de 2006, algumas das tiras da edição de 1986 aparecem - geralmente, as mais atemporais, que caem melhor no dia de hoje. Algumas foram atualizadas, como é o caso dos dois exemplos abaixo - a primeira da edição de 1986, e a segunda da edição de 2006:
No entanto, o tema das tirinhas é o mesmo: o Brasil, representado através de animais, como galinhas, patos, pássaros e formigas. A edição de 1986 é a mais pesada em matéria de crítica social.
O formigueiro, o retrato do próprio Brasil, simboliza um Brasil que não oferecia oportunidades de crescimento ao seu povo. A elite política, representada pela Rainha (que não aparecia, estava sempre dentro da estrutura do formigueiro) e pelos deputados (formiguinhas usando cartolas) não estava nem aí para o povo, só se interessava mesmo em se manter no poder e nos seus privilégios; também há a grande dependência externa, representada pelo gambá que começou a morar dentro do formigueiro; e o povo, explorado, ignorado, sempre "pagando o pato", como sugere o título.
O mesmo vale para os outros personagens, como a família do galo Hermes, o Pato, a pata Filomena, o Tico-Tico, o Ovo... todos representam a classe média brasileira, cujo poder aquisitivo mal dava para sustentar-se, devido à inflação elevada, à política econômica caótica, aos efeitos do "milagre econômico"...
Dando uma olhada nesta coletânea, percebemos que o tom é de pessimismo. Comparando com os dias de hoje, com tudo o que aconteceu - o fim da dívida externa, o crescimento econômico, a auto-suficiência em petróleo - , podemos pensar: como os caras que viveram nas décadas de 1960 a 1980 conseguiram sobreviver? O Brasil era infeliz e todo mundo sabia, mas se fazia de desetendido.
Mas havemos de pensar: essas mudanças são relativas. Muita coisa aconteceu, mas ao mesmo tempo muita coisa permaneceu. Vejam os noticiários. Será que está mesmo tudo bem? O povo agora pode suprir com segurança suas necessidades básicas? A economia está mesmo legal? O povo está usufruindo da nova economia brasileira? Vocês é quem tem de responder.
Bem, O PATO continua sendo uma tira atual. Uma das principais tiras de crítica social do Brasil. É só dar uma olhada na coletânea de 1986 e na de 2006.
Bem, se o tema retratado nas tiras não vale muito nos dias de hoje, a edição de 1986 vale como registro histórico. Irresistível ler um relato de quem viveu o período e saiu vivo para contar.
Você trabalhou e o Brasil mudou...

Para encerrar, uma - e por enquanto apenas uma - tira inédita de Letícia. Já que falamos de tiras, né...
Em breve, a personagem chegará às 150 tiras publicadas na internet! Esta é a número 143 até agora produzida. E, para comemorar, um novo personagem será incluído na trama. Aguardem!
Até mais!

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