terça-feira, 29 de maio de 2012

ENCICLOPÉDIA DOS QUADRINHOS - monumental, apaixonante e decepcionante

Olá.

Hoje, volto a trazer mais um livro para vocês. Livro sobre quadrinhos.
Ultimamente, estou vivendo cercado de quadrinhos por todos os lados, tanto na produção das costumeiras tiras quanto nas leituras que ultimamente ando fazendo – ainda mais que trouxe, da minha última viagem de Santa Maria, um verdadeiro malote de HQs.
Mas é de um livro que eu vou falar hoje: a ENCICLOPÉDIA DOS QUADRINHOS.

Este trabalho é a nova edição de um trabalho feito nos anos 80 do século XX. A primeira ENCICLOPÉDIA DOS QUADRINHOS foi publicada em 1990, pela editora L&PM. Seu autor se chama Goida – pseudônimo do jornalista e crítico de cinema Hiron Cardoso Goidanich. Um trabalho monumental em seu tempo, e uma fonte de pesquisas muito procurada pelos especialistas de HQ.
Foi só pouco mais de vinte anos depois, em 2011 que saiu uma nova edição da ENCICLOPÉDIA, totalmente revista, ampliada e atualizada. E, desta vez, Goida contou com a ajuda do advogado e crítico de cinema e música André Kleinert, que possui uma grande coleção de HQs do final do século XX e início do século XXI. A demora para sair uma nova edição se deu, segundo o próprio Goida, às mudanças no mercado editorial brasileiro, ao surgimento de novas editoras brasileiras publicadoras de álbuns e revistas em quadrinhos e à enxurrada de novos trabalhos de HQ, de artistas nacionais e estrangeiros, que impediu que o autor ficasse atualizado pela impossibilidade de comprar e ler tantos quadrinhos. Foi aí que Kleinert entrou, com seu acervo e seus conhecimentos sobre HQ – e, assim, eis aqui a nova edição. A editora é a mesma L&PM, que desde que surgiu praticamente respira quadrinhos – a editora de Porto Alegre tinha a coleção Quadrinhos L&PM, que lançou muitos álbuns nacionais e estrangeiros, e atualmente mantém, na coleção L&PM Pocket, uma linha de antologias de tirinhas – isso, além de estar lançando os álbuns com todas as tiras de Peanuts.
A ENCICLOPÉDIA DOS QUADRINHOS se estrutura como um grande dicionário, tendo por critério os nomes dos criadores, desenhistas, roteiristas e até mesmo editores de HQ, em ordem alfabética. Desse modo, para obter mais detalhes sobre uma obra em HQ, é preciso procurar pelo nome do artista. Tudo ainda inclui ilustrações com amostras do trabalho de alguns artistas, no final de cada capítulo ou no meio dos verbetes. Tudo como na edição de 1990, só que revisto e ampliado – as biografias de autores já publicados ganharam atualização com fatos de sua vida editorial após o ano de publicação, e novos nomes foram acrescentados. Tudo distribuído em 536 páginas, sem contar capa. Ah: o período abrangido pela ENCICLOPÉDIA vai até 2009/2010. Portanto, fatos ocorridos em 2011 e 2012 não contam.
A ENCICLOPÈDIA inicia-se com a introdução dos autores, e depois com textos introdutórios: uma História das HQ resumida, por Goida, e um texto de Kleinert sobre a história da publicação dos quadrinhos a Marvel e da DC no Brasil. Só para depois partir pro dicionário propriamente dito.
Cada verbete vem, geralmente, com o sobrenome precedendo o nome, às vezes apenas o pseudônimo de autores, seguido de local e data de nascimento dos autores. E, a seguir, uma breve biografia, o que publicou, um pequeno resumo de suas criações em HQ (sempre que possível) e curiosidades sobre sua vida (sempre que possível).
Os autores citados vão desde o século XIX até o final da primeira década do século XXI.
Bom, embora a ENCICLOPÉDIA DOS QUADRINHOS seja uma fonte de pesquisa e conhecimento sobre o mundo das HQ imprescindível para qualquer entusiasta, não se pode dizer que seja um livro perfeito. O trabalho de Goida e Kleinert é louvável e monumental, mas pode gerar algumas decepções. Vamos apontar algumas qualidades e defeitos desta obra:

QUALIDADES
- É grande a quantidade de nomes brasileiros que entrou nesta edição, desde artistas que conseguiram emplacar trabalhos nas bancas e livrarias até artistas alternativos. Muitos desses artistas não possuem referências aprofundadas em nenhum outro lugar, nem na internet. É o caso de artistas quase desconhecidos do grande público, como Dadí, Cláudia Lévay, Koostela... Todos estes ganharam verbete na ENCICLOPÉDIA.
- Uma grande surpresa: a acréscimo de Byrata (criador do Xirú Lautério) como verbete da ENCICLOPÉDIA!
- Muitos nomes clássicos, nacionais e estrangeiros, não ficaram de fora, e ganharam atualização. Na parte dos artistas estrangeiros, temos os já consagrados Richard Outcault (criador do Yellow Kid, considerado ponto de partida para uma história das HQ segundo muitos especialistas), Rudolph Dirks, Hal Foster, Alex Raymond, Roy Crane, Elsie Segar, Milo Manara, Robert Crumb, Peyo, René Goscinny, Albert Uderzo, Al Capp, Will Eisner, Alan Moore, Neil Gaiman, Frank Miller, Quino, Wolinski, José Luís Salinas... já os clássicos do Brasil incluem Angelo Agostini, Ziraldo, Jaguar, Renato Silva, Laerte, Angeli, Watson Portela, Gutemberg Monteiro, André Le Blanc, Eugênio Colonnese, Mozart Couto, Gedeone Malagola, Júlio Shimamoto... claro, todos os que publicaram até 1990.
- Na parte dos brasileiros, acréscimos que citamos: Fábio Moon e Gabriel Bá, Rafael Grampá, Roberto Guedes, Francinildo Sena, Will, Sebastião Seabra, Franco de Rosa, Flávio Luís Nogueira, Emir Ribeiro e até os brasileiros que atualmente desenham para o exterior, como Ed Benes, Luke Ross, Rafael Albuquerque... Dos estrangeiros acrescentados, estão: Garth Ennis, Brian Lee O’Malley, Marjane Satrapi, Brian Azzarello, Warren Ellis, Jim Lee, Todd MacFarlane...
- Algumas surpresas: sabemos pela enciclopédia que alguns autores consagrados que fizeram carreira nos EUA e na Europa não nasceram nos países onde trabalharam. Por exemplo, o desenhista Gil Kane nasceu na Letônia, e Tony de Zuñiga (primeiro desenhista de Jonah Hex) é um dos muitos desenhistas que nasceram nas Filipinas e fizeram carreira nos EUA.
- Outra: sabia que existiram dois Frank Millers na história das HQ? O mais conhecido hoje é o do final do século XX, autor de Batman: O Cavaleiro das Trevas. Mas houve outro, o do início do século XX, autor de uma tira de aviação chamada Barney Baxter.
- Dentre as atualizações convenientes, está a do perfil de Carlos Zéfiro: como o autor dos catecismos só teve sua identidade descoberta em 1991, na edição de 1990 seu perfil estava incompleto.
- Até mesmo gente que não era diretamente ligada às HQ, mas que fez alguns trabalhos na área, ganhou seu perfil na ENCICLOPÉDIA. É o caso de Pagú, do escritor Dashiel Hammett, de Walt Disney, da dupla Hanna & Barbera, de Max Fleischer e até mesmo do Dr. Fredric Wertham, o autor do livro anti-quadrinhos A Sedução do Inocente.
- Goida e Kleinert priorizam os artistas brasileiros, argentinos, estadunidenses e europeus, e às vezes, asiáticos e africanos que publicaram na Europa e nos EUA. Principalmente os brasileiros, tornando assim a ENCICLOPÉDIA uma importante obra de referência sobre as HQ nacionais. Eles procuraram não deixar nenhum nome de fora do trabalho...

DEFEITOS
- ...mas infelizmente eles deixaram nomes de fora. E alguns importantes. Por exemplo: eles falam do editor William Gaines, dono da EC Comics, mas deixam de fora o seu criador, Max Gaines, o “inventor” das revistas em quadrinhos; deixaram de fora Minami Keizi, o co-criador da editora brasileira Edrel; falam de Luís Saidenberg, o roteirista da série brasileira Masamune, mas deixaram de fora Ivan Saidenberg, um dos maiores artistas brasilreeiros dos quadrinhos Disney; citam diversas vezes as publicações da editora Júpiter 2, mas não colocaram um verbete sobre o criador da editora, José Salles; deixaram de fora ainda Mike Richardson, criador de O Máskara e co-fundador da editora Dark Horse, deixaram de fora ainda Forrest Ackerman, criador de Vampirella, e o do seu editor, Jim Warren, criador da importante editora Warren. E por aí vai.
- Goida e Kleinert priorizam muito os brasileiros, americanos e europeus, às vezes com perfis longos de gente de fora que a gente pouco ou nunca tinha ouvido falar; e eles menosprezam os autores japoneses. Eles até colocam perfis de nomes como Osamu Tezuka, Kazuo Koike, Goseki Kojima, Katsuhiro Otomo, Hayao Miyazaki, Yoshihiro Tatsumi, Rumiko Takahashi e Akira Toriyama, mas deixam de fora alguns outros nomes que também seriam relevantes, como os de Yoshihiro Togashi, Sampei Shirato, Masami Kurumada, Suehiro Maruo e o grupo CLAMP.
- Alguns verbetes possuem alguns erros de diagramação que escaparam da edição final. Mas o pior são erros em alguns verbetes. O verbete mais errado é o de Takehiko Inoue, criador de Vagabond: além de eles terem escrito errado o nome do autor japonês (foi escrito Inove), ainda erraram a data de lançamento de Vagabond (o certo é 1998, e não 1988);
- Alguns perfis são bastante breves, e não cobrem toda a carreira de um determinado autor, que os fãs conhecem melhor. Mais uma vez, os japoneses levam a pior: esse é o caso dos verbetes sobre Ryoichi Ikegami, Hayao Miyazaki e Rumiko Takahashi.

Os defeitos são compreensíveis – seriam precisas muito mais páginas se quiséssemos acrescentar mais nomes além destes. E daí, o livro ficaria mais caro (só esta edição custa R$ 59,00). Mas os já inclusos já estão de bom tamanho, apesar das decepções que os leitores possam ter. E o banco de ilustrações foi bem escolhido. Ótimo para iniciantes no caudaloso mundo das HQ. À venda nas livrarias. Ou então, saibam como adquirir esta obra no site da editora: http://www.lpm.com.br/.
Para encerrar: mais tiras inéditas de Letícia. Nelas, incluo um novo personagem na turminha: a tartaruga de estimação do Gustinho. Ou melhor... como vocês podem ver a seguir, não é uma tartaruga. Achei que seria de bom alvitre esclarecer aos leitores as diferenças entre tartarugas, jabutis e cágados, e contribuir para acabar com a mania que as pessoas tem de chamar um e outro. Cultura subliminar.
Ah: confiram também a minha História das Histórias em Quadrinhos e a minha História dos Quadrinhos no Brasil, publicadas aqui no blog. A segunda edição, publicada em 2011, de ambas, é a mais atualizada (os links acima dão acesso à primeira parte; para acessar as outras, cliquem nos links da seção Arquivo do blog, ao lado). Possivelmente, em breve, eu lance uma terceira edição, revista e ampliada, tal como foi a ENCICLOPÉDIA DOS QUADRINHOS. Aguardem.
Até mais!

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