terça-feira, 22 de setembro de 2009

As Histórias em Quadrinhos no Brasil - 4a. Parte

Olá.
Dando continuidade à série que resgata a memória das HQ nacionais, os anos 80, um dos mais movimentados da produção nacional.



DÉCADA DE 80
Essa década é marcada pelos novos ventos trazidos pelo processo de redemocratização do país. O mercado brasileiro das HQ sente as oscilações ocasionadas pelos planos econômicos do período – o índice mais baixo de vendas foi o de 1985: 35 milhões de exemplares, muito baixo em comparação aos 60 milhões em 1980; durante o Plano Cruzado, ocorre um crescimento do mercado – 61 milhões de exemplares em 1986, 82 milhões em 1987. Quanto às publicações alternativas (fanzines), estas crescem no início da referida década, mas sofreram uma crise na segunda metade do período, devido a outra crise, a econômica, que agravou a falta de perspectivas de muitos “editores”. Além disso, é o período onde a contracultura nas HQ explode no país. Acontecimentos do período:
· 1981 – Primeira aparição de Geraldão, o personagem mais célebre de Glauco Villas-Boas (criador também da versão infantil do personagem, Geraldinho, e dos personagens Casal Neuras e Doy Jorge); Aparece a ousada adaptação, em HQ, do livro Casa Grande e Senzala, do antropólogo Gilberto Freyre, por Estevão Pinto e Ivan Wasth Rodrigues; Paulo Caruso lança duas séries desenhadas por ele: Bar Brasil, em parceria com Alex Solnik (que deu origem à série Avenida Brasil, a série de cartuns que Caruso publicou dos anos 80 a 2000 na revista IstoÉ, da editora Três, que satiriza a política brasileira), e a graphic novel As Origens do Capitão Bandeira, com texto de Rafic Jorge Farah; aparece o personagem Analista de Bagé, criação de Luís Fernando Veríssimo, em uma série de crônicas. Com o sucesso alcançado, o personagem é vertido para as HQ, no álbum O Analista de Bagé em Quadrinhos, pela editora L&PM, com desenhos de Edgar Vasques; e, de 1983 a 1992, o personagem ganha uma série em HQ, dentro da revista Playboy, com texto de Veríssimo e arte de Vasques.· 1982 – Aparece a Gibiteca de Curitiba, a primeira instituição dedicada a catalogar e disponibilizar revistas em quadrinhos do Brasil. Outra importante instituição que aparece é a Gibiteca Henfil, de São Paulo; pela editora D-Arte, fundada no ano anterior por Rodolfo Zalla, aparece a revista Calafrio, outro importante título de terror (algumas das histórias da revista foram republicadas em 2002, no álbum Calafrio – 20 anos depois, da editora Opera Graphica).· 1983 – Radicci, do gaúcho Carlos Henrique Iotti; primeira aparição do personagem Quebra-Queixo, de Marcelo Campos, que nos anos 90 e 2000, ganha uma série de álbuns; pela editora Brasiliense, sai a série Redescobrindo o Brasil, coletânea de cartuns que satirizam e criticam a História do Brasil. Os dois álbuns têm texto da historiadora Lilia Moritz Schwarcz: Da Colônia ao Império – Um Brasil para Inglês Ver e Latifundiário Nenhum Botar Defeito, com Miguel Paiva (lançado nesse ano) e Cai o Império – República Vou Ver, com Angeli (no ano seguinte); a editora Noblet publica a revista Akim, série italiana, cópia de Tarzan. As HQ do personagem dividiam espaço com histórias de personagens brasileiros, como Tavinho, Taturana Tulipa e Buana Savana, de Tony Fernandes (Antônio Fernandes Filho), e Pipoca, Joinha e Vespinha, de Antônio Cedraz; Na Europa, Sérgio Macedo publica o álbum Xingu!, relato de sua experiência na Amazônia (Xingu! é apenas uma das muitas obras que Macedo publica no exterior; o álbum é lançado no Brasil em 2007, pela editora Devir).
· 1984 – Nesse ano, é instituído o dia 30 de janeiro como o Dia do Quadrinho Nacional, tomando por base a data em que Ângelo Agostini publicou As Aventuras de Nhô Quim, em 1869, segundo pesquisa de Álvarus e Ofeliano de Almeida. Concomitante a isso, é criado o prêmio Ângelo Agostini, uma das mais importantes premiações oferecidas aos artistas nacionais de HQ; Quadrinhos em Fúria, coletânea das HQ de Luís Gê publicadas até então; Macunaíma, de Luís Antônio Aguiar e Guidacci, livre adaptação para HQ do romance de Mário de Andrade; é criada a ABRADEMI – Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações (entre os fundadores, estão a professora Sônia Bibe Luyten, a escritora Mitsuko Kawai e os artistas Roberto Kussumoto e Noriyuki Sato), o primeiro impulso aos artistas do estilo japonês no Brasil. Na época, os fãs de mangás e animações japonesas eram poucos, considerados “um bando de malucos que gostam daqueles desenhos animados de olhos grandes”, porém persistentes. Não por acaso, nesse mesmo ano, o artista japonês Osamu Tezuka, considerado em seu país o “Deus do Mangá”, visita o Brasil – e, nessa viagem, encontra Maurício de Souza, fã confesso dos mangás japoneses e, sobretudo, do trabalho de Tezuka; os humoristas Bussunda (Cláudio Besserman), Cláudio Manoel Pimentel, Beto Silva (Roberto Adler), Marcelo Madureira (Marcelo Garmatter Barreto) e Hélio de La Peña (Hélio Couto), que editavam desde 1978 a revista humorística Casseta Popular, criam a editora Toviassú Produções Artísticas (Toviassú é abreviatura de “Todo Viado é Surdo”, o que evidencia a irreverência que o grupo cultivava desde cedo no humor brasileiro), que editou no Brasil, entre outros títulos de HQ, as séries americanas Concreto, de Paul Chadwick, e Black Kiss, de Howard Chaykin. A editora encerra as atividades no início dos anos 90. Mais tarde, essa turma se juntaria a Reinaldo Batista Figueiredo e Hubert de Carvalho Aranha, que editavam desde 1984 o jornal humorístico Planeta Diário (em parceria com Cláudio Paiva), e formaram a célebre trupe humorística Casseta e Planeta.· 1985 – As Aventuras da Família Brasil, de Luís Fernando Veríssimo; a contracultura nas HQ brasileiras explode nesse ano, com o lançamento da revista Chiclete com Banana, editada por Arnaldo Angeli Filho, pela Circo Editorial, de Toninho Mendes e Luís Gê. Angeli, consagrado desenhista de humor brasileiro, criador de personagens como Rê Bordosa, Bob Cuspe, Os Skrotinhos, Meia-Oito e Nanico, Wood & Stock e Bibelô, comanda a publicação, que faz um retrato ácido e devastador das décadas de 80 e 90, e que, no seu auge, chegou a vender 110 mil exemplares. A revista, extinta em 1995 totalizando 24 números, rendeu ainda diversos especiais e “apadrinha” outras publicações do mesmo gênero. Dentre os artistas que publicaram na Chiclete, estão: Laerte, Glauco Villas-Boas, Luís Gê, Cláudio Paiva, Hubert, Luís Gustavo, Fábio Zimbres, Newton Foot, Edi Campana, Sérgio Machado, Fúrio Lonza e Glauco Mattoso. Além disso, dentro da Chiclete, surgem as séries Piratas do Tietê, de Laerte (que ganham posteriormente uma série de tiras e uma revista), e Los Três Amigos, produzida em conjunto por Angeli, Laerte e Glauco (mais tarde, Adão Iturrusgarai integra esse grupo); aparecem as tiras de Níquel Náusea, de Fernando Gonsales; pela Cluq Editorial, aparece o gibi de Beto Carrero, o empresário e artista circense, com textos de Gedeone Malagola e arte de Eugênio Collonese; por volta desse ano, aparece também Hakan, de Mozart Cunha do Couto, um dos mais consagrados artistas brasileiros de arte fantástica; A Guerra dos Farrapos, de Tabajara Ruas e Flávio Colin, quadrinização da história do célebre conflito ocorrido no Rio Grande do Sul, de 1835 a 1845; Procurando o Silva, o primeiro álbum da editora L&PM que recopila as tiras do personagem Ed Mort, de Luís Fernando Veríssimo e Miguel Paiva (o personagem, criado nos anos 70 em uma série de crônicas, ganha outros quatro álbuns: Disneyworld Blues,Com a Mão no Milhão, A Conexão Nazista e O Sequestro do Zagueiro Central. E, em 1997, Ed Mort ganha uma adaptação cinematográfica, por Alain Fresnot).· 1986 – Aparece a revista Circo, da Circo Editorial, editada por Toninho Mendes e Luís Gê, similar em conteúdo à Chiclete com Banana. Dentre os artistas, Laerte, Glauco e o americano Robert Crumb; pela editora Press, aparece a revista Níquel Náusea, editada por Fernando Gonsales (o título passaria, posteriormente, pela editora Circo); Nos Tempos de Madame Satã, de Luís Antônio Aguiar e Júlio Shimamoto (o personagem Madame Satã ganha posteriormente outro álbum, Madame Satã: Cassino, também de Aguiar e Shimamoto, pela editora Opera Graphica); pela editora Asteróide, sai a revista Paralelas, com histórias do pernambucano Watson Portela, tido como o primeiro artista brasileiro influenciado pelos mangás japoneses; aparece a revista Aventura e Ficção, pela editora Abril, coletânea de HQ adultas, que dura até 1991. Além de trabalhos de artistas estrangeiros, a revista também publica trabalhos de brasileiros, como Watson Portela, Flávio Calazans e Mozart Couto.· 1987 – Aparece a revista Geraldão, pela Circo Editorial, editada por Glauco Villas-Boas; primeira aparição do herói Meteoro, criação de Roberto Guedes, nos círculos alternativos (o autor reformula o personagem nos anos 90); primeira aparição do personagem Crânio, criado pelo potiguar Francinildo Sena, o maior fanzineiro da atualidade (desde os anos 80, Sena editou mais de 100 números de fanzines, sendo os mais importantes: Crânio, estrelada por seu personagem, e Heróis Brazucas, de histórias de heróis criados pelos colaboradores como forma de divulgação dos mesmos).· 1988 – Aparece a terceira série das HQ d’Os Trapalhões, pela editora Abril. Os personagens, na concepção de César Sandoval, desta vez, são metamorfoseados em crianças; aparece, também, o prêmio HQ MIX, a mais importante premiação para as HQ nacionais. O prêmio é lançado no programa TV MIX, da TV Gazeta (SP), pelos quadrinhistas Jal (José Alberto Lovetro) e Gual (Gualberto Costa) e o apresentador Serginho Groisman; aparece a revista Animal, pela editora VHD Diffusion, de quadrinhos adultos – muitos deles estrangeiros. Entre as atrações da revista, estava o Ranxerox, publicado na França e criado pelos italianos Stefano Tamburini e Gaetano Liberatore. Dentre os artistas brasileiros que publicaram nessa revista, estão Lourenço Mutarelli, André Toral e Mosquil (Gustavo Rojas, nascido na Argentina); A editora Cedibra lança Lobo Solitário, de Kazuo Koike e Gozeki Kojima, o primeiro mangá japonês publicado no Brasil, em edição adaptada ao modo de leitura ocidental (no entanto, a série não foi publicada até o fim. Ela passaria ainda pelas editoras Nova Sampa e, em 2005, pela Panini, que a publica até o fim, no modo de leitura original japonês).· 1989 – O personagem literário mais famoso de Ziraldo, O Menino Maluquinho, chega aos gibis, pela editora Abril (em 2006, o personagem é publicado pela editora Globo). O Menino Maluquinho ganha ainda outros livros (todos escritos por seu criador), duas adaptações cinematográficas (em 1994 e 1999), e uma série de TV, em 2006, pela TV Cultura; A Turma do Arrepio, de César Sandoval, é outro gibi infantil relevante (os personagens ganham uma série de TV, pela Manchete, em 1997, e o gibi é reeditado, em 2009, pela editora As Américas); pela editora Ninja, sai Fantasticman, de Tony Fernandes, série que durou 3 números; Radical Chic, a mais conhecida personagem de Miguel Paiva (em 1993, a personagem ganha um programa de televisão no formato game show).· 1990 – Pequeno Ninja, da Felipe Fernandes Produções (roteiros de Tony Fernandes e arte de Wanderley Felipe [que hoje assina Vanderfel]), pela Editora Ninja. Essa série gerou dois spin-offs, Khin, o Pequeno Samurai, e Shaken, o cachorro ninja, todos com seus próprios gibis. Em 2002, Pequeno Ninja ganha uma versão em mangá, pela Editora Cristal, por João Costa e Bruno Paiva, do Studio de Artes. E, em 2007, os gibis do personagem voltaram a ser publicados pela editora On Line, com material da Felipe Fernandes Produções; aparece a série Ecologia em Quadrinhos, de Cláudia Lévay, pela editora Brasiliense. São três os títulos lançados da série: Amazônia, Pantanal e Tietê (Lévay também seria responsável pelos roteiros da cinessérie Tainá: Uma Aventura na Amazônia, de 2001, e A Aventura Continua, de 2004); por volta desse ano, é lançado no Brasil o gibi com a quadrinização do videogame Street Fighter, pela editora Escala. Inicialmente, com material estrangeiro, a seguir são publicadas histórias produzidas por artistas brasileiros – entre eles, Arthur Garcia. O gibi é publicado até por volta de 1996.
No final da década, além dos títulos de HQ infantis regulares (Mônica, Fofura, O Gordo, Patrícia, Turma do Arrepio, Menino Maluquinho, etc.), outros personagens que faziam sucesso eram os baseados em personalidades da televisão, quase todos da linha infantil: Xuxa, Sérgio Mallandro, Gugu Liberato, Os Trapalhões). Nos anos 90 e 2000, outras personalidades, como a apresentadora Ana Maria Braga, o jogador de basquete Oscar, a banda Planet Hemp e a trupe humorística Casseta e Planeta, ganham seus próprios gibis.

Em breve: os anos 90.
Como ilustrativo, a personagem brasileira de hoje é a Velta. Ela foi criada nos anos 70, mas como nopost anterior eu tinha colocado a Mirza... ah, mas da próxima vez eu ilustro o post com um personagem da época, mesmo.
Até mais!

Nenhum comentário: