sexta-feira, 18 de setembro de 2009

As Histórias em Quadrinhos no Brasil - 3a. Parte

Olá.
Dando continuidade à série com a cronologia das HQ no Brasil, os anos 70.



DÉCADA DE 70Nessa década, considerada a mais fechada da Ditadura Militar, as publicações de humor de crítica social e de terror sofrem censura. Muitas publicações fazem resistência contra essas disposições. Fatos da década:
· 1971 – O gaúcho Renato Canini começa a desenhar, no Brasil, as HQ do personagem Zé Carioca, criado nos EUA em 1942 por Walt Disney. Canini foi um dos pioneiros artistas das HQ Disney em nosso país, e que criou conceitos na série no sentido de “nacionalizar” o personagem – que, anteriormente, seguia o estereótipo americano acerca dos brasileiros. O Estúdio Disney Brasileiro, mantido pela Editora Abril, contou com inúmeros artistas, como: Ivan Saidenberg, (criador de muitos personagens exclusivos das HQ Disney brasileiras), Arthur Faria Jr., Primaggio Mantovi, Gerson B. Teixeira, Oscar Kern, Rodolfo Zalla, Fernando Ventura e Marcelo Cassaro. O Estúdio Disney Brasileiro, no entanto, parou de produzir HQ por volta de 1997; aparece a revista humorística O Grilo, da editora Arte & Comunicação (SP), que tornou-se referência obrigatória para as novas gerações de leitores de HQ no Brasil. A revista publicava material de artistas estrangeiros, como Georges Wolinski, Guido Crepax, Robert Crumb e Gilbert Shelton, e de brasileiros, como Sérgio Macedo; no Rio Grande do Norte, depois da Primeira Exposição Norte-Riograndense de Histórias em Quadrinhos, surge o Grupo de Pesquisas em Histórias em Quadrinhos (GRUPEHQ). Dentre os membros do grupo, estão Emanoel Amaral (criador de Super-Cupim), Lindberg Revoredo (Dom Inácio, Bispo de Taipu), Luís Pinheiro (Tenente Wilson), Reinaldo Azevedo (Família Bonney) e Ademar Chagas (Inigma). O Grupo segue na ativa até os dias de hoje, tanto na pesquisa na área de HQ quanto na produção das mesmas, e uma de suas mais importantes publicações é a revista Maturi, lançada em 1976 e cuja publicação teve vários hiatos de tempo (o número mais recente da revista saiu em 2008).· 1972 – Aparece a revista alternativa Balão, nascida como um fanzine na Universidade de São Paulo, editada por Luís Gê (Luís Geraldo Ferrari Martins) e os irmãos cartunistas Paulo e Chico Caruso. Além deles, a revista revela artistas como Laerte Coutinho, Xalberto (Carlos Alberto Paes Oliveira), Kiko, R. Borges e Angeli; aparece a revista Pancada, da editora Abril, publicação de humor escrachado nos moldes da revista americana Mad.· 1973 – Aparece a heroína Welta (posteriormente, Velta), criação do paraibano Emir Ribeiro, na revista de aventura e humor 10 Abafo, editado na Paraíba pelo próprio Ribeiro - e que contou com, entre outros, a colaboração de Laerçon. Reconhecida como a “musa dos quadrinhos nacionais”, Welta também ganhou um gibi próprio e muitos especiais, editados pelo próprio Ribeiro; Maria, do também paraibano Henrique Magalhães, personagem de crítica social; o editor Massao Ohno lança O Karma de Gargoot, de Sérgio Macedo, o primeiro livro de HQ publicado no Brasil (O Karma foi publicado anteriormente, em forma de série, na revista O Grilo).· 1974 – Rango, do gaúcho Edgar Vasques, o mais conhecido personagem brasileiro de crítica social; é realizado o 1º. Salão Internacional de Humor de Piracicaba, um dos mais importantes eventos cartunísticos do país; aparece a revista Crás!, célebre publicação de humor da Editora Abril. Nessa publicação, que durou 6 números, apareceram os personagens Cactus Kid, de Canini, e Satanésio, de Ruy Perotti (que ganharia um gibi próprio pela mesma editora);· 1975 – Aparece a revista O Bicho, pela editora Codecri (RJ), editado por Fortuna. Dentre os artistas mais conhecidos que publicaram nessa revista, estão: Nani (Ernani Diniz Lucas, criador da tira Vereda Tropical), Canini, Jorge Guidacci, Francisco Vilachã, Laerte e o argentino Quino; aparece a versão brasileira da revista Mad, pela editora Vecchi (RJ) (passando, posteriormente, pelas editoras Record, Mythos e Panini, com hiatos de tempo entre uma e outra), editada por Ota (Otacílio d’Assunção Barros). Ota é considerado o editor da revista que ficou a mais tempo no comando da publicação em todo o mundo (o posto no Brasil atualmente é ocupado por Raphael Fernandes, desde 2007). Na Mad brasileira, publicam, entre outros: Luscar, Carlos Chagas, Nivaldo, Ed, Xalberto, Amorim, Pupuca e Ota, que dividem espaço com o material americano; As Cobras, do gaúcho Luís Fernando Veríssimo, célebre cronista e escritor (além de alguns álbuns, os personagens renderam um curta-metragem de animação em 1985, dirigido por Otto Guerra, Lancast Mota e José Maia); por volta desse ano, aparece o personagem Macanudo Taurino, do cartunista gaúcho Santiago (Neltair Abreu), um dos artistas mais premiados no Brasil e no mundo. · 1976 – A trupe humorística Os Trapalhões, de grande sucesso na televisão, ganha gibi próprio, pela Bloch Editores, com direção de arte de Edmundo Rodrigues. É a primeira fase das HQ dos personagens (ver as outras adiante); com o afrouxamento da censura, depois de um período de marasmo, as HQ de terror voltam a agitar o mercado brasileiro, com a aparição da revista Kripta, da editora RGE (“Com Kripta, qualquer dia é sexta-feira, qualquer hora é meia noite”, dizia o anúncio); Maurício de Souza lança, em formato de tiras, o personagem Pelezinho, baseado no jogador de futebol Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. O personagem chega aos gibis no ano seguinte (em 2006, Maurício faz o mesmo com o também jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho); primeira aparição dos personagens Turma do Cacá e Turma da Fofura, criações de Ely Barbosa, dentro da série Sílvio Santos para as crianças (esta série de livros e discos, de histórias infantis narradas pelo apresentador de TV Sílvio Santos, seria relançada em 2002). Os personagens, que ganham gibi posteriormente, são apenas alguns do vasto elenco de personagens criados por Barbosa, que faziam algum sucesso nos anos 80: Os Incríveis Amendoins, Os Tutti-Fruttis, O Gordo & Cia. e Turma da Patrícia são outros personagens conhecidos do autor. Barbosa também acumula alguns trabalhos na televisão e no teatro, como o programa infantil TV Tutti Frutti, criado em 1983 na TV Bandeirantes (vencedor do prêmio APCA, da Associação Paulista dos Críticos de Arte), e o musical Um Passeio no Cometa, de 1994.· 1977 – Aparece a primeira versão em HQ do Sítio do Pica-Pau Amarelo, pela editora RGE, embalado pelo sucesso da adaptação televisiva de então (que estréia na TV Globo nesse mesmo ano) dos livros do escritor Monteiro Lobato (uma nova versão da série nas HQ aparece em 2006, pela editora Globo, igualmente embalada pelo sucesso da nova adaptação televisiva que estréia em 2001); aparece a revista de terror Spektro (inicialmente, Dr. Spektro), da editora Vecchi. Baseado em original americano, essa revista publicou trabalhos célebres de autores nacionais. Duas merecem destaque: Hotel Nicanor, de Flávio Colin, e O Homem do Patuá, de Elmano Silva (Hotel Nicanor ganhou uma minissérie em 1994, com roteiro de Ota, vencedora do prêmio HQ MIX); Só Dói Quando Eu Respiro, coletânea de cartuns sobre ecologia, de Caulos (Luís Carlos Coutinho). Um dos grandes cartunistas e ilustradores do país, a obra de Caulos inclui ainda as coletâneas: Errar é Humano (1978) e Vida de Passarinho (1989), entre outros; com a revista Peteca, a editora Grafipar, fundada em Curitiba por Faruk El-Katib inicia suas atividades. Em revistas como Personal, Eros, Katy Apache, Maria Erótica e Xanadu, essa editora, inicialmente dedicada a publicar revistas de HQ eróticas, incentiva a produção nacional, com trabalhos de artistas como Cláudio Seto, Roberto Kussumoto, Flávio Colin, Júlio Shimamoto e muitos outros. A editora encerra suas atividades em 1983.· 1978 – Crônicas de Nenhum Lugar, de Xalberto.· 1979 – Com o fanzine Refugo, apenas um dos títulos que lançou de sua própria gráfica (outros títulos de nomes pitorescos são: Lôdo, Ventosa e Mijo), Francisco A. Marcatti Jr. inicia sua carreira (seu primeiro trabalho, no entanto, foi publicado dois anos antes, no fanzine Papagaio, editado por um grupo de alunos do colégio Equipe, de São Paulo). O mais destacado artista underground brasileiro, Marcatti já publicou alguns de seus escatológicos trabalhos na revista Chiclete com Banana e em outras revistas e antologias (ver mais adiante).· 1980 – Aparece a segunda série de HQ d’Os Trapalhões, pela Bloch Editores. A arte, desta vez, está a cargo dos estúdios Ely Barbosa, com desenhos de Eduardo Vetillo, Watson Portela, Bira Dantas e outros artistas – fase marcante pelo humor escrachado e pelas inúmeras paródias de super-heróis e filmes, ao estilo do programa televisivo; Íncaro, álbum de Xalberto.

Em breve: os anos 80.
Como ilustrativo de hoje, a vampira Mirza. A ilustração está meio deslocada, uma vez que Mirza nasceu nos anos 60, e não nos 70. Ah, mas é personagem de HQ nacional, não é?
Até mais!

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