domingo, 6 de janeiro de 2013

BRASINHA - um guri em forma de capeta


Olá.
O ano parece ter começado bem para o mercado editorial brasileiro. Pelo menos, para a Pixel Media, selo do grupo Ediouro.
Bem. A editora, antes mesmo de terminar o ano de 2012, largou nas bancas mais números de seus gibis clássicos, incluindo os dos personagens da editora norte-americana Harvey Comics.
Bão. Quando a editora largou nas bancas os gibis do Gasparzinho e do Riquinho, os fãs mais velhos ficaram felizes de verem esses personagens de volta. E o restante do elenco da Harvey foi voltando aos poucos: Tininha, Bolota, Brotoeja, Miudinho... mas muita gente se perguntava sobre o Brasinha, o diabinho, que também era um personagem bastante popular.

Bão. Nos números deste mês do Gasparzinho e do Riquinho, foram publicadas duas historinhas curtas com o Brasinha. Mas os fãs mal desconfiavam que a editora preparava uma surpresa para eles.
E a surpresa foi: Brasinha voltou com seu PRÓPRIO GIBI!!!
É isso aí! Agora, são três os gibis da Harvey Comics disponíveis no Brasil! Gasparzinho, Riquinho e... Brasinha! Uma presença mais que bem-vinda.
Bão. É melhor esclarecer alguns pontos, antes que a bancada evangélica, possível leitora deste blog, caia em cima de mim.
BRASINHA (Hot Stuff, no original) foi criado em 1957. Diz-se que seu criador foi Warren Kremer, mas outros creditam Alfred Harvey, o dono da editora, como criador. E sua estréia foi ousada: ao invés de ser testado em um dos gibis da editora Harvey, o diabinho estreou com um gibi próprio logo de cara! E, em 1962, o gibi chega ao Brasil, pela editora O Cruzeiro.
Curiosamente, Brasinha fez mais sucesso no Brasil do que nos Estados Unidos. Talvez se deva ao fato de que um diabinho “fofinho” tenha pegado meio mal para a conservadora sociedade norte-americana, e, desse modo, Brasinha teve menos projeção que o Gasparzinho – isso explica o fato de o personagem não ter ganho, como os outros personagens da Harvey, um desenho animado. Aqui no Brasil, Brasinha foi ligeiramente mais popular que nos Estados Unidos – sua figura serviu de mascote em vários lugares.
Bem. Antes que os setores evangélicos, que abominam esse tipo de coisa, caiam em cima de mim e da Pixel Media, é bom esclarecer que as aventuras de Brasinha passam longe da religião. Apesar da aparência consagrada de um demônio – pele vermelha, orelhas pontudas, chifrinhos, rabo com ponta e tridente na mão – o diabinho age muito mais como um moleque travesso, na melhor tradição das “crianças terríveis” dos quadrinhos, do que como um demônio propriamente dito. Tanto que sua aparência é, antes de tudo, inofensiva – ele usa algo que parece ser uma fralda. Ou pelo menos é o que querem que ele pense. Brasinha geralmente só faz mal às pessoas quando é provocado – fora isso, o que ele quer, mesmo, é diversão. E sua idéia de diversão passa longe de fazer mal às pessoas ou dominar suas almas.
Boa parte do humor das aventuras de Brasinha se deve à personalidade (literalmente) esquentada do diabinho. Capaz de voar, gerar calor com o corpo (e, consequentemente, derreter paredes, por mais grossas que sejam, ou secar pequenos lagos), respirar debaixo d’água e assar qualquer coisa que pegue com seu tridente sem usar fogo, o diabinho, em boa parte do tempo, é boa-praça e pouco interessado em confusão; porém, quando provocado, ele se irrita facilmente, solta fogo pelas ventas, e ai do provocador. E não adianta pegar seu tridente: este pode queimar a mão de qualquer um que roube-o. O diabinho também gosta de comer pimenta e coisas “quentes”, como maçãs assadas – que ele mesmo assa.
As histórias de Brasinha costumavam ser mais bem-escritas e elaboradas que as do Gasparzinho, explorando mais o lado irreverente do que o “tradicional” da figura do diabo – ora, já diz o ditado, “o diabo não é tão feio quanto se pinta”. Além disso, os tempos hoje são outros, o diabo não causa tato medo que nos tempos antigos, não há nada errado em usar sua figura na mídia – desde que não se faça apologia ao mal.
O universo do personagem é bastante rico em seres encantados com os quais interage, como gnomos, ogros, dragões, fadas e bruxas. Aliás, Brasinha tem uma namorada, Noelita, uma fadinha.
Nos gibis de Brasinha, outra figura que era bastante popular era o gigante Miudinho (que, até agora, apareceu em histórias curtas nos gibis do Gasparzinho). O gigante, inspirado no Gulliver do escritor inglês Jonathan Swift, é bondoso e bem-intencionado. Está sempre tentando ajudar as pequenas pessoas da vila onde mora próximo, mas muitas vezes acaba mais atrapalhando que ajudando. Claro, qualquer um acaba causando estragos, por acidente, quando vai interagir com coisas muito menores do que a pessoa. No gibi do Brasinha, desse modo, Miudinho aparece em histórias mais longas.
Bem. No primeiro número deste novo gibi, as histórias de destaque são as seguintes: na primeira, de uma página, o diabinho se apresenta ao leitor; na seguinte, Amizades Quentes, depois de ser queimado pelo sol, Brasinha tenta esfriar o corpo de todas as maneiras possíveis; em Macacos me Mordam, um macaquinho vai causar muitos problemas ao diabinho durante a estada deste numa ilha tropical; em O Dragão Tímido, Brasinha tenta ajudar o dragão do título a agir como tal; numa história em três partes, o diabinho, ao ver seus poderes sendo afetados por um estranho clima de cordialidade no ar, acaba conhecendo o culpado por isso: um cupido. Porém, Brasinha vê as coisas se voltarem contra ele quando decide atrapalhar o jovem cupido; em Mágica Furada, um coelhinho, e depois um mágico meio malandro, vão esquentar a cabeça do nosso diabinho; em O Calorão, o gigante Miudinho, acometido de uma estranha quentura, pode estar doente – mas a verdadeira causa de sua estranha suadeira pode ser pior do que a gente pensa; e, em O Mundo Molhado, após ter seu tridente roubado, Brasinha vive uma aventura surreal no fundo do oceano. O gibi se completa com histórias curtas de Brasinha e Miudinho.
Para a próxima edição, está prometida a presença de Noelita. Pelo menos, órfãos não estamos mais.
O gibi, tal como os outros, sai pelo preço de R$ 3,10.
Agora, só falta aparecer, os gibis, o pato gigante Zezinho. Aí, estaremos satisfeitos.
Para encerrar, propondo minorar a possível revolta dos grupos evangélicos e/ou conservadores, coloco aqui um desenho de dois anjinhos. Para contrabalançar o diabo, um anjo, certo?
Porém, escolhi dois anjinhos “pop” numa pegada irreverente. Abaixo, então, temos a figura da anjinha Nanael, do anime Queen’s Blade, que não é exatamente um anjo no sentido da palavra; e, ao lado dela, o anjo Malaquias, criação do poeta gaúcho Mário Quintana, o anjinho com asinhas na bunda. Relembrando o poeta.
É isso aí. Deus me perdoe por tudo isso.
Mas não me importo muito. Sou como Voltaire: não me dou muito bem com a Igreja e com as instituições religiosas, mas não sou ateu. Acredito em Deus, mas não da forma como os padres e pastores querem que eu acredite. Vocês entenderam.
Até mais!

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