terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

VELOZES E VORAZES - a light novel mais light que já vi

Olá.

Como não dou muita importância ao Carnaval – e com a recente notícia da renúncia do Papa Bento XVI, o Carnaval deixou de ser importante – hoje vou falar de livro. Ou melhor, de revista. Não sei definir ao certo do que vou falar, se é livro ou revista.
Um lançamento recente, que chegou às bancas este mês, deve estar enchendo o público leitor brasileiro com uma dúvida assim.
Bão, a bem da verdade, não é exatamente livro, e nem exatamente revista. Já explico.
Hoje então vou falar de VELOZES E VORAZES.

O lançamento trata-se de uma light novel – um mini-romance ilustrado. As light novels, geralmente com histórias escapistas de fantasia e ficção científica, são bastante comuns em outros países, como os Estados Unidos e o Japão – muitas séries de animes já foram lançadas, inicialmente, como light novel, enriquecida com belíssimas ilustrações. VELOZES E VORAZES seria, desse modo, uma tentativa da editora Minuano, que lançou o presente volume, de implantar as light novels no Brasil. Até então, não tive conhecimento de uma publicação semelhante dentro do país. E é o primeiro de uma pretensa série da editora, a série Graphic Light. E, conforme sugere no subtítulo, é em ritmo de mangá jovem, assim, a pretensão é implantar aqui um sistema de publicação similar ao japonês.
De todo modo, VELOZES E VORAZES também contribui para que as novas gerações de leitores tomem conhecimento de dois quadrinhistas brasileiros da velha guarda. A história foi escrita pelo roteirista Ataíde Braz, e ilustrada por Mozart Couto. Ambos numa produção da FREE – Franco de Rosa Estúdio Editorial, evidentemente a mais nova empreitada do renomado editor Franco de Rosa.
De Mozart Couto, já falei aqui no blog, um dos mais renomados desenhistas brasileiros de arte fantástica e que, de vez em quando, se arrisca no estilo mangá. Agora, sobre Ataíde Braz, pouca gente deve se lembrar. O roteirista brasileiro, nascido em 1955, que passou a infância em Pernambuco, e que também possui trabalhos publicados fora do país, ganhou renome graças aos roteiros escritos para as editoras Vecchi, Grafipar, Noblet, Press e Nova Sampa. Dentro do Brasil, sua obra mais conhecida é a série Drácula – A Sombra da Noite, publicada pela Nova Sampa em 1985, em seis edições, e com desenhos, em estilo mangá, de sua esposa Neide Harue, no qual Braz recria a mitologia do famoso vampiro de Bram Stoker. Outra obra conhecida de Braz é Mulher Diaba no Rastro de Lampião, também publicada pela Nova Sampa, em 1994, e com desenhos do saudoso Flávio Colin. Dentro da Nova Sampa, Braz também escreveu roteiros de histórias eróticas, desenhadas, mais frequentemente, por Roberto Kussumoto. Recentemente, foi anunciado que Drácula – A Sombra da Noite vai voltar a ser reeditado no Brasil, em álbum único.
Bão. Enquanto isso, Ataíde Braz e Mozart Couto nos trazem uma história literalmente fantástica, cheia de emoção, intrigas, romance e um toque de erotismo à japonesa, típicos dos mangás de aventura. A gostosa da capa (ilustração de Arthur Garcia e Flávio Soares) não é apenas um mero chamariz para o leitor desavisado – pena que não vamos ver coisas assim nas ilustrações internas.
Bem. VELOZES E VORAZES se passa em uma época anterior à civilização humana, na suposta civilização da ilha de Atlântida, uma época em que homens e monstros conviviam entre si. Nessa época, existem dinossauros e dragões – esses bichos ferozes nunca saem de moda. Uma das atividades mais populares de Atlântida é a corrida de dragões voadores, que, apesar de ilegal, atrai multidões e oferece fama e fortuna aos audaciosos praticantes desse perigoso esporte. As disputas ocorrem de forma clandestina, mas é dessas corridas ilegais que saem os campeões que disputarão no Circuito Oficial, prova legalizada pelo Rei, e que, apesar de ser mais “regrada” e menos emocionante que as corridas clandestinas, dá mais fama e fortuna aos competidores. E, frise-se, nessas disputas, cuja única regra é chegar vivo no final, de preferência em primeiro lugar, vale tudo – até mesmo dopar os dragões com um preparado químico, a “bola vermelha”, para que eles ganhem mais velocidade. E mortes, infelizmente, não são raras.
É nesse contexto que acontece o triângulo amoroso entre os destemidos amigos Thut e Jihan, e a orgulhosa Shina. Os três disputam em corridas clandestinas. Thut, o personagem principal, é filho de um tratador de dragões, Gurgelhi, que vive vociferando contra as mulheres, que, na opinião dele, só servem para atrapalhar o desempenho dos competidores das corridas. Ainda mais porque, na ocasião, Shina é a única mulher que está na disputa. A bela e sensual corredora tem como interesse maior entrar no Circuito Oficial – de origem humilde, ela não mede esforços para alcançar seu objetivo; e também é do tipo que poderíamos chamar de “Maria dragão” – se atira nos braços dos corredores campeões, e despreza os perdedores. E desse modo, ela envolve os amigos Thut e Jihan em sua teia de sedução, fazendo com que ambos se desentendam. E, à medida que um e outro vão vencendo nas disputas pelo Circuito Oficial, tanto Jihan quando Thut conseguem um encontro com ela. Eles disputam muito mais o coração de Shina do que a vaga no Circuito Oficial.
Ainda mais por que Shina foi a primeira garota que ambos beijaram na vida. No caso de Thut, a disputa é acirrada, ainda mais quando a garota, certo dia, acompanha o garoto numa captura de dragões para treinamento. Nessa caçada, Thut chega a capturar uma dragoa a laço, mas a liberta para que se defenda de um predador. Mais tarde, essa mesma dragoa, com a lembrança de ter sido “salva” pelo garoto, se deixa capturar e se torna a sua dragoa de corrida. Mas sobre Jihan, pouco tem para se falar – infelizmente, Braz não se preocupou em descrever detalhadamente nem Jihan, nem Thut. Descreve as garotas com mais detalhes, mas os rapazes não.
Durante as disputas, Thut acaba ganhando, inesperadamente, uma fã – a misteriosa Réa, que parece gostar sinceramente do garoto. Após algumas conversas, Thut parece desenvolver alguma afeição pela garota, que torce com mais empolgação pelo rapaz. Porém, ele permanece preso a Shina. Isso, até que uma série de desilusões e uma tragédia inesperada mudam o rumo da história.
Outros personagens importantes da trama são o corredor Johan, um veterano das disputas, que no início do romance vence Shina por pouco e se classifica para o Circuito Oficial – a garota, aparentemente, também desenvolve um sentimento por Johan – e acaba, por causa da tragédia, se tornando alvo do ódio de Jihan e Thut; e Halac, o príncipe de Atlântida, que vive sempre reclamando das princesas, suas primas, por elas não pararem de rir durante as provas. E Halac, que se torna amigo de Thut, conhece bem o grande segredo de Réa.
Bem. O romance possui um ritmo bastante ágil, uma trama envolvente e que não ficaria nada má se fosse adaptada para os quadrinhos. Não abre mão de pitadas de erotismo, um elemento comum nas tramas de Ataíde Braz. O grande problema é que esse ritmo de narração é muito veloz, mal dá para assimilar todos os detalhes. Sem falar que a diagramação do texto torna a leitura sofrível: frases que deveriam estar em parágrafos diferentes dos parágrafos que indicam diálogos, e estes confusos – às vezes mal dá para saber direito quem está falando o quê. Falha do responsável pela diagramação do texto, ou do próprio autor? E essa light novel é muito curta – só 64 páginas, sem contar capa. Impresso em um papel-jornal meio descartável. Se fosse em um papel de pior qualidade, tipo um papel higiênico, e em formato menor, de bolso (VELOZES E VORAZES tem 16 x 21,5 em média de tamanho), aí não seria uma light novel, seria um pulp (aquelas revistinhas de histórias policiais e de ficção científica, formato bolso, de onde saíram personagens que fariam sucesso nos quadrinhos, como Buck Rogers, Tarzan, Conan...). Salva-se mais pelas ilustrações de Mozart Couto, de página dupla. Ilustrações que ressaltam mais a ação do texto, e com um efeito de inacabado – lápis puro, sem nanquim. Francamente, Mozart Couto já fez ilustrações melhores. Bem, o que se pode esperar da editora Minuano, que como tantas editoras menores, diminui a qualidade de suas publicações por problemas, supomos, de ordem financeira?
Teria sido melhor se tivesse sido adaptado para os quadrinhos. Uma história tão interessante, com desenhos tão interessantes, desperdiçada dessa maneira. Mas agora já foi.
Quem quiser se arriscar, esta light novel custa R$ 6,90 e está à venda nas bancas.
Se essa coleção for continuada, espero que os próximos títulos sejam melhores e impressos com uma qualidade melhor. E espero que o revisor diagrame melhor o texto da próxima vez.
É isso aí.
Para encerrar, em ritmo de VELOZES E VORAZES, uma ilustração retratando dragões e seus pilotos. E, reparem, um piloto e sua passageira estão se beijando, numa referência ao romance entre Thut e Réa. Podia ter feito melhor, reconheço.

Até mais!

Um comentário:

Angélica Borba disse...

Olá. Acabei de comprar a novel sem nem me perguntar sobre o quê se tratava. Só de ver o trabalho nacional em bancas de revista já é motivo de alegria pra mim, que sempre quis as light novels japonesas em português.
Comprei na verdade com a esperança de a história ter continuação, mas, pelo que entendi, é tão leve que a história começa e termina neste volume.
:)