domingo, 15 de dezembro de 2013

AVENTURAS NO CANGAÇO 2 - Milton Ribeiro atacando em bando!

Olá.

Hoje, escolhi falar de outro gibi da editora Júpiter 2, do polêmico José Salles.
O gibi escolhido de hoje é o segundo número de uma das melhores iniciativas da editora no gênero "resgate de material antigo".
Em junho de 2012, a editora lançou o primeiro número do gibi AVENTURAS NO CANGAÇO, resgatando as histórias do personagem Milton Ribeiro, o Cangaceiro, que Gedeone Malagola produziu para a editora Júpiter na década de 1950.

Em maio de 2013, agora, a editora lançou o segundo número do gibi. E agora, AVENTURAS NO CANGAÇO ganha caráter de almanaque. Se no primeiro número tivemos duas histórias com o Milton Ribeiro de Malagola, no segundo número, também temos - mas ele não vem sozinho: vem acompanhado de outros personagens cangaceiros, deste gênero que podemos chamar de faroeste brasileiro.
A primeira história do gibi é com o Milton Ribeiro, claro. Saído do gibi Aventuras no Sertão, da editora Júpiter, publicada em junho de 1953, saiu uma trama calcada na cartilha do faroeste norte-americano, com o personagem principal combatendo os interesses escusos de gente inescrupulosa que planeja faturar em cima das mazelas da população. Em um traço mais rústico e meio desajeitado, Gedeone conta como Milton Ribeiro ajudou a combater uma quadrilha que está se aproveitando de uma epidemia em uma pequena cidade do nordeste para roubar os remédios para revendê-los a preços abusivos. Nessa aventura, Milton também troca de cavalo: ao invés do cavalo Pixurim, ele monta a égua Sossego (será que o Pixurim apareceu depois?). E é a cantoria do "Olé muié rendêra..." ecoando pelo sertão. Em se tratando de uma história mais antiga, não serviria para salvar a revista por ela só.
A segunda história foi escrita e desenhada por Emir Ribeiro, o criador da heroína Velta. Mas em um trabalho de resgate: O Cangaceiro foi um dos muitos personagens criados por Emir Ribeiro nos anos 70, ou o tempo em que "Velta" se escrevia com "W", "Welta" - no caso, 1979. Quase todos os personagens de Ribeiro foram criados nos anos 70, e O Cangaceiro faz parte do setor de personagens do autor paraiano dedicados à brasilidade. O Cangaceiro ganhou gibi próprio em novembro de 1981 - antes, portanto, de Ribeiro ir desenhar para as grandes editoras norte-americanas. E, em AVENTURAS DO CANGAÇO no. 2, Salles publica a primeira aventura do gibi, contando as origens de Severino Cruz, um homem nordestino que, após matar um coronel que havia violentado e matado sua esposa e seu cachorro, junta-se ao bando do célebre Lampião. Ele foi o único sobrevivente do ataque que exterminou o bando de Lampião, e, desde então, vaga pelo nordeste na condição de último cangaceiro vivo, combatendo as injustiças ao melhor estilo "herói-bandido". Quem ver esta história, e comparar com o estilo de arte atual seguido pelo artista, vai constatar e talvez concordar: Emir Ribeiro já desenhou muito melhor. Eu, que ja vi histórias da Velta e de outros personagens desenhadas nos anos 70, não vou muito com a cara do traço que ele adota atualmente, influenciado pela temporada norte-americana.
E, fechando o gibi, uma aventura curta e mais poética do que com ação. Sertão Coragem apresenta ao leitor desacostumado com a produção fanzineira nacional o personagem Canário, o Cangaceiro, criado pelo paulista Leandro Gonçalez. Esta história foi publicada, anteriormente, no fanzine Pau De Arara no 5, editado pelo próprio Gançalez em 2012. A história, que fala mais da grave situação social do sertão do que do próprio personagem, relata como um pobre homem que estava prestes a morrer de sede no sertão é salvo, passa por um "batismo de sangue" e se torna o cangaceiro Canário. E, ao chegar em um vilarejo que sofre com a seca, tenta incentivar os homens que vivem lá a lutarem contra o governo e os opressores. Gonçalez quer mostrar, com esta história, que no nordeste há duas opções para os homens que não querem abandonar seu pedaço de chão: sofrerem com a seca ou lutarem contra a situação social opressiva. O sertão é um grande teste aos homens. Mas, infelizmente, a história derrapa em muitos quesitos: a arte cheia de linhas grossas, o conflito entre traço realista e traço caricatual, o excesso de textos, a má caracterização do personagem principal, fazendo com que o leitor se esforce muito para montar a caracterização psicológica do Canário. Gonçalez também é o autor da capa acima.
De extras, apenas as capas de onde saíram as histórias citadas. Imperdível pelo valor histórico das histórias mais antigas.
Adquiram a sua edição, a R$ 3,00, pelo e-mail smeditora@yahoo.com.br. Conheçam mais publicações da Júpiter 2 no blog http://jupiter2hq.blogspot.com.br/.
E, se Deus quiser, a coleção continuará. O resgate das histórias produzidas por Gedeone Malagola ainda não terminou!
Para encerrar, uma ilustração minha com Severino, o Cangaceiro, de Emir Ribeiro. E acho que não me saí muito bem. Quis fazê-lo segurando o chapéu, como se ele estivesse carregando um balde com água recolhida de algum poço salvador em plena caatinga, e... acho que não me dei bem. Buá!
Em breve, mais Júpiter 2 pra vocês.
Até mais!

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