quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O BOM E VELHO FAROESTE de volta!

Olá.
Hoje, passada a ressaca do Natal, volto a falar de quadrinhos da Júpiter 2, editora capitaneada por José Salles.
Já faz pouco mais de dois anos que falei sobre um dos melhores títulos de HQ da editora, a série O BOM E VELHO FAROESTE, onde Salles, com a ajuda de talentos alternativos e veteranos das HQ nacionais, procura ressuscitar no gosto dos leitores o gênero faroeste, a evocação de todos os elementos que remetem à epopeia da colonização da porção oeste dos Estados Unidos, hoje em desuso devido ao revisionismo histórico que desmontou a versão cinematográfica e quadrinhística do gênero. Nesta coleção, Salles apresenta o gênero faroeste como o cinema estadunidense apresentou e que os quadrinhos consolidaram, com direito a todos os elementos que fizeram a fama do gênero: duelos de pistoleiros, batalhas contra índios (“índio bom é índio morto”, hoje um conceito politicamente incorreto), a ajuda providencial da cavalaria (os “casacas azuis”), as diligências, as lutas entre mocinhos e bandidos, a lei do “juiz Colt”... enfim.

Anteriormente, já resenhei os três primeiros números, que trouxeram um romance com cenas fortes, um enredo que daria um ótimo filme de faroeste e a ressurreição de um personagem perdido no tempo. A coleção já conta com sete números. Olhem aqui os outros quatro:

O BOM E VELHO FAROESTE no. 4
Lançado em janeiro de 2012.
Na trama de Jornada para Yuma, roteiro de José Salles, desenhos de William Cabral e arte-final de Dennis Oliveira, um grupo de soldados da cavalaria deve conduzir um condenado, que participou de um assalto onde um rapaz morreu, para a penitenciária da cidade de Yuma. Mas essa condução acaba passando por percalços, como uma emboscada de parentes das vítimas, uma carroça quebrada e inúmeros ataques, entre eles de índios (que são, segundo a cartilha do faroeste, rechaçados a bala), que fazem o tenente William Saunders conduzir o condenado, Leonard Corbitt, a pé pelo deserto escaldante. A princípio, ambos trocam farpas entre si, mas, com o correr da jornada, muita coisa acontece: a dupla encontra um bebê, sofre mais ataques e, inesperadamente, nasce uma amizade entre Saunders e Corbitt. No final, a amizade tem um desfecho trágico, mas há ainda comprovação de que milagres podem acontecer. A arte de Cabral e Oliveira tem o maior diferencial da coleção, pois o efeito conseguido é de uma arte totalmente feita a lápis e impressa com uma máquina de xerox, criando um efeito tridimensional dos desenhos. A quadrinização é dinâmica, mas pode criar alguma dificuldade na ordem de leitura dos quadros. E os textos dos balões variam muito de tamanho de letra, aumentando um pouco a dificuldade. Mas nada que tire as qualidades da história. Capa de William Cabral. 48 páginas, contando capa.

O BOM E VELHO FAROESTE no. 5
Lançado em novembro de 2012.
O quadrinhista Elmano Silva, lembrado como o criador do personagem Silas Verdugo, o Homem do Patuá, para a revista Spektro, nos anos 70, e que para a Júpiter 2 desenvolveu as histórias do personagem infantil Krahomim, colabora com a coleção com a história El Condor, texto e arte dele. O personagem-título é um armeiro (encarregado de consertar armas) que anda sem rumo pelo oeste. No início da trama, ele conhece o ex-xerife Brad Cleef, a caminho de uma cidade do estado de Nevada. E ambos acabam se envolvendo, a seu turno, numa conspiração armada por um fazendeiro local, iniciada com a morte de dois vaqueiros que, no dia anterior, haviam levado uma boiada para a fazenda do poderoso e corrupto Danton. Nessa batalha, a viúva de um dos vaqueiros e uma família de índios (da qual só a mulher sobrevive) acaba vitimada, assim como El Condor, que tenta auxiliar na batalha mesmo ferido. A arte de Elmano Silva é realista, superdetalhada, praticamente enchendo as páginas, não deixando nem um espaço em branco, mas descuidada em alguns detalhes, como que feitos às pressas. E a aventura tem cenas fortes. Mas peca pela falta de equilíbrio das aparições dos personagens: Brad Cleef (homenagem ao ator Lee Van Cleef, célebre interpretando vilões em filmes de faroeste) acaba tendo mais destaque que El Condor. E a história parece não ter conclusão, abrindo gancho para uma continuação. Ah: e quem ler a história com atenção vai encontrar uma piadinha marota cifrada na fala de um dos personagens. Inclui ainda ilustração de William Cabral na 3ª capa. Capa de Elmano. 48 páginas, contando capa.

O BOM E VELHO FAROESTE no. 6
Lançada em março de 2013.
Na edição # 3 da coleção, foi publicada uma aventura inédita do personagem Flecha Ligeira (Straight Arrow), personagem estadunidense criado por Fred Meagher que era publicado, nos anos 60, pela editora RGE (atual Globo). Quando o material estadunidense acabou no # 55, o personagem ganhou histórias produzidas por artistas brasileiros, entre eles José Menezes, que produziu a história publicada na edição 3, que deveria sair no número 123 da coleção original (o gibi do Flecha Ligeira foi suspenso pela RGE no número 120). Pois, para O BOM E VELHO FAROESTE no. 5, Menezes produziu uma história inédita do Flecha Ligeira, exclusiva para a coleção, com argumento de José Salles! Em Os Traficantes de Armas, Steve Adams, o fazendeiro mestiço de índio comanche com branca que combate o crime em trajes indígenas, ajuda soldados a debelar uma rebelião de índios armados com rifles. O personagem acaba tendo duas tarefas: como Flecha Ligeira, lutar contra os índios e alertar a cavalaria para auxiliar os soldados sitiados; e como Steve Adams, pegar os homens que venderam as armas aos índios – e ele terá ajuda de duas prostitutas com as quais os bandidos estavam se divertindo com o dinheiro da venda das armas. A trama até que está dentro da proposta da série, mas a arte, quase toda em pincelada, está sofrível, visto que Menezes atualmente conta quase 80 anos de idade. O importante é ver que, apesar das limitações, o artista continua ativo, e produzindo – e seu maior cliente, atualmente, é Salles. Menezes já prestou diversos “favores” a Salles, desenhando capas de gibis da Júpiter 2. O gibi é complementado com uma matéria escrita por Menezes sobre o búfalo, ou bisão americano, animal que quase foi extinto durante a epopeia da conquista do oeste, e que é o seu principal símbolo. Capa pintada por Menezes. 28 páginas, contando capa.

O BOM E VELHO FAROESTE no. 7
Lançado em setembro de 2013.
No # 2 da coleção, José Salles, com a arte de Adauto Silva (que também desenhou a história do # 1 da coleção), apresentou a belíssima trama Sangue Entre Irmãos, sobre os irmãos James, que viveram de lados opostos da lei devido às circunstâncias e às injustiças da vida. Muitos leitores devem ter se decepcionado com o final da trama. Pois agora ela ganhou sequência! Salles (roteiro) e Silva (desenhos) estão de volta em A Volta de Jack James, trazendo a emocionante trama de redenção do irmão “bandido”. Após os acontecimentos finais da trama anterior, Jack James se auto-exila em uma cidadezinha, onde recebe a caridade de um padre e de uma família de negros, e, depois, começa a ajudar a comunidade. Dentro da visão cristã de mundo do roteirista, James vê na cristandade a chance de se redimir de seus crimes – sua vingança contra a linha férrea, que desalojou sua família, e de quando quase matou o próprio irmão. De quebra, o novo James conquista o coração da filha de um desconfiado banqueiro local. Mas um membro de uma antiga quadrilha, que conta com a ajuda de James para realizar um assalto – e inclusive ameaça as pessoas que foram caridosas ao ex-bandido – podem por tudo a perder. Ou não? Será que James mudou mesmo? Silva segue o mesmo traço do capítulo anterior na arte – um traço realista, porém econômico, em alguns momentos evocando a arte do mestre Rodolfo Zalla, quadrinização convencional, estilo fumetti (HQ italiana). Também rende um filme, apesar do tom melodramático e religioso. O gibi é completo com ilustrações de Silva e uma matéria de José Salles, onde ele resenha o filme de faroeste Rio Vermelho, de Howard Hawks (uma das primeiras incursões do mito John Wayne do gênero faroeste, antes de se tornar o ator favorito do mestre John Ford). Capa de Silva. 52 páginas, contando capa (portanto, mais extensa, por duas páginas, que o capítulo anterior).

Os gibis custam R$ 5,00 (exceto o no. 6, que, pela menor quantidade de páginas, sai a R$ 3,00). Eles podem ser adquiridos junto a José Salles, no endereço smeditora@yahoo.com.br. Os números anteriores ainda estão disponíveis. Comecem suas coleções: vale a pena.
Para encerrar, ilustração, como tem sido quase sempre. Hoje, procurei desenhar o personagem Jack James, do modo como entrou em cena no # 7, e ao lado o Flecha Ligeira. Será que Steve Adams vai parar para oferecer carona a James no cavalo Fúria? Não deixa de ser uma possibilidade interessante.
Em breve, mais Júpiter 2 pra vocês.

Até mais!

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