Olá.
Hoje,
passada a ressaca do Natal, volto a falar de quadrinhos da Júpiter 2, editora
capitaneada por José Salles.
Já
faz pouco mais de dois anos que falei sobre um dos melhores títulos de HQ da
editora, a série O BOM E VELHO FAROESTE, onde Salles, com a ajuda de talentos
alternativos e veteranos das HQ nacionais, procura ressuscitar no gosto dos
leitores o gênero faroeste, a evocação de todos os elementos que remetem à
epopeia da colonização da porção oeste dos Estados Unidos, hoje em desuso
devido ao revisionismo histórico que desmontou a versão cinematográfica e
quadrinhística do gênero. Nesta coleção, Salles apresenta o gênero faroeste
como o cinema estadunidense apresentou e que os quadrinhos consolidaram, com
direito a todos os elementos que fizeram a fama do gênero: duelos de
pistoleiros, batalhas contra índios (“índio bom é índio morto”, hoje um
conceito politicamente incorreto), a ajuda providencial da cavalaria (os
“casacas azuis”), as diligências, as lutas entre mocinhos e bandidos, a lei do
“juiz Colt”... enfim.
Anteriormente, já resenhei os três primeiros números, que trouxeram um romance com cenas fortes, um enredo que daria um ótimo filme de faroeste e a ressurreição de um personagem perdido no tempo. A coleção já conta com sete números. Olhem aqui os outros quatro:
O
BOM E VELHO FAROESTE no. 4
Lançado
em janeiro de 2012.
Na
trama de Jornada para Yuma, roteiro de José Salles, desenhos de William Cabral
e arte-final de Dennis Oliveira, um grupo de soldados da cavalaria deve
conduzir um condenado, que participou de um assalto onde um rapaz morreu, para
a penitenciária da cidade de Yuma. Mas essa condução acaba passando por
percalços, como uma emboscada de parentes das vítimas, uma carroça quebrada e
inúmeros ataques, entre eles de índios (que são, segundo a cartilha do
faroeste, rechaçados a bala), que fazem o tenente William Saunders conduzir o
condenado, Leonard Corbitt, a pé pelo deserto escaldante. A princípio, ambos
trocam farpas entre si, mas, com o correr da jornada, muita coisa acontece: a
dupla encontra um bebê, sofre mais ataques e, inesperadamente, nasce uma
amizade entre Saunders e Corbitt. No final, a amizade tem um desfecho trágico,
mas há ainda comprovação de que milagres podem acontecer. A arte de Cabral e
Oliveira tem o maior diferencial da coleção, pois o efeito conseguido é de uma
arte totalmente feita a lápis e impressa com uma máquina de xerox, criando um
efeito tridimensional dos desenhos. A quadrinização é dinâmica, mas pode criar
alguma dificuldade na ordem de leitura dos quadros. E os textos dos balões
variam muito de tamanho de letra, aumentando um pouco a dificuldade. Mas nada
que tire as qualidades da história. Capa de William Cabral. 48 páginas,
contando capa.
O
BOM E VELHO FAROESTE no. 5
Lançado
em novembro de 2012.
O
quadrinhista Elmano Silva, lembrado como o criador do personagem Silas Verdugo, o Homem do Patuá, para a revista Spektro, nos anos 70, e que para a Júpiter 2
desenvolveu as histórias do personagem infantil Krahomim, colabora com a
coleção com a história El Condor, texto e arte dele. O personagem-título é um
armeiro (encarregado de consertar armas) que anda sem rumo pelo oeste. No
início da trama, ele conhece o ex-xerife Brad Cleef, a caminho de uma cidade do
estado de Nevada. E ambos acabam se envolvendo, a seu turno, numa conspiração
armada por um fazendeiro local, iniciada com a morte de dois vaqueiros que, no
dia anterior, haviam levado uma boiada para a fazenda do poderoso e corrupto
Danton. Nessa batalha, a viúva de um dos vaqueiros e uma família de índios (da
qual só a mulher sobrevive) acaba vitimada, assim como El Condor, que tenta
auxiliar na batalha mesmo ferido. A arte de Elmano Silva é realista, superdetalhada,
praticamente enchendo as páginas, não deixando nem um espaço em branco, mas
descuidada em alguns detalhes, como que feitos às pressas. E a aventura tem
cenas fortes. Mas peca pela falta de equilíbrio das aparições dos personagens:
Brad Cleef (homenagem ao ator Lee Van Cleef, célebre interpretando vilões em
filmes de faroeste) acaba tendo mais destaque que El Condor. E a história
parece não ter conclusão, abrindo gancho para uma continuação. Ah: e quem ler a
história com atenção vai encontrar uma piadinha marota cifrada na fala de um
dos personagens. Inclui ainda ilustração de William Cabral na 3ª capa. Capa de
Elmano. 48 páginas, contando capa.
O
BOM E VELHO FAROESTE no. 6
Lançada
em março de 2013.
Na
edição # 3 da coleção, foi publicada uma aventura inédita do personagem Flecha
Ligeira (Straight Arrow), personagem estadunidense criado por Fred Meagher que
era publicado, nos anos 60, pela editora RGE (atual Globo). Quando o material
estadunidense acabou no # 55, o personagem ganhou histórias produzidas por
artistas brasileiros, entre eles José Menezes, que produziu a história
publicada na edição 3, que deveria sair no número 123 da coleção original (o
gibi do Flecha Ligeira foi suspenso pela RGE no número 120). Pois, para O BOM E
VELHO FAROESTE no. 5, Menezes produziu uma história inédita do Flecha Ligeira,
exclusiva para a coleção, com argumento de José Salles! Em Os Traficantes de
Armas, Steve Adams, o fazendeiro mestiço de índio comanche com branca que
combate o crime em trajes indígenas, ajuda soldados a debelar uma rebelião de
índios armados com rifles. O personagem acaba tendo duas tarefas: como Flecha
Ligeira, lutar contra os índios e alertar a cavalaria para auxiliar os soldados
sitiados; e como Steve Adams, pegar os homens que venderam as armas aos índios
– e ele terá ajuda de duas prostitutas com as quais os bandidos estavam se
divertindo com o dinheiro da venda das armas. A trama até que está dentro da
proposta da série, mas a arte, quase toda em pincelada, está sofrível, visto
que Menezes atualmente conta quase 80 anos de idade. O importante é ver que,
apesar das limitações, o artista continua ativo, e produzindo – e seu maior
cliente, atualmente, é Salles. Menezes já prestou diversos “favores” a Salles,
desenhando capas de gibis da Júpiter 2. O gibi é complementado com uma matéria
escrita por Menezes sobre o búfalo, ou bisão americano, animal que quase foi
extinto durante a epopeia da conquista do oeste, e que é o seu principal
símbolo. Capa pintada por Menezes. 28 páginas, contando capa.
O
BOM E VELHO FAROESTE no. 7
Lançado
em setembro de 2013.
No #
2 da coleção, José Salles, com a arte de Adauto Silva (que também desenhou a
história do # 1 da coleção), apresentou a belíssima trama Sangue Entre Irmãos,
sobre os irmãos James, que viveram de lados opostos da lei devido às
circunstâncias e às injustiças da vida. Muitos leitores devem ter se
decepcionado com o final da trama. Pois agora ela ganhou sequência! Salles
(roteiro) e Silva (desenhos) estão de volta em A Volta de Jack James, trazendo
a emocionante trama de redenção do irmão “bandido”. Após os acontecimentos
finais da trama anterior, Jack James se auto-exila em uma cidadezinha, onde
recebe a caridade de um padre e de uma família de negros, e, depois, começa a
ajudar a comunidade. Dentro da visão cristã de mundo do roteirista, James vê na
cristandade a chance de se redimir de seus crimes – sua vingança contra a linha
férrea, que desalojou sua família, e de quando quase matou o próprio irmão. De
quebra, o novo James conquista o coração da filha de um desconfiado banqueiro
local. Mas um membro de uma antiga quadrilha, que conta com a ajuda de James
para realizar um assalto – e inclusive ameaça as pessoas que foram caridosas ao
ex-bandido – podem por tudo a perder. Ou não? Será que James mudou mesmo? Silva
segue o mesmo traço do capítulo anterior na arte – um traço realista, porém
econômico, em alguns momentos evocando a arte do mestre Rodolfo Zalla,
quadrinização convencional, estilo fumetti (HQ italiana). Também rende um
filme, apesar do tom melodramático e religioso. O gibi é completo com
ilustrações de Silva e uma matéria de José Salles, onde ele resenha o filme de
faroeste Rio Vermelho, de Howard Hawks (uma das primeiras incursões do mito
John Wayne do gênero faroeste, antes de se tornar o ator favorito do mestre
John Ford). Capa de Silva. 52 páginas, contando capa (portanto, mais extensa,
por duas páginas, que o capítulo anterior).
Os
gibis custam R$ 5,00 (exceto o no. 6, que, pela menor quantidade de páginas,
sai a R$ 3,00). Eles podem ser adquiridos junto a José Salles, no endereço smeditora@yahoo.com.br. Os
números anteriores ainda estão disponíveis. Comecem suas coleções: vale a pena.
Para
encerrar, ilustração, como tem sido quase sempre. Hoje, procurei desenhar o
personagem Jack James, do modo como entrou em cena no # 7, e ao lado o Flecha
Ligeira. Será que Steve Adams vai parar para oferecer carona a James no cavalo
Fúria? Não deixa de ser uma possibilidade interessante.
Em
breve, mais Júpiter 2 pra vocês.
Até
mais!
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