Olá.
Hoje, vou falar de filme.
Mais de três anos se passaram, meus amigos. Três anos e quatro meses desde a última vez que escrevi alguma coisa referente à série Avatar - A Lenda de Aang, da Nickelodeon. Muita coisa aconteceu nesses três longos anos, desde que comecei uma série de postagens sobre a incrível série criada por Michael Dante DiMartino e Brian Konietzko. O universo do personagem Aang, o Avatar, foi expandido, ele já ganhou um filme, mas faz tempo que não ouvimos falar do universo dos dominadores dos quatro elementos.
E só recentemente tive a oportunidade de assistir ao filme.
Hoje então vou falar de O ÚLTIMO MESTRE DO AR, o filme.Bão. Todo mundo já conhece a história. Foi em 2007 que iniciou a saga dos heróis Aang, Katara, Sokka, Toph e outros personagens para restaurar o equilíbrio de seu mundo, ameaçado pela Nação do Fogo. Foi em 2007 que estreou a série animada, que gozou, durante algum tempo, da fama de segundo desenho animado mais popular do canal de TV infanto-juvenil Nickelodeon, atrás apenas de Bob Esponja. O desenho animado durou três temporadas, totalizando 61 episódios. Em 2011, estreou a continuação da série, A Lenda de Korra, com um novo Avatar.
E, entre esses eventos, em 2010, estreou a adaptação cinematográfica de Avatar. Entretanto, por causa do blockbuster dirigido por James Cameron, de mesmo nome, o nome do filme teve de ser alterado para The Last Airbender – o prenome teve de ser retirado. No Brasil, ocorreu uma batalha para definir o nome em português do filme. Inicialmente, cogitou-se encurtar o título para “O Último Airbender”. Mas aí, optaram por traduzir, literalmente, para O ÚLTIMO MESTRE DO AR, que mantém o sentido original.
A tarefa de dirigir o longa-metragem ficou com o indiano M. Night Shyamalan, célebre por filmes como O Sexto Sentido, Corpo Fechado e Sinais. O cineasta, que conseguira bons resultados com seu primeiro filme (O Sexto Sentido, claro), não os estava obtendo com seus filmes seguintes. Até que pintou a oportunidade para fazer esta adaptação de Avatar, que ele mesmo roteirizou e dirigiu. Encampado pelos estúdios Paramount e Nickelodeon Movies, em parceria com os estúdios The Kennedy/Marshall Company e Blinding Edge Pictures, O ÚLTIMO MESTRE DO AR fez uma boa bilheteria – só a bilheteria estadunidense, de US$ 319 milhões, pagou o filme, que custou US$ 150 milhões. Mas, infelizmente, o filme foi massacrado pela crítica – e com razão. E ainda foi indicado a nove prêmios Framboesa de Ouro, a sátira do Oscar, e foi vencedor em quatro categorias: Pior Filme, Pior Diretor, Pior Roteiro, Pior Ator Coadjuvante para Jackson Rathbone e Pior Uso de 3D (o filme foi lançado em cópias 3D).
Well. Em cerca de 103 minutos, Shyamalan, de quem estamos exigindo muito desde Corpo Fechado, tenta adaptar a primeira temporada da série, o Livro Um – Água. (A ideia era que O ÚLTIMO MESTRE DO AR fosse a primeira parte de uma trilogia cinematográfica, mas agora o segundo filme se tornou uma possibilidade muito remota, tal a avalanche de críticas negativas). A essência da história é mantida, o básico da aventura, mas cortes drásticos precisaram ser feitos – personagens foram limados, o humor foi limado, e tudo em um ritmo muito acelerado. Tão acelerado que nem dá tempo de os personagens se apresentarem. Nem dá tempo de o público assimilar o que está vendo, se envolver com os personagens. As interpretações dos atores também ficaram muito rasas. Os cenários são muito sombrios, incômodos, em contraste com o colorido vivo da série animada. Mas os efeitos especiais são impressionantes. As sequências de luta também tentam convencer, principalmente com o recurso de desacelerar a cena em alguns momentos acrobáticos. E as cenas que mostram as manipulações dos elementos também são convincentes, cortesia da empresa Industrial Light & Magic.
A caracterização dos personagens também é um capítulo a parte. Até que foi legal fazer uma série de linhas rebuscadas, ao estilo indiano, nas tatuagens do Aang, que no desenho são simplesmente pinturas azuis lisas. Mas a cicatriz no olho do personagem Zuko praticamente desaparece em seu rosto. Descuido?
Bem. A história mostrada na tela é a mesma da série: em um mundo mítico, existem quatro Nações ligadas aos elementos – a Tribo da Água, o Reino da Terra, a Nação do Fogo e os Nômades do Ar. Em cada uma das nações, existem pessoas especiais, os dominadores, capazes de manipular seus elementos de origem. Um dia, a Nação do Fogo resolvem iniciar uma guerra de conquista do mundo. A única pessoa que poderia impedir a guerra é o Avatar, uma pessoa especial que pode manipular os quatro elementos de uma só vez. Só que o Avatar, que deveria surgir naquela ocasião entre os nômades do ar, desaparece sem deixar vestígios. Cem anos depois, a Guerra está quase vencida pela Nação do Fogo. Até que, um dia, no território da Tribo da Água, dois irmãos, a obstinada Katara (Nicola Peltz), única dominadora da água do local, ainda com uma técnica medíocre, e o caçador Sokka (Jackson Rathbone, o Jasper da cinessérie Crepúsculo), durante uma caçada, encontram em um bloco de gelo dois seres congelados: o garoto Aang (Noah Ringer, um campeão mirim de artes marciais e que, portanto está à vontade nas cenas de luta) e seu animal de estimação, o bisão voador Appa. Aang é o único sobrevivente dos Nômades do Ar, que foram caçados pela Nação do Fogo, e o Avatar desaparecido.
Aí, chega o primeiro adversário do Avatar, o príncipe Zuko (Dev Patel, o protagonista do oscarizado Quem Quer Ser um Milionário?), desterrado da Nação do Fogo, que vê na captura do Avatar sua oportunidade de recuperar a honra perdida. Zuko está acompanhado do epicurista tio Iroh (Shaun Toub), que, se lhe derem oportunidade, mostra que é mais poderoso do que aparenta. Aang escapa das garras de Zuko de modo espetacular, e é salvo por Sokka, Katara e Appa, que vão viajar junto com ele com um objetivo: encontrar um mestre de dominação da água, para Aang iniciar seu treinamento como Avatar, e dominar os quatro elementos.
Zuko e Iroh não são os únicos a procurarem o Avatar. No encalço do grupo, também está o maquiavélico Almirante Zhao (Aasif Mandvi, que dá ao personagem um trejeito afeminado), que tem inclusive um plano para acabar de vez com as Tribos da Água.
Vários episódios da série animada estão presentes do filme, desde o início da jornada de Katara, Sokka e Aang: o momento em que Aang visita o Templo do Ar no Sul e descobre que os monges do ar estão todos mortos; o momento em que o grupo encontra o lêmure-morcego Momo, mascote do grupo (cuja importância é reduzidíssima, microscópica no filme, em relação ao bisão Appa); as condições em que Aang assume o poderoso Estado Avatar, quando seus olhos e tatuagens brilham e ele controla os elementos naturalmente; o início das rebeliões contra a Nação do Fogo no Reino da Terra; os flashbacks contando a desgraça de Zuko, que foi desterrado após desafiar o próprio pai, Ozai (Cliff Curtis); o treinamento de Katara em dominação da água paralelo ao de Aang; a captura de Aang no Templo do Ar do Norte por Zhao, e a sua fuga com a ajuda do Espírito Azul (Zuko disfarçado); o treinamento de Aang e Katara na Tribo do Ar do Norte; a paixão entre Sokka e a princesa Yue (Seychelle Gabriel), cuja vida é ligada aos espíritos da Lua; o combate dentro da Tribo da Água, e o plano de Zhao para destruir o Espírito da Lua (uma carpa que vive em um refúgio sagrado); o sacrifício de Yue para restaurar o espírito da Lua; e o combate final entre Aang e as forças de Zhao.
Ficam de fora episódios como o passeio do grupo na cidade de Omashu, no reino da Terra; o contato de Aang com os espíritos dos avatares anteriores em um templo no Reino do Fogo (em vez disso, em diversas cenas, Aang, no mundo espiritual, recebe avisos de um dragão); o contato do grupo com as Guerreiras Kyoshi, lideradas por Suki; a aventura em um dos templo do Ar, que foi transformado em laboratório por um cientista; várias outras oportunidades para Iroh demonstrar seu poder; a resistência do mestre Pakku, da Tribo da Água do Norte, em treinar Katara. Entre outros.
E, como eu disse, o bom humor da série foi limado em favor de uma história de auto-superação do personagem principal, que procura enfrentar seus próprios medos e incertezas para cumprir seu objetivo. Desse modo, esqueçam as piadas sarcásticas de Sokka e o nervosismo de Katara; a infantilidade de Aang e as travessuras de Momo; a preguiça de Iroh e a excentricidade do rei Bumi de Omashu (que nem entrou no filme). Mesmo o humor involuntário aplicado no filme não convence - como na cena em que Katara, para defender um garoto do Reino da Terra ameaçado por soldados da Nação do Fogo, congela Sokka sem querer. Meio forçado.
Se o objetivo era desenvolver melhor o filme, ele bem que poderia ganhar uns minutos a mais. Infelizmente, para quem é fã da série (como eu), O ÚLTIMO MESTRE DO AR pode ser uma experiência decepcionante. Acho que foi depois do filme que pouco ou nunca mais se falou da série animada. Uma pena. Não foi desta vez que Shyamalan recuperou o rumo de sua carreira.
E se vai sair o novo filme, cobrindo o Livro 2 – Terra? Acho que não. Mas a possibilidade de redenção existe.
Quem já leu a versão em quadrinhos lançada na mesma época do filme, vai notar também as sensíveis diferenças entre os roteiros.
Bem. Para encerrar, as já tradicionais ilustrações. Hoje, resolvi fazer um novo desenho do protagonista da história, Aang, tal como aparece no filme.
Agora compare com esta ilustração do Aang baseada no desenho animado. E aí: qual das versões vocês preferem?
Em breve, mais cinema pra vocês.
Até mais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário